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No que respeita à autonomia das escolas, Barroso (2005: 108) salienta que, de um ponto de vista formal-legal, a autonomia da escola significa que os estabelecimentos de ensino dispõem de uma capacidade de decisão própria (através dos seus órgãos representativos em função das suas competências), em determinados domínios (estratégicos, pedagógicos, administrativos e financeiros), que se exerce através de atribuições, competências e recursos, transferidos ou delegados de outros níveis de administração. Neste espírito de mudança a

alteração promovida concretizou-se na criação de conselhos gerais em todas as escolas, com representação de pessoal docente e não docente, de pais, de alunos, de autarquias e de outros agentes representantes da comunidade local, com competências para a definição da orientação estratégica da escola e da escolha do diretor. Foram também reforçadas as lideranças e criados mecanismos de responsabilização dos diretores das escolas perante a comunidade educativa. Assim, os diretores das escolas passaram a ter mais autonomia na escolha e nomeação dos coordenadores e órgãos intermédios de gestão, bem como na organização pedagógica interna da escola.

De facto, a autonomia está diretamente ligada ao desenvolvimento de projetos, para cuja elaboração é essencial conhecer todo o contexto em que a escola se insere, e ser fruto de uma negociação e participação de todos os atores educativos. Para aquele professor da Universidade de Lisboa (Barroso, 2005: 129):

“(…) para que seja possível fazer um projeto de escola é preciso que os elementos que constituem a organização-escola se identifiquem com um conjunto de princípios, valores e políticas capazes de mobilizarem a ação da escola e orientarem a tomada de decisão para a resolução de problemas.” Na verdade o projeto educativo e/ou pedagógico da escola constitui uma ‘Magna Carta’ da funcionalidade de cada instituição escolar, sendo um processo diferente de escola para escola, mas incitador à interiorização de valores e às necessidades da comunidade educativa, mas nem sempre estão presentes no quotidiano. Aos professores cabe a função de educar e o papel de orientar/mediar entre a política educativa local de territorialização educativa (Carta Educativa Municipal e Conselho Municipal de Educação) e a conjunção das práticas educativas com os recursos locais. Eles terão, também, o papel de dinamizadores da real participação das entidades extraescolares ou instituições da comunidade (parcerias) para que estas não se transformem nem em simples representação nem excesso de poder no Agrupamento de Escola. Essa participação só será possível, quando se transformar a conceção de escola como (re) produtora de serviços e se passar a entendê-la como uma comunidade educativa que contribui para as aprendizagens dos alunos no âmbito de parcerias socioeducativas (Martins, 2009: 63- 75). Sendo certo que os contratos de autonomia das escolas representam uma maior responsabilização de todos os seus atores e protagonistas. R. Canário (1999: 11) explica-nos que o Projeto Educativo de escola desempenha um papel fundamental, ao apontar para o desenvolvimento da organização escolar, no seu conjunto, tendo reflexos nas condições de aprendizagem dos alunos:

“(…) é relativo ao seu governo e organização expressando a sua identidade como instituição, as finalidades que a norteiam, as metas que escolheu e os meios que se propõe pôr em prática para as atingir. Cada escola pode ter variados projetos pedagógicos, mas o PE é único e englobante, pois define a política da Escola.”

Deste modo, o Projeto educativo enquanto expressão da identidade e autonomia da escola, comunidade educativa, é um importante documento orientador, destinado a assegurar a coerência e a unidade de ação educativa da escola. O Decreto-Lei nº 75/2008, de 22 de abril valorizou a identidade do Agrupamento de Escola e os seus Projetos Educativos. Este normativo jurídico estabeleceu o regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos desde a pré-escolar até ao ensino básico e secundário.

Em 1998 foi apresentado pelo governo o Projeto “Autonomia e Gestão das Escolas” no seguimento do estudo de João Barroso e da publicação do Despacho Normativo nº 27/97, de 2 de junho. Este despacho pretendia transformar a escola num centro privilegiado das políticas educativas, dando-lhe maior autonomia, e, após discussão pública de um parecer do Conselho Nacional de Educação, com a introdução de algumas alterações, deu origem ao Decreto-Lei nº 115-A/98, de 4 de maio. Este normativo deu início a um processo que alterou os aspetos administrativos e formais da gestão das escolas, com um novo regime de autonomia. Toda a legislação anterior que contrariava os seus princípios foi revogada, nomeadamente o Decreto- Lei nº 769-A/79, de 23 de outubro, e o Decreto-Lei nº 172/91, de 10 de maio, tal como todos os outros normativos legais que lhes estavam associados.

Este novo quadro legal preconizou o desenvolvimento integral e equilibrado do aluno, no respeito aos princípios consagrados na Constituição da República e dos princípios da Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE). O diploma de 1998 foi, posteriormente, revogado pelo Decreto-Lei nº 75/2008, de 22 de abril ao estipular que qualquer candidato a diretor de agrupamento de escolas tem que elaborar e apresentar no ato da sua candidatura um Projeto de Intervenção para a escola. Trata-se de uma inovação normativa, embora o Decreto-Lei nº 172/91, de 10 de maio já estabelecesse a necessidade do Diretor apresentar um Projeto de Área Escolar. Assim, para haver uma efetiva mudança nas escolas, não basta que esta seja decretada, é necessário que todos os atores e parceiros socioeducativos reconheçam a necessidade dessa mudança, participem enquanto atores e mudem efetivamente as suas atitudes, num contexto de política educativa local. De facto, o Decreto-Lei nº 115-A/98, ao reforçar a autonomia e a participação, reconheceu que a escola era uma organização estrutural e de ação de todos os seus membros, que contribui para a qualidade e eficácia do serviço público prestado.

Por conseguinte, nesta apreciação legislativa teremos que mencionar o marco referencial da LBSE (Lei n.º 46/86, de 14 de outubro) ao definir a responsabilidade do Estado na promoção da “democratização do ensino, garantindo o direito a uma justa e efetiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares”. Mais tarde o Despacho nº 22/SEEI/96, de 19 de junho, aplica medidas de compensação educativa, que já tinham sido previstas no Despacho normativo 98-A/92, de 20 de junho, referindo: “traduzidas no desenvolvimento de programas específicos e ou alternativos, destinados a superar dificuldades detetadas no decurso do processo de aprendizagem”. Estas medidas encontram-se diretamente indicadas a “grupos específicos de alunos”, aos quais estão associados, no plano escolar, ao “insucesso”, “problemas de integração”, “risco de abandono” e “dificuldades condicionantes da aprendizagem”, o que legitima a frequência de um currículo escolar alternativo ao regular.

Em 1996 implementou-se, os TEIP, como uma medida educativa promotora de inclusão, enquadrada no combate às problemáticas do abandono e do insucesso escolar. Com efeito, o Despacho nº 147-B/ME/96, que define o seu enquadramento legal, sustenta, enquanto “objetivo primordial” dos TEIP, a promoção da “igualdade do acesso e do sucesso educativo da população escolar”. De facto, os TEIP são contemplados com apoios financeiros, e com um leque de mais-valias, a dispensa ou redução do horário letivo (de alguns órgãos de direção e professores, respetivamente); a afetação de recursos humanos adicionais, nomeadamente de professores, de equipas SPO (Serviços de Psicologia e Orientação Profissional) e EE (Educação Especial) e de novos atores educativos – o caso dos animadores e/ ou mediadores, ainda que se encontrem mencionados no campo das “possibilidades” de intervenção nos TEIP. Mais tarde, através do despacho normativo nº 55/2008, de 23 de outubro, o Programa TEIP foi relançado

e encontra-se a decorrer, designando-se, agora, como TEIP de segunda geração ou, por TEIP2, assumindo a continuidade do primeiro programa. Na sequência deste relançamento, o TEIP2 foi alargado a mais escolas e agrupamentos de escola, das quais se encontram os agrupamentos de Escolas em estudo.

2.2.-Os cursos vocacionais e profissionais no sistema educativo e