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EMPRESAS DE CAPITAL NACIONAL

3.3. Internacionalização produtiva e desenvolvimento nacional

Apesar das inúmeras vantagens demonstradas no item anterior relativas à internacionalização produtiva, há algumas críticas que lhe são geralmente formuladas pelos seus opositores. Tais críticas são dirigidas aos efeitos causados pela internacionalização do ponto de vista do Estado e da sociedade, e não do ponto de vista da empresa em si. Por esta

razão, as críticas que serão enumeradas neste item não negam em momento algum que, de fato, existem importantes benefícios da internacionalização produtiva para o setor privado.

Através da formulação das críticas que serão expostas aqui, buscamos saber se seria desejável para um país formular políticas públicas de promoção da internacionalização produtiva das suas empresas de capital nacional. A pergunta central que norteia esta discussão é: Em que medida a internacionalização produtiva é capaz de trazer benefícios em termos de desenvolvimento para o Estado? É importante tê-la em mente ao se analisar as críticas que serão apresentadas a seguir. Este tópico se destina a enumerar as referidas críticas e a explicar os fundamentos que lhe dão embasamento ponderando argumentos tanto dos críticos à internacionalização quanto daqueles que contestam as críticas apresentadas.

A literatura especializada aponta para quatro grandes críticas que são feitas aos efeitos supostamente negativos causados pela internacionalização produtiva das empresas.

A primeira crítica diz respeito à possibilidade de “exportação” de empregos. Segundo esta crítica, quando uma empresa de capital nacional se internacionaliza ela deixa de gerar empregos no seu país de origem e passa a contratar mão de obra nos mercados externos. Assim, os críticos argumentam que um país que carece de oferta de empregos para a totalidade da sua população economicamente ativa, não deveria estimular a internacionalização produtiva das suas empresas, pois, caso o fizesse, estaria estimulando a criação de novos cargos de emprego no exterior a despeito das necessidades internas do seu país de origem.

A segunda crítica refere-se ao prejuízo que se tem no balanço de pagamentos do país de origem dos investimentos. O prejuízo ocorreria na medida em que o investimento no exterior envolveria a saída de dividas do Brasil (país de origem). Além disso, haveria prejuízo à balança comercial, pois, segundo alguns críticos, o investimento direto no exterior em subsidiárias implicaria a redução das suas exportações o que, consequentemente, poderia reduzir o superávit da sua balança comercial ou até torná-la deficitária.

A terceira crítica está muito relacionada à crítica apontada acima. Trata-se da possibilidade de redução dos investimentos nacionais caso sejam feitos investimentos no exterior.

A quarta crítica, por fim, diz respeito ao deslocamento para o exterior de grande

parcela dos fatos geradores – materialidades passíveis de incidência da norma tributária – que

IRPJ e CSLL), faturamento (e.g. PIS e COFINS) e o consumo (e.g. IPI, ICMS e ISS), levando, com isso, à redução da arrecadação tributária do país exportador de capitais.

Sob este ponto de vista, pode-se adotar a hipótese plausível de que o regime brasileiro de tributação de lucros auferidos no exterior foi uma reação ao fenômeno da globalização, sobretudo, da internacionalização produtiva das empresas. Em outras palavras, a aplicação extraterritorial da legislação tributária brasileira surgiu como uma forma de garantir a incidência da norma tributária brasileira sobre fatos ocorridos em outras jurisdições fiscais e, assim, proteger a arrecadação tributária nacional em vista, principalmente, dos efeitos ensejados pela globalização (transformação do Estado-nação em Estado-transnacional).

Embora esta lógica vise assegurar a maior eficácia possível à legislação tributária de um determinado país – finalidade que se torna necessária diante da elevada volatilização da

base cálculo no contexto do Estado-transnacional – este objetivo deve ser devidamente

ponderado com os efeitos causados pela norma tributária no plano prático, de modo que não é válido ao Estado garantir a sua arrecadação tributária a despeito de quais sejam os efeitos da norma tributária para os seus contribuintes.

Por outro lado, há autores que questionam até que ponto os argumentos levantados pelos críticos da internacionalização produtiva procedem. Alem e Cavalcanti sustentam que as críticas levantadas correspondem a uma análise estática do processo uma vez que, em termos dinâmicos, a internacionalização produtiva é fundamental para a sobrevivência das empresas de capital nacional, aumenta a competitividade dos seus países de origem, bem como reduz a

vulnerabilidade externa das empresas transnacionais brasileiras154.

Os autores questionam, ainda, a primeira crítica apresentada anteriormente ao defenderem que “a internacionalização pode levar a um crescimento no número de empregos na economia de origem, o que certamente deixaria de acontecer caso uma empresa não internacionalizada e enfraquecida pela concorrência internacional viesse a fechar as suas

portas”155. Eles alegam, ainda, que “é importante rever o enfoque simplista que coloca o trade

off entre o mercado interno e o mercado externo”156, tendo-se em vista a necessidade de as

empresas se tornarem mais competitivas em nível internacional após a abertura da economia brasileira no começo da década de 1990, como estratégia de sobrevivência.

154 ALEM, Ana Claudia e CAVALCANTI, Carlos Eduardo. O BNDES e o apoio à internacionalização das

empresas brasileiras: algumas reflexões. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 12, n. 24, 2005, p. 55.

155 Ibid., p. 55. 156 Ibid., p. 55.

A ideia de que a internacionalização produtiva reduz as exportações feitas pelo país, afetando, consequentemente, a sua balança comercial, é questionada também. Com efeito, sustenta-se que, no médio e longo prazo, as exportações feitas pela matriz brasileira à sua subsidiária estrangeira (comércio intercompany) aumentam significativamente uma vez que a subsidiária estabelecida no exterior serve como canal de acesso ao mercado local que se

deseja explorar157. Seguindo-se este raciocínio, se a internacionalização leva ao incremento

das exportações, logo há incremento também das atividades produtivas no Brasil, o que, por sua vez, compensaria a eventual redução da arrecadação tributária advinda da escolha por alocar fatores produtivos no exterior.

Os dividendos distribuídos no exterior, após superada a fase de reinvestimento, também são positivos na medida em que representam a repatriação de divisas que podem ser reinvestidas na pessoa jurídica controladora ou coligada. Nada impede, a nosso ver, que o Governo do país de origem dos investimentos regule prazos máximos para que a empresa repatrie lucros, na forma de dividendos distribuídos, tendo-se em vista o risco da postergação indefinida no tempo da sua disponibilização, contanto que não o faça de modo a prejudicar situações em que os lucros seriam reinvestidos, já que, nessas circunstâncias, eles serão fundamentais para o desenvolvimento e a consolidação da unidade produtiva no exterior.

Procuramos expor, no presente tópico, que a conveniência do estímulo governamental à internacionalização produtiva é demarcada por uma discussão ideológica, no campo econômico, entre defensores e opositores de uma economia mais internacionalizada (aberta) ou fechada, de modo que ela não pode ser tida, de modo absoluto, como sempre contrária ou sempre favorável ao desenvolvimento nacional.

Não cabe a nós, juristas, nos posicionarmos quanto ao tema. No entanto, para os propósitos do presente trabalho, podemos concluir que a internacionalização produtiva poderá ser favorável ao desenvolvimento nacional quando submetida a determinadas condições e critérios que visem assegurar que dela decorrerão efeitos positivos como, por exemplo, a promoção das exportações, o aumento do número de empregos e da arrecadação tributária. É

157 Para ilustrar esta hipótese, Alem e Cavalcanti expõem que, nos EUA entre os anos de 1966 e 1987, as

multinacionais mantiveram o seu padrão de exportação no mercado mundial, ao passo em que a participação das exportações totais do país no mundo caiu um terço. O mesmo ocorreu com a Suécia entre os anos de 1965 e 1990. Além disso, os autores destacam que uma série de países em desenvolvimento conseguiu melhorar sua

performance exportadora em função das atividades orientadas para a exportação das multinacionais nacionais e

das firmas locais ligadas a elas. Confira-se, neste sentido: ALEM, Ana Claudia e CAVALCANTI, Carlos Eduardo. O BNDES e o apoio à internacionalização das empresas brasileiras: algumas reflexões. Revista do

certo que cabe ao Governo Federal estabelecer critérios para a discriminação das hipóteses em que a internacionalização produtiva será um objetivo a ser buscado pelo Estado. Voltaremos a tratar do presente tema no capítulo 4 ao confrontarmos os efeitos do regime com a Ordem Econômica Constitucional.

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