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O papel dos órgãos internos de gestão e de controle na tomada de decisão

Para que a entidade de previdência complementar possa cumprir sua principal finalidade, pagar os benefícios contratados aos seus participantes, é essencial que ela seja organizada internamente, com uma divisão clara de competências e responsabilidades.

Com tal finalidade, a governança corporativa passa a desempenhar um papel muito importante dentro da entidade. O processo de tomada de decisões deve ser regulado de forma

63 que garanta grande transparência e cumprimento das normas estabelecidas pelos órgãos de supervisão e controle.

No âmbito da previdência complementar, a PREVIC editou o Guia PREVIC – Melhores Práticas em Fundos de Pensão, no qual recomenda uma estrutura mínima de governança dos fundos de pensão. Essa estrutura é composta por um conselho deliberativo, pelo conselho fiscal e pela diretoria executiva.

No item 14 do referido Guia, estabeleceu-se que:

A estrutura mínima de governança da EFPC é composta, conforme legislação em vigor, pelo Conselho Deliberativo, pelo Conselho Fiscal e pela Diretoria Executiva. É desejável que a EFPC constitua outras instâncias de assessoramento, como comitês consultivos de investimentos, de riscos, entre outros, observados o porte, a complexidade e o número de planos de benefícios e patrocinadores da EFPC86.

Pela leitura do dispositivo acima, resta claro que não basta que uma entidade tenha apenas a estrutura mínima de divisão de responsabilidades. Há de se levar em consideração a complexidade dos planos por ela administrados, bem como a natureza de seus patrocinadores. Conforme dados da ABRAPP, em dezembro de 2014, contava-se 267 entidades de previdência complementar no país, sendo que as três maiores administram algo em torno de 50% de todo o volume de recursos dos fundos de pensão87.

Além de concentrarem o maior volume de recursos, tem-se que, entre os 10 maiores fundos de pensão, oito deles são patrocinados por empresas públicas. Esse fato tem grande influência na composição interna das entidades, como será descrito mais à frente neste trabalho.

A divisão de responsabilidades visa a garantir maior transparência à gestão das entidades, contribuindo para uma melhor organização das atribuições de cada órgão, apresentando-se como uma ferramenta de organização essencial para manter a solidez dos planos administrados pelos fundos de pensão e o equilíbrio da própria entidade.

No âmbito das entidades, o artigo 35 da Lei Complementar nº 109/2001 estabelece que “as entidades fechadas deverão manter estrutura mínima composta por conselho deliberativo, conselho fiscal e diretoria-executiva”.

86 Guia Previc: Melhores Práticas de Governança para Entidades Fechadas de Previdência Complementar.

Brasília: PREVIC, set. 2012, p. 8-9. Disponível em:

<http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/1_121011-103451-807.pdf.>. Acesso em: 6 mar. 2015.

87 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR;

SINDICATO NACIONAL DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR; INSTITUTO CULTURAL DE SEGURIDADE SOCIAL. Previdência associativa: desenvolvimento frente às dificuldades. Revista Fundos de Pensão, São Paulo, ano XXXIV, n. 395, nov. 2014, passim.

64 Para Adacir Reis, “as entidades fechadas de previdência complementar possuem direção própria e apresentam uma estrutura de governança baseada em freios e contrapesos, com a existência de um conselho deliberativo, diretoria-executiva e conselho fiscal”88.

Com o objetivo de estabelecer princípios, regras e práticas de governança, gestão e controles internos a serem observados pelas entidades fechadas, o Conselho de Gestão de Previdência Complementar editou a já citada Resolução nº 13/2004. Com a referida norma, buscou-se descrever uma estrutura recomendável, as atribuições e a finalidade dos órgãos de governança.

Art. 2º. Compete à diretoria executiva, ao conselho deliberativo, ao conselho

fiscal e demais órgãos de governança eventualmente existentes o desenvolvimento

de uma cultura interna que enfatize e demonstre a importância dos controles internos a todos os níveis hierárquicos (grifo nosso).

Além de uma estrutura organizacional adequada, é imprescindível que, para gerir recursos de terceiros com responsabilidade, se tenha a competência técnica necessária. Nesse sentido, dispõe o artigo 4º da citada Resolução:

Art. 4º. É imprescindível a competência técnica e gerencial, compatível com a exigência legal e estatutária e com a complexidade das funções exercidas, em todos os níveis de administração da EFPC, mantendo-se os conselheiros, diretores e empregados permanentemente atualizados em todas matérias pertinentes às suas responsabilidades.

Nota-se que os diretores, os conselheiros e os empregados das EFPC devem manter uma conduta pautada por elevados padrões éticos e de integridade. Esses critérios são de extrema relevância quando se analisa o processo de tomada de decisão sobre os investimentos a serem realizados pelas EFPC.

Conforme dito anteriormente, a estrutura de governança de uma entidade pode diferir de uma para outra na medida de seu porte e de suas complexidades. No presente trabalho, utiliza-se a estrutura mínima para explicar suas funções e divisões de responsabilidades. Assim sendo, tem-se o conselho deliberativo como instância máxima de deliberação dentro de uma entidade, seguido do conselho fiscal e da diretoria executiva.

O conselho deliberativo, órgão máximo da estrutura organizacional é, em geral, responsável pela definição da política de administração da entidade e de seus planos de benefícios.

65 Pode-se dizer que as responsabilidades atribuídas a esse órgão são todas de natureza determinante, decisiva e peremptória. Da mesma forma ocorre com os demais órgãos estatutários, diretoria executiva e conselho fiscal, que, de acordo com suas responsabilidades e atribuições definidas no estatuto, tomam decisões e deliberam sobre assuntos que podem determinar a maneira de atuação da entidade.

Portanto, os órgãos estatutários devem agir de acordo com as atribuições descritas no estatuto, e, regra geral, em caso de ação ou omissão contrária a esses ditames, seus membros passam a ser responsabilizados pelo ato ou omissão praticado.

Em que pese este estudo se ater especificamente a analisar essas instâncias de decisão, entende-se que outros órgãos internos podem e devem ter papel bem ativo no processo de tomada de decisão.

No esteio do que se propõe com as normas de compliance mais avançadas, as entidades devem buscar, de toda forma, mitigar os riscos inerentes às suas atividades, criando órgãos que assessorem adequadamente o gestor da entidade.

Os órgãos de assessoramento das entidades são criados pelos órgãos estatutários e ficam a eles subordinados, de acordo com cada estatuto. Todas as suas determinações estão presentes em seus respectivos regimentos internos. Porém, eles não possuem poderes de decisão dentro da entidade, limitando-se a assessorar os órgãos estatutários.

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4 OS INVESTIMENTOS DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR