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PARTE II. ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE AOS SERVIÇOS DE SAÚDE

3. Caracterização da área de estudo e do sistema de saúde em

3.2 O território de estudo

3.2.2 A estrutura física e ambiental

As características climáticas de uma região e as microclimáticas dos vários territórios são aspetos relevantes a ter em conta em planeamento de transportes. As consequências dos fatores climáticos podem interferir, por exemplo, ao nível da sinistralidade rodoviária cujos acidentes podem resultar

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de condições meteorológicas como o nevoeiro, a geada, a precipitação ou as temperaturas elevadas. No mesmo sentido, podem interferir com o recurso aos modos suaves, ou aos transportes públicos, retirando-lhe atratividade, designadamente pela ausência de abrigos com qualidade nas paragens.

Portugal apresenta uma posição marginal em relação ao oceano Atlântico. Em termos climáticos apresenta vários contrastes em resultado dos fatores de latitude e continentalidade que lhe confere características diferentes entre o norte e o sul, e entre o litoral e o interior do país. Tal reflete-se em termos dos principais elementos climáticos, como a precipitação, mais intensa no norte, e da temperatura mais elevada a sul e a este de Portugal. A circulação do ar, em superfície, também é um elemento importante, pois são típicas as brisas marítimas, continentais e de vale ou de montanha. No norte a variação dos elementos climáticos entre o oeste e este é bastante acentuada. Estes aspetos são particularmente importantes quando se equacionam alternativas de mobilidade sustentável para os vários territórios e que podem conduzir ao insucesso de muitas iniciativas. Situam-se nesta região alguns dos principais sistemas montanhosos como é o caso da Serra do Gerês, do Larouco, do Marão, do Montemuro, de Montesinho, da Nogueira, da Padrela, da Peneda e do Soajo, cujo sistema montanhoso influencia o território de estudo (Figura 34) (Instituto Nacional de Estatística, 2010a).

Este sistema montanhoso apresenta algumas características que influenciam o clima regional, tais como a concordância e a proximidade do litoral, a continuidade e a altura. O sistema de montanhas concordantes, algumas próximas da linha de costa, estão topograficamente acima dos 1.300 metros. Os principais obstáculos montanhosos são as serras da Peneda, da Amarela, de Arga, do Gerês e da Cabreira, que fazem parte do único parque nacional em Portugal (Parque Nacional da Peneda Gerês). A presença deste obstáculo topográfico, com as características enunciadas, implica a ascensão das massas de ar contribuindo para os valores elevados de precipitação que caracterizam a serra do Gerês. Consequentemente, as massas de ar, mais secas, contribuem para a menor pluviosidade média anual do norte interior que apresenta também uma maior amplitude térmica.

A nível climático, o norte litoral, está inserido no clima temperado mediterrâneo de feição oceânica, sendo caracterizado por possuir dois meses secos, precipitação anual elevada e amplitude térmica

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anual baixa. Em planeamento, nomeadamente, das acessibilidades e num quadro de promoção dos modos suaves urge considerar os elementos climáticos (temperatura e precipitação), os quais interferem nas condições de mobilidade. Assim, ao mesmo tempo que os dias com precipitação ou as temperaturas elevadas desencorajam a circulação a pé ou de bicicleta, ao equacionarmos estes elementos climáticos poderão ser adotadas medidas que minimizem os seus efeitos, tais como a arborização de parte dos percursos que possuam maior exposição solar.

Figura 34 - Principais sistemas montanhosos da região norte de Portugal Continental

Fonte: Mapa elaborado com base na georreferenciação da imagem do modelo digital do terreno, retirado de http://www.galicia-nortept.org/index.php/es/eurorregion, em 17 de Fevereiro de 2011.

Em Braga, do ponto de vista das temperaturas, observa-se que entre os meses de Junho a Setembro a maior parte dos dias atingem temperaturas superiores a 25ºC. Os meses de Julho e Agosto são os meses que tipicamente registam temperaturas mais elevadas podendo ocorrer mais de 10 dias com valores superiores aos 30ºC. A proximidade do oceano e dos sistemas montanhosos confere ao município de Braga valores elevados de precipitação anual, que de acordo com as normais climatológicas de 1971 a 2000, rondou a média dos 1.466 mm (Instituto de Meteorologia, 2011). Os meses de Outubro a Fevereiro registam normalmente valores acima dos

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150 mm mensais e entre Março e Maio aproximam-se dos 100 mm (Figura 35). Constata-se, portanto, que a adoção de percursos para a utilização dos modos suaves como uma solução de mobilidade carece de uma atenção especial para mitigar os inconvenientes das elevadas temperaturas que se registam nos meses de Verão e os dias com precipitação dos restantes meses, designadamente os de Outono e de Inverno onde são mais intensas e prolongadas.

Figura 35 – Número de dias com temperaturas superiores a 25ºC e a 30ºC e média da quantidade

de precipitação total (mm), por meses, no posto agrário em Braga (normal climatológica entre 1971 e 2000)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Instituto de Meteorologia, 2011.

A topografia dos territórios é outro fator que pode condicionar a utilização dos modos suaves e a acessibilidade aos transportes públicos. Os Sistemas de Informação Geográfica (S.I.G.) disponibilizam várias ferramentas para compreender a sua magnitude e distribuição, nomeadamente através da construção do modelo digital do terreno (M.D.T.). Este é construídoa partir das curvas de nível e (ou) pontos cotados e está na base de vários processos de modelação espacial, como por exemplo, na modelação hidrológica e meteorológica ou na identificação de traçado de vias adequados. O M.D.T. presente na Figura 36 permite, em primeira instância, obter uma visão tridimensional do território possibilitando também a produção de cartografia temática, como é o caso dos declives, da orientação de encostas ou dos mapas hipsométricos (Ribeiro, 2004b). 0 50 100 150 200 250 0 5 10 15 20 25

Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez

mm dias

Mês

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Em termos de altitudes, no município de Braga, a classe mais representativa é a dos 100 aos 150 metros, ocorrendo a maior elevação aos 570 metros. As menores altitudes ocorrem nas freguesias localizadas a N e a NW do município onde se localiza um vale amplo, dominado pelo rio Cávado. Este serve de fronteira aos municípios de Amares e de Vila Verde a norte. Por seu turno, as maiores altitudes encontram-se nas freguesias localizadas a este e a sul na transição para os municípios de Póvoa de Lanhoso e de Guimarães. Nestas, localiza-se o santuário do Bom Jesus e o santuário do Sameiro que são alguns dos principais pontos de turismo religioso do município de Braga (Ribeiro, 2004a). Neste município verifica-se a existência de algumas colinas, nomeadamente a SSW do município conforme se pode observar no M.D.T. presente na Figura 36.

Figura 36 – Modelo Digital do Terreno do município de Braga

Fonte: Elaboração própria.

Outro instrumento fundamental para utilizar em planeamento é a carta de declives, que identifica o grau de inclinação de um terreno. A sua integração ao nível do planeamento e do ordenamento do território tornou-se imprescindível nos vários Instrumentos de Gestão Territorial (I.G.T.), como é o caso do Plano Diretor Municipal (P.D.M.). Os declives também podem condicionar a implementação

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de projetos de mobilidade que incluam construção de redes cicláveis e pedonais. Do mesmo modo, também interferem com a acessibilidade da população aos transportes públicos. Considerando a sua importância para medir a acessibilidade, no modo “andar a pé”, apresenta-se na Figura 37 o mapa de declives para o município de Braga.

Figura 37 – Mapa de declives do município de Braga

Fonte: Elaboração própria.

No município de Braga predominam as áreas com os declives inferiores a 5%, as quais representam cerca de 27% da área total do município. A segunda classe mais representativa é a de declives superiores a 25% que estão presentes em 20% do município. A presença de várias colinas no município implica que muitas das vias apresentem declives, dificultando a deslocação nos modos suaves. Os declives estão ainda presentes no núcleo central onde existe algumas vias com declive acentuado. Apesar destas características do território é frequente ignorar-se esta componente física em estudos de mobilidade.

Procurou-se conhecer como se distribui a população, no município de Braga, segundo as várias classes de declive. Observa-se que cerca de 37% da população reside em áreas com declive

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superior a 10% e cerca de 34% da população reside em áreas com declive inferior a 5%. A população idosa é a mais afetada pelo aumento dos declives devido às maiores dificuldades de marcha. O declive das vias é um fator que condiciona e que interfere com os níveis de acessibilidade aos transportes públicos. Apesar disso, o declive das vias é recorrentemente ignorado na generalidade dos estudos não havendo, também, informação acerca da velocidade de deslocação da população idosa. Na presente investigação pretende-se dar um contributo metodológico sobre a inclusão do declive das vias e da velocidade da população idosa na modelação. No próximo capítulo descrevemos os pressupostos metodológicos adotados.

O estudo da orientação das vertentes contribui para identificar as áreas com maior incidência dos raios solares, as quais têm implicações, e.g., ao nível da evapotranspiração, da humidade dos solos, da formação de nevoeiros e de geadas. O grau de exposição solar também interfere com a pressão urbanística, uma vez que as áreas com maior exposição solar são habitualmente as mais procuradas. Por outro lado, as áreas com menor exposição solar têm implicações, ao nível do conforto e na implementação de percursos cicláveis e pedonais. Também é importante para se obter uma perceção da segurança na circulação rodoviária, pois as áreas com menor exposição solar propiciam a formação de geadas e de nevoeiro. Neste município cerca de 31 Km2 do território

está orientado a Noroeste, 27 km2 a Oeste e 20 km2 a Norte. Em contrapartida aproximadamente 32

km2 do território municipal está orientado a sul e a sudeste.

O município de Braga possui dois cursos de água principais onde o rio Cávado apresenta um regime regularizado fruto dos diversos aproveitamentos hidroelétricos que se desenvolvem ao longo do seu curso natural. Este curso de água define o limite do município a norte. O rio Este, afluente do rio Ave, nasce no limite Noroeste do município e prima por ter parte do leito urbano canalizado. O município de Braga também tem sido afetado por inundações em anos com precipitação elevada como ocorreu em 2001 (Ribeiro, 2004b). Este também é um elemento a ter em consideração na construção de vias dedicadas aos modos suaves, pois pode ceder-se à tentação de aproveitar as margens destes cursos de água para criar percursos pedonais ou cicláveis. Apesar do elevado grau de atratividade destas áreas é certo que em anos favoráveis à ocorrência de inundações, como a de 2001, a sua destruição seria uma realidade.

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