• Nenhum resultado encontrado

A gestão da atenção no desenvolvimento de contextos on-line de suporte à aprendizagem.

Sistemas tecnológicos de suporte.

2.5 Gestão da atenção na aprendizagem de projeto e na mediação tecnológica.

2.5.3 A gestão da atenção no desenvolvimento de contextos on-line de suporte à aprendizagem.

A forma como gerimos a nossa atenção é um dos fatores chave no sucesso de atividades criativas, na aprendizagem, na colaboração e em muitas outras atividades humanas exigentes, do ponto de vista cognitivo. Contudo, o reconhecido aumento e diversificação dos sistemas tecnológicos de comunicação móvel, com suporte na Web, estão a modificar dramaticamente o equilíbrio entre a informação disponível e a capacidade humana de processar informação. O excesso de informação reduz a nossa capacidade de tomar atenção ao que é essencial para o correto desempenho das nossas atividades diárias. Se acrescentarmos a este facto o número crescente de sistemas tecnológicos com que as pessoas interagem enquanto estão envolvidas em diversas atividades paralelas, facilmente compreenderemos porque a atenção se tornou num recurso escasso.

Nos dias de hoje a escolha adequada do foco da atenção é essencial na organização eficiente do tempo/esforço, na tomada de decisões sustentáveis, na definição de objetivos de trabalho exequíveis e na satisfação pessoal decorrente do desempenho tecnológico.

Este facto tem atraído a curiosidade de alguns investigadores, em áreas multidisciplinares, que se concentram na análise de questões relacionadas com a conceção de sistemas capazes de suportar as capacidades cognitivas limitadas dos seres humanos, no que diz respeito à orientação da atenção. Inclusivamente são propostas algumas categorias para este tipo de sistemas: “Attention-Aware Systems” (Roda e Thomas, 2006); “Attentive User Interfaces” (AUI), (Vertegaal e Shell, 2010); “Notification User Interfaces” (McCrickard, Czerwinski e Bartram, 2003).

Estes estudos reforçam que é possível ajudar os utilizadores de ambientes digitais a redirecionarem a sua atenção, manter a atenção sobre determinados itens ou simplesmente alertá-los para a possibilidade de um estímulo relevante.

Na definição de uma estratégia de design de sistemas tecnológicos dedicados ao suporte on-line da aprendizagem, a atenção do utilizador tem um papel central na definição dos requisitos de interação dos sistemas. Quando se proporciona um contexto em que o utilizador está concentrado, torna-se possível para ele perseguir determinados objetivos sem se distrair com a imensa variedade de alternativas de estímulos e de ações.

A investigadora Cláudia Roda, no seu mais recente estudo sobre a orientação da atenção em ambientes digitais, enfatiza que os sistemas preparados para reorganizar o processo de atenção humana (Attentiona-Aware Systems) “desempenham um papel importante em diversas situações problemáticas enfrentadas pelos utilizadores de ambientes digitais e visam reduzir a sobrecarga de informações, limitando os efeitos negativos das interrupções e dando suporte a situações multitarefa” (Roda, 2011, p.12).

Dando alguns exemplos sobre como a gestão da atenção pode guiar de forma efetiva a interação em ambientes on-line de aprendizagem, Roda faz referência aos resultados positivos que obtiveram sobre a influência que a orientação da atenção dos alunos tem sobre os resultados académicos, e a forma como esta ajudou a promover a atitude proativa em torno das atividades de aprendizagem e o aumento da motivação (Molenaar e Roda, 2008). Foram ainda identificados resultados semelhantes que apontam para os efeitos positivos da orientação da atenção em outras situações como a resolução cooperativa de problemas (Velichkovsky, 1995) e em contextos em que os utilizadores necessitaram de assistência proativa (Eisenhauer et al., 2005).

No entanto, apesar das diversas abordagens ao estudo de sistemas de suporte à orientação da atenção, Roda salienta que o corpo de conhecimento gerado por estas novas teorias ainda apresenta algumas fragilidades:

“One problem that has often been encountered in designing attention-aware systems is that current knowledge about the cognitive and perceptual processes underlying attention allocation is, if seen from an HCI (human–computer interaction) point of view, very scattered. At the macro- level, many different theories, based on diverse hypotheses, describe individual aspects of attention, but no unified view of attentional phenomena exists. At the micro-level, research results about individual attentional phenomena are often analyzed for very simple tasks and environments which, while allowing for sound and well-controlled experimental settings, do not reflect at all the conditions of users in real world applications. Unfortunately this situation is not likely to change in the short term. The integration of the different aspects of attention in a single theory capable not only of describing individual phenomena but also of predicting their effects and interactions seems currently out of our reach.” (Roda, 2011, p.12).

Roda e os seus colaboradores têm feito um esforço em reunir os resultados mais recentes da Psicologia que possam contribuir para a superação das limitações da cognição e perceção humana no desenvolvimento deste tipo de sistemas. Em resultado desses estudos, Roda acrescentou que as Neurociências e a Psicologia Cognitiva, no estudo da relação entre a atenção e a memória, excluem quase por completo a discussão sobre a “atenção de longo e curto-termo” (Roda, 2011, p.13).

Segundo Roda, a nossa perceção, relativamente a aspetos sociais e estéticos, tem grande influência na forma como orientamos a nossa atenção no sentido da fonte geradora do estímulo. A investigadora divide a atenção em dois tipos:

(1) Atenção de curta duração, entendida como um processo fortemente relacionado com a memória de trabalho e com a carga cognitiva, refletida na concentração imediata num objeto ou atividade;

(2) Atenção de longa duração, percebida como um processo de longa duração, que pode ir de breves minutos a meses.

Outro aspeto interessante no estudo de Roda é a diferenciação entre os processos endógenos e exogéneos no estudo dos fatores que orientam a atenção seletiva dos utilizadores em ambientes virtuais (Roda, 2011, p.15).

Segundo algumas teorias da psicologia que estudam a atenção humana, esta dicotomia ocorre sempre que as pessoas dividem o seu foco entre a consciência do controlo que possuem sobre as situações e os fatores externos do ambiente que determinam a sua resposta.

Quando a nossa atenção é detida, de forma voluntária, por fatores internos (como por exemplo quando seguimos uma sequência de palavras, lemos um texto), a orientação da atenção é controlada por um processo endógeno. Quando a nossa atenção é detida, de forma involuntária, por fatores externos (como por exemplo um som agudo ou uma imagem a piscar), a orientação da atenção é controlada por um processo exogéneo

No design de interação para sistemas de suporte à aprendizagem, é crucial ter sempre em conta a adequação do método de orientação da atenção mais eficaz para cada funcionalidade do sistema. É importante distinguir as funcionalidades que exigem a sustentação da atenção durante alguns momentos e de forma sequencial (processo endógeno), como por exemplo, ler com atenção uma mensagem de agendamento de uma reunião; das funcionalidades que exigem o enfoque da atenção em diversos estímulos em simultâneo (processo exogéneo), como por exemplo, um alerta sonoro de um telemóvel com falta de bateria, ao mesmo tempo que pisca a iluminação no ecrã e vibra com a entrada de uma nova mensagem de texto.

A leitura de um extenso documento de texto não é adequada a partir de um dispositivo móvel se o tamanho do ecrã não for confortável a um longo período de sustentação da atenção (processo endógeno). Contudo, faria sentido receber um alerta sonoro no telemóvel reportando a entrada desse documento de texto numa CMS, com breves informações sobre esse documento (processo exogéneo).

Foi com base nestas teorias que concebemos toda a estratégia de análise e adequação dos sistemas tecnológicos de comunicação móvel aos contextos on-line de aprendizagem no nosso estudo. Para o efeito tivemos em conta a influência da orientação da atenção em 3 níveis da experiência de utilização: usabilidade da Interface, a simplificação de tarefas no sistema e a pertinência dos conteúdos.

Acreditando na importância dos sistemas de orientação da atenção dos alunos na definição de estratégias de u-learnig dirigida à aprendizagem de projeto em Design, achamos que este tipo de sistemas pode aumentar o sentimento de controlo sobre as atividades, reduzir o sentimento de dispersão durante o processo de aprendizagem e favorecer a qualidade do estudo autónomo.

Documentos relacionados