• Nenhum resultado encontrado

Tendo em conta todas metodologias utilizadas na recolha de dados (observação documental, observação natural, notas de campo, contactos informais) e a própria natureza dos dados obtidos nos inquérito por questionário (alunos) e entrevistas (professores) pudemos triangular todos eles, tendo em conta os objectivos do estudo e o método escolhido (‘design hibrido ou misto’) determinando as seguintes considerações:

1.- Estes alunos adolescentes (período perturbado em termos psicológicos) das escolas

em estudo vivem com muitos problemas do foro social, emocional e geracional, agravados pelas condições sociológicas e do mercado de trabalho e, principalmente da família (desestruturação familiar, carência económicas, baixo nível cultural e educativo). Revelam fragilidades emocionais, dificuldades de aprendizagem e falta de orientação e motivação (Azevedo, 1999). Associado a estes aspetos está o desinteresse ou incapacidade dos pais em educarem devidamente os filhos, talvez devido á idade elevada dos mesmos, muitos perfazem 18 anos ou mais, anseiam sair de casa, entrar no mercado de trabalho. O mais importante para as famílias é que o aluno conclua o curso. Neste cenário os jovens manifestam estados de ‘indecisão’, perante o seu projeto de vida e rumo profissional, condicionando as suas escolhas (vocacionais) de curso/carreira, a aprendizagem (Afonso, 2000; Muller, 2008).

2.- Os alunos consideram o seu curso fácil (ET com média=3,14), com nível de

expetativas elevadas (NA apresenta média=4,00, seguido de ET média=3,89). Revelam que gostam do curso/carreira que frequentam (ET com média de 4,06, seguida de NA média=4,28) e compreendem os conteúdos curriculares, os métodos e as metodologias utilizadas no curso (adequação aos objetivos) (NA apresenta melhor média=3,69, seguido de EP média=3,85). A maioria dos alunos admite ser importante a organização e a disciplina escolar (NA e onde os alunos se adaptam melhor à disciplina escolar, média=3,89, seguido de ET média=3,63). Destacamos que os alunos de EP são os que têm mais falta de motivação, o que é compreensível se atendermos ao meio em que vivem (rural).

Na verdade, os jovens destes cursos profissionais e vocacionais chegam de um percurso escolar normal (alguns com reprovações), vivendo ou residindo na cidade/vila ou nas aldeias envolventes do seu concelho, pertencentes a famílias desestruturadas, com dificuldades socioeconómicas e culturais. Essa proveniência do ensino regular com muitas dificuldades: poucos conhecimentos a todos os níveis; fracas capacidades cognitivas; baixa motivação; falta de vontade; falhas nas competências básicas; carências económicas ou deficiências socioeconómicas, etc. O acompanhamento dos pais na vida destes alunos é idêntico ao das famílias do ensino regular, pouca implicação no percurso escolar, implicando abandono e desinteresse (Benavente et al., 1994).

3.-Os alunos estão extremamente desmotivados para a escola, já que as condições de

surgirem os problemas de aprendizagem, a desmotivação e falta de interesse/vontade em estudar/aprender e, consequentemente muitos casos de indisciplina, devido a não haver orientação escolar e pessoal (Sil, 2004). São alunos que necessitam de muito apoio psicopedagógico (Seligman, 1994). Devido a certa imaturidade (período de adolescência) e à falta de conhecimentos básicos, as suas capacidades está virada essencialmente para cursos e disciplinas de índole mais prática, funcional e aplicativa ao mercado, mas a escola exige ao aluno aquilo que ele não pode dar, ou seja são bons alunos nas áreas mais práticas e com algumas dificuldades em outras áreas (Taveira e Campos, 1987. Por isso, valorizam os trabalhos práticos com uma forte ligação ao mercado de trabalho real, em contexto de estágio. Por vezes há em algumas escolas uma postura de ensino tradicional e normalizado, mas pedagogicamente adequado. As respostas da escola aos problemas de aprendizagem dos alunos, elas são tardias e sempre baseadas em ‘contatos pontuais’ numa “cultura de remediações” (ineficaz por vezes) e não de uma intervenção orientada à tomada de decisões e promoção dos comportamentos e atitudes, perante o seu projecto de vida profissional. Ou seja, as escolas não vão ao encontro dos reais problemas destes jovens, nem do seu grande objetivo que é ‘tirar um curso’ (oferta útil) com possibilidade de empregabilidade. Por isso, não é suficiente os apoios do psicólogo e da assistente social (Gabinete de Apoio ao Aluno e Família). É verdade que muitos professores dos cursos dedicam muito tempo aos alunos com questões que na maioria das vezes não são problemas relacionados com aprendizagem, mas sim conversando e orientando, para evitar o insucesso (Duarte, 2000).

4.-De facto, os jovens estudantes da amostra são cumpridores em termos organizativos,

nos trabalhos escolares e na assiduidade, apresentando níveis baixos ou regulares de motivação para estudar e aprender com interesse prático (EP com melhor média=2,77; ET média=2,34). Valorizam a relação pedagógica que têm com os professores (NA média=4,11, seguido de ET média=4,00), sentindo-se apoiados pelos mesmos, quando requeridos ou em situações de dificuldades de aprendizagem e de adaptação, confirmando não haver dificuldades de integração na escola e grupo/turma. Em NA valorizam mais a relação pedagógica e a disponibilidade de apoio dos professores, enquanto em EP há maior proximidade dos professores em atenderem os alunos, ou seja onde se dá as respostas mais adequadas aos problemas dos alunos.

Por conseguinte, salientam a boa relação que têm com os professores e valorizam as respostas destes ao nível da integração social e escolar, para das relações que mantém com os colegas., Ou seja, os estudantes sentem-se integrados no Grupo/turma do curso. O professor é responsabilizado pelo insucesso do aluno por isso, têm que acompanhar, apoiar e aconselhar os alunos nos seus problemas a todos os níveis (Duarte, 2000). Por vezes os professores são responsabilizados pelo seu insucesso e, por isso, têm em algumas escolas uma disponibilidade para acompanhar, apoiar e aconselhar os alunos nos seus problemas a todos os níveis. As aulas a estes alunos são muito trabalhosas exigindo muito dos professores (estratégias, métodos e materiais didáticos) e soluções para trabalhar com eles. Vão surgindo alguns abandonos motivados na maioria dos casos pela emigração familiar que procura melhorar as suas condições de vida ou inserção temporária do jovem no mercado de trabalho (empresa familiar).

Em termos gerais os alunos dizem-se apoiados quando têm problemas escolares ou de aprendizagem (média=3,41, sendo a melhor média em ET com 3,28) pelos professores e pela escola. Apresentam uma certa indiferença (idade que têm) pelas instalações escolares (destacamos NA média=3,09, que tem muito boas instalações e espaços), pelos técnicos de apoio, à intervenção do psicólogo e da assistente social. Pensam que uma intervenção com técnicos especializados (mediadores, orientadores, psicopedagogos) podiam contribuir para a

resolução dos seus problemas escolares. Compreendem que a escola está preocupada com os seus problemas e necessidades escolares, mas sem uma intervenção efetiva (programas, projetos) e os recursos disponíveis estão adaptados a algumas das suas necessidades (melhor média em ET=3,90). Destacamos que as Escolas Profissionais (EP, ET) dispõem melhores recursos e mais adequados às necessidades dos alunos. O sucesso educativo encontra-se exclusivamente dependente das questões de aprendizagem e orientação escolar. O empenho dos funcionários é importante para o sucesso educativo dos alunos, apesar ser escassa devido a não terem formação adequada (Teodoro, 2001).

Vão surgindo alguns abandonos motivados na maioria dos casos pela emigração familiar que procura melhorar as suas ‘condições de vida (Benavente et. Al., 1994).

5.-É de destacar a valorização dos alunos dos cursos profissionais e vocacionais em

relação aos estágios profissionais na sua formação ou práticas em empresas (ET média=4,50, seguidos de NA média=4,33) e tem espectativas mais ou menos positivas em relação ao futuro profissional, embora compreendam que as saídas profissionais estão custosas devido à crise atual. Revelam altas expetativas em relação às saídas profissionais, mesmo num cenário de crise e dificuldades de entrar no mercado de trabalho. A maioria dos cursos são muito ligados às empresas e as suas necessidades, com uma componente muito prática, havendo uma falta de homogeneidade dentro das turmas.

Em relação às relações sociais/escolares e de convivência entre os alunos obtivemos em ET melhor integração dos alunos no Grupo/turma, com uma média de 3,96, seguindo-se NA (média=3,81). Os jovens consideram o seu comportamento com os colegadas adequado, sendo em ET a melhor média (3,98), seguindo-se NA (média=3,75). No que diz respeito ao ambiente e clima educativo destacamos ET com média=3,64, que é a escola que melhores médias obtém neste aspeto da sociabilidade, relações pessoais e sociais.

A sociedade tem vindo a sofrer significativas transformações. A família, núcleo fundamental de educação, tem vindo a delegar esse papel para a escola, dado que é no contexto educativo que as crianças, adolescentes e jovens passam a maior parte do dia (Pais, 2001). Todavia, nenhuma outra instituição poderá jamais substituir as condições educativas da família, nem parece ser razoável que seja unicamente a escola a ensinar e formar a criança/jovem (Herr, 2001). O cenário da adolescência e da juventude escolar deixa claro que a escola precisa se aproximar à realidade dos alunos, entender as suas expectativas e anseios, dar resposta às suas problemáticas e envolve-los nas questões escolares de forma a adequar melhor os projetos pedagógicos às necessidades formativas às suas tendências vocacionais (Sampaio, 1993).

O Relatório PISA de 2009 da OCDE apontam como 25 a 30% de causas desconhecidas de insucesso escolar, apesar de 5 a 6% do sucesso escolar se dever ao clima e ambiente educativo da escola, às ações diversificadas, às políticas escolares (lideranças, recursos e metodologias na escola) e ao projeto educativo, de modo a obter-se bons resultados. Dizia aquele Relatório que se cerca de 20% dos resultados escolares se explicam pelo contexto socioeconómico, cultural e o meio envolvente, 50% relaciona, com as caraterísticas psicológicas e afeto- emocionais dos alunos para ter resultados positivos. A interação dos fatores mencionados, são explicados na base do modelo multifatorial (ecológico) sobre aproveitamento escolar (Apêndice A). Quando um adolescente não está motivado para aprender, nem rende adequadamente é preciso saber os seus problemas e dificuldades (pessoais, sociais) que manifesta circunstancial ou habitualmente. Só conhecendo o seu percurso escolar e os antecedentes familiares podemos determinar a orientação escolar, social, pessoal e profissional dos alunos. Estes aspetos apontados coincidem com as caraterísticas dos nossos sujeitos da amostra em estudo.