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A perceção da população sobre a qualidade de vida em Braga

PARTE II. ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE AOS SERVIÇOS DE SAÚDE

3. Caracterização da área de estudo e do sistema de saúde em

3.2 O território de estudo

3.2.4 A perceção da população sobre a qualidade de vida em Braga

À escala mundial verifica-se uma tendência de reforço da concentração da população a residir em cidades tendo aumentado, por isso, as preocupações com a qualidade de vida urbana. Neste contexto, a perceção da população assume um destaque particular uma vez que os investimentos realizados para promover a qualidade de vida à população podem não ser percecionados por esta. Com efeito, o inquérito à perceção da população desenvolvido no seio do projeto Urban Audit , em 75 cidades europeias, é um marco importante na recolha destes dados. Analisaremos os pressupostos metodológicos que norteiam este projeto no próximo capítulo.

Os dados recolhidos no âmbito do Urban Audit permitem-nos desenvolver uma abordagem comparada, em Portugal, sobre a perceção que os residentes têm da cidade de Braga e, por exemplo, da cidade de Lisboa.

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De acordo com os resultados deste inquérito à perceção dos residentes no município de Braga, observa-se que a presença de estrangeiros nesta cidade é considerada globalmente positiva e vantajosa para a cidade por cerca de 70% da população residente inquirida. Não obstante, na maioria das cidades europeias os inquiridos revelarem que não concordavam que estes estrangeiros tenham sido bem acolhidos.

Os principais problemas da cidade de Braga foram identificados como sendo principalmente a criação de emprego (70%), os serviços de saúde (67%) e a educação (43%). Na cidade de Lisboa os principais problemas enunciados foram sensivelmente os mesmos, apesar de as preocupações com as condições de habitação e da segurança urbana se terem destacado em Lisboa (European Comission, 2009). Salienta-se que, no quadro das 75 cidades, relativamente aos serviços de saúde, a cidade de Braga foi a que registou maior proporção de respostas a referirem-nos como um dos três principais problemas da cidade (Figura 40).

Figura 40 – Perceção da população residente de Braga e de Lisboa sobre os maiores problemas dessas cidades, em 2009

Fonte: Urban Audit, 2009, Perception survey on quality of life in European cities.

Os custos da habitação são um elemento que se reflete no rendimento disponível das famílias. Questionados sobre a facilidade em encontrar uma habitação a preços razoáveis constata-se uma divergência nas respostas obtidas em Braga e em Lisboa. Enquanto Braga surge entre as cidades onde se registou a maior proporção de respostas que concordavam com essa facilidade, a capital aparece na cauda revelando que é das cidades em que os inquiridos mais discordavam (European

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Comission, 2009). Tal perceção reflete, os custos de habitação que são consideravelmente mais elevados em Lisboa do que em Braga. Uma análise ao valor médio por transação, em 2009, verifica-se que em Braga rondou os 86 mil euros enquanto em Lisboa rondou os 233 mil euros (Instituto Nacional de Estatística, 2009c).

Uma das variáveis cuja perceção mais variou nas 75 cidades onde decorreu o inquérito esteve relacionada com o facto de a pobreza ser identificada com um problema. A variação entre países foi significativa, assim como entre cidades do mesmo país, tais como as portuguesas. A proporção de inquiridos que concordou totalmente que a pobreza é um problema na cidade variou entre os 50% em Lisboa e os 28% em Braga. Apesar disso, os inquiridos têm a perceção que é mais difícil encontrar um emprego em Lisboa (55%) do que em Braga (46%). Em Braga mais de metade dos inquiridos revelou nunca ter tido dificuldades em pagar as contas financeiras, embora 18% tenha referido que, por vezes, sente dificuldades e 5% considera estar frequentemente com dificuldades em liquidar as suas contas (European Comission, 2009).

Em 2010, no contexto do baixo Minho (sub-regiões do Cávado e do Ave), o município de Braga registou a taxa de criminalidade mais elevada, que se cifrou em 40 crimes por mil habitantes (Instituto Nacional de Estatística, 2010c). Apesar deste facto, tal ainda não se refletiu na perceção de segurança revelada no inquérito, uma vez que mais de metade dos inquiridos (57%) mencionou sentir-se seguro nesta cidade. Este sentimento de segurança urbana aumenta para 75% se considerarmos a percepção que os indivíduos possuem sobre a segurança na sua área de residência. Esta perceção de segurança em Braga contrasta com a manifestada pelos inquiridos da capital, onde apenas 34% concordou totalmente que se sente seguro naquela cidade. O mesmo inquérito revelou que Braga foi das cidades onde os inquiridos revelaram maior confiança nas pessoas que residem na cidade (European Comission, 2009).

Ao nível ambiental procurou-se obter a perceção dos inquiridos sobre as questões da poluição e do ruído existentes na sua cidade. Os inquiridos que não consideram a poluição ou o ruído como um grande problema tiveram maior expressão na cidade de Braga. Nesta cidade, cerca de 46%, no caso da poluição, e 47%, no caso do ruído, discordaram que estes sejam um grande problema. Cerca de 1/

3 dos inquiridos também revelou estar satisfeito com os espaços públicos, onde se incluem as

áreas pedonais, havendo, contudo, 18% pouco satisfeitos e 6% nada satisfeitos com estes espaços. Entretanto, o grau de satisfação desce quando questionados sobre a satisfação com a atratividade

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das ruas e dos edifícios da área onde residem. A proporção de indivíduos que manifestou estar satisfeito foi de 69%, enquanto 9% revelou não estar nada satisfeito. Os resultados de satisfação foram semelhantes quando foram questionados sobre o grau de satisfação com as condições para andar a pé ou de bicicleta (European Comission, 2009).

Relativamente aos transportes públicos os dados deste inquérito revelam que 47% dos inquiridos nunca os utilizou como solução de mobilidade e apenas 14% revelou utilizá-los diariamente. Sobre o grau de satisfação com os transportes públicos, apesar de 39% não ter respondido, cerca de metade, dos que responderam, manifestou-se satisfeito. A cidade de Braga foi a terceira no ranking das 75 cidades que apresentou a maior proporção de inquiridos que nunca utilizou os transportes públicos, atrás de Nicósia (84%), no Chipre, e de Palermo (53%), em Itália. Em Braga, as principais razões apontadas para não os utilizar foram o facto de considerarem que a rede não se ajusta às suas necessidades (23%), por não gostarem de transportes públicos (11%), devido aos horários (9%) ou à dificuldade em aceder à rede (7%). Outras razões apontadas pelos inquiridos para os afastar da utilização dos transportes públicos foram as frequências, a segurança e o elevado preço das tarifas dos transportes públicos bem como o congestionamento das vias. Cerca de metade dos inquiridos ainda considerou outras debilidades, embora não tenham revelado quais eram (European Comission, 2009).

A cidade de Braga aparece no topo do ranking das cidades onde os inquiridos mais optaram pelo automóvel para se deslocarem para o trabalho ou para a escola (European Comission, 2009). Cerca de 63% destes inquiridos revelou utilizar habitualmente o automóvel e 25% opta por “andar a pé” ou em bicicleta. A percentagem de indivíduos que utilizam os transportes públicos é substancialmente inferior em Braga, embora nas deslocações a “andar a pé” superem as verificadas em Lisboa (Figura 41).

Adicionalmente, as cidades de Groningen (Holanda), Copenhaga (Dinamarca) e Amesterdão (Holanda) foram as cidades que obtiveram maior proporção indivíduos que referiu utilizar a bicicleta nessas deslocações. Em Groningen e em Copenhaga a proporção foi de 60% e em Amesterdão foi de 46%. Relativamente ao modo “andar a pé” destaca-se a cidade de Oviedo, em Espanha, onde 48% dos inquiridos referiu utilizar este meio de transporte e apenas 29% mencionou utilizar o automóvel privado nessas deslocações (European Comission, 2009). Apesar de em Braga o modo de deslocação dominante ser o automóvel e em Oviedo o modo “andar a pé”, constata-se que em

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ambas as cidades praticamente todos os inquiridos alcançam o local de trabalho/estudo em menos de 30 minutos, dos quais cerca de 35% demora menos de 10 minutos (European Comission, 2009).

Figura 41 - Meio de transporte utilizado para a população residente em Braga e Lisboa se deslocar para o trabalho ou escola, por meio de transporte, em 2009

Fonte: Urban Audit, 2009, Perception survey on quality of life in European cities.

A quota de utilização dos modos suaves em algumas cidades europeias é muito significativa revelando que ainda existe muito trabalho a realizar em Portugal, para nos aproximarmos desses níveis. Apesar dos vários desafios e obstáculos que é necessário ultrapassar é necessário começar desde logo a atuar ao nível da legislação rodoviária (código da estrada) que necessita de efetuar o devido enquadramento do ciclista. Os dados da sinistralidade podem ajudar a compreender melhor esta necessidade de enquadramento face ao aumento de atropelamentos de ciclistas. Tal sobressai a necessidade de atuar também sobre a necessidade de se criarem infraestruturas que facilitem e promovam a circulação a pé ou em bicicleta com segurança.