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A formação do professor de educação especial.

Capítulo II Ser Professor de Educação Especial na Escola Atual

2.3 A formação do professor de educação especial.

As diferentes conceções teóricas referidas anteriormente têm consequências no modo como a formação especializada tem vindo a ser equacionada. Questionando-se atualmente qual deverá ser o papel e as funções do professor de educação especial, questiona-se qual o modelo de formação que melhor responde a um determinado perfil de desempenho.

O que é que se entende por professor de educação especial? Será um perito, um especialista que aplica técnicas específicas e cientificamente fundamentadas face aos diferentes tipos de deficiências ou será um profissional da mudança educativa que é capaz de responder de forma única e adaptada às necessidades e problemas das situações singulares com que se depara?

Como responder a estas questões? Será que as conceções de professor especializado acima referidas são conciliáveis e pertinentes no contexto da escola atual? Se o são, como equacionar processos de formação que contemplem a vasta gama de competências que lhe são inerentes?

A formação de professores especializados54 constitui atualmente uma realidade complexa, uma vez que não pode deixar de responder a uma determinada conceção de educação especial, cujos pressupostos terão necessariamente impacto no perfil do professor que se pretende formar.

No nosso país, a formação especializada em educação especial55 é entendida como uma formação acrescida, a realizar por instituições do ensino superior, às quais compete o desenvolvimento de cursos que permitam o desenvolvimento de competências de análise crítica, competências de intervenção, competências de formação, de supervisão e de avaliação e de consultadoria.

No âmbito destes três domínios, enumeram-se quinze competências a desenvolver na formação e que consubstanciam, em última análise, o perfil de desempenho esperado para o professor de educação especial. A análise global das competências previstas mostra que se atribui ao professor especializado um conjunto vasto e diversificado de

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A formação de professores de educação especial iniciou-se no nosso país nos anos 40 do século passado no Instituto António Aurélio da Costa Ferreira. Esta instituição foi responsável durante quatro décadas pela especialização de professores em ensino/educação especial, sendo extinta em 1986, altura em que a formação em educação especial passou a ser ministrada na Escola Superior de Educação de Lisboa. De há uns anos a esta parte, com a liberalização da oferta formativa, a formação de professores especializados é realizada por diversas instituições de ensino superior, quer estatais, quer privadas.

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Cf. Despacho conjunto nº 198/99 de 15 de Fevereiro, no qual se definem os perfis de formação na formação especializada de professores, tendo como base o regime jurídico da formação especializada de educadores de infância e de professores dos ensinos básico e secundário aprovado pelo Decreto-Lei nº 95/97 de 23 de Abril.

papéis e de funções que, não se limitando à intervenção junto de alunos com necessidades educativas especiais e suas famílias, abrange também a intervenção na escola enquanto organização, o apoio na formação contínua de professores do ensino regular e a colaboração na formação de professores especializados e dos órgãos de gestão das escolas.

Em termos gerais a formação tem vindo a desenvolver-se no sentido de formar professores com vista ao atendimento de alunos portadores de determinada deficiência. Nessa medida, existem professores especializados em diferentes categorias deficitárias, pretendendo-se que as mesmas correspondam às exigências inerentes ao recrutamento destes profissionais. Ao longo das últimas duas décadas, a tipologia dos cursos e as designações das diversas especializações foram sendo alteradas, no sentido de se adaptarem não só às conceções desenvolvidas neste domínio, mas também às exigências do próprio sistema educativo. Nessa medida alguns cursos de formação centraram-se mais no desenvolvimento de competências de apoio e de intervenção junto não só dos alunos, mas sobretudo junto dos professores e das escolas, tendo em vista a sua mudança.

Mas, grande parte da formação que vem sendo realizada fundamenta-se simultaneamente nos pressupostos dos modelos deficitário e interativo anteriormente referidos (Ainscow,1998), concebendo-se o professor de educação especial como um perito em determinada categoria de deficiência/problemática, a quem, enquanto recurso da escola compete a procura de respostas adequadas que facilitem a integração dos alunos com necessidades educativas especiais bem como a colaboração e o apoio a toda a comunidade escolar.

Sanches (1995), no estudo empírico que realizou sobre a formação especializada concluiu que alguns cursos56 se caracterizavam por uma abordagem teórico-prática, realizada no âmbito da investigação em educação, bem como pela preocupação em considerar o formando como sujeito da sua própria formação, dinamizador de aprendizagens dos alunos e com uma intervenção mais alargada a nível social. Nessa medida, sublinha que alguns cursos de formação especializada assentavam num modelo educativo de intervenção, no qual o discurso de natureza pedagógica e educativa ganha relevo, e onde as áreas de especialização se organizam em torno de determinado tipo de

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O estudo envolveu a formação desenvolvida no Ensino Superior, sob a responsabilidade do Ministério da Educação, entre 1976 e1991, contemplando três cursos: Curso de Formação de Professores do Ensino Especial do Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, Curso de Educação Especial da Escola Superior de Educação de Lisboa e Curso de Educação Especial da Escola Superior de Educação do Porto.

problemas do indivíduo. No entanto, não deixa de assinalar as diferenças existentes entre os cursos de especialização, relativamente às conceções de formação subjacentes e às diferentes designações das áreas de especialização.

Correia (1999) entende que a formação especializada deve permitir ao professor a aquisição de competências específicas que lhe permitam desempenhar convenientemente as suas funções e, nessa medida, enumera um conjunto de conhecimentos e capacidades a desenvolver no processo formativo.

A análise desta proposta (ver quadro 8) permite perceber por um lado, a preocupação em centrar a formação na aquisição de um conjunto de conhecimentos específicos com vista a um adequado atendimento do aluno com necessidades educativas especiais e, por outro, o vasto leque de funções e de papéis atribuídas ao professor especializado.

Quadro 7 - Competências a desenvolver na formação e funções do professor

especializado (Correia,1999, pp. 163,164)

Competências a desenvolver na formação Funções do professor especializado

1.Capacidades de diagnóstico, prescritivas e de avaliação processual;

2. Conhecimento dos currículos regulares e ser capaz de identificar, adaptar e implementar currículos alternativos;

3. Conhecimentos do tipo de materiais educacionais usados na implementação de programas e das novas tecnologias adaptadas à educação especial;

4. Conhecimento sobre todo o processo de