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Competências digitais de professores e suas implicações na aprendizagem dos alunos

Capitulo II – Referencial teórico

5. As TIC no processo de ensino e de aprendizagem a mudança expectável

5.1. Competências digitais de professores e suas implicações na aprendizagem dos alunos

Um referencial de competências para os professores obriga ao repensar das conceções e das práticas educativas, ao debate sobre o atual estado da profissão e ao enfrentar das pendências que esta coloca (Barriga, 2009). A Unesco (2008b) criou o projeto ICT Competency Standards for Teachers o qual faz parte de um conjunto de iniciativas (o Desenvolvimento do Milénio, Educação para Todos, Década da Alfabetização das Nações Unidas e Década de Educação para o Desenvolvimento Sustentável) da ONU e das suas instituições, em que se inclui a Unesco.

Este projeto foi aprimorado e, em 2011, a Unesco apresentou o projeto ICT Competency Framework for Teachers (ICT-CFT) que parte do pressuposto, tal como o anterior projeto, de que a utilização das TIC na educação contribui para a melhoria desta e que se poderá repercutir no próprio desenvolvimento económico dos países, na redução da pobreza e das desigualdades sociais. Um dos propósitos é que este projeto se constitua como guia para formadores de professores na criação ou melhoria dos programas de desenvolvimento profissional, visando a reforma dos sistemas educativos e o desenvolvimento económico sustentável; de salientar, que o mesmo se destina a todos os intervenientes dos vários níveis de ensino (professores, alunos, diretores, entre outros).

Neste sentido, a Unesco (2009d) defende que os professores no ativo devem adquirir competências, de modo a proporcionarem aos seus alunos experiências de aprendizagem com recurso às tecnologias, uma vez que o ensino tradicional se encontra obsoleto perante os novos desafios que os alunos terão que ser capazes de ultrapassar, nomeadamente no atual mercado de trabalho. É necessário fundir a tecnologia com a pedagogia (Unesco, 2009a).

Assim, o projeto referido defende que o desenvolvimento de competências se incremente em diferentes dimensões como a compreensão das TIC na educação, o currículo e avaliação, a pedagogia, as TIC e a organização, administração e desenvolvimento profissional do professor, tal como se pode verificar na figura

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que se segue (figura 18), tendo como meta a melhoria da prática educativa dos professores, em todas as suas áreas de trabalho.

Figura 18 - Competências em TIC (Unesco, 2011. p. 13)

Este projeto agrega as seis dimensões referenciadas com três abordagens indispensáveis à reforma da educação, baseando-se na capacidade humana; são elas a literacia em tecnologia, o aprofundamento do conhecimento e a criação de conhecimentos. Passamos a explicar cada uma das abordagens, mencionando as competências que lhes são intrínsecas:

O objetivo da literacia em tecnologia é o de, por um lado, dotar os alunos e os professores, com capacidades para utilizarem as tecnologias no apoio ao desenvolvimento social e à melhoria da produtividade económica, envolvendo meios tecnológicos de comunicação inovadores; e, por outro lado, dotar os professores com capacidades para integrarem as TIC no currículo, na sua pedagogia. Assim, é suposto que os professores saibam como, onde e quando as devem usar, de modo a que as suas atividades em sala de aula saiam enriquecidas e, igualmente, adquiram conhecimento pedagógico e de conteúdo apoiando desta forma o seu próprio desenvolvimento profissional.

Conhecimento

Básico Conhecimento Aplicação do Competências do século XXI

Ferramentas Básicas Sala de aula Padrão Tecnologia integrada Literacia Digital Solução de problemas complexos Ferramentas complexas Grupos colaborativos Gestão e orientação Autogestão Ferramentas gerais Escolas que Aprendem Professor como aluno modelo Consciência

Política Compreensão Política

Inovação Política Criação de Conhecimentos Aprofundamento do Conhecimento

Compreensão das TIC na educação Currículo e avaliação Pedagogia TIC Organização e Administração Desenvolvimento Profissional Docente Literacia Tecnológica

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As competências docentes relacionadas com a literacia tecnológica compreendem conhecimentos básicos em literacia digital, a capacidade de selecionar e utilizar tutoriais e jogos e realizar exercícios disponíveis online.

O aprofundamento do conhecimento está intrinsecamente relacionado com a mudança expectável na educação, o que implica o desenvolvimento profissional do professor e a mudança da sua pedagogia na sala de aula, onde se inclui a aprendizagem colaborativa, assente em problemas reais e projetos. A aprendizagem centra-se no aluno e o professor promove o questionamento, orienta os alunos e apoia-os nos projetos que estão a desenvolver. Pretende-se que os alunos trabalhem em grupo e que recorram às ferramentas da Web 2.0 existentes para auxílio a cada disciplina de modo a ultrapassarem as fronteiras da sala de aula, envolvendo a colaboração local e global.

As competências docentes relacionadas com esta abordagem incluem a capacidade de gerir informação, a integração de programas opensource específicos de cada disciplina ou temática, capazes de promoverem o ensino centrado na aprendizagem do aluno e em projetos colaborativos e cooperativos. Devem, ainda, os professores utilizar a Internet para apoio aos alunos tanto na cooperação e no acesso a informações, como no estabelecimento de interações com especialistas externos e como recurso para colaborar com outros professores nas suas aprendizagens.

A criação de conhecimento tem como intuito aumentar a participação cívica, a criatividade e a produtividade económica desenvolvendo nos cidadãos e nos alunos um compromisso com a criação do conhecimento, a inovação e a participação na aprendizagem ao longo da vida.

O papel dos professores também reside na criação de comunidades de aprendizagem, de modo a aumentar a interação entre os alunos. Assim, as escolas transformam-se em escolas que aprendem com a participação de todos os agentes educativos, em que

os professores são alunos/mestres/produtores de conhecimento, constantemente envolvidos na investigação educativa e inovação, em colaboração com os seus colegas e especialistas externos na produção de novos conhecimentos sobre a prática de ensino e aprendizagem (Unesco 2009d, p. 8). As competências docentes relativas à criação de conhecimento traduzem-se na criação de recursos e ambientes de aprendizagem sustentadas em TIC; desta forma, os professores utilizam as TIC para apoio na criação de conhecimento e da capacidade de pensamento crítico dos alunos, promovendo a aprendizagem reflexiva, além da criação de comunidades de conhecimento para os alunos. Contribuirão igualmente para a formação contínua dos colegas e para a transformação da escola numa escola inovadora com o contributo das TIC.

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O ICT-CFT pode ser usado de uma forma modular, ou seja, os programas de formação de professores ou atividades de aprendizagem não precisam de incluir todos os módulos e competências; os mesmos devem ser escolhidos de acordo com os objetivos e metas a atingir.

Salientamos que este projeto vai ao encontro do emanado pela Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, uma vez que, procura conciliar o bem-estar humano e o desenvolvimento económico e social sustentável.

É por intermédio da educação e do desenvolvimento da capacidade humana que as pessoas não só agregam valor à economia, mas também contribuem com o património cultural, participam do discurso social, melhoram a saúde da família e da comunidade, conservam o ambiente natural e aumentam sua própria organização e capacidade de continuar a se desenvolver e a contribuir, criando um círculo virtuoso de desenvolvimento pessoal e participação (UNESCO, 2009a, p. 8).

De acordo com Perez e Suñé (2011) a competência digital integra vários componentes distintos divididos em cinco dimensões chave: i) dimensão tecnológica - compreender os sistemas tecnológicos; ii) dimensão informacional - transformar a informação em conhecimento; iii) dimensões cognitiva e colaborativa - dominar recursos expressivos e estratégias para resolver problemas; e iv) dimensão cívico-cidadã - atuar de forma responsável, democrática e cívica.

A dimensão tecnológica refere-se aos conhecimentos básicos sobre as TIC, como os dispositivos tanto físicos (hardware) como lógicos (software), que exigem uma aprendizagem progressiva ao longo da formação básica e específica e o domínio dos sistemas tecnológicos em termos operativos.

Sobre esta dimensão tecnológica, há a salientar a facilidade com que os jovens manuseiam e se adaptam às TIC, daí considerarem-se “nativos digitais”; no entanto, apesar da aparente facilidade, os alunos devem ser orientados no seu processo de aprendizagem e devem ser ensinadas boas práticas para o uso das TIC. A vantagem inerente à experiência no manuseamento das diversas aplicações pelos alunos revela-se na possibilidade de se dar a conhecer diferentes ferramentas, nomeadamente o vasto leque que a Web 2.0 oferece e que serão detalhadas, algumas das que fizeram parte deste estudo, mais à frente na secção 5.3. A dimensão informacional revela-se no forte manancial de informação disponível através da Internet que indica esta como a principal fonte de informação dos alunos e implica diversas competências como interpretar a informação pesquisada; saber organizar, analisar, interpretar e avaliar a informação, saber comunicar e apresentar a informação para distintas audiências, entre outros.

A dimensão cognitiva da aprendizagem exige que se tenha em consideração o valor educativo (instrutivo) das TIC aliado a um conjunto de estratégias didático pedagógicas inovadoras baseadas na corrente construtivista.

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As TIC oferecem uma flexibilidade pedagógica que permitem revelar o seu potencial educativo em atividades interativas como simulações, a resolução de problemas baseados em situações da vida real, a realização de projetos, bem como, uma aprendizagem personalizada, colocando ao dispor do aluno as ferramentas para a manipulação de informação e para a criação e comunicação de conteúdos.

Em suma, e baseando-se o autor anterior nos trabalhos de Jonassen, podemos identificar uma grande vantagem na utilização das TIC em ambientes de aprendizagem construtivista (quadro 14).

Quadro 14 - Possibilidades das TIC em ambientes de aprendizagem construtivistas (adaptado de Perez e Suñé, 2011, p. 56)

Possibilidades das TIC em ambientes de aprendizagem construtivistas

i. as aulas são ativas, uma vez que o aluno participa na elaboração da informação;

ii. promovem a construção de novos significados através dos conhecimentos prévios;

iii. as aulas são colaborativas, daí ser possível a criação de comunidades de aprendizagem;

iv. as aulas são baseadas no diálogo e no debate permanente de ideias;

v. as aulas são personalizadas, com atividades e projetos imersos na realidade diária da escola;

vi. as aulas são reflexivas, em que reflete sobre o que se aprende e como se aprende e sobre o que vale a pena aprender.

A dimensão colaborativa está relacionada com o pressuposto de que a Web 2.0 permite a interação, a participação e a troca de experiências e conhecimentos entre as pessoas através das diferentes ferramentas existentes. Nesta sequência, tanto o papel do aluno como o do professor se modificam.

A dimensão cívico-cidadã prende-se com a competência cidadã que todos as pessoas devem ter e manifesta-se na assunção de valores democráticos, no conhecer e respeitar as diferenças e no exercício dos seus direitos cívicos.

A “mudança e a inovação em educação são processos complexos e longos” (Costa, 2008, p. xvii) de tal forma que o estudo deste investigador se apresenta como um referencial de competências em TIC, baseado noutros modelos internacionais, consentâneo com “a realidade portuguesa e [que] permitisse dar consistência e coerência aos restantes elementos do próprio sistema, isto é, a formação e a certificação” (idem) e que apresentamos no quadro que se segue (quadro 15).

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111 Quadro 15 - Macro competências do Professor (Costa, 2008, p. xviii )

O

P

rof

es

sor

Detém conhecimento atualizado sobre recursos tecnológicos e o seu potencial de utilização educativo. Acompanha o desenvolvimento tecnológico no que implica a responsabilidade do professor.

Executa operações com Hardware e sistemas operativos (usar e instalar programas, resolver problemas comuns com o computador e periféricos, criar e gerir documentos e pastas, observar regras de segurança no respeito pela legalidade e princípios éticos, …)

Acede, organiza e sistematiza a informação em formato digital (pesquisa, seleciona e avalia a informação em função de objetivos concretos…).

Executa operações com programas ou sistemas de informação online e/ou off-line (aceder à Internet, pesquisar em bases de dados ou diretórios, aceder a obras de referência,…)

Comunica com os outros, individualmente ou em grupo, de forma síncrona e/ou assíncrona através de ferramentas digitais específicas.

Elabora documentos em formato digital com diferentes finalidades e para diferentes públicos, em contextos diversificados. Conhece e utiliza ferramentas digitais como suporte de processos de avaliação e/ou de investigação.

Utiliza o potencial dos recursos digitais na promoção do seu próprio desenvolvimento profissional numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida (diagnostica necessidades, identifica objetivos).

Compreende vantagens e constrangimentos do uso das TIC no processo educativo e o seu potencial transformador do modo como se aprende.

As competências anteriormente enunciadas reiteram a importância da formação de professores no desenvolvimento de competências em TIC; a mesma oferece a possibilidade de os professores se confrontarem com conhecimentos atualizados sobre as tecnologias e o potencial que as mesmas oferecem ao processo educativo; desta forma é possível acompanharem o desenvolvimento tecnológico, acedendo e organizando informação, executando tarefas utilizando diferentes aplicações informáticas, comunicando com os colegas e/ou alunos de forma síncrona e/ou assíncrona. Destaca-se ainda a importância do desenvolvimento profissional dos professores se dever realizar numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida.