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3.1 Educar para uma formação profissional: representação e desenvolvimento vocacional

Há vários enfoques, perspetivas e paradigmas que explicitam a aplicação de estratégias eficazes de intervenção, com diferentes métodos e suportadas por várias teorias fundamentadas, de modo a dar respostas aos diversos contextos de intervenção social e escolar no aconselhamento e orientação vocacional. Todos aqueles enfoques possuem potencialidades e algumas limitações, se os analisarmos isoladamente. Mesmo assim, continua a ser o paradigma desenvolvimentista o que tem mais expressão no aconselhamento de um curso ou carreira. Esse aconselhamento vocacional desenvolvimentista assenta em vários aspetos, ligados à realidade objetiva da pessoa do aluno e ao seu processo de orientação, destacando alguns elementos que se afastam do modelo clássico de orientação profissional e se centraliza no problema:

Elemento I – O aconselhamento vocacional desenvolvimentista é contínuo e responde às necessidades de ajuda sentidas nos vários estádios de desenvolvimento vocacional do jovem. Elemento II – O objetivo do aconselhamento vocacional desenvolvimentista centraliza-se na pessoa, em ajudá-la a ser mais capaz de enfrentar as tarefas vocacionais presentes e futuras, e não os problemas ou as tomadas de decisão imediatas.

Elemento III – O aconselhamento vocacional desenvolvimentista implica o crescimento da pessoa, de modo a tomar consciência de si mesmo e dos determinantes objetivos da sua formação (aspetos económicos, culturais, sociológicos...), numa maior capacidade de acesso e de utilização da informação, dos princípios da tomada de decisão e das estratégias de transição, consolidação, progresso e manutenção.

Elemento IV – O aconselhamento vocacional desenvolvimentista ajuda a pessoa a esclarecer as suas necessidades, valores e atitudes e, consequentemente a resolver os conflitos, indecisões e problemas relacionais, que interferem na área vocacional e formativa.

Na perspetiva de Seligman (1994) a educação para uma formação de curso/carreira exige a intervenção, como uma das componentes pedagógicas, que inclui o currículo formativo, a informação, os conceitos, as experiências e práticas, com a intenção de promover o desenvolvimento do aluno, ajudando-o a construir projetos e autoconceitos sobre cursos práticos de aplicação. Esta educação para um curso procura fortalecer o processo educacional (ensino vocacional, profissional), de forma a proporcionar um maior impacto no crescimento e no desenvolvimento pessoal. O objetivo não é precipitar os alunos para a formação de cursos, mas sim apoiá-los a desenvolver um melhor conhecimento de si próprios, do mercado de trabalho e da interação entre ambos, de forma a dar-lhes oportunidades de desenvolverem mais tarde planos de empreendorismo e de profissionalização.

Neste sentido, para Seligman (1994) os objetivos mais importantes dessa educação formativa dos alunos, desde a escolaridade obrigatória ao curso, são os seguintes:

a.)- Aumentar a compreensão e o interesse pelas disciplinas escolares e sua interdisciplinaridade, pelas atividades de tempos livres e prática ou experiência profissional;

b.)-Ajudar a identificar e distinguir os seus valores, interesses e capacidades; c.)- Promover a compreensão das diferenças individuais e a inclusão;

d.)-Desenvolver o conhecimento, a compreensão, as atitudes e as competências dos alunos, de modo a exercerem os seus papéis de vida;

e.)-Promover os sentimentos de autoestima, autoconfiança, de segurança, de autonomia, de curiosidade e desenvolvimento da identidade;

f.)-Desenvolver hábitos/atitudes, competências/habilidades cognitivas e sociais; g.)-Promover a compreensão do significado e da importância do trabalho;

h.)-Desenvolver a consciência dos vários grupos profissionais e dos recursos da comunidade;

i.)-Preparar os alunos para fazerem as suas escolhas (capacidade, consciência) e para lidarem com as mudanças com que se vão deparar no percurso formativo e profissão.

De facto, essa educação para uma formação vocacional ou profissional deve ser integrada, de modo a promover a aprendizagem escolar e profissional, tornando-a mais relevante e estimulante para o futuro. No dizer de Seligman (1994), as crianças desenvolvem uma imagem percetiva de si próprias como trabalhadoras, avaliam o seu potencial de realização e começam a adquirir as capacidades que irão determinar o seu sucesso futuro na escola e no trabalho (Álvarez y Bisquerra, 1998). Assim, são criadas as bases para o desenvolvimento dos seus interesses e valores e são formadas as atitudes que determinam a sua futura adaptação social e profissional. A partir dos 3 aos 5 anos acarretam consigo um crescimento emocional, físico e intelectual que ocorre sob a influência da família, do meio envolvente e da comunidade, que influencia a sua perceção do mundo e das profissões (Herr, 2001). Na altura em que entram na escola as crianças já experimentaram diversos papéis de vida (filho, neto, amigo, irmão) e tiveram de se adaptar às mudanças de papéis. Ou seja, vão experienciando sucessos e insucessos e começaram a avaliar o seu potencial e a necessidade de realização.

Ao entrarem na escola, as crianças começam a fazer parte de um novo sistema social ao qual se ajustam, sem a segurança e proteção dos pais. Esta nova adaptação envolve o desenvolvimento da sua autoconsciência e das suas habilidades sociais para criar empatia e comunicação. Nos primeiros anos escolares as crianças expressam muitas escolhas profissionais, que derivam por vezes de profissões e papéis dos pais e mais tarde passam a basear-se nas profissões dos seus ‘heróis’ ou ‘ídolos’. Trabalhadores que lhes parecem poderosos, habilidosos, corajosos e orientados para a ação e determinação, são particularmente atrativos nestas idades. Normalmente estas escolhas têm pouca relação com as suas capacidades ou as atividades em que costumam participar, refletindo naquilo que lhes parece mais agradável e empolgante, de acordo com as suas experiências e conhecimentos (Seligman, 1994). Nesta altura as crianças desconhecem as barreiras e os requisitos para determinada profissão e as suas escolhas baseiam-se naquilo que precisam e que desejam.

Durante a infância a maioria das crianças preocupa-se com recompensas (teoria de Skinner, 1934) e aprovação, em especial dos pais e dos professores e durante os anos de escola tornam- se importantes os padrões de aprovação do grupo de pares, os quais têm também um importante impacto no desenvolvimento da autoimagem. O grupo de pares estabelece o seu próprio sistema de regras e valores em que o sentimento de pertença é, por si só, uma recompensa pela aceitação dos padrões do grupo. A identificação com os modelos torna-se um importante veículo para o desenvolvimento do seu autoconhecimento, nesta fase, uma vez que até aqui, e antes de entrarem na escola, as crianças tinham poucos modelos e tendiam a identificar-se mais fortemente com os seus pais. Quando entram na escola, a grande variedade

de modelos, permite-lhes desenvolver a sua autoconsciência e a sua autoimagem, através da comparação com os outros e da tentativa de imitação dos que mais admiram e que vêm como mais poderosos (Abreu, 2001; Seligman, 1994).

Na verdade é no ensino básico onde se criam as bases para a realização futura e para a maioria das pessoas, essa motivação tem um importante efeito no sucesso educacional e profissional. É nesta fase que os pais e os professores intentam compreender as capacidades da criança e desenvolver expetativas que se venham a refletir no seu sucesso, ajudando-a a estabelecer objetivos e a definir passos para a realização dos mesmos, aumentando-lhe a autoestima motivacional. Qualquer expectativa baixa ou negativa pode comprometer a sua vontade de realização, logo a sala de aula deve potenciar e apoiar a aprendizagem e a experimentação, aproveitando os erros como potenciais experiências de aprendizagem. No fundo, tudo isto implica manter a confiança da criança nas suas capacidades e o seu interesse pela escola, evitando a criação de sentimentos de excessiva ansiedade em relação à mesma (Seligman, 1994). Apesar dos estádios de desenvolvimento do percurso escolar, profissional ou de carreira parece haver relação com a idade, os padrões de maturidade. A exposição e a disponibilidade do seu desenvolvimento são importantes para a aquisição de informação para frequentar um curso ou uma carreira. O conhecimento das crianças acerca das profissões aumenta à medida que crescem e que tomam consciência da grande variedade de profissões existente. Este contacto pode ocorrer através da leitura, de filmes, televisão, pesquisa na internet, bem como através da observação direta dos trabalhadores.

Mesmo sabendo que a maioria dos planos de formação nas crianças, não persistem até à idade adulta, a infância é uma fase importante do processo de desenvolvimento de um curso de formação, no sentido de desenvolvimento de processos e atitudes. Torna-se cada vez mais óbvio que se a atual sociedade pretende formar adultos saudáveis, estáveis e produtivos deve ser dada, através da escola, especial orientação e atenção às necessidades afetivas e cognitivas das crianças e dos (pré) adolescentes. A importância do aconselhamento para o apoio educacional é normalmente, incompreendido e, de acordo com Selligman (1994), isso reflete- se na falta de desenvolvimento de programas de aconselhamento e orientação.

3.2.-A Teoria da Circunscrição e Compromisso nas opções