• Nenhum resultado encontrado

PARTE II. ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE AOS SERVIÇOS DE SAÚDE

3. Caracterização da área de estudo e do sistema de saúde em

3.3 Organização e evolução do sistema de saúde

3.3.2 A oferta de serviços de saúde em Braga

O município de Braga é abrangido pelo Agrupamento de Centros de Saúde (A.C.E.S.) do Cávado I. Este é composto por três unidades de saúde (centros de saúde) e, em Dezembro de 2011, incluía sete Unidades de Saúde Familiar (U.S.F.) e doze Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (U.C.S.P.). A geografia das unidades de saúde permite identificar três espaços de influência: a norte, a leste e a sudoeste. A área de influência definida aquando da constituição de cada unidade funcional encontra-se representada na Figura 42.

As características de cada unidade funcional não são homogéneas conforme se pode constatar pela análise do Quadro 8.

A unidade de saúde de Maximinos é a mais representativa em termos de área de influência e de população potencial abrangida. A sua área de influência é de cerca de 74 km2 e estende-se por 32

freguesias localizadas a oeste e a sudoeste do município. Estas freguesias totalizavam, em 2011, cerca de 111.556 indivíduos residentes.

Por seu turno, a unidade de saúde do Carandá configura-se como a segunda unidade com maior representatividade. A sua área de influência abrange 19 freguesias situadas a leste e a sudeste da área central do município totalizando uma área com 63 km2. Em 2011, residiam, nestas freguesias,

185

Figura 42 – Área de influência das unidades funcionais do A.C.E.S. do Cávado I, em 2011

Fonte: Elaboração própria com base nos dados disponibilizados pela Administração Regional de Saúde Norte, I.P.. Por último, o setor norte do município encontra-se incluído na área de influência da unidade de saúde de São Vicente/Infias. Esta abrange 16 freguesias, as quais totalizam uma área com 58 Km2

onde residem cerca de 49 mil indivíduos.

A densidade populacional de cada unidade funcional está expressa na Figura 43. É notório que a área de influência das U.S.F. abrange territórios com maior densidade populacional quando comparada com a da U.C.S.P. Destaca-se a U.S.F. Manuel Rocha Peixoto, com 6.500 hab./Km2

seguida das U.S.F. de São João, do Carandá e a Bracara Augusta, cujas densidades populacionais oscilam entre os 3.000 e os 5.000 hab./Km2. Estas U.S.F. têm em comum o facto de se

localizarem no núcleo central de Braga.

As freguesias localizadas no núcleo central, bem como as de São Vítor, São Lázaro, São Vicente, Nogueiró e Lamaçães têm ainda em comum o facto de pertencerem à área de influência de várias unidades de saúde/funcionais. Tal deve-se ao facto de estas freguesias possuírem as maiores densidades populacionais, as quais estão na base da criação de novas unidades funcionais.

186

Quadro 8 – Características das Unidades Funcionais do Agrupamento de Centros de Saúde do Cávado I – Braga, em 2011

Fonte: Elaboração própria com base em Administração Regional de Saúde Norte, I.P..

Em consequência, os residentes nestas freguesias dispõem de um maior número de serviços de saúde a menores distâncias e com custos de deslocação consideravelmente inferiores aos dos residentes nas freguesias mais periféricas onde predominam as U.C.S.P.

Figura 43 – Densidade populacional de cada unidade funcional do A.C.E.S. do Cávado I, em 2011

187

Estas servem, então, os territórios de baixa densidade populacional onde as distâncias necessárias para os alcançar são superiores.

Ao nível da geografia dos serviços de saúde a ausência de planeamento pode conduzir à criação de espaços com níveis de acessibilidade muito reduzidos. No caso de Braga estes espaços ocorrem nas freguesias mais periféricas ao núcleo central (Figura 44). Apesar de, geralmente, na proximidade de cada prestador de cuidados de saúde se localizar pelo menos uma farmácia, verifica-se que em alguns espaços apenas está disponível ou a farmácia ou o prestador de cuidados de saúde. Ainda assim, é possivel identificar “desertos de serviços de saúde” que são os espaços onde as desigualdades territoriais são mais severas. Estes “desertos” correspondem aos espaços onde se verifica a ausência quer do prestador de cuidados de saúde quer de farmácias onde a população possa aviar as suas receitas.

Figura 44 – Densidade populacional (segundo o modelo Kernel) do município de Braga, em 2001, e localização dos serviços de saúde

188

Os “desertos de saúde” localizam-se nas freguesias mais periféricas do município sendo que algumas delas correspondem às áreas de maior altitude do município. Deste modo, estes espaços são, em termos potencias, as áreas com maior vulnerabilidade à exclusão social. No entanto, é ainda possível identificar na franja suburbana e periurbana do município alguns espaços onde, apesar da localização de uma farmácia, a distância ao prestador de cuidados de saúde primários é significativa.

A melhoria da acessibilidade aos serviços de saúde pode ser alcançada segundo duas vias. A primeira via passa pela relocalização das unidades funcionais e das farmácias com vista a maximizar a acessibilidade aos serviços de saúde. A segunda via passa por otimizar a rede de transporte públicos adequando a oferta às necessidades da população. Esta visão integrada do uso do solo e dos transportes é fundamental para colmatar as desigualdades que vão surgindo nos territórios, tornando, deste modo, o acesso aos serviços de saúde mais equitativo.

O serviço de proximidade assume-se como um dos principais objetivos das políticas de saúde em Portugal. Deste modo, a localização das unidades funcionais é um elemento fundamental para o concretizar, onde a acessibilidade deve ser maximizada. Porém, apesar de concetualmente este ser um dos objetivos não existe uma prática de planeamento que a procure concretizar.

3.4

Notas conclusivas

Portugal à semelhança das sociedades mais desenvolvidas tem-se pautado pelo decréscimo da taxa de natalidade e de fecundidade, e pelo aumento da longevidade, que resulta no duplo envelhecimento da população (diminuição da base da pirâmide etária e aumento do seu topo). Portugal também possui um longo historial de emigração cuja tendência se tem vindo a alterar nas últimas décadas. O crescimento da população tem-se mantido devido a um saldo migratório positivo, que revela o maior número de entradas relativamente às saídas. Em Portugal o número de idosos é mais significativo nas sub-regiões do interior tendo as sub-regiões do litoral do Tâmega e do Cávado (onde se localiza o município de Braga) obtido a menor percentagem de população idosa. Em termos de apoios sociais, dos cerca de meio milhão de beneficiários do rendimento social de inserção, em 2009, cerca de 45% residia na região norte, nomeadamente no Grande Porto. Os principais destinatários deste programa de apoio social foram os indivíduos com 25 ou menos anos,

189

tendo obtido maior expressão no município de Vila Verde, que é contíguo ao de Braga. Os idosos que recorreram a este programa cifraram-se em 11% e localizavam-se principalmente nas sub- regiões do Minho-Lima e do Alto Trás-os-Montes. Em 2009 cerca de 26% da população residente na região norte era pensionista, principalmente devido à velhice.

Em termos sociais assiste-se a profundas transformações em Portugal às quais a região norte não escapa. O aumento do número de famílias monoparentais, a diminuição do número de casamentos contrastando com o aumento do número de divórcios tem sido dos aspetos mais evidentes. Estas tendências enquadradas num panorama demográfico de envelhecimento da população tendem a agravar as situações de exclusão social dos indivíduos mais vulneráveis. Habitualmente a família nuclear tem servido de suporte dos mais jovens e dos mais idosos. Porém, estas transformações tendem a alterar estes laços e a empurrar os mais vulneráveis para situações de dependência, nomeadamente, para aceder aos serviços de saúde.

As sub-regiões que compõem o norte de Portugal evidenciam uma boa prestação em termos ambientais, obtida pela comparação do I.S.D.R., constatando-se que as sub-regiões com melhor desempenho em termos de competitividade possuem também o pior desempenho em termos ambientais.

O quadrilátero urbano, constituído pelas cidades de Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão e de Barcelos, cujos municípios albergaram conjuntamente, em 2011, cerca de 600 mil habitantes, revelou uma taxa de crescimento de 4% relativamente a 2001 fruto do acréscimo populacional registado essencialmente no município de Braga e com menor impacto no município de Vila Nova de Famalicão. Por seu turno, os municípios de Guimarães e de Barcelos têm vindo a perder atratividade demográfica conforme comprova a taxa de crescimento negativa registada na última década.

Contrariamente a esta dinâmica demográfica observada nos municípios do quadrilátero esteve o comportamento dos municípios rurais de Terras de Bouro e de Vieira do Minho. Na última década a perda de efetivos populacionais, nestes municípios, correspondeu a uma taxa de crescimento populacional negativa, na ordem dos 12%. Esta é uma situação extremamente preocupante, pois estes municípios apresentam a maior percentagem de indivíduos incluídos nos grupos mais vulneráveis à exclusão social, como é o caso dos idosos e dos viúvos. A agravar esta situação estes

190

municípios também possuíam o ganho médio mensal e as ofertas de emprego mais baixas do território que delimitava a extinta Grande Área Metropolitana do Minho. Esta situação é ainda agravada devido à limitada e ineficiente oferta de transportes públicos. Assim, a população residente nestes municípios vê-se privada de alternativas ao automóvel para aceder às oportunidades localizadas nos centros urbanos do quadrilátero, tal como, o Hospital de Braga.

O município de Braga tem sofrido uma dinâmica demográfica muito positiva acompanhada pela construção de novas infraestruturas que alteram os padrões de mobilidade da população. Desde logo, pela deslocalização do hospital público que abandonou o núcleo central para um local mais periférico. Outras infraestruturas importantes têm escolhido a cidade de Braga para se implantar, tais como o Centro Ibérico de Nanotecnologia, próximo da Universidade do Minho, novos centros comerciais e o Hospital Privado da Trofa.

Em termos de transportes é latente o vazio criado pela ausência de uma conetividade ferroviária entre os municípios de Braga com o de Guimarães e de Barcelos que se configure como alternativa à rodoviária. A acessibilidade rodoviária a Braga aumentou significativamente com a introdução das novas autoestradas que articulam todas as cidades do quadrilátero com o Grande Porto. A cidade de Braga possui uma estação ferroviária terminal que sofreu obras de modernização tal como a linha Porto-Braga, concretizando-se numa ligeira melhoria do tempo de deslocação. No entanto, é evidente a ausência de uma estação intermodal. No município de Braga a esmagadora maioria das deslocações são realizadas em automóvel, eventualmente como um reflexo da aposta na construção de novas variantes e na circular urbana e em parques de estacionamento de grande capacidade existentes no núcleo central. Os transportes urbanos constituem-se como a principal alternativa de deslocação. A recente ampliação da rede pedonal do centro histórico tem permitido o recurso ao meio de transporte “andar a pé” nesta área urbana.

A ausência de uma prática de planeamento para a localização dos serviços de saúde que promova a acessibilidade e a mobilidade sustentável pode conduzir ao aumento das desigualdades sociais no acesso a estes equipamentos. A diminuição da quota modal que o automóvel detém atualmente nas deslocações dos indivíduos é um desígnio que coloca novos desafios metodológicos para avaliar a acessibilidade aos equipamentos de saúde. É neste contexto que desenvolvemos a componente mais empírica desta dissertação e sobre a qual nos debruçaremos nos capítulos seguintes.

191

Os municípios portugueses têm investido quer na aquisição de informação recente e com maior qualidade, quer na criação de gabinetes de informação geográfica. Porém, a simplicidade de operação que as ferramentas de S.I.G. têm vindo a implementar podem resultar na produção de cartografia errada a utilizadores menos experientes e conduzindo a leituras e interpretações do espaço desadequadas. Tal deve-se fundamentalmente à não correção dos erros que abundam ao nível da informação de base para a produção das várias cartas temáticas.

193