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EMPRESAS DE CAPITAL NACIONAL

3.5. A internacionalização é um objetivo buscado pelo Estado?

3.5.1. A internacionalização nas políticas industriais brasileiras

Neste tópico, optamos por analisar brevemente os principais planos industriais e de estímulo ao crescimento econômico formulados pelo Governo Federal após a abertura econômica promovida pelo Governo Collor. A opção por este recorte temporal justifica-se pelo fato de que foi justamente a partir desse período que as empresas brasileiras passaram a ter maior liberdade e capacidade econômica para internacionalizar a sua atividade produtiva. Antes disso, no entanto, os exemplos de internacionalização produtiva de empresas brasileiras eram muito escassos e restritos a mercados específicos (e.g. petróleo e construção civil).

Analisando-se as últimas políticas industriais formulados pelo Governo Federal –

Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP)164, lançada pelo Governo Lula para o período

de 2008 a 2010, e o Plano Brasil Maior165, lançado pelo Governo Dilma para o período de

2011 a 2014 – observamos que, em ambas, há um nítido objetivo de se aumentar a

competitividade da indústria nacional, de inseri-la de forma competitiva no mercado global e de fortalecimento de cadeias produtivas internacionais. No entanto, o objetivo de estimular a inserção das empresas nacionais no exterior parece estar muito mais alinhado com uma estratégia de internacionalização comercial, através do estímulo às exportações, do que com uma estratégia de internacionalização produtiva.

A exposição de motivos da PDP faz menção aos objetivos de fortalecimento do ambiente competitivo nacional e de elevar os esforços para a criação de inovações. No entanto, os investimentos parecem estar orientados para a promoção do aumento das exportações brasileiras. Há, entretanto, o objetivo de se estimular a integração produtiva com os países da América Latina, Caribe e África, como forma de se alcançar maior integração entre as regiões tratadas com vistas à consolidação de um mercado regional. Aos olhos do Governo, este mercado regional seria um espaço de integração e fortalecimento mútuo, no qual as Cadeias se aproveitariam das distintas competitividades em cada um dos seus

164 Vejam-se detalhes em: <www.mdic.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=2&menu=3253#PDP e

www.pdp.gov.br/paginas/objetivo.aspx?path=Objetivos>. Acesso em: 16/04/2012.

165Vejam-se detalhes em: <www.brasilmaior.mdic.gov.br/publicacao/index.php?area=12&sitio=1&idioma =2>.

segmentos, para competir com produtos finais em âmbito mundial e alcançar um padrão de inserção internacional que permita acesso a melhores mercados e maior valor agregado nas exportações166.

Resta claro, portanto, que o tipo de internacionalização pretendida pelo PDP era comercial, através do incremento às exportações, e não produtiva como regra geral,

admitindo-se, no entanto, a internacionalização produtiva – voltada à criação de cadeias

produtivas – em hipóteses específicas envolvendo determinados países (América do Sul,

Caribe e África). Esta exceção à regra de estímulo da internacionalização comercial sugere que o Mercosul receba um tratamento especial do ponto de vista do estímulo à internacionalização produtiva. Este ponto será retomado adiante neste trabalho.

Quanto ao Plano Brasil Maior, ele afirma que é preciso atravessar fronteiras e enfrentar a competição nos mercados globais; conquistar liderança tecnológica em setores

estratégicos; internacionalizar as empresas brasileiras e, ao mesmo tempo, enraizar aqui as

estrangeiras, para que elas passem a investir cada vez mais em Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D) no Brasil167. Como se vê, o plano estabelece como objetivo a internacionalização das

empresas de capital nacional deixando, no entanto, vago qual modalidade de internacionalização seria aquela desejada pelo Governo Federal. Ao se buscar uma resposta nas metas estabelecidas para o plano, observamos que nenhuma delas faz menção à internacionalização produtiva como sendo uma meta de governo, mas sim ao incremento das exportações brasileiras.

A meta nº 8 do plano estabelece o objetivo de ampliação da participação do Brasil no

comércio internacional através do estímulo às exportações168. Ademais, tampouco podemos

afirmar que a internacionalização é um dos objetivos do plano quando analisamos as suas

diretrizes estruturantes169. Assim, não é possível afirmar que a internacionalização produtiva

seja um objetivo buscado por esta política industrial. Novamente, o Governo Federal parece ter feito a opção por estimular a internacionalização, tão somente, pela via comercial.

Houve, no entanto, dois grandes planos anteriores ao PDP e Plano Brasil Maior que possuíam metas mais abrangentes do que estes últimos. Trata-se do Programa Brasil em Ação,

166 Vejam-se detalhes em: <www.mdic.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=2&menu=3253#PDP e

http://www.pdp.gov.br/paginas/objetivo.aspx?path=Objetivos>. Acesso em: 16/04/2012.

167 Vejam-se detalhes em: <www.brasilmaior.mdic.gov.br/oplano/brasilmaior/>. Acesso em 01/12/2011.

168 Vejam-se detalhes em: < www.brasilmaior.mdic.gov.br/publicacao/index.php?area=16&idioma=2&sitio =1>.

Acesso em 16/04/2012.

169Vejam-se detalhes em: <www.brasilmaior.mdic.gov.br/publicacao/index.php?area=13&idioma=2&sitio =1>.

lançado em agosto de 1996 e concluído em dezembro de 1999 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) lançado durante a “Era Lula” e que também foi incorporado pelo Governo Dilma sob a designação de “PAC 2”.

O objetivo central do Programa Brasil em Ação foi investir em obras específicas de infraestrutura de transportes, portos, energia, gás natural (construção do gasoduto Brasil- Bolívia), telecomunicações e em políticas específicas de emprego, agricultura, habitação, saneamento básico, saúde e educação. A meta era que os investimentos não se limitassem ao setor produtivo, mas abrangessem igualmente projetos sociais. Observamos que não houve nenhuma menção ao objetivo de se estimular a internacionalização das empresas nacionais

como meta do programa170. Sustenta-se que este programa foi o “embrião” do PAC.

O PAC foi um programa de estímulo à economia nacional que tinha como pilar não apenas o investimento em grandes obras de infraestrutura, visando afastar os gargalos que limitavam o crescimento econômico, como também fomentar a economia através do estímulo ao consumo interno e às exportações. O PAC possuía cinco grandes pilares: (i) investimento em projetos de infraestrutura (inclusive com parcerias público-privadas); (ii) estímulo ao crédito e ao financiamento; (iii) melhora do ambiente de investimento; (iv) desoneração e

aperfeiçoamento do sistema tributário; e (v) medidas fiscais de longo prazo171. Não

identificamos, novamente, qualquer menção a uma política de estímulo à internacionalização

produtiva como estratégica para o desenvolvimento econômico e social. O “PAC 2” seguiu

muitas das diretrizes já firmadas no “PAC 1” na medida em que procurou consolidá-las,

ampliando, no entanto, algumas das metas anteriormente concebidas172.

A literatura econômica, ao tratar do tema da internacionalização produtiva das empresas de capital nacional nas políticas públicas brasileiras, confirma a conclusão a que chegamos anteriormente ao afirmar que, não obstante diversos países em desenvolvimento de perfil econômico semelhante ao Brasil incentivem a internacionalização produtiva das suas firmas, por vezes, criando agências governamentais especializadas, no Brasil, os casos bem- sucedidos de internacionalização produtiva das transnacionais de capital nacional são o

170 Confiram-se detalhes em: <www.abrasil.gov.br/anexos/anexos2/bact.htm#top> Acesso em: 31/07/2012. 171 Neste sentido, confira-se: <www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/noticias/pac/070122_

PAC_medidas_institucionais.pdf> Acesso em: 31/07/2012.

172 Confiram-se detalhes em: <www.brasil.gov.br/pac/o-pac/investimentos-em-infraestrutura-para-desenvolvi

resultado da sua própria iniciativa e não o resultado de uma política pública de apoio à criação

de subsidiárias no exterior como estratégia de desenvolvimento nacional173.

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