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A infraestrutura geral do texto

CAPÍTULO 4 – A ELABORAÇÃO DO MODELO DIDÁTICO

4.3 Análise das autobiografias

4.3.2. A autobiografia de Teixeira (2006)

4.3.2.1. A infraestrutura geral do texto

O plano geral do texto foi organizado em cinco capítulos, de acordo com as etapas que o autor dividiu sua vida, seguindo uma ordem cronológica dos fatos, ações e acontecimentos, e se apresenta da seguinte forma:

• No 1o capítulo, “Santana do Jacaré”, o autor relata: a sua origem; o seu

nascimento; os lugares onde morou e o sonho em ser cineasta.

• No 2o capítulo, “Campo Belo”, ele relata sua mudança de residência em 1983;

suas aventuras e desventuras na escola; sua paixão pela Roberta; o sofrimento pela discriminação; descreve as tias e sua vó Telvina; narra, ainda, as inúmeras atividades que desenvolveu e a publicação de sua redação no jornal da cidade. • Já no 3o capítulo, “São Paulo”, o autor relata: sua mudança para São Paulo, em

1998; os inúmeros trabalhos e lugares em que teve de morar; as desilusões; o curso de Cinema, o início da concretização de seu sonho; o concurso no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) perdido por uma questão de Matemática; sua volta ao Estado de Minas Gerais; seu retorno a São Paulo e o resultado do vestibular, da Faculdade de Letras, da Universidade de São Paulo (USP). • No 4o capítulo do livro, “Universidade São Paulo”, Rinaldo relata sua chegada

à USP, sua moradia e seus novos colegas; o preconceito e as injustiças sofridas; a morte de suas tias; o concurso do TRT recuperado, pois a questão de Matemática havia sido anulada; o emprego no TRT e a desistência desse trabalho em prol de sua obsessão, fazer cinema.

• No 5o e último capítulo, o autor discorre sobre: o concurso do Ministério da

Cultura, que tinha o objetivo de democratizar o cinema; sua colocação no concurso entre os primeiros quarenta; o filme realizado, um documentário que contava a história real das dinhas (tias) Tonha e Aparecida, as irmãs de seu pai; o sucesso do filme e a sua formatura em Letras, aos 32 anos.

O tipo de discurso predominante é o discurso de relato interativo, de caráter disjunto- implicado, marcado pela presença das seguintes unidades: dêiticos pessoais, em sua maioria de primeira pessoa, tempos verbais: pretérito perfeito e imperfeito, organizadores temporais, como em: “e eu decidi levar o conselho pro resto da vida. Mas no dia seguinte, no recreio,

me futricaram que o Juliano estava armando turma pra me pegar depois da aula” (TEIXEIRA, 2006, p. 50, grifo nosso).

Aparece também a expressão “a gente” no lugar de “nós”.

Além do discurso de relato interativo, o texto apresenta alguns segmentos de discurso interativo, em discurso direto, ponto de interrogação e aspas referindo-se às falas do enunciador Rinaldo e do personagem, seu tio, inseridas no relato, como em:

O tio Enoque era bisavô da minha prima Sandra e minha mãe levava a gente lá na casa dele aos domingos. Ele dizia que já chegava aos cem anos porque teve que judiar de muitos irmãos de cor a mando dos Freire, mesmo depois da lei da abolição. “Mas a lei não era de 1888, tio”? Eu perguntava e ele dizia: “lei não vem a cavalo pra terra de ninguém, não, e a Isabel nunca visitou a terra que a gente tava”. (TEIXEIRA, 2006, p. 26, grifo nosso)

E, também, segmentos de discurso teórico, como em: “a Wiltrans é uma transportadora com sede em Campo Belo e filiais em Belo Horizonte e São Paulo [...]” (TEIXEIRA, 2006, p. 68).

Da mesma forma que vimos na primeira autobiografia, esta é organizada, globalmente, em scripts, segmentos da ordem do narrar, inseridos na história em ordem cronológica dos fatos ou ações, sem nenhum processo de tensão, como percebemos em: “no outro dia, Joaquim Camilo acordou cedo, pegou o bule em cima da mesa, as vistas embaraçaram, o gato tava lá, mais preto que branco, mais branco que preto, debaixo das lenhas. De noite foi à venda, jogou baralho, pinguinha, prosa com os compadres” (TEIXEIRA, 2006, p. 45-46).

O texto também apresenta alguns segmentos denominados sequência dialogal, efetivada nos segmentos de discurso interativo, como notamos no trecho: “[...] ‘pede lá o endereço dele’ [...] ‘ô Paulo, a Júlia queria te escrever uma carta pra dizer umas coisas que ela não pode falar agora’” (TEIXEIRA, 2006, p. 64). Todos os segmentos dessa sequência são marcados com aspas.

As sequências descritivas também aparecem e levam o leitor a visualizar com detalhes os lugares apresentados, como podemos observar no trecho abaixo, a descrição do espaço onde se encontra a Universidade São Paulo:

A USP tem árvore de tudo quanto é tipo. E pássaros, os bicos-de-lacre, de tinta vermelha na ponta do bico, pequenos, sempre voando juntinho de um ramo daqui pro ramo de lá, procurando alimento; canários da terra e do reino, os tizius soltando tiziu, depois dando saltos e pousando espertos no ponto original de onde saíram do galho, coleirinhas, tico-ticos e quero-

queros armando a espora debaixo das asas e ameaçando defenderem seus ninhos dos cachorros que correm no percalço deles riscando a praça do relógio. Era o centro de tudo da cidade universitária, com um relógio suspenso numa coluna de quarenta metros, com imagens esculpidas no corpo do cimento que sobe de um tanque de água redondo, no qual as crianças negras filhas ou vizinhas dos operários que o construíram vindas das comunidades de perto se molham no faz de conta que é piscina. Palco de greves, namoros e festas, ao lado da rua dos bancos, caminho da reitoria, da Rádio USP, das faculdades, das dissertações de teses, bibliotecas, editoras e museus, ao lado de gente correndo, fazendo ioga, andando de skate ou treinando bicicleta. (TEIXEIRA, 2006, p. 92-93)

Esse tipo de sequência é comum no gênero autobiografia, pois é por meio dela que o autor leva o leitor a visualizar pessoas, lugares e coisas presentes no texto.

Assim, encerramos a análise da primeira camada do folhado textual que nos permitiu identificar os tipos de discurso a as possíveis sequências presentes no conteúdo temático da autobiografia de Teixeira (2006). A seguir, veremos os mecanismos de textualização.