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A imagem pessoal estetizada e a representação social

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1.3. A imagem pessoal na representação visual

1.3.1. A imagem pessoal estetizada e a representação social

Levando em consideração a rede interativa na qual os seres humanos atuam, consideramos que uma imagem pessoal se realiza em um contexto social, sob uma certa ideologia. Por isso, cremos que a forma de estetização da imagem pessoal também faz parte de uma padronização cultural a que um corpo é submetido. Logo, a estetização do corpo pode ser entendida como uma forma de sofisticar a imagem pessoal. A estetização é utilizada pelo ser humano como resultado de estímulos pessoais ou externos, levando-o a fixar uma imagem melhorada no meio social. Por isso a imagem é interativa e “destinada a

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Op. Cit. p. 260.

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agradar seu espectador, a oferecer sensações específicas (...). O espectador constrói a imagem, a imagem constrói o espectador. O espectador é um agente ativo da imagem”.124

A imagem pessoal estetizada para a finalidade de representação social é fruto da interação entre emissor e receptor da imagem. Nessa interação dinâmica, uma efígie é capaz de comunicar conceitos pessoais ou institucionais, encontrando a percepção do outro. Conseqüentemente, a leitura de uma imagem é, em muitos casos, puramente perceptiva. Para Lucia Santaella e Nöth Winfreid, as “imagens têm sido meios de expressão da cultura humana desde as pinturas pré-históricas das cavernas, milênios antes do aparecimento do registro da palavra pela escritura”.125 Daí consideramos que toda imagem comunica e que a comunicação visual antecede a escrita. A imagem criada por meio dos símbolos corporais serve também como um meio de comunicação na sociedade. Isto porque, em toda sociedade, o ser humano influencia e sofre influências de um grupo, por meio da estética visual.

Essa estética visual, por sua vez, reflete-se no melhoramento da comunicação verbal e não-verbal na interação humana, criando uma aparência. As interações simbólicas sofreram alterações na forma de representação do sujeito devido à valorização dos padrões estéticos visuais na era pós-moderna, propondo a estetização do mundo. Mas, se a imagem pessoal é estetizada, para representar socialmente, somos levados a observar que a estetização visual é uma forma de comercializar simbolicamente os recursos tangíveis e intangíveis de uma pessoa. Para Aumont, “as imagens possuem valores semânticos, estéticos e emocionais”.126 A relação de significação nos signos e da representação do sentido dos enunciados da imagem fortalece a representação visual. A racionalização do belo deve ser, então, considerada como um ponto importante na criação da imagem para a interação simbólica.

No entanto, a cultura do belo perpassa a imaginação coletiva apresentada, principalmente, nas interfaces tecnológicas. Na atualidade, uma das formas mais comuns de promover e criar padrões visuais estéticos surge da cultura midiática, levando muitas

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AUMONT, Jacques. Ibid. p. 80-81.

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SANTAELLA, Lucia, WINFREID, Nöth. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 1998, p.13.

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pessoas à submissão total a suas normas de beleza. Santaella e Winfreid afirmam que “todas as imagens criadas pela mídia só sobrevivem na medida que existe o ser humano real, o objeto dinâmico que existe por trás dessas imagens, consegue manter o apelo do público. Basta o ser existente da imagem, envelhecer, gastar-se um pouco para que esse apelo também comece a fenecer”.127 Haja vista assistirmos uma explosão de novos corpos embelezados com um discurso semântico, estético e emocional, a fim de despertar a imaginação do indivíduo, levando-o a interagir socialmente a partir do discurso e modismo predeterminado pela mídia. O discurso efêmero midiático atrai o indivíduo e o leva a reproduzir uma imagem estetizada para a representação.

A imagem pessoal é o resultado de vários símbolos que o ser humano absorve de sua cultura e de sua sociedade como uma forma de evitar a ansiedade entre a aprovação social ou não de sua pessoa. Isto porque, na interação social a imagem pessoal estetizada está também atrelada à necessidade de aceitação que as pessoas têm por parte das que as rodeiam. Ora, a forma de aceitação aqui referida está relacionada aos critérios utilizados na psicologia da venda pessoal, pois, percebe-se que, para uma imagem pessoal ser simbolicamente comercializada, os sujeitos precisam passar por uma aceitação por parte da demanda receptora. Com isso, o que se quer sugerir é que uma boa imagem serve como um elemento importante no processo de interação. Simbolicamente a imagem pessoal sofisticada representa valores sociais, semânticos, estéticos e emocionais que comunicam de forma rápida, levando o portador da sofisticação aos benefícios que a venda simbólica da imagem produz na representação social.

Para Santaella “os signos estão crescendo no mundo, com o advento da fotografia, do cinema, com a explosão da imprensa e das imagens, seguida pela revolução eletrônica, que trouxe consigo o rádio e a televisão e atualmente com a revolução digital”.128 Portanto, os símbolos visuais estéticos apresentados pela mídia servem como fonte alimentadora do sistema visual culturalmente criado. A mensagem dos valores agregados na aparência pessoal comunicada por meio da imagem estetizada é outro fator considerável na nossa análise, pois entendemos que uma mensagem atraente desperta o

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Op. Cit. p. 107.

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indivíduo para uma determinada ação e isso pode ser visto como uma estratégia de marketing pessoal. Segundo Marshall McLuhan129, o meio é a mensagem, pois é o meio que configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas. Os meios estetizados reproduzem imagens interativas altamente significantes da realidade social, pois a imagem social se sobressai a qualquer forma de imagem e o meio (mídia, espaços físicos etc) serve como um fator legitimador da imagem.

A imagem pessoal estetizada para representação social ganha alicerce na base cultural de uma sociedade, justamente pelo fato de a imagem social manter o apoio reprodutor de outras formas de imagem. Esse aspecto pode ser resultante de uma manipulação racionalmente orientada para manter o modismo estético e ao mesmo tempo fortalecer os interesses de mercado da valorização imagética. As imagens sociais são uma produção, tal como a estetização da imagem humana, que interage em um dado contexto. Ao longo do tempo, a idéia de melhoramento da efígie pessoal foi ampliada por meio da massificação imposta pelos meios de comunicação. A indústria social midiática da cultura estetizada, principalmente a televisão, não apenas apresenta um modelo visual, mas comercializa os mecanismos de estetização para provocar uma imagem ideal. É nesse sentido que nasce o dualismo da imagem real e ideal. Essa será nossa próxima questão de análise.

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