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Capitulo II – Referencial teórico

3. Formação dos professores na sociedade contemporânea

3.3. Competências profissionais exigidas aos professores

As constatações mencionadas anteriormente e relativas à formação contínua são reforçadas por Imbernón (2010) que refere que em conformidade com a realidade social, o sistema educativo e os objetivos que lhe são inerentes têm forçosamente que acompanhar esta evolução e como tal, “os professores devem sofrer uma mudança radical na forma de exercer a profissão no seu processo de incorporação e formação” (p. 13). Sobre a mudança exigida aos professores, Thurler (2002) considera que está diretamente relacionada com as reformas atuais que “confrontam os professores com dois desafios de envergadura” (p. 89): “reinventar a escola enquanto local de trabalho e reinventarem-se a si próprios enquanto pessoas e membros de uma profissão” (idem). O reinventar aludido pelo autor significa que os professores devem questionar e conjugar as suas práticas pedagógicas com novas metodologias, ultrapassando o ensino rígido baseado em materiais didáticos muito limitativos (lições e fichas de trabalho), bem como, reinventar novas relações profissionais com os colegas e com a organização do trabalho no interior da escola, significando isto, o abandono da cultura do individualismo em prol da cooperação e da colaboração.

No entanto, estas mudanças prevêem-se de difícil concretização: Imbernón (2010) salienta que, na “atualidade, temos a certeza de que a educação só mudará se os professores mudarem, mas os contextos em que esses interagem também deverão fazê-lo” (p. 55). Com efeito, tal como em “qualquer profissão há diferenças na capacidade, na competência e no desempenho dos seus membros. Assim, também entre os professores há fatores de diferenciação” Oliveira-Formosinho (2009, p. 47). Relativamente aos fatores de diferenciação, este autor sintetiza-os da seguinte forma: i) Fatores naturais - derivam da diversidade de capacidades, dos interesses, das motivações e da personalidade de cada um; ii) diferenças de disponibilidade e empenho – os professores apresentam diferentes caraterísticas, enquanto uns são apáticos, passivos, outros são, cumpridores, empenhados, militantes; iii) ciclos da vida profissional – O ciclo da vida dos professores desenvolve-se paulatinamente ao longo de diversas fases ou etapas cuja caracterização assenta na experiência adquirida; iv) formação contínua que os professores tenham

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frequentado - as oportunidades de formação, a vontade e o esforço pela aprendizagem contínua e permanente, bem como, o aproveitamento obtido em ações de formação idênticas.

Em relação aos ciclos de vida profissional, e completando a alínea iii) mencionada anteriormente, Huberman (1992) apresenta cinco fases na carreira docente como se pode verificar no quadro 8. De salientar que estes momentos da carreira docente podem não se verificar de forma tão simplista e sequencial para todos os professores.

Quadro 8- Etapas, fases e anos da carreira docente (Hubeman, 1992, p. 47)

A Fase inicial, ou de entrada na carreira, corresponde essencialmente a momentos de exploração, de sobrevivência e de descoberta. Os momentos de exploração dizem respeito ao contacto e convivência com novas realidades, bem como, à aplicação das teorias antes adquiridas que se conjugam com momentos de sobrevivência e descoberta que advém desta nova realidade, onde se afigura necessário lidar com tarefas muito díspares (integrar grupos de trabalho, gestão de espaços e tempo, além de materiais didáticos, etc.). A fase subsequente é designada por estabilização, em que se estabelecem vínculos mais estreitos com a profissão, os colegas e a comunidade escolar, existindo uma grande dinâmica e inovação nas práticas, verificando-se uma certa confiança e maturidade. A terceira fase, designada por diversificação, evidencia a consolidação das práticas e métodos, mas também há momentos de questionamento e análise do trabalho feito até ao momento, averiguando se o caminho escolhido foi o mais correto e acarretando duas situações possíveis - a rutura (abandono da profissão) ou uma acomodação à situação. Na quarta fase verifica-se a serenidade, a qual se caracteriza pelo distanciamento afetivo e pela serenidade, correspondendo a algum desinteresse e comodismo face ao que logram atingir. A última fase corresponde à fase final da carreira é caracterizada pelo desinvestimento e queixume acerca dos mais diversos aspetos da profissão – alunos, colegas, etc., os professores têm outros interesses exteriores à escola.

Apesar das diversas contingências que pautam o percurso profissional docente, há também a considerar que na base da sua carreira, a educação e a formação deve permitir desenvolver nos professores conhecimentos diferenciados (pedagógico, científico e cultural) e novas competências profissionais (Imbernón, 2010).

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Existem vários fatores que influenciam a educação e a formação, e prendem-se com a rápida evolução e transformação: i) da sociedade, refletindo-se nos mais variados aspetos da sociedade (institucional, organizacional, entre outros) e por consequência, repercutindo-se também na transformação das formas de viver, pensar e agir das novas e velhas gerações; ii) do conhecimento científico, que implica mudanças nas formas de ensinar e aprender; iii) dos meios de comunicação de massa e dos suportes tecnológicos subjacentes, que trouxeram transformações na vida pessoal e institucional, alterando o modo de transmissão do conhecimento; iv) de novos modelos relacionais e participativos na prática da educação, sem descurar o facto de que a educação já não é património exclusivo dos professores, mas de toda a comunidade e dos meios de comunicação que têm ao seu dispor; v) impostas pela sociedade multicultural e multilíngue em que o diálogo entre culturas supõe um enriquecimento global, não obstante, pode gerar restrições sociais e educativas face a uma necessidade constante de progressão e adequação; e vi) das redes informáticas e telemáticas que permitem uma maior partilha do conhecimento e interação entre professores, utilizando estratégias pedagógicas diferenciadas. Assim, são exigidos aos professores novas competências e destrezas a aplicar no âmbito educativo (Imbernón, 2010).

As competências exigíveis aos professores implicam que os mesmos sejam capazes de exercer a sua profissão, de se formarem e prepararem para a complexa sociedade do futuro “complexidade que aumentará por conta da mudança radical e vertiginosa das estruturas científicas, sociais, educacionais (…) (idem, p. 31); só assim será possível transmitir valores e comportamentos democráticos aos futuros cidadãos.

No sentido de minimizar as diferenças entre professores e que interferem diretamente com a sua profissionalidade é necessário, e utilizando as palavras de Monereo (2007), dotar os profissionais com conhecimentos específicos da área que lecionam e ainda, que “sejam capazes de refletir sobre a sua didática, de tomar decisões oportunas sobre a forma de apresentar a matéria nas aulas e de encontrar respostas adequadas a situações novas e imprevisíveis” (Monereo, 2007, p. 69-70).