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RESULTADOS E COMPARAÇÃO ENTRE AS

RESULTADOS E COMPARAÇÃO ENTRE AS PRODUÇÕES INICIAIS E FINAIS

No capítulo anterior vimos como se procedeu a elaboração da sequência didática que geraram os textos produzidos para esta pesquisa. Neste capítulo iniciamos a comparação entre os resultados iniciais e finais das autobiografias dos seguintes alunos: Ely, Luc, Lipe, Su, Tay e Lu, que apresentaremos a partir da próxima seção. Com esses resultados chegaremos às conclusões para responder a nossa questão principal de pesquisa: quais capacidades de linguagem dos alunos, em produção textual, podem ser desenvolvidas com o ensino planejado e sistemático do gênero autobiografia?

Entretanto, não apresentaremos os resultados do contexto de produção, haja vista que não tiveram modificação por se tratar do mesmo trabalho: o mesmo gênero, o mesmo objetivo, o mesmo espaço social, uma capacidade adquirida logo na apresentação do gênero e que se sustentou ao longo das atividades da sequência didática.

Assim, na próxima seção iniciaremos a comparação entre os resultados iniciais e finais na autobiografia de nosso primeiro sujeito de pesquisa, Ely.

6.1. Comparação entre resultados iniciais e finais na autobiografia de Ely

Nesta seção apresentaremos nossos resultados de pesquisa a partir da comparação entre os resultados iniciais e finais na produção da autobiografia de Ely.

Representamos na Tabela 6.1 a comparação entre a produção inicial e final para que o leitor visualize melhor o desenvolvimento de Ely na produção escrita. As capacidades de linguagem adquiridas serão descritas na sequência.

Capacidades de linguagem

Produção inicial Produção final

Capacidade discursiva

Plano geral do

texto

O plano geral do texto: ordem cronológica dos fatos.

O texto foi escrito com 416 palavras.

Não houve mudança O conteúdo temático foi diminuído em 20 palavras, totalizando 396 palavras. Tipos de

discurso

Discurso predominante: relato interativo.

Segmento de discurso interativo encaixado no discurso predominante.

Não houve mudança. Não houve mudança.

Tipo de sequência Sequência dialogal. Segmentos de scripts. Sequência narrativa. Sequência dialogal. Scripts predominantes na autobiografia. Desaparecimento da sequência narrativa. Capacidade linguístico- discursiva

Conexão 5 organizadores temporais. 9 organizadores temporais, predominantes na autobiografia.

Maior preocupação em

organizar a sequência temporal

Coesão nominal

Anáforas: por apagamento do pronome (4); pronominais (10); nominais (5).

Anáforas: por apagamento do pronome (13); pronominais (7); nominais (2). Tornou o texto mais coeso

Coesão verbal

Tempos verbais no pretérito perfeito (41) e no imperfeito (14) ocorrências = 55 ocorrências.

Tempos verbais no presente = 6 ocorrências.

Predomínio dos tempos pretérito perfeito (34) e imperfeito (15) = 49 ocorrências.

Tempo presente = 5 ocorrências. Vozes Presença da voz da

enunciadora. Voz do padeiro. Voz do pai. Voz da mãe.

Presença da voz da enunciadora (predominante), e da mãe. Desapareceram as vozes do pai e do padeiro inseridas na sequência narrativa.

Marcas de

subjetividade 2 marcas de ordem afetiva. 3 marcas de ordem afetiva 7 de ordem axiológica TABELA 6.1. Comparação entre a autobiografia inicial e final de Ely.

Diante da síntese dos resultados apresentada na Tabela 6.1, observamos que o conteúdo temático foi diminuído na última versão. Com exceção das marcas de discurso de relato interativo: presença de pronomes de primeira pessoa e de verbos, em sua maioria, nos tempos pretérito perfeito e imperfeito, nos quais a aluna já apresentava certa proficiência, o que nos leva a depreender que ela já era possuidora de uma aprendizagem pré-escolar, porém, não sistematizada (VIGOTSKI; LURIA; LEONTIEV 2006); as transformações na escrita foram evidentes. A análise comparativa nos proporciona essa dimensão.

Em relação às capacidades discursivas, observa-se que tanto na primeira como na última produção o plano geral do texto seguiu uma ordem cronológica dos fatos ocorridos na vida de Ely (LEJEUNE, 1975, 2008), sendo essa uma das características da autobiografia. Assim, o leitor pôde visualizar, no plano geral, uma espécie de resumo do conteúdo temático.

Nos itens referentes ao predomínio do discurso na autobiografia, na 1a produção, as marcas de discurso de relato interativo estavam presentes no texto. As evidências da primeira pessoa e dos verbos nos tempos pretérito perfeito e imperfeito confirmavam o tipo de discurso próprio do gênero autobiografia, além disso, o texto contava com cinco organizadores temporais. Assim, na última versão, permaneceram as marcas de discurso de relato interativo somadas aos marcadores temporais que organizaram melhor a sequência temporal no relato.

Na autobiografia de Ely também constaram segmentos de discurso interativo na primeira versão e que permaneceram na última.

Em relação às sequências, no primeiro texto, percebemos um fragmento de sequência narrativa encaixada no relato e, também, um segmento de sequência dialogal, além de segmentos predominantes denominados scripts. Na última versão, esses segmentos aparecem mais nitidamente, com exceção da sequência narrativa que desaparece, pois a aluna se concentrou em relatar a sua história em uma ordem cronológica dos fatos, sem nenhum processo de tensão.

Em relação aos mecanismos de textualização, na 1a produção as unidades que marcavam a conexão no texto, os organizadores temporais, apareceram em menor número, 5, já na última produção, a aluna tem maior preocupação em fazer as ligações entre as diferentes partes do texto, utilizando-se de maior número de unidades que marcam essa conexão, 9, além do uso de sinais de pontuação. Para Dolz, Gagnon e Toulou (2008, p. 26, grifos dos autores),

“os sinais de pontuação e os organizadores textuais são as marcas linguísticas características dessa operação, elas servem para marcar a segmentação e a conexão entre as partes”.23

Quanto à coesão nominal (anáforas), a enunciadora se apropriou desse mecanismo e ampliou o seu uso na última produção, permanecendo dessa forma: 4 anáforas por apagamento do pronome, 10 anáforas pronominais e 5 nominais, no primeiro texto. No segundo texto houve um acréscimo nesses números, passando para 13 anáforas por apagamento do pronome, 7 pronominais e 2 nominais, tornando o texto mais coeso. Esse tipo de anáfora é característico do gênero autobiografia.

A coesão verbal é assegurada no texto pela presença dos tempos verbais no pretérito perfeito e imperfeito, o que contribui para a organização da temporalidade no texto. A aluna já apresentava essa capacidade e empregou 55 vezes os tempos básicos da autobiografia, sendo 41 nos tempo pretérito perfeito e 14 no pretérito imperfeito, o que caiu para 49 ocorrências no segundo texto, sendo 34 de pretérito perfeito e 15 de pretérito imperfeito. A base temporal é marcada tanto na primeira quanto na segunda autobiografia pelo uso predominante do tempo verbal pretérito perfeito, fazendo progredir o relato. Já o tempo pretérito imperfeito aparece em menor número, auxiliando no desenvolvimento do relato.

Quanto aos mecanismos enunciativos, verificamos no primeiro texto as vozes da enunciadora, do padeiro, do pai e da mãe, além de duas marcas de subjetividade de ordem afetiva. Já no segundo texto permaneceram a voz da enunciadora e a voz da mãe, as demais desapareceram, pois estavam inseridas na sequência narrativa. Dez marcas de subjetividade permeiam o relato, mostrando aos leitores as avaliações que a autora fez sobre determinados segmentos de sua autobiografia, sendo 3 de ordem afetiva e 7 de ordem axiológica.

Finalizando, o trabalho com o gênero autobiografia demonstrou eficácia, pois a aluna conseguiu relatar sobre a própria vida, escrevendo a sua autobiografia que se constituiu em um relato retrospectivo da sua própria existência, enfatizando a história de sua personalidade, relatando da sua vida, aquilo que sua memória lhe permitiu.

Podemos concluir, então, que Ely desenvolveu as capacidades de linguagem, sobretudo, nos itens trabalhados na sequência. Entretanto seu texto final ainda apresenta inadequações referentes à paragrafação, à ortografia e à pontuação, o que demandará um trabalho sistemático e contínuo para ser solucionado. Ainda que o trabalho com a ortografia

23 No original, em francês: “les signes de ponctuation et les organisateurs textuels sont les marques linguistiques caractéristiques de cette opération, ils servent à marquer la segmentation et la connexion entre les parties”.