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2.4 CONTRATOS ELETRÔNICOS DE CONSUMO

2.4.3 Validade e eficácia dos contratos celebrados por meio

O contrato eletrônico, assim como qualquer outro contrato, para ter validade jurídica, precisa apresentar os requisitos e os pressupostos de validade elencados na

legislação civil brasileira. O artigo 104 do Código Civil Brasileiro114 descreve que a

validade do negócio jurídico requer agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei.

Observa-se, atualmente, no ambiente virtual, certa insegurança dos contratantes, especialmente por parte dos consumidores, é por isso que se faz necessário observar os elementos de validade dos contratos, aplicando-se, também, os mesmos elementos para os contratos eletrônicos.

Quanto à capacidade das partes no contrato eletrônico, a confirmação da mesma trata-se de uma questão de segurança jurídica e requer especial atenção, tendo em vista que a verificação deste requisito é dificultada pela característica inerente aos contratos eletrônicos, de ser a declaração de vontade manifestada sem que as partes estejam uma perante a outra.

Tal fato poderá facilmente ser solucionado com a utilização de uma assinatura eletrônica, por meio de sistemas de criptografia como já ocorre nos sistemas de Internet Banking. Igualmente nos contatos celebrados da forma tradicional, somente é válido o contrato celebrado por pessoas capazes, nos termos do artigo 3º e 4º do Código Civil. Por isso, os sites de compras utilizam formulários nos quais se solicitam certos dados pessoais, como a data de nascimento. Alguns sites, ainda, advertem que os consumidores devem ter capacidade legal para contratar.

114 Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível,

Além da capacidade para contratar, é necessário o livre e expresso consentimento das partes, especialmente no que tange aos contratos de consumo, por serem, em sua maioria, contratos de adesão, para os quais o Código de Defesa do Consumidor exige o consentimento informado, ou seja, o conhecimento prévio de todas as disposições contratuais e a livre manifestação da aceitação do contrato.

O objeto deverá ser lícito, possível, determinado ou determinável. Assim como nos contratos físicos, não se pode, por exemplo, comercializar drogas ou outros produtos ilícitos via Internet. Por fim, em relação à forma do contrato eletrônico, com exceção daqueles em que a lei exige uma forma especial, nos termos do artigo 107 do Código Civil, qualquer contrato poderá ser realizado pela Internet ou, ainda, por qualquer outro meio eletrônico.

Além dessas condições essenciais para a existência de um contrato válido celebrado via eletrônica, necessário se faz analisar a sua segurança jurídica, especialmente no tocante à possibilidade de se provar a oferta, a aceitação e o conteúdo do que foi contratado. A validade está relacionada diretamente com a segurança e estabilidade que se espera dos contratos, ou seja, trata-se da possibilidade de fazer valer um documento como prova processual ou título representativo de uma obrigação.

Admitindo-se a contratação por meio eletrônico, devem-se buscar as ferramentas necessárias para que se possa fazer do documento eletrônico tão seguro e eficaz quanto o documento físico. Neste sentido, é importante a verificação dos seguintes requisitos no tocante ao documento eletrônico para que o mesmo tenha validade perante a sociedade:

(i) autenticidade: é necessário ter a possibilidade de comprovar a anuência das partes em relação ao documento. Deve-se garantir a autenticidade de um documento com a identificação das partes e a origem das mensagens. Para que a manifestação de vontade surta efeito, é fundamental garantir que o meio utilizado

para a celebração do contrato não esteja suscetível de alteração e, ainda, deve ser possível a identificação de quem manifestou a vontade de contratar.

(ii) integridade: o documento eletrônico deve ser dotado das ferramentas necessárias para impedir a adulteração do conteúdo original acordado;

(iii) momento da contratação: deve-se ter um meio de registrar o momento do aceite do contrato;

(iv) guarda do documento: o documento deve ficar guardado digitalmente, com possibilidade de comprovação de todas as características acima por prazo suficiente para ser utilizado como prova se necessário.

A fim de atenderem todos os requisitos acima mencionados e visando a uma contratação segura, os contratantes podem lançar mão dos serviços de certificação digital, que devem ser feitos por uma Autoridade Certificadora devidamente certificada pelo ICP-Brasil que esteja apta a atestar que o documento foi assinado pelas partes e testemunhas, registrar a data e a hora de assinatura do documento e gerar o documento com as proteções necessárias para garantir que não foi adulterado após a assinatura das partes envolvidas.

A assinatura e a certificação digital foram reconhecidas legalmente pela Medida

Provisória n. 2.200-2115, de 24 de agosto de 2001, que assim dispõe:

Art. 1o – Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-

Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras.

[...]

Art. 10 – Consideram-se documentos públicos ou particulares, para todos os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória. § 1o – As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica

produzidos com a utilização de processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil116 presumem-se verdadeiros em relação aos signatários, na

forma do art. 131 da Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916 - Código Civil117.

115 A Medida Provisória n. 2.200-2 continua em vigor, pois foi editada antes da Emenda Constitucional

32, que institui a regra de invalidação da medida provisória se não convertida em lei no prazo de 60 dias.

116 A certificação digital pode ser feita por empresas privadas devidamente credenciadas.

117 O artigo 219 do Código Civil de 2002 tem o mesmo teor do artigo 131 do Código Civil de 1916: “As

declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários.”

Cumpre esclarecer que o § 2o da Medida Provisória n. 2.200-2 admite que a

certificação digital seja feita por outras entidades além do ICP-Brasil:

O disposto nesta Medida Provisória não obsta a utilização de outro meio de comprovação da autoria e integridade de documentos em forma eletrônica, inclusive os que utilizem certificados não emitidos pela ICP-Brasil, desde que admitido pelas partes como válido ou aceito pela pessoa a quem for oposto o documento.

Assim, o certificado digital funciona como uma identidade virtual que permite a identificação segura e inequívoca das partes contratantes, sendo que o documento eletrônico é gerado e assinado por uma terceira parte confiável, ou seja, uma autoridade certificadora que, seguindo regras estabelecidas pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil, associa uma entidade (pessoa, processo, servidor) a um par de chaves criptográficas.

Tal qual a assinatura realizada em papel, o certificado digital constitui um mecanismo que, além de identificar as partes, garante a autenticidade, a integridade, a confiabilidade e o não repúdio do documento eletrônico. A assinatura digital fica de tal modo vinculada ao documento eletrônico que, caso seja feita qualquer alteração no documento, a assinatura se torna inválida. Dessa forma, essa ferramenta propicia não apenas a confirmação das partes, mas a imutabilidade de seu conteúdo, pois qualquer alteração do documento invalida a assinatura.

3 NORMAS DE PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO