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Cada etapa de vida do ser humano, nas diferentes perspetivas teóricas, permite-nos identificar as caraterísticas consideradas como normais e possíveis, no aspeto físico, emocional, social, cognitivo ou intelectual, estabelecendo aspetos, considerados como prematuros ou tardios, caso contrário encontra-se desfasado.

No dizer de Mane, Sad & Sullivan (1983: 196-201), o desenvolvimento é o produto da interação contínua entre diversos fatores na matriz de crescimento composta por certas predisposições seletivas, quer para experimentar a mudança como para responder de determinadas formas ao ambiente envolvente. Há, pois uma coincidência em reconhecer se o ambiente tem um papel importante no desenvolvimento desses processos, teoria de Brofenbrenner (1974)). A determinação das etapas não corresponde, como critério principal para essa limitação, já que muitos estudiosos propõem limites etários para essa idade cronológica, por exemplo: L.I. Bozhovich (1976) considera a adolescência como a idade escolar média (dos 11-12 aos 13-14 anos) e a juventude ou idade escolar superior como transcorrendo dos 14 aos 18 anos; I.S. Kon (1978) insere a adolescência entre os 11-12 anos aos 14-15 anos e a juventude dos 14-15 anos aos 23-25 anos; H. L. Bee & S. K. Mitchell (1984) estabelece como limite da adolescência o período entre os 12 e os 18 anos e a juventude dos 18 aos 22 anos ou mais, dependendo da sua independência e término dos estudos.

Podemos observar que, em geral o início da adolescência inicia-se entre os 11-12 anos dando, posteriormente início ao período da juventude, por volta dos 14-15 anos ou nos 17-18 anos. Ora os sujeitos do nosso estudo a frequentarem os cursos vocacionais e profissionais estão neste período de adolescência e juventude. Na nossa perspetiva enfatizamos a adolescência e a juventude como idades psicológicas, ao considerar o desenvolvimento como um processo que não ocorre de forma automática, mas com uma determinação histórico-social, na perspetiva de L.S. Vigotsky (1984), se apoia num enfoque histórico-cultural do desenvolvimento das funções psíquicas superiores.

De facto, as regularidades do desenvolvimento psíquico e da personalidade, que caraterizam esses períodos foram explicados de várias maneiras, dependendo da conceção teórica assumida pelas diferentes escolas e correntes psicológicas, por exemplo, o problema da definição dos fatores determinantes do desenvolvimento psíquico e a periodização derivada da conceção assumida perante este problema. As várias conceções sobre a adolescência e juventude surgem nos finais do século XIX quando estas etapas se convertem em temas de interesse para a psicologia e ciências sociais, devido aos avanços científicos e técnicos e à preparação profissional dos indivíduos (orientação). Todas as conceções contribuem com um conjunto de conhecimentos sobre as idades de adolescência e juventude, havendo atualmente certa interpretação dicotómica, que caraterizam o processo de desenvolvimento do indivíduo,

enfatizando-se os fatores biológicos e condições sociais na determinação dessas regularidades, nesses períodos-

Há alguns autores pertencentes à ‘terceira força’ que destacam como principal determinante a vertente psicológica, como é o caso de I. S. Kon (1978), que indicam três enfoques (biogenético, sociogenético, psicogenético), onde integram as principais tendências na caraterização dessas etapas, mesmo com independência de haver muitas variantes dentro de cada uma delas. Vejamos alguns aspetos significativos de cada enfoque:

*-O enfoque biogenético inclui, por exemplo, as teorias Stanley Hall, S. Freud, E. Kretschmer & E. Haensch (1986), que consideram o amadurecimento dos processos biológicos como básicos na análise dos restantes processos de desenvolvimento.

*-Os representantes do enfoque sociogenético são derivados ou relacionados com os biológicos, caraterizando as etapas em função das regularidades que adota o processo de socialização do indivíduo, vinculando-se às tarefas que realiza na sociedade em cada momento. Há uma conexão deste enfoque com a psicologia social americana. Para Kurt Lewin (1951), a adolescência está determinada pelo caráter intermédio que ocupa o indivíduo em relação aos que o rodeiam, ou seja não pertence ao mundo infantil, mas também não alcançou o estado de adulto. Apesar das controversas e condutas extremas o adolescente mostra-se tímido e agressivo em muitas situações, emite juízos absolutos e as suas condutas são fruto de indecisões e inseguranças. Lewin e Freud (1967), não estabeleceram diferenças entre adolescência e juventude como etapas do desenvolvimento da personalidade, já que cada uma apresenta regularidades específicas. Valoriza-se o ‘social’ como ambiente imediato que rodeia o indivíduo, sem ter em conta outras determinantes e particularidades próprias desta etapa como são a origem social, a vertente cultural, a situação económica, o momento histórico, etc.

*-O enfoque psicogenético não nega a importância do biológico nem do social, mas destaca as funções e processos psíquicos caraterizadores de uma etapa determinada, como seja o desenvolvimento afetivo-emocional (teorias psicodinâmicas), o desenvolvimento cognitivo (teorias cognitivas), o desenvolvimento da personalidade como processo de autorrealização proveniente da própria essência humana (teorias da personalidade), etc. Por exemplo, nas teorias psicodinâmicas, destacamos a Erik Erikson, com a sua conceção “epigénica” do desenvolvimento psíquico, considerando que o desenvolvimento psicológico produz-se numa sequência e vulnerabilidade predeterminadas, tendo em conta a influência da realidade social sobre o indivíduo. Em cada um dos estádios em que transcorre o desenvolvimento da personalidade, o ‘EU’ deve resolver as tarefas específicas, com repercussões psicológicas, para além que o transcurso de cada estádio, já que há um momento crítico que empurra o indivíduo para a necessidade de enfrentar-se e resolver uma polaridade determinada. Erikson (1976), entende o termo ‘crise’ como uma regularidade favorecedora do desenvolvimento pessoal e não como conflito desorganizador, desde que a polaridade do ‘EU’ se resolva adequadamente. Na adolescência a polaridade típica é a ‘identidade versus confusão do eu’ e na juventude a ‘intimidade versus isolamento’. Isto significa que na adolescência a solução da polaridade conduz ao surgimento da identidade pessoal desde o processo de ‘roles’, já que o adolescente assume diversos ‘roles’, submetendo-se à ‘prova’. Quando não há uma solução efetiva da polaridade origina-se a ‘confusão do ‘eu’, que é um processo que diminui a autodeterminação do sujeito, devendo diferenciar-se da ‘difusão do eu’, que significa a consolidação da identidade e ampliação da sua autovalorização.

J. Piaget também analisa o desenvolvimento psíquico na perspetiva cognitivista. Para ele o nível superior do desenvolvimento intelectual surge na adolescência e consolida-se na juventude. A partir dos 11-12 anos produz-se transformações nos processos intelectuais aparecendo o pensamento operatório formal, de caráter hipotético-dedutivo que implica o interesse do adolescente e do jovem pelas teorias gerais e a elaboração de juízos sobre politica, filosofia, sentido da vida e do mundo, etc. L. Kohlberg (1981), seguidor de Piaget, distingue três etapas do desenvolvimento moral, a partir de uma posição intelectualista, já que o percurso de um nível de desenvolvimento dos juízos morais a outro depende do desenvolvimento intelectual conseguido pelo indivíduo. As teorias cognitivistas indicam alguma caraterísticas do desenvolvimento intelectual na adolescência e juventude ou de outros processos, delas derivadas, como seja a teoria de Kohlberg sobre os juízos morais, que tem como limitação o descrever os estádios ou níveis como universais e invariáveis e afastado da sua determinação socio-histórica ((Mane, Sad & Sullivan, 1983).

Em relação às teorias da personalidade, as suas conceções centralizam-se na identificação dos conteúdos da personalidade e a sua distinção em cada etapa de desenvolvimento. Os trabalhos de E. Spranger e C. Bülher (1971) são meritórios ao conceberem o desenvolvimento da personalidade como um processo emanado da própria essência. Eles descrevem os fenómenos típicos da adolescência e juventude como o descobrimento da identidade pessoal, o sentimento de isolamento, a tendência à reflexão e elaboração de sentido da vida. Aqueles psicólogos analisam o conteúdo de diários pessoais, escritos e argumentos, compreendendo os sentimentos e vivências de adolescentes e jovens. De facto, nem todos os sujeitos nessas etapas se contextualizam em relação à época histórica e aos determinantes sociais e culturais, que matizam o processo de desenvolvimento da personalidade.

Na verdade, I. Kon (1978), na caraterização dessas etapas e apoiando-se na categoria de ‘situação social do desenvolvimento’ de Vygotski, (1984), propõe a ‘linha natural do desenvolvimento’, referida fundamentalmente aos processos de amadurecimento físico e a ‘linha social de desenvolvimento’ , que compreende as particularidades do processo de socialização, incluindo a ‘posição social’ que ocupam os adolescentes e jovens nos grupos.

A adolescência carateriza-se pelas mudanças biológicas significativas, pela posição social intermédia entre a criança e o adulto, em relação ao ‘status social’, pois o adolescente continua a ser um escolar (ensino obrigatório), depende economicamente dos pais/família, mas possui potencialidades psíquicas e físicas semelhantes ao dos adultos. Também estabelece nessa etapa formas de relação com os adultos, por vezes geradoras de conflitos e indiferenças, que agudizam a chamada ‘crise da adolescência’, para além de novas formas de relação entre pares, moda e aculturações, aceitação ou recusa dentro do grupo, que provocam situações de instabilidade emocional. As emoções na adolescência e juventude mediatizam a capacidade de adaptar-se e de responder às várias experiências que efetuam, sendo essenciais para o apego, o vínculo, a interação e função social (Mane, Sad & Sullivan, 1983).

Um bom exemplo de prática de projetos de desenvolvimento positivo da juventude foi dado pela Universidade de Minnesota sobre o ‘Desenvolvimento Juvenil e Qualidade’, em que se destacava oito elementos nos programas implementados para promover o sucesso do desenvolvimento positivo dos jovens. Esses programas davam um sentido de pertença, de propriedade e de fomentar à sua autoestima, permitindo-lhes descobrir o seu ‘EU’, a relação de ajuda/apoio com colegas e adultos, ajudando a reconhecerem os valores em conflitos e a promoverem novas habilidades, tendo esperança no futuro (Pais, 1990).

De facto, os jovens fazem parte de uma cultura unitária, embora existam diferenças culturais e sociais profundas entre adolescentes, jovens ou grupos de jovens.