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Capitulo II – Referencial teórico

2. A Educação para o Desenvolvimento Sustentável – caracterização

2.3. Reorientar a educação na perspetiva da mudança das práticas

Vivemos num contexto de profundas mudanças as quais Alarcão (2001a) caracteriza como mudanças ideológicas, culturais, sociais e profissionais. Nesta sequência, a educação constitui-se como o “cerne do desenvolvimento da pessoa humana e da sua vivência na sociedade, sociedade da qual se espera um desenvolvimento económico acrescido e uma melhor qualidade de vida” (p. 10).

A escola tem de mudar de modo a acompanhar a evolução dos tempos e a cumprir a sua missão. Esta tarefa prevê-se de difícil concretização, uma vez que a escola não tem conseguido acompanhar as profundas mudanças que se sucedem na sociedade, como se confirma na seguinte citação:

as transformações que nela vão sendo introduzidas, ela não convence nem atrai. É coisa do passado, sem rasgos de futuro. Ainda fortemente marcada pela disciplinaridade, dificilmente prepara para viver a complexidade que caracteriza o mundo atual. (…) não potencializa o desenvolvimento global do ser pessoa, ou facilmente discrimina e perde os que não se adaptam a esse paradigma (Alarcão, 2001a,p. 18).

Ainda na opinião da mesma autora, a escola que se ambiciona é uma escola reflexiva, assente numa filosofia em que esta se pense a si própria, e em que formar se constitui como um mecanismo que organiza contextos de aprendizagem “exigentes e estimulantes” (p. 11), por forma a contribuírem para o desenvolvimento de competências necessárias para viver, conviver e intervir na sociedade. “Uma escola assim concebida pensa-se no presente para se projetar no futuro” (p. 25).

Numa escola com estas características os seus membros devem ser incentivados e mobilizados para a participação, a coconstrução, o diálogo, a reflexão, a iniciativa, a experimentação; assim, também os alunos estarão melhor preparados para enfrentar e superar as dificuldades com capacidade crítica e reflexiva, reagindo positivamente perante o risco e a mudança.

Silva (2005) afirma mesmo que o professor é o ator fundamental para que a mudança ocorra, já que pode dirigir a sua prática pedagógica em dois paradigmas distintos.Um relativo ao paradigma dominante e que está relacionado com a reprodução do conhecimento, e um outro que surge na direção da construção de um paradigma emergente e que resulta da ciência contemporânea. Este último paradigma, assenta em vários pilares, segundo Ribeiro (2011), dos quais referimos os seguintes: i) a diversidade e complementaridade dos saberes (o que vai muito para além da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, privilegiando a noção de que tudo está entrelaçado com tudo e a todos os níveis); ii) focalização no indivíduo como ser global; iii) ciência como ferramenta da sustentabilidade planetária; iv) definição de uma ciência com consciência dos seus limites e dos limites de um saber particular que só se consegue superar se for auxiliada por outros saberes.

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Segundo Alarcão (2001a) “a complexidade dos problemas que hoje se colocam à escola não encontra soluções previamente talhadas e rotineiramente aplicadas” (p. 24). Esta complexidade exige cooperação e uma atitude de investigação na ação e pela ação. Exige, igualmente, por parte do professor a consciência de que a sua formação nunca estará terminada e, também, que os órgãos que tutelam a assunção do princípio de formação continuada promovam a dita formação.

Ressalve-se que na opinião de Moran (2005), os professores são avessos às mudanças, preferem a “velha aula com verniz de modestidade a arriscar muito, ter muito trabalho e correr o risco de fracassar ou ser criticado” (p. 91). Daí Garcia (2005) defender que se deve entender a mudança e a inovação como um processo de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal e profissional em que os professores se envolvem.

Relativamente à necessidade de se reorientarem as práticas educativas para a sustentabilidade, Gadotti (2010) explica que isto significa que muitos sistemas educativos estão a promover práticas educativas insustentáveis e que, por essa razão, têm que ser revistas. O reorientar das práticas educativas no âmbito da Década refere-se, num primeiro plano, à educação formal, mas não exclusivamente, estando também intrínseca a educação não formal e informal (p. 204) e, num segundo plano, uma nova pedagogia.

Ainda sobre mudanças, Machado (2002) refere que o “Professor-educador deve assumir a responsabilidade ética de ser um agente de mudanças no seu ambiente de trabalho, transformando-se num multiplicador de ideias” (p. 170). Para melhor entendermos como promover a mudança através da EDS, esclarecemos os conceitos de educação formal, não formal e informal (2.3.1, e, em seguida, as características chave da EDS (2.4) e exemplos concretos da sua implementação (2.5).

2.3.1. Educação formal, não formal e informal

A EDS deve ser executada através da renovação permanente de conteúdos, orientações e métodos. Deve abranger toda a comunidade escolar e extraescolar e realizar-se na educação formal, informal e não formal. Para esclarecer as principais diferenças entre educação formal, não formal e informal retomamos a síntese elaborada por Cruz (2008).

A Educação formal pratica-se nas escolas, em ambientes regulamentados, com comportamentos padronizados e conteúdos previamente definidos, em função de metodologias adaptadas aos diferentes escalões etários. Os professores são os agentes do processo de construção do saber. Os objetivos da educação formal incidem sobre o ensino e a aprendizagem de conteúdos sistematizados e definidos por leis.

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Tem como função principal formar indivíduos como cidadãos ativos, incutindo-lhes determinadas competências (criatividade, perceção, espírito crítico, entre outros).

A Educação informal é adquirida num processo de socialização, no qual o indivíduo adquire cultura, valores e comportamentos. Os responsáveis pelo processo de construção do saber são diversos: a família, os amigos, os vizinhos, colegas de escola, os meios de comunicação. Este tipo de educação ocorre em ambientes espontâneos, mas demarcados por referências de nacionalidade, localidade, idade, sexo, religião, etnia etc. As relações sociais desenvolvem-se segundo valores e crenças dos grupos que se frequentam ou a que se pertence por herança.

A educação informal não é organizada, os conhecimentos não são sistematizados e são transmitidos a partir de práticas e experiências anteriores, normalmente o passado encaminha o presente, atuando na esfera das emoções e sentimentos.

A Educação não formal é vulgarmente apelidada de “escola da vida" (aprende-se com as experiências vivenciadas). Desenvolve-se em ambientes e situações interativas construídas coletivamente, segundo orientações de grupo, cuja participação dos indivíduos é facultativa. Tem por princípio a solidariedade, a identificação de interesses comuns e é parte do processo de construção da cidadania coletiva e pública do grupo.

Há na educação não formal uma intenção na ação (participar, aprender, transmitir e trocar conhecimentos) possibilitando que os indivíduos se tornem cidadãos do mundo, capacitando-os para a construção de relações sociais baseadas em princípios de igualdade e justiça social.

A educação formal distingue-se da informal e da não formal pelo meio em que ocorre (Escola) e pela existência de uma certificação de competências.

A educação não formal e a informal adquirem uma outra dimensão com o acelerado desenvolvimento das TIC, dado que permitem a interação com a enorme rede mundial e, consequentemente, permitem a construção de projetos cooperativos que enriquecem os ambientes de aprendizagem, nomeadamente na capacidade de atualização e de descoberta, podendo os conhecimentos desses cidadãos ser transmitidos de forma mais percetível, coletiva, democrática e solidária.