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Conceitos nucleares, princípios e características da Educação para o Desenvolvimento Sustentável

Capitulo II – Referencial teórico

2. A Educação para o Desenvolvimento Sustentável – caracterização

2.1. Conceitos nucleares, princípios e características da Educação para o Desenvolvimento Sustentável

O conceito de EDS é, de acordo com Huckle e Sterling (1996), difícil de se identificar numa única definição. Isto deve-se particularmente a três razões que se traduzem no facto de a EDS evidenciar uma mudança sistémica, ou seja, refletir as maiores e mais profundas mudanças culturais no mundo pós-moderno; que levanta questões sobre os fins e a essência da educação; ser manifestamente transformadora, já que pretende contribuir para a mudança da prática educativa; e ser relacional e abrangente, por se preocupar com os debates sobre a sustentabilidade, incluindo os educativos.

Corrobora da mesma opinião o grupo SDLEG (2006) ao referir que o conceito de EDS pode ser definido de muitas formas, frisando, no entanto, que o mesmo assenta em seis princípios interrelacionados, que os apresenta como provenientes de diferentes fontes, da seguinte forma (quadro 4):

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33 Quadro 4 - Descrição dos princípios da EDS (adaptado de SDLEG, 2006, p. 3)

Princípios da EDS Descrição

Interdependência

É necessário compreender as ligações e interdependências entre toda a biosfera ao nível local e global, considerando os efeitos das ações locais noutros locais e as suas repercussões.

Diversidade Há que perceber a importância e o valor da diversidade na vida das pessoas, considerando o aspeto sociocultural, económico e o ambiental. Capacidade de

compreender a insustentabilidade

É importante entender que os recursos existentes são limitados e a sua má gestão pode causar problemas que se repercutem nas populações e no ambiente.

Direitos e

Responsabilidades

Ter consciência de que é imprescindível considerar os direitos e necessidades dos outros, reconhecendo que o que fazemos, atualmente, tem implicações na vida futura.

Equidade e Justiça

Compreender as causas da desigualdade, considerando que, para existir o DS, todas as pessoas devem viver de forma equitativa, sem que exista uma óbvia estratificação social.

Incerteza e Precaução Perceber a imprevisibilidade das nossas ações e das suas consequências, ponderando-as e reconhecendo as limitações do conhecimento humano.

Apesar de algumas discrepâncias acerca do referido conceito, constata-se, contudo, que o mesmo converge para um determinado conjunto de palavras-chave. Para Salgado e Tréllez (2009), a EDS é considerada como um “processo de aprendizagem (ou abordagem pedagógica) baseado nos ideais e princípios em que se apoia a sustentabilidade e relacionados com todos os tipos e níveis de ensino” (p. 28), o que corrobora a ideia subjacente a este trabalho.

Filho (2009) afirma que a “EDS é um processo lento, a longo prazo, que contempla uma educação abrangente e a formação de pessoas preparadas para impulsionar o caminho para um mundo mais sustentável” (p. 273).

Na perspetiva da UNESCO (2007) e da UNECE (2011), a EDS aumenta a consciência da complexidade e dinamismo dos problemas, desempenhando igualmente um papel fundamental para que o DS seja compreendido e aplicado de maneira concreta.

Segundo a UNESCO (2010b), a EDS é um processo de aprendizagem e de promoção do DS e tem como função ensinar a viver de maneira sustentável, isto é, deve fomentar a capacidade de se encontrarem formas de melhorar a qualidade de vida, sem que para isso se prejudique o ambiente e sem que se deixe como herança, para as futuras gerações, um aglomerado de problemas e/ou se transfiram os nossos problemas para outras partes do mundo.

A EDS, de acordo com a UNECE (2011), objetiva desenvolver a capacidade de reflexão crítica e sistémica e pensamentos futuros, assim como, motivar para ações que promovam o DS. A definição deste conceito é amplamente reforçado por Salgado e Tréllez (2009), ao afirmarem que a EDS deve ser considerada um

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instrumento amplo para uma educação e aprendizagem de qualidade que integra questões cruciais, tais como a redução da pobreza, os meios de vida sustentáveis e a mudança climática, entre outros.

A UNESCO (2009a) apresenta um conjunto de especificidades que caracterizam a EDS no sentido de definir uma nova direção para o ensino e aprendizagem, promovendo uma educação de qualidade, baseada em valores, princípios e práticas que respondam aos desafios atuais e futuros.

A abordagem sistémica e integrada da EDS, além de ajudar as sociedades a enfrentarem os diversos problemas vigentes (ambientais, económicos e sócio-culturais), ajudam igualmente a atribuir a importância desejável aos sistemas de ensino e formação, no contexto formal, não formal e informal, num processo de aprendizagem ao longo da vida através de abordagens criativas e críticas. A EDS sustenta-se por princípios e modos de vida sustentáveis.

A complementar as especificidades acima elencadas, apresentamos, ainda, as caraterísticas chave da EDS segundo a UNESCO (2006a, 2007, 2009b), e que corroboram o referido anteriormente no que concerne ao próprio conceito de EDS: i) Baseia-se nos princípios e valores que constituem os alicerces do DS e adapta-se às mudanças inerentes à sua própria evolução; ii) Apoia as três dimensões do DS (sócio-cultural, ambiental e económico); iii) Promove a aprendizagem através da educação formal (numa perspetiva inter/transdiciplinar), não formal e informal e tem em consideração que as propostas curriculares devem ter em atenção o contexto, as prioridades locais e os problemas mundiais; iv) Recorre a uma multiplicidade de estratégias pedagógicas que promovam uma aprendizagem participativa e a capacidade de reflexão; v) Fundamenta-se nas necessidades, crenças, cultura e condições de cada país, reconhecendo, ao mesmo tempo, que a satisfação das necessidades locais tem efeitos e consequências globais; e vi) Aumenta a capacidade dos cidadãos, com vista à tomada de decisões, tanto no âmbito da comunidade como em termos da tolerância social, da responsabilidade ambiental e económica e da qualidade de vida.

Completando um pouco mais este conceito, destacamos o referido por Salgado e Tréllez (2009) sobre o facto de a EDS promover cinco tipos fundamentais de aprendizagem, que permitem proporcionar uma educação de qualidade e promover o desenvolvimento humano sustentável. As aprendizagens mencionadas revêem-se nos quatro pilares (aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a viver juntos, aprender a fazer) da Educação do Século XXI enunciados por Delors (1998), sendo que a UNESCO (2009b) adita, a esta educação, um quinto pilar (transformar-se a si e à sociedade) diretamente relacionado com os propósitos da EDS. “A educação encerra um tesouro que propõe que os objetivos se baseiem em quatro pilares de aprendizagem” UNESCO (2010b, p. 57), embora o alcance global da EDS, e de acordo com a UNESCO (2010b), permita acrescentar aos quatro pilares um quinto pilar de aprendizagem, uma vez que existe também o objetivo de dotar as pessoas e as sociedades com competências necessárias à transformação das atitudes e dos estilos de vida,

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Os pilares mencionados são-nos apresentados com as designações “aprender a conhecer”, “aprender a ser”, “aprender a viver juntos”, “aprender a fazer” (Delors,1998) e “aprender a transformar-se a si mesmo e à sociedade” (Salgado e Tréllez, 2009) e representam, respetivamente, o seguinte: i) Aprender a conhecer pressupõe que cada um compreenda o mundo que o rodeia para que nele se integre, desenvolvendo competências, além de suscitar a curiosidade intelectual, o espírito crítico e a autonomia, de modo a assegurar o seu próprio bem-estar; ii) Aprender a ser - a educação é um pressuposto fundamental na criação de um cidadão responsável capaz de ser um interveniente ativo, crítico, com poder de decisão ao longo da sua vida; iii) Aprender a fazer é o objetivo final da aquisição de conhecimentos, ou seja capacitar o aluno para o desempenho de uma profissão; iv) Aprender a viver juntos e com os outros deve ser o resultado de uma educação para a consciencialização das semelhanças e interdependências entre todos os seres humanos do planeta; v) Transformar-se a si mesmo e à sociedade “refere-se à necessidade de formarem futuros cidadãos ativos, capazes de pensar prospectivamente, com estilos de vida responsáveis e solidários, e com as competências necessárias para se adaptarem às mudanças da sociedade e do ambiente” (Salgado e Tréllez, 2009, p. 13).

De acordo com o referido pela UNESCO (2010b), estes cinco pilares constituem a base para que a educação proporcione tanto ferramentas essenciais para a aprendizagem (a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, e a resolução de problemas) como os conteúdos básicos da aprendizagem (conhecimentos teóricos e práticos, valores e atitudes), fundamentais para que o ser humano desenvolva as suas capacidades, participe no seu desenvolvimento, tome decisões informadas, perspetivando a aprendizagem ao longo da vida.

Por sua vez, Breiting, Mayer e Mogensen (2006) enunciam que a EDS “apela à tomada de decisões e ações práticas; as escolas não devem apenas falar do futuro, mas agir para o futuro” (p. 18). O principal objetivo da ação da escola deve constatar-se na aprendizagem e no envolvimento dos alunos É, por isso, importante que a escolha dos temas potenciem a participação ativa dos alunos, estimulem as suas opiniões e que “os professores se preocupem com o desenvolvimento do pensamento crítico e a clarificação de valores quando os alunos estão a investigar e a resolver problemas” (idem).

Para finalizar, deixamos as palavras de Filho (2009) ao referir que a EDS deve ser um processo formativo e contínuo que, através de soluções inovadoras e de uma cultura científica e social, vise formar cidadãos ativos, comprometidos e responsáveis na promoção do DS. A EDS tem também a aptidão latente de se constituir como um elemento agregador entre a escola e a comunidade, estabelecendo sinergias com o propósito de um futuro exequível.

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2.2. Educação de qualidade

Tomando como referência o conceito de EDS supra referido, na secção 2.1, destacamos a importância atribuída a uma educação de qualidade.

A Qualidade tornou-se um conceito dinâmico que tem que adaptar-se constantemente a um mundo cujas sociedades experimentam profundas transformações sociais e económicas. É cada vez mais importante estimular a capacidade de previsão e antecipação (UNESCO, 2003, p. 1).

O significado de educação de qualidade e qual o melhor caminho a seguir para que se atinja a qualidade essencial, segundo Chapma e Adams (2002, p. 2), ainda não é explicável. Outros autores ressalvam que “existem muitas definições, testemunhando a complexidade e a natureza multifacetada do conceito” UNICEF (2000, p. 4).

Chapma e Adams (2002) salientam que a qualidade da educação “pode implicar, simplesmente, a obtenção de metas e objetivos definidos” (p. 2), realçando que a qualidade se refere a quatro tópicos específicos, nomeadamente, os relativos às: i) entradas - que dizem respeito ao número de professores, à quantidade de professores em formação e à disponibilidade de recursos didáticos; ii) aos processos - respeitante ao tempo disponibilizado diretamente para a própria instrução e dimensão da aprendizagem ativa; iii) às saídas - uma vez que está diretamente relacionado com os resultados dos testes e as taxas de sucesso na conclusão dos cursos; e, finalmente, iv) aos resultados - que se obtêm posteriormente, isto é, os que se adquirem quando se está na vida ativa.

A UNESCO (2003) reconhece que o facto de vivermos num mundo desigual, um mundo com enormes assimetrias, impossibilita que uma educação de qualidade seja acessível a todos. No entanto, a redução destas disparidades, e eventualmente a sua eliminação, dependem do acesso, por todos, a uma educação de qualidade “(…) acreditamos que uma educação de qualidade é uma ferramenta para superar estas desvantagens, além de constituir um direito (…)” (para. 4).

A premência de uma educação de qualidade é reforçada na Declaração de Bona (UNESCO, 2009a) em que se indica que a "educação deve ser de elevada qualidade, que transmite os valores, conhecimentos, atitudes e competências necessários para se levar uma vida sustentável, participar na sociedade e fazer um trabalho decoroso” (p. 1).

Algumas das preocupações fundamentais em matéria de educação de qualidade são referidas pela UNESCO (2010b, p. 56), designadamente, as relativas à aquisição de conhecimentos, competências, valores e capacidades que possam utilizar-se para que seja exequível uma vida boa, saudável e sustentável; à

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promoção da alfabetização; adequação da aprendizagem realçando a importância da aprendizagem e das qualificações, tanto para o presente como para o futuro. Convém, ainda, que se assuma uma postura para que a educação possa avançar e transmitir os conhecimentos em diferentes contextos, nomeadamente, estabelecendo uma ponte entre os diferentes ciclos de ensino, entre a escola e a comunidade, e promovendo o potencial e os valores sociais do indivíduo, apoiando a família, a comunidade e a sociedade em geral. Segundo Wang et al. (2011), o ensino de qualidade pode apresentar-se segundo três perspetivas, a primeira é cognitiva e diz respeito aos conhecimentos, às capacidades e crenças, às atitudes e disposições que os professores trazem para a profissão; a segunda é relativa à performance dos professores – o que os professores fazem na prática educativa, as diversas experiências que os professores têm tanto dentro como fora da sala de aula e que contribuem para a aprendizagem dos alunos. De salientar que a perspetiva cognitiva e a perspetiva da performance do ensino de qualidade não podem acontecer em separado, durante a prática educativa. Ambas são interativas e interdependentes. A terceira perspetiva enuncia que os resultados da aprendizagem têm origem na qualidade do ensino, independentemente da forma e do instrumento com que esta é avaliada.

Precisamos de um ensino de qualidade; Imbernón (2010) afirma que, finalmente, percebemos que os sistemas educativos anteriores não funcionam para educar a população deste novo século, ”sente-se necessidade de uma nova forma de ver a educação, a formação e o papel dos professores e dos alunos” (p. 23).

Em suma, a educação de qualidade constitui-se como um direito fundamental, assente nos princípios de obrigatoriedade, gratuidade e no direito à não-discriminação. Exercer o direito à educação é essencial para que os alunos desenvolvam a sua personalidade e aprendam ao longo da vida. Uma educação de qualidade reúne três características essenciais: i) ser relevante – refere-se ao desenvolvimento de competências que permitam aos alunos participar e intervir socialmente; ii) pertinente – a educação deve ter em consideração a heterogeneidade entre os alunos, de forma a responder às diferentes necessidades de cada um; e, iv) equitativa – refere-se à igualdade de oportunidades no acesso à educação, proporcionando a cada aluno o apoio e recursos que necessitem (UNESCO, 2008).

Estes novos cenários que se perspetivam para a educação implicam uma série de mudanças para que haja uma integração da EDS de forma consistente nas práticas educativas, baseadas na qualidade, na transversalidade de conteúdos e , no incremento do pensamento crítico, entre outros. A emergência de um novo papel para o professor reitera a necessidade de mudança das práticas educativas.

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