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A impossível “ortopedia”

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Conceitos como invadir e ocupar, conquistar e ganhar (...) muitas vezes percebemos que nosso acampados chegam à terra dizendo que ganharam o “seu” pedaço de chão, esse é um bom exemplo cultural que está enraizado em nosso povo, o da propriedade privada. Aqui, creio, deveríamos nos perguntar: onde falhamos?225

Um outro episódio que dá a dimensão do poder concentrado na equipe dirigente, a despeito das instâncias de deliberação, eu pude verificar por ocasião da articulação para a expulsão de um sem-terra. O que narrarei na seqüência coloca em destaque diversas posições de poder e aponta para uma complexidade que afasta determinações absolutas. Trata-se do Gabriel, um assentado que apresentava os sintomas da tuberculose. Em um determinado dia, logo que cheguei no acampamento eu fui diretamente até o local onde moravam as principais lideranças e encontrei ali um pequeno grupo de três pessoas que pertenciam ao Setor de Saúde conversando com duas dirigentes pertencentes à BO. Um deles eu já conhecia, era o Ezequiel. Falavam sobre uma pessoa sobre a qual eles tinham certeza de que estava infectada pela tuberculose. Até aquele momento eu não sabia de quem se tratava. Diziam, ao mesmo tempo, que era uma pessoa de difícil convivência, grosseira na forma de tratar os demais acampados e que se recusava, com brutalidade, a utilizar uma máscara cirúrgica de proteção e a realizar os exames para se tratar. Disseram, inclusive, que tinham medo de que fosse violento com eles. O motivo pelo qual estavam ali conversando com a direção era para que essas autorizassem sua expulsão. Uma delas, a Clara, deu carta branca para que as pessoas que compunham o Setor da Saúde decidissem o que considerassem mais adequado. Então eles disseram que iam fazer uma reunião e convocá-lo para tentar, pela última vez, uma saída menos traumática para aquele caso.

Na seqüência daquele diálogo acompanhei Julia, a segunda dirigente que estava sedo consultada, até o barraco da Isabel, que também era uma liderança que integrava a FM. Quando chegamos ali encontramos o Gabriel, aquele jovem sobre o qual conversavam minutos antes. Pelo que percebi ele estava ali intercedendo junto à Isabel para que não fosse expulso. Logo que chegamos a Julia e Isabel foram conversar em particular e eu fiquei ali, sob uma enorme árvore conversando com o Gabriel. Ele trajava apenas bermuda, tinha a pele bem morena queimada pelo sol, em seu braço havia um nome feminino tatuado precariamente, usava cabelos compridos mal cuidados e sua magreza expunha os contornos de suas costelas. Sua fisionomia lembrava a de um indígena esquálido. Em uma das mãos ele tinha uma caneca de plástico com a qual peregrinava barraco por barraco na busca de um pouco de óleo para cozinhar o arroz que seria a única alimentação do almoço.226 Sobre isso ele comentou: “é

duro estar aqui sem grana, ver as pessoas comendo pão, comprando coisas na bodega e não poder comprar”.

Em nossa conversa ele logo começou a me contar que as pessoas estavam dizendo que ele era portador da tuberculose, mas que até aquele momento não havia um diagnóstico conclusivo. Ele admitia que apresentava vários sintomas daquela doença, mas acentuou que ainda não “escarrava” sangue. O diagnóstico médico preliminar apontava para tal doença, no entanto se baseava apenas no RX dos pulmões. Para a confirmação definitiva da presença da bactéria causadora da tuberculose seria necessário o exame de sangue e do “escarro”, exames

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Frase de Anita contida em seu trabalho de final do curso sobre a Realidade Brasileira.

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Naqueles dias o INCRA não havia enviado a cesta básica em função da ameaça judicial de despejo que se voltava contra aquele acampamento.

que ele ainda não havia realizado. Espontaneamente ele foi me contando, sem nenhuma malícia, o seu percurso até chegar no acampamento. Ele tinha 29 anos dos quais 17 foram vividos na rua227. Havia tentado morar com a irmã durante um período, mas o marido dela era policial e a maltratava com freqüência, algo com o qual ele não podia conviver, então se sentia melhor morando na rua. Assumiu que já fez uso de diversas drogas e que já havia sido detido pela polícia acusado de ser traficante.

Quando foi encontrado pelas pessoas da Frente de Massa do MST ele morava na rua com sua esposa de 17 anos e trabalhava recolhendo material reciclável. Conforme me narrou, em um determinado dia duas pessoas se aproximaram deles em um gol branco e lhes perguntaram onde eles moravam. Aqueles militantes obtiveram uma resposta “curta e grossa”:

“não te interessa aonde a gente mora!”. Então imediatamente anunciaram seus propósitos: “Não, é que a gente ta querendo te ajudar, te levar para um lugar melhor.” Impaciente ele se

adianta, “vamos lá meu irmão, diga logo do que se trata”. Então, sem rodeios, os militantes lhes fizeram o convite: “Tu já ouviu falar do acampamento do MST? Lá vocês terão um

barraco, alimentação e apenas terão que realizar algumas tarefas”. Ao que ele contrapôs sua

única preocupação: “mas se eu quiser ir embora depois?”. “A gente dá a passagem para

irem embora”; lhes tranqüilizaram aquelas lideranças. “Tá legal, a mulher é quem decide”.

Então ele e sua companheira aceitaram o convite e se tornaram acampados. Mas em poucos dias sua esposa se desentendeu com outra mulher e chegou a agredi-la fisicamente. Tal fato lhe valeu a expulsão. Conforme Gabriel, ela voltou a viver com a mãe em uma cidade do interior. Convencido por outros acampados, ele resolveu permanecer no acampamento. Até aquele dia em que o conheci ele se manteve sozinho em seu barraco. Dizia que o acampamento era bom porque ele tinha um barraco e alimentação, mas enfrentava dificuldades com relação à convivência interna e sofria com a ausência da companheira e com a falta de dinheiro. Sobre a resistência que tinha em sair para se tratar ele me disse que receava ser abandonado pelos “companheiros”: “eu não quero é que eles me abandonem lá”. Nossa conversa foi interrompida por um membro do Setor da Saúde que chegou dizendo

“bah, estou te procurando há ‘horas’, nós queremos ter uma conversa contigo”. Ali

começava a se concretizar as decisões que haviam sido articuladas nos “bastidores” e que eu tive a oportunidade de presenciar. Quando ele ia saindo eu lhe perguntei seu nome, ele parou e, meio surpreso com aquela questão, após um breve momento de hesitação, me disse como se chamava. Fiquei com a impressão de que em outra circunstância ele teria me dito “não te interessa o meu nome”, e talvez tenha mesmo lhe passado pela cabeça aquela resposta naquele lapso de tempo em que hesitou me responder. Mas durante aqueles minutos em que conversamos a única brutalidade que ele expressou foi aquela que a “vida” lhe impôs.

Quando Julia se acercou a mim, eu comentei com ela sobre as dúvidas que ele tinha sobre a doença e sua disposição em se tratar, desde que não fosse abandonado. Talvez por conhecer episódios negativamente mais chocantes do que o que emocionalmente significou para mim aqueles minutos de conversa com ele, ela me disse laconicamente: “é, as coisas não

são tão simples assim”. Percebi que aquele ultimato que lhe dariam estava informado por

muitos outros momentos acumulados que depunham contra ele. Diante daquela situação imaginei que presenciaria, pela primeira vez, a expulsão forçada de alguém do acampamento. Mas, para a surpresa de todos, a conversa que as pessoas do Setor de Saúde e o Gabriel tiveram se realizou de forma bastante cordial, conforme, mais tarde, me narrou Ezequiel. Ele aceitou ser levado para uma clínica para se tratar e realizar os exames definitivos sobre a

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Conforme uma reportagem jornalística, a incidência de tuberculose entre moradores de rua pode chegar a ser 60 vezes maior do que entre o restante da população. Sobre a reportagem ver site: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,tuberculose-e-maior-risco-a-morador-de-rua,398122,0.htm consultado em 13/09/2009.

tuberculose e nos dias que ainda permanecesse no acampamento portaria a mascara de proteção. Nesse mesmo dia, circulando pelo acampamento, o notei em meio a um pequeno grupo que conversavam descontraidamente em frente à bodega; ele estava sem a máscara. Foi a ultima vez que o vi. Busquei notícia sobre ele com Julia e com Ezequiel, mas ninguém sabia qual tinha sido o seu paradeiro, se havia sido confirmado sua doença e iniciado o tratamento, se regressaria ao acampamento.... Ao que tudo indica, seu receio de ser abandonado havia se confirmado.

Esse caso carrega uma série de elementos a serem analisados. Inicialmente, dever ser notado que a última palavra naquele caso estava sendo dada pelas dirigentes da BO. Desde suas posições, as lideranças da BO instituíram de poder o Setor da Saúde, lhe dando autonomia para que decidisse o destino daquele jovem. Paralelo a esse momento de negociação, ao que tudo indicava, Gabriel também negociava junto a uma outra liderança, que, possivelmente, tenha sido quem lhe “conquistou” para o acampamento, uma vez que Isabel era da FM. Com relação a este aspecto devo salientar um sentimento que tive baseado em alguns elementos objetivos. Isabel me parecia a que menos poder havia entre os que se distinguiam como dirigentes. Tinha 28 anos, era a única negra, havia estudado apenas até a quinta série, tinha um casal de filhos dos quais sentia muita saudade, pois, judicialmente, o ex-marido tinha adquirido o direito de ficar com eles enquanto ela se mantivesse no acampamento. Durante o momento que a entrevistei ela não conteve a emoção e chorou ao contar sobre seus filhos228. Estava decidida a aceitar ser assentada apenas para reaver o direito de viver ao lado deles, do contrário, preferia continuar atuando como liderança no acampamento. Ela morou durante 6 anos em um assentamento ainda “da época do Brizola”, em um lote da avó de seu ex-marido. Ao lado desse assentamento havia um assentamento organizado pelo MST, o que, naquela época não significava nada para ela, pois apenas veio a tomar conhecimento da existência do Movimento quando alguns militantes daquele assentamento a convidaram para participar de uma manifestação em Brasília em 2005. Sigam seu percurso em suas próprias palavras:

Eu falei “ah, eu vou ir pra Brasília, quando eu vou ter dinheiro pra ir passear?”. Ai fui. Logo que eu me separei. Daí nós fazia aquelas ocupação eu não entendia muito... tinha que fazer aquela caminhada... eu me lembro que foi feito 17 ocupações de áreas. Ai eu falei: “aqui eu me encontrei”. Era aquela primeira impressão, todo mundo cansado, mas todo mundo... e ai eu já não estava mais lá só pra conhecer a cidade, era uma coisa muito... todo mundo caminhando, lutando... é uma motivação muito grande que tem assim e ai foi que... Isso foi em 2006. Daí eu fiquei ainda pensando, tentando achar um solução, só que eu ainda não estava muito convencida, estava convencida, mas assim... eu não estava bem segura, até mesmo porque eu não entendia muito. Alguns assentados me dizia “Ah, vai tirar sua terra, vai tirar um cantinho pra criar os seus filhos, dar um futuro melhor”. Mas eu, muito burra, dizia, “ah vou trabalhar de peão, pode ser que eu consiga alguma coisa”. Ai fiquei ainda, ai por volta de uns 3, 4 meses trabalhando. Ai surgiu um acampamento ali em Canguçu que era o acampamento de Camaquã. Passou uns dois

(meses) que abriu o acampamento eu ainda estava trabalhando lá fora,

trabalhava na colheita de fumo. Passou dois meses, eu pensando,

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Aliás, devo salientar que ao menos outras quatro pessoas que entrevistei também choraram quando me contavam momentos críticos de suas vidas.

longe dos meus filhos, não tinha sossego. Ai eu digo, vou acampar, e fui. To ai desde 18 de junho de 2006 eu vim acampar. Eu fui ficando, fui gostando. Quando a gente chega no acampamento a gente tem que contribuir com alguma coisa, ai fui contribuir no setor da educação, ajudava ali a organizar a biblioteca, fazia educação física com as crianças, alguma coisa de desenho e aquilo mexia muito comigo. Vendo a dificuldade do dia a dia, não tem um lápis, não tem caderno e ai a gente fazendo discussão para arrumar com apoiadores, até mesmo com a comunidade ali. Mas ai eu fazendo tudo isso e o meus filhos não estão aqui, ai fui lá e comecei a incomodar o pai deles e trouxe eles para o acampamento, coloquei eles na escola itinerante e ai ficaram. Mas agora esse ano não deu mais, eles retornaram pra lá.

O seu marido exigiu que eles fossem pra lá? É, ele não entende nada

da luta, não entende nada do MST e ai ele acha que eu já estou há muito tempo aqui, é difícil. Agora depois de 3 anos eu vou ir pra terra, não por causa que eu quero, mas por causa dos meus filhos, porque eu preciso ter os meus filhos perto de mim, se não eu ficava mais ai 2 ou 3 anos no acampamento, não tinha problema nenhum. Eu me sinto muito bem, tenho uma convivência boa com as famílias. Eu já me acostumei, 3 anos debaixo da lona, e contribuindo e tentando ajudar uma pessoa e outra... às vezes eu preciso de ajuda... Esses dias mesmo uma menina veio ai fazer um curativo no meu pé... É uma coisa que às vezes a gente acha que esta esquecido, que não tem ninguém para ajudar e quando vê... é uma corrente muito forte. Diferentemente de outras lideranças Sua trajetória se confunde com a trajetória socialmente sofrida de grande parte dos acampados. A maior parte das lideranças se reconhecem dotadas de uma “consciência política” prévia à vivencia do acampamento e possuidoras de uma trajetória socialmente privilegiada por comparação ao demais. Era o caso daquelas lideranças que tinham ali maior destaque. Recupero a fala de uma delas, a Anita, que dá conta dessa distância entre ela e os demais:

(Adquirir a consciência) Isso é muito difícil, eu tive que fazer o inverso, eu já tinha essa consciência política, mas tudo aquilo, aquela carga de vida que as pessoas têm eu não tenho e aqui eu tenho que reaprender a ver isso e eu tenho que ter muita paciência para esperar que a pessoa dê aquele passo. Aqui você está o tempo inteiro em questionamento, se batendo com a realidade. Tem vezes que irrita porque só pensa na terra, na terra... e tem tanta coisa alem disso. Ai volta e tem que dar conta de que até você, Anita, chegou a ter isso, você teve outras oportunidades na vida que 99% do acampamento não têm. Então você para e começa de novo a dar os passos. Isso não tem conhecimento teórico que te diz, tu tem que entender, não adianta.

Assim, retomando os diferentes diálogos com estas lideranças, pode ser observado uma certa homologia estrutural de posições entre os pertencentes do Setor da Saúde e a Clara e Julia e entre o Gabriel e a Isabel. Ou seja, o Gabriel que, a princípio parecia enfrentar com resistência as decisões daquelas pessoas que, como ele, eram “simples acampados”, apesar de instituídos do poder que o Setor da Saúde lhes revestia, buscava apoio junto à Isabel, que,

apesar de ser liderança, estava em uma posição de poder inferior àquelas às quais o Setor de Saúde buscou respaldo. Tanto é assim, que tão logo receberam a autorização para decidirem o que melhor considerassem, eles partiram em reunião visando quais procedimentos tomariam. Estavam dispostos a expulsá-lo caso continuasse resistindo. Possivelmente, diante daquela visível movimentação dos membros do Setor de Saúde, que buscavam poder e legitimidade junto àquelas principais lideranças para decidirem o que melhor considerassem, o Gabriel se viu obrigado a ceder e não mais resistir às sua “expulsão”.

Este é outro elemento de análise para o qual Goffman (2003, p. 106-107) chama a atenção. A proveniência do mesmo estrato social e cultural faz de certas lideranças um canal importante no ajuste entre os liderados e outras lideranças superiores. No entanto essa mesma proximidade original pode significar maior dificuldade em distanciar-se dos liderados enquanto liderança. Isso está evidente tanto no fato de Gabriel se ver em condições de enfrentar os membros do Setor da Saúde, pessoas que poderiam ser confundidas com ele229, mas, ao mesmo tempo, buscar apoio em uma liderança também como ele. Outro aspecto que pode ser deduzido dessa homologia estrutural é que os casos de lideranças de perfis mais fortemente autoritário, que buscam, de alguma maneira, exacerbar seu poder de liderança, também se verifica junto a estas lideranças provenientes do mesmo meio social e cultural dos acampados. Em outras palavras, para ter a autoridade reconhecida e se destacar como liderança dentre seus semelhantes, ela precisava levar ao extremo o seu poder. O contrário ocorre com aquelas lideranças que já carregam em seu próprio corpo e na sua trajetória as marcas distintivas que as fazem ser o que “naturalmente” são.

A própria atuação de Isabel em uma reunião da qual eu participei, confirma esta observação. Durante a reunião do Núcleo de Base ao qual ela pertencia ela não falava muito, mas as vezes que o fazia imprimia em sua fala um tom e uma postura de autoridade e suas observações eram sempre de conteúdo crítico e repreensivo, especialmente às forma como a reunião estava sendo conduzida e os pontos da pauta analisados. Eu mesmo, antes de entrevistá-la, a percebia uma pessoa muito dura e de difícil trato. Impressão desfeita após nossa conversa. De toda maneira, sua postura buscava impor respeito como liderança e o fazia de uma forma mais impositiva do que as demais lideranças que inspiravam respeito “automaticamente”.

Junto aos assentados do assentamento recente, muitos comentaram de uma liderança famosa, o Xico da Silva que, ao que tudo indica, eram uma pessoa proveniente do mesmo meio social que a maioria dos acampados230. Todos recordam dele como uma liderança autoritária que conduzia o acampamento com “mão de ferro”. Mas ninguém fazia tal referência como sendo uma característica negativa. Bem antes pelo contrário. Esse pulso firme, o rigor na aplicação das decisões, sua objetividade que deixava pouca margem para negociações, eram atributos fortemente valorizados. Veja, por exemplo, essa fala do Sr. José que ficou seis anos acampado e faz três anos que está assentado. Ele tem 53 anos de idade, pai de 5 filhos, semi-analfabeto:“desde que eu estava no acampamento me chamavam pra ser

coordenador do grupo, eu nunca quis, eu não tenho a caligrafia o suficiente”. Assim ele

descreveu sua experiência no acampamento:

Como foi essa experiência de acampamento?

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Possivelmente, devido à sua “liberdade” enquanto morador de rua e pelo fato de que até então não esteve submetido a nenhuma ordem, ele sentia-se superior àqueles simples acampados subservientes.

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Tal dedução está baseada em algumas evidências, como o fato de que tenha sido obrigado a se transformar em assentado após cometer alguns “erros”. Segundo um assentado, ele havia engravidado uma garota, menor de idade e moradora do acampamento que estava sob sua liderança. Então ele foi obrigado a casar-se com ela e a ir para o assentamento.

Foi ótimo, aprendi muita coisa que eu não sabia, aprendendo a viver mais com o pessoal, lidava com o pessoal, trabalhava na parte da segurança. Mexia na alimentação, depois passei pra segurança. Convivendo com o pessoal, vendo como é que agia, como é que não agia, como é que a gente tinha que agir com eles, tipo um soldado. Aí a gente foi pegando uma experiência. O Sr. acha que ali é como se

fossem soldados... É como um regime militar!!!! [fala de forma

incisiva] Na minha época era um regime militar, porque essas drogas, essas porcarias, se nós desconfiasse, nós ia a busca, e conversava com o cara e se não parasse pegava a faixa (rodovia), lá dentro não ficava. Não é que nem hoje, esse (acampamento) daqui, todo mundo fala aí que nego “chapa” ali pra dentro. Na minha época de acampamento não existia isso. Nem o traguinho [dose de cachaça] que eu gostava de tomar não se comprava de litro, era só na parte da tardezinha que

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