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Podemos abordar a importância da ‘Consulta Psicológica Vocacional’ na literatura vocacional, no momento em que os jovens decidem ou escolhem o seu curso/carreira, que pretendem. Há todo um quadro histórico que fundamenta o desenvolvimento de modelos do processo dessa ‘Consulta’. Ao longo da história da investigação do processo da Consulta Psicológica Vocacional, dois dos temas com maior desenvolvimento foram, por um lado, o estudo da relação entre o processo da ‘Consulta Psicológica Vocacional’ e o processo da consulta psicológica pessoal e, por outro, o estudo da relação entre os resultados e o processo da ‘Consulta Psicológica Vocacional’. Esta foi concebida, inicialmente, como sendo isenta de processos psicológicos, mas depois passou a ser um processo interpessoal de natureza psicológica, centrado na promoção e desenvolvimento de competências para a tomada de decisão de um curso/carreira (Afonso, 2000; Coslin, & Pierre, 2002; Martinez, 2002).

Nesta conceção, a ‘Consulta Psicológica Vocacional’ apresenta objetivos e métodos distintos da consulta psicológica pessoal, contudo, não podemos separar a consulta psicológica pessoal e a vocacional, uma vez que numa perspetiva holística da pessoa, as questões de desenvolvimento de vocacional estão associados às componentes emocionais (Leitão e Ramos, 2004). Assim, a Consulta Psicológica Vocacional define-se como uma categoria da consulta psicológica, e dada a sua importância no domínio vocacional do funcionamento humano, constituindo numa modalidade da intervenção vocacional, na medida em que promove o desenvolvimento vocacional e/ou facilita a tomada de decisões vocacionais das pessoas. Se contrastarmos os diferentes modelos, verificamos que todos eles apresentam em comum uma fase de diagnóstico, a par de uma fase de avaliação e de uma fase de intervenção para resolver os problemas de carreira dos clientes. Estes modelos ilustram a progressão da intervenção. Historicamente, o foco da consulta psicológica vocacional incidia em fatores de natureza cognitiva, na decisão vocacional, no fornecimento de informação pessoal e profissional e no estabelecimento de correspondências perfeitas entre estes dois.

Por conseguinte, a ‘Consulta Psicológica Vocacional’ como uma modalidade da intervenção vocacional apresenta vários modelos de processo na vertente psicológica, por exemplo:

(a.)- Abordagem de Traço e Fator. Esta abordagem vocacional corresponde à conceção

clássica da orientação vocacional, existente na ‘Psicologia Vocacional’ (anos 60 e 70 do séc.XX), mas presente em algumas reformulações atuais sobre o comportamento vocacional, considerando-se, como uma visão da vida profissional, assente na análise do comportamento vocacional dos indivíduos e das suas diferenças individuais. Esta abordagem considera a informação profissional essencial, associando-se ao conhecimento de si próprio, os quais equacionam as escolhas vocacionais. Neste quadro de referência, a resolução do problema de orientação vocacional depende essencialmente do conhecimento que o indivíduo tem sobre si própria e sobre a sociedade ou comunidade em que está inserido. Consistente com esta posição, a intervenção vocacional caracteriza-se pela predominância do aceso à informação e do exame psicológico (psicopedagógico). Essa relação de ajuda (aluno) é de tipo tutorial, muito instrutiva, ativa e pedagógica, com carácter de modelagem, em que a técnica assume um valor importante. O psicólogo/psicopedagogo detém o papel de especialista e o aluno um papel passivo. Por exemplo, podemos mencionar três dos modelos de ‘Consulta Psicológica Vocacional’ mais típicos desta abordagem: modelo trifásico de Parsons; modelo em 6 passos de Williamson; modelo compreensivo de Crites (Taveira, 2001).

(b.) -Abordagem desenvolvimentista e centrada na pessoa. Esta abordagem vocacional

no âmbito desenvolvimentista e centrada na pessoa destaca: em primeiro lugar, as bases psicológicas dos processos de tomada de decisão vocacional e a subjetividade da vida profissional; em segundo lugar, as trajetórias de vida de experiência de trabalho das pessoas, a relação estreita entre o papel de aluno e trabalhador e os restantes objetivos e papéis de vida. A visão sobre o curso ou carreira apoia-se no estudo do desenvolvimento individual, sobressaindo a orientação vocacional como um processo (Taveira, 2005). Considera, ainda esta abordagem a possibilidade de construção, de realização e de desenvolvimento da própria pessoa. De facto, o papel da orientação é o de facilitar a (auto) realização da pessoa. Assim, valoriza-se as dimensões psicológicas do processo de ‘Consulta Psicológica Vocacional’, tendo em conta a biografia ou história pessoal, e qualquer decisão, é perspetivada como o resultado de outras decisões tomadas anteriormente, quer pelo próprio indivíduo, quer pelos outros (Imaginário e Campos, 1987). Essas decisões são compreendidas no contexto de decisões onde a decisão presente é influenciada por decisões passadas. Realça-se a necessidade de estabelecer e estruturar uma relação de ajuda entre psicólogo e cliente, suscetível da criação de um ambiente de mudança, crescimento e promoção. Podemos indicar, entre outros 7 modelos de Consulta Psicológica Vocacional, que se integram nesta abordagem (Subich e Simonson, 2001; Taveira, 2005): o modelo de Consulta Psicológica Vocacional de Yost e Corbishley; modelo de Consulta Psicológica Vocacional de Gysbers e Moore; modelo de Consulta Psicológica Vocacional de Imaginário e Campos; modelo do processamento cognitivo da informação de Peterson, Sampson e Reardon; modelo da intervenção vocacional de Spokane; modelo de Consulta Psicológica Vocacional de Isaacson e Brown; modelo desenvolvimentista-relacional de Taveira, etc.

(c.)- Abordagem sociocultural cognitiva. Esta abordagem sociocultural e cognitiva define as relações complexas existentes entre as pessoas e os contextos de um curso/ carreira, ou seja, a importância dos fatores culturais, cognitivos, interpessoais e as influências autodeterminadas e externas no comportamento vocacional (Lent, Brown, Hackett, 2002). Insiste nas relações entre a autoeficácia, a realização e os interesses. Apresenta um conjunto

complexo de fatores como o género, a cultura, a socioestrutura e o estado de saúde, que operam em paralelo e influenciam as cognições, a natureza e o âmbito das capacidades e possibilidades de realizar um curso ou carreira pela pessoa (Taveira e Nogueira, 2004). Apela esta abordagem para o efeito dos comportamentos nas relações entre as pessoas e os ambientes envolventes, para além do poder do comportamento das interações dos indivíduos, definido por relações bilaterais entre as características do indivíduo e as características do ambiente. Esta interação envolve não só relações lineares e laterais, como também, múltiplas interações e com diferentes orientações. Dá relevância às estratégias de ação do indivíduo e ao tipo de crenças, expetativas, mecanismos cognitivos e à forma como estes se relacionam com as estratégias de ação do indivíduo (Brown e Lent, 1996; Taveira, 2004 a, 2004b)). Pode-se alocar alguns modelos nesta abordagem, por exemplo: o Modelo de Adequação Cultural de Fouad e Bingham; o Modelo Sociocognitivo Interativo de Chartrand; o Modelo de Consulta Psicológica Vocacional de Krumboltz.