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A importância da inter, pluri-multi e transdisciplinaridade na implementação da EDS

Capitulo II – Referencial teórico

2. A Educação para o Desenvolvimento Sustentável – caracterização

2.7. A importância da inter, pluri-multi e transdisciplinaridade na implementação da EDS

Certamente que no atual contexto – social, económico, ambiental e educativo - o conceito de sustentabilidade faz já parte da linguagem do quotidiano. Contudo, a sua essência é compreendida por uma parte pouco significativa da sociedade, em que se incluem os educadores. Assim, os educadores, devem compreender as ideias básicas sobre a natureza do conhecimento da sustentabilidade, antes de optarem pela sua implementação no currículo.

Elshof (2003) refere mesmo que existe uma aparente ignorância geral sobre a sustentabilidade e as causas da sua existência, pelo que ao apresentar uma das caraterísticas em torno deste termo, como a sua natureza multidisciplinar, crê que os educadores já perceberam a necessidade de se trabalhar em grupo na tomada de decisões e de se ter em consideração a sua natureza sociopolítica controversa, bem como a questão dos valores que lhe são intrínsecos. Esta ideia foi reiterada nos estudos apresentados anteriormente.

Uma forma de resolver as questões relativas à sustentabilidade, segundo o autor mencionado anteriormente, passa pela implementação da interdisciplinaridade “uma vez que oferece oportunidades para revigorar a educação e contribui positivamente para o desenvolvimento de uma cultura emergente de esperança e possibilidade” (p. 166) e, acrescenta, ainda, que quando falamos de sustentabilidade “não existe nenhuma disciplina que forneça uma perspetiva verdadeiramente singular” (p. 168). A importância da interdisciplinaridade é também apoiada pela UNESCO (2010a), que confirma que a “sustentabilidade requer conhecimentos de muitas disciplinas” (p. 16), sob pena de fundamentar perspetivas parcelares, limitadas e unidimensionais de questões complexas e multidimensionais, como são as problemáticas que o ser humano tem de fazer frente no contexto atual.

Esclareça-se que a interdisciplinaridade, tal como clarificam Pombo, Levy e Guimarães (1994), “surge na escola, não como uma nova proposta pedagógica apresentada aos professores pelos pedagogos ou poderes centrais, mas como uma «aspiração» emergente no seio dos próprios professores” (p. 8).

Segundo Schmitz et al. (2010) a interdisciplinaridade é fundamental por proporcionar diferentes visões. Cada disciplina traz o seu conhecimento que, ao ser enquadrado com outras disciplinas, não só aumenta o conhecimento, como a solução para a resolução de problemas é mais viável. Partilha desta opinião a UNESCO (2010b) quando refere que uma simples abordagem disciplinar é incapaz de “proporcionar aos alunos uma avaliação e compreensão de todas as questões compreendidas nas dimensões sociais, ambientais, económicas e culturais do desenvolvimento sustentável” (p. 75).

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Na tentativa de definir o conceito de interdisciplinaridade, Pombo (2005) confessa não possuir uma “definição precisa, exaustiva” (p. 5) e afirma mesmo que “ninguém sabe o que é a interdisciplinaridade” (Pombo, 2004, p. 1). No entanto, apresenta uma proposta que parte do princípio de que todos os termos multi/pluri/inter e transdisciplinaridade têm em comum a palavra disciplina. Significando, portanto, que se trata de disciplinas que se querem juntar, articular, ou seja, colocar em inter-relação estabelecendo entre elas uma ação recíproca (Pombo, 2004, 2005).

Tanto Zabala e Arnau (1998) como Pombo (2004) mencionam que, numa perspetiva educativa, existem três graus de relações disciplinares - interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. No entanto, Pombo aborda ainda os sufixos multi e pluri, esclarecendo que os mesmos são sinónimos e que “do ponto de vista epistemológico, não faz sentido distinguir entre pluri e multi” (p. 5). Concordando com este ponto de vista, Elshof (2003) afirma que é impreterível clarificar os termos interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar “uma vez que são muitas vezes usados como sinónimos criando confusão sobre as verdadeiras diferenças epistemológicas” (p. 167). Esclarecemos, em seguida, os vários termos.

Assim sendo, para Zabala e Arnau (1998) a interdisciplinaridade é a “interação entre duas ou mais disciplinas, que pode ir desde a simples comunicação de ideias até à integração reciproca dos conceitos fundamentais e da teoria do conhecimento, da metodologia e dos métodos de pesquisa” (p. 143).

Na perspetiva de Elshof (2003) e baseando-se em Klein (1990, 1996), a interdisciplinaridade “é um estágio superior de interação” (p. 167), significando isto que, não só o conhecimento se organiza de uma nova forma como envolve a cooperação e colaboração dos vários setores da sociedade e das partes interessadas num novo discurso e na resolução de problemas complexos.

Para Pombo et al. (1994) a interdisciplinaridade deve entender-se como “qualquer forma de combinação entre duas ou mais disciplinas com vista à compreensão de um objeto a partir da confluência de pontos de vista diferentes e tendo como objetivo final a elaboração de uma síntese relativamente ao objeto comum” (p. 13). Tal como Elshof (2003), a autora partilha da opinião de que a interdisciplinaridade implica a reorganização do processo de ensino e de aprendizagem e pressupõe um trabalho contínuo de cooperação e colaboração dos professores envolvidos. Moran (2002) acrescenta, a este ponto de vista, a necessidade de a interdisciplinaridade apontar para as disciplinas de uma forma mais crítica e auto-consciente envolvendo também os professores no trabalho colaborativo, de modo a superarem as limitações das suas disciplinas e a compreenderem as múltiplas dimensões da sustentabilidade.

Relativamente aos termos multidisciplinaridade e transdisciplinaridade, Zabala e Arnau (1998) referem, respetivamente, que se trata de organizar os conteúdos de uma forma mais tradicional, os “conteúdos escolares são apresentados por matérias independentes umas das outras” (p. 143). Isto traduz-se no facto

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de não ser explícita o suficiente, a relação que existe entre cada disciplina, não se fazendo referência aos conteúdos que possam complementar-se. Por sua vez, transdisciplinaridade “é o grau máximo de relações entre as disciplinas, daí que se supõem uma integração global dentro de um sistema totalizador” (idem). Elshof (2003), tendo por base as ideias de Klein (1990, 1996) explica que a multidisciplinaridade se refere à sobreposição de disciplinas de forma integrada e interativa produzindo múltiplas perspetivas sobre um problema ou questão; já as formas transdisciplinares focam-se em problemas complexos não estruturados, com complexas relações de causa-efeito e que, no caso da sustentabilidade, agrega não só o conhecimento das ciências como das abordagens humanísticas, sendo tão importante a escolha do problema como a sua solução. “Educação para a sustentabilidade implica projetar experiências de aprendizagem que captem as duas dimensões da interdisciplinaridade” (Elshof, 2003, p. 168). Tal como a interdisciplinaridade, o autor refere que a transdisciplinaridade proporciona a colaboração e o diálogo entre os professores das diferentes disciplinas, de diferentes profissões, bem como dos vários setores da sociedade.

Relativamente à multidisciplinaridade, Pombo et al. (1994) afirma que esta envolve duas ou mais disciplinas em que os seus professores se esforçam para que exista um acordo nos conteúdos a tratar e a respetiva abordagem.

esse esforço poderá traduzir-se numa simples organização temporal (sequencialidade ou simultaneidade) do processo de ensino e de aprendizagem de determinados conteúdos programáticos, no pôr em presença das disciplinas em jogo quando do tratamento didático de um tópico comum, na colaboração com vista à recolha de informações provenientes das disciplinas envolvidas ou à análise conjunta de um mesmo objeto, no encontro para a resolução de um problema concreto” (p. 12).

A multidisciplinaridade exige que haja coordenação na docência, com partilha, discussão e resolução de uma temática comum, pelo menos entre duas disciplinas. Contudo não requer que se altere o ensino, quer na forma quer na organização deste, mas implica que exista coerência na sequência e simultaneidade previamente definida por um planeamento conjuntos das partes.

Já a transdisciplinaridade, na ideia da autora anteriormente mencionada, consiste num

nível máximo de integração disciplinar que seria possível alcançar num sistema de ensino. Tratar-se-ia então da unificação de duas ou mais disciplinas tendo por base a explicitação dos seus fundamentos comuns de compreensão do real, a formulação de uma visão unitária e sistemática de um sector mais ou menos alargado do saber (p 13).

Explica a mesma autora, que o “sufixo trans supõe um ir além, uma ultrapassagem daquilo que é próprio da disciplina” (idem). Partindo das ideias defendidas por esta autora, podemos dizer que estes conceitos se encontram interrelacionados e interligados, podendo mesmo acrescentar-se que se trata de algo que vai evoluindo de forma contínua, ao ponto de se estabelecer a coordenação, a combinação e finalmente a fusão, como é disso elucidativa a imagem que se segue (figura 5):

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65 Figura 5 - Interligação entre a inter, pluri e transdisciplinaridade (Pombo, 2004, p. 5)

Indubitavelmente, é necessário que os alunos estudem temas, questões e problemas relacionados com o Desenvolvimento Sustentável como parte da sua preparação para cidadãos responsáveis e informados da sociedade, recomendando por isso a integração do DS em todas as disciplinas específicas e de forma interdisciplinar (UNESCO, 2010b). Urge compreender as interações que se estabelecem entre o ambiente, a economia, a sociedade e a cultura.