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A importância da política de investimentos e da capacidade técnica de seus

Como já ressaltado anteriormente, os fundos de pensão administram um grande patrimônio financeiro de terceiros. Para que possam cumprir com sua função precípua, que é o pagamento dos benefícios contratados junto aos participantes de seus planos de previdência, esses recursos devem ser prudentemente remunerados no mercado financeiro.

Ao se estabelecer o contrato entre participante e entidade de previdência, almeja-se o pagamento de um benefício, que, hoje, na maioria dos casos, é um valor que varia de acordo com o saldo de contas de cada participante (contribuição do participante acrescida da cota parte do patrocinador), somado às remunerações obtidas no mercado.

A fim de que cada entidade possa aplicar esses recursos de maneira segura, é importante que ela disponha de elementos técnicos capazes de garantir transparência na gestão, bem como é imprescindível que critérios técnicos mostrem qual o melhor caminho a ser seguido na aplicação desses recursos. Para tanto, conforme já salientado, cada entidade deve elaborar a sua regra de aplicação dos recursos, que deve, necessariamente, obedecer às diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução nº 3.792/2009, por meio da política de investimentos.

A política de investimentos da entidade é considerada como um dos principais documentos para o processo negocial de investimento. É nela que se registram as diretrizes observadas por todos aqueles que participam do processo decisório de investimento.

Trata-se de um documento elaborado com o auxílio de especialistas, com os prognósticos de risco/retorno, além de princípios e regras disponibilizadas para todos os participantes e assistidos. Pode-se definir a política de investimentos como um “fio condutor” dos investimentos das EFPC, direcionando as decisões relativas ao ativo das reservas dos fundos de pensão. Em longo prazo, com uma revisão periódica, ela reduz os riscos e possibilita um maior equilíbrio atuarial.

A PREVIC exige a elaboração da política de investimentos anualmente, cabendo essa responsabilidade à diretoria executiva. A política deve ser aprovada pelo conselho deliberativo e encaminhada em até 30 dias para o órgão fiscalizador, conforme determinado pelo artigo 16, caput, §§ 1º e 2º da Resolução CMN nº 3.792/2009:

67 Art. 16. A EFPC deve definir a política de investimento para a aplicação dos recursos de cada plano por ela administrado.

§ 1º. A política de cada plano deve ser elaborada pela Diretoria Executiva e aprovada pelo Conselho Deliberativo da EFPC antes do início do exercício a que se referir.

§ 2º. As informações contidas na política de investimento de cada plano devem ser encaminhadas SPC no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da respectiva aprovação pelo Conselho deliberativo.

É exatamente a partir da política de investimentos que são estabelecidos os limites máximo e mínimo para cada segmento de investimento, correspondendo à chamada alocação estratégica. Valcir Domeneghetti defende que não deve haver um engessamento das diretrizes implementadas pelos fundos de pensão em torno das suas políticas de investimentos, sendo aberta a possibilidade da negativa de determinado investimento, mesmo nela previsto, devendo essa decisão ser fundamentada em pareceres e projeções técnicas89.

A alocação estratégica diferencia-se da alocação tática, uma vez que a primeira atua em um longo período, sendo fundamental para o equilíbrio e o desempenho do fundo, e a segunda se trata de um movimento de mercado a partir das oportunidades, sendo utilizada em um curto prazo. Podendo utilizar o termo macroalocação, a alocação estratégica é o objetivo inicial da política de investimentos, assegurando o pagamento das obrigações do plano90.

A política de investimentos deve ainda veicular a taxa mínima atuarial ou os índices de referência, benchmarks, que são os objetivos a serem alcançados em cada segmento de aplicação. A taxa atuarial é uma premissa fixada nos itens 3.1.1 a 4.6 do Anexo à Resolução CGPC nº 18/2006, observado o disposto na Instrução PREVIC nº 7/2013.

As fontes de referência utilizadas para determinar o preço dos ativos financeiros devem estar presentes na política de investimentos. O mesmo ocorre em relação à sua metodologia quanto à determinação dos riscos. Nesse sentido, importante passagem é trazida por Alexandre Assaf Neto:

O preço de uma ação em bolsa de valores é formado pelas forças de oferta e procura do papel, refletindo as expectativas de ganhos que o mercado projeta. O valor justo de uma ação reflete o valor presente, na data de sua apuração, das expectativas futuras de geração de benefícios de caixa. Pode-se definir o fair value, de forma mais rigorosa, como os benefícios econômicos futuros esperados de caixa dimensionados a valor presente, descontados por uma taxa de juros que remunere o risco do investimento (custo de oportunidade do investidor). A aquisição de ações no mercado é recomendada quando o valor justo for maior que o preço de negociação

89 Gestão financeira de fundos de pensão, passim.

90 WANDERLEY, Maurício da Rocha. Política de investimentos dos fundos de pensão e sua sintonia com as

obrigações previdenciárias. In: REIS, Adacir. (Org.). Fundos de pensão e mercado de capitais. São Paulo: Peixoto Neto, 2008, p. 128.

68 em bolsa de valores. Nessa situação, entende-se que a ação encontra-se desvalorizada91.

Percebe-se que é uma atividade marcada por incertezas e uma grande volatilidade, uma vez que, a partir de uma nova informação, a precificação altera-se por completo. Daí decorre a importância de se consignar expressamente a forma de apreçamento dos ativos financeiros na política de investimentos. Métodos como o Capital Asset Pricing Model (CAPM) são bastante utilizados como forma de apreçamento.

O Gerenciamento de Ativos e Passivos, ou Asset Liability Management (ALM), é uma ferramenta que busca avaliar os objetivos e riscos a serem enfrentados no futuro dos fundos previdenciários, como a garantia do pagamento das obrigações do plano de pensão, determinando, assim, o guia a ser seguido dentro da política de investimentos e, consequentemente, da alocação estratégica dos investimentos. Nesse sentido, afirma Maurício da Rocha Wanderley:

O ALM - Asset Liability Management é uma ferramenta de apoio fundamental e indispensável à construção da política de investimentos. Às vezes, ele próprio se confunde com a política, principalmente no que se refere aos itens I e II do § 1º do art. 6º da Resolução CMN n. 3.456/07, relativos à política de investimentos. O ALM permite a realização de um processo de otimização que considera não somente os ativos, mas a estrutura das obrigações de cada um dos planos especificamente, isto é, considera o fluxo de caixa dos pagamentos a serem realizados ao longo dos anos aos beneficiários; permite escolher a carteira mais adequada para o atendimento dos objetivos do fundo de pensão, e estabelecer limites para cada classe de ativo, dado o grau de aversão ao risco do fundo (grifos do autor)92.

Por fim, além dos pontos aqui já tratados, estabelece a Resolução CMN nº 3.792/2009, em seu artigo 16, § 3º, os requisitos mínimos de cada política de investimentos em seus planos: (i) os limites por modalidade de investimento, se estes forem mais restritivos que os estabelecidos na Resolução; (ii) a utilização de instrumentos derivativos; e (iii) a observância ou não de princípios de responsabilidade socioambiental.

Para a correta gestão dos investimentos, a EFPC deve nomear um administrador estatutário tecnicamente qualificado, conhecido com AETQ, que será o responsável pela gestão, alocação, supervisão, controle de risco, acompanhamento dos recursos garantidores dos planos de benefícios e, em especial, pela prestação de informações sobre a aplicação dos recursos. Tal disposição consta do artigo 7º da Resolução CMN nº 3.792/2009.

91 Mercado financeiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 237.

69 Visando a dar uma maior tecnicidade à gestão dos fundos de pensão, o Banco Central editou a Resolução nº 4.275/2013, que exigiu dos administradores das EFPC certificação técnica para a gestão dos investimentos. Pela nova redação dada ao artigo 8º da Resolução CMN nº 3.792/2009, é exigido que todos os participantes do processo decisório de investimentos sejam certificados por entidades de reconhecida capacidade técnica.

Art. 8º. A aplicação dos recursos dos planos da EFPC requer que seus administradores e demais participantes do processo decisório dos investimentos sejam certificados por entidade de reconhecida capacidade técnica. (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

§ 1º. O disposto no caput se aplica: (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

I - ao AETQ; (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

II - à diretoria-executiva; (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

III - à maioria dos membros do conselho deliberativo; (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

IV - aos membros dos comitês de assessoramento que atuem diretamente com investimentos; e (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

V - a todos os demais empregados da EFPC diretamente responsáveis pela aplicação dos recursos de que trata o art. 1º desta Resolução. (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

§ 2º. A partir de 31 de dezembro de 2014, os membros elencados nos incisos II, III e IV do § 1º terão prazo de um ano, a contar da data de nomeação, para obter a certificação. (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

§ 3º. A certificação prevista no caput deve ser renovada em periodicidade não superior a quatro anos, contados da data da última certificação (Redação dada pela Resolução CMN nº 4.275, de 31 de outubro de 2013)

REDAÇÃO ORIGINAL:

Art. 8º A aplicação dos recursos dos planos da EFPC requer que seus administradores e demais participantes do processo decisório dos investimentos sejam certificados por entidade de reconhecido mérito pelo mercado financeiro nacional.

§ 1º. O disposto no caput se aplica também aos empregados da EFPC que realizam operações com ativos financeiros.

§ 2º. Os prazos para a certificação mencionada neste artigo são: I - para o AETQ, até 31 de dezembro de 2010;

II - para os demais administradores, participantes do processo decisório e empregados da EFPC que realizam operações com ativos financeiros, devem ser observados os seguintes percentuais mínimos em relação ao contingente: a) vinte e cinco por cento até 31 de dezembro de 2011;

b) cinquenta por cento até 31 de dezembro de 2012; c) setenta e cinco por cento até 31 de dezembro de 2013; e d) cem por cento até 31 de dezembro de 2014 (grifos nossos).

Cumpre destacar que essas alterações introduzidas pelo Bacen foram de suma importância para incentivar a qualificação não só dos dirigentes, mas de todo o corpo técnico responsável pela tomada de decisão no processo de investimento de uma EFPC.

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