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3 NORMAS DE PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO

3.1 REGULAMENTAÇÃO INTERNACIONAL DO COMÉRCIO

3.2.2 Código de Defesa do Consumidor e Comércio Eletrônico

3.2.2.3 Fornecedor Virtual

O legislador conceitua fornecedor, por sua vez, no artigo 3°, caput, do Código de Defesa do Consumidor como se vê:

Art. 3º Toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Assim sendo, qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que forneça bens ou preste serviços, mediante remuneração direta ou indireta, desde que o faça por meio eletrônico, pode ser considerada fornecedora virtual. Destacamos como exemplos de fornecedores atuantes na Internet as lojas virtuais, sites de leilão e provedores de acesso e conteúdo.

As lojas virtuais são típico exemplo de fornecedor no comércio eletrônico, sendo estabelecimentos virtuais que disponibilizam produtos ou prestam serviços por meio de sites na Internet diretamente ao consumidor final. As lojas virtuais podem ofertar

170 CALDEIRA, Patrícia. Caracterização da Relação de Consumo. Conceito de

Consumidor/Fornecedor. Teorias Maximalistas e Finalistas. Análise dos artigos 1º a 3º, 17 e 29, do CDC, p. 11 – 33. In: SODRÉ, Marcelo Gomes; MEIRA, Fabíola; Caldeira, Patrícia (orgs.).

os mais diversos produtos e serviços disponíveis no mercado de consumo, sejam eles tangíveis ou intangíveis.

O site de leilão também é um caso de fornecedor virtual, mas tem suas peculiaridades. O site possibilita o contato entre os consumidores interessados em adquirir, vender ou trocar mercadorias e serviços, sem ter que pagar o custo de um anúncio nos tradicionais meios físicos de comunicação. Assim, o site de leilão desempenha o papel de fornecedor virtual, na medida em que disponibiliza espaço virtual para que os interessados possam comprar e vender seus produtos, recebendo, para tanto, remuneração direta ou indireta como pagamento pelos serviços disponibilizados. Importante compreender que os sites de leilão não podem ser vistos como simples página de classificados, pois aqueles participam ativamente da compra e venda de produtos como intermediadores, recebendo remuneração quando o negócio é concretizado. Portanto, aplica-se o artigo 7º, parágrafo único do

Código de Defesa do Consumidor171.

171 Nesse sentido, decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo e Juizado Especial Cível do Distrito

Federa, respectivamente: Prestação de serviços - indenização - compra e venda realizada em site de internet de leilão virtual - furto da senha do vendedor - responsabilidade por danos causados ao mesmo - cabimento. Perfeitamente possível é a responsabilização dos sites da Internet de leilão virtual, pelos prejuízos causados aos seus usuários previamente cadastrados, em decorrência da aquisição e venda dos produtos que ajuda a comercializar. PRELIMINAR REJEITADA. RECURSOS IMPROVIDOS (Apelação com Revisão nº 9272776-80.2008.8.26.0000, Relator: Emanuel Oliveira, 34ª Câmara de Direito Privado. Data de Julgamento: 12/03/2009) e no mesmo sentido: CIVIL - CONSUMIDOR - COMPRA E VENDA DE APARELHO CELULAR VIA INTERNET-NÃO ENTREGA DE MERCADORIA - DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS - SOLIDARIEDADE PASSIVA DO SITE QUE DISPONIBILIZA A REALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS E RECEBE UMA COMISSÃO DO VENDEDOR/ANUNCIANTE, QUANDO CONCRETIZADO O NEGÓCIO - 1. Doutrina. "Os contratos de fornecimento de produtos ou de prestação de serviços, dos quais constituem exemplo aqueles celebrados entre provedores de acesso à internet e os seus clientes, encontram-se sujeitos, [...] às mesmas proteções ordinariamente dirigidas à tutela dos consumidores, em relação à eventual aquisição de bens no mundo real. [...] não se pode olvidar que os contratos realizados pela Internet são contratos de adesão, daí porque as limitações na interpretação de tal espécie de contrato são, evidentemente, aplicáveis. Por isso é que devem ser consideradas nulas todas as disposições que alterem o equilíbrio contratual das partes, ou que liberem unilateralmente as partes de suas obrigações legais, como é o caso das cláusulas de não indenizar." (GONÇALVES, Vitor Fernandes. A

Responsabilidade Civil na Internet. R. Dout. Jurisp. TJDF 65, pág. 86). 2. O serviço prestado pela

ré, de apresentar o produto ao consumidor e intermediar negócio jurídico por meio de seu site e receber comissão quando o negócio se aperfeiçoa, enquadra-se nas normas do Código de Defesa do Consumidor (art. 3º, §2º, da Lei 8078/90). 3. É de se destacar que a recorrente não figura como mera fonte de classificados, e sim, participa da compra e venda como intermediadora, havendo assim, solidariedade passiva entre a recorrente e o anunciante, nos termos do Parágrafo único do art. 7o do Código do Consumidor. 4. Merece confirmação sentença que condenou a intermediadora a indenizar consumidor pelo não recebimento de produto adquirido (aparelho de telefone celular) em site de internet de responsabilidade daquela (intermediadora), aqui recorrente. 5. Sentença mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos. (Acórdão n.186533, 20030310140885ACJ, Relator: JOÃO EGMONT, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Julgamento: 11/02/2004, Publicado no DJU SECAO 3: 20/02/2004. p. 159)

Dentre os fornecedores presentes nas relações jurídicas desenvolvidas na Internet, identificam-se, ainda, os provedores, os quais viabilizam o acesso à rede mundial de computadores ou oferecem conteúdo a ser acessado pelos usuários no ambiente virtual.

Bruno Miragem identifica três formas de provedores na Internet: (i) provedores de conteúdo: que são os autores, os editores ou outros titulares do direito que introduzem seu trabalho na Internet, fornecem conteúdo para os consumidores e estão sujeitos à proteção juntamente com as empresas de software; (ii) provedores de serviços: englobam os provedores de acesso, que contratam e oferecem o acesso à rede de computadores, e os provedores de serviços e conteúdo, que oferecem no ambiente da Internet conteúdo a ser acessado ou prestam serviços a serem consumidos pela Internet ou a partir desta; e (iii) provedores de rede: que são aqueles que fornecem a infraestrutura física de acesso, ou seja, as linhas de comunicação que possibilitam a conexão com a rede, tais como companhias

telefônicas ou as empresas de serviços via cabo172.

Importante observar que o regime de responsabilidade dos provedores de Internet pode variar quanto à norma aplicável, havendo, portanto, muita discussão em torno da responsabilidade objetiva dos provedores. Segundo destaca Bruno Miragem, os provedores de serviços de acesso são fornecedores de serviços nos exatos termos do artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor. No caso dos provedores de conteúdo, quando realizam atividade mercantil no fornecimento de conteúdo, também se enquadram no conceito de fornecedor e estão sujeitos às regras de proteção do consumidor. Enquadrando os provedores de Internet como fornecedores, no caso de ocorrer danos a usuários ou não da Internet em razão da atividade desenvolvida pelos eles, incidirá a norma do artigo 17 do Código de Defesa do Consumidor, a qual equipara a consumidores todas as vítimas do evento danoso, atraindo a incidência do regime de responsabilidade da legislação consumerista.

172 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos

Destaca-se, por fim, que o objeto da relação de consumo deve ser um produto ou serviço, alvo da negociação entre o fornecedor, que fornece tal objeto, e do consumidor, quem adquire o mesmo. O Código de Defesa do Consumidor também define o que seria produto e serviço, objeto da relação de consumo:

Art. 3° [...]

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Observa-se, portanto, uma infinidade de bens e serviços, nos termos da norma consumerista, que podem ser expostos e adquiridos no comércio eletrônico, desde bens materiais também disponíveis no comércio físico, até bens imateriais próprios desse meio eletrônico, como os softwares (programas de computadores). De fato, o que modifica é simplesmente o meio, físico ou virtual, pelo qual os produtos ou serviços são disponíveis.

Concluímos, assim, a partir da definição de consumidor e fornecedor, bem como dos produtos e serviços objetos da relação de consumo, conforme acima expostos, que o Código de Defesa do Consumidor é perfeitamente aplicável para regular as práticas comerciais, as publicidades e as compras feitas pela Internet quando o fornecedor e o consumidor final estão estabelecidos no território brasileiro e aqui

celebram o contrato eletrônico173.

Somente com o intuito de informar o leitor, no caso de contratos eletronicamente celebrados entre um fornecedor e um consumidor sediados em países diversos, estaremos diante de um assunto de direito internacional. Portanto, será necessário observar as regras previstas no Decreto-lei n. 4.657/1942, conhecido como Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, cujo artigo 9° caput e § 2° preveem que se aplique a lei do país onde se constituírem as obrigações. Considera-se local da constituição da obrigação o lugar sede daquele que estiver ofertando o produto ou

173 Vale observar, portanto, que alguns doutrinadores defendem a ideia de que nem todos os

problemas apresentados pela atividade de consumo na Internet podem ser regulamentados pelo Código de Defesa do Consumidor, sobretudo porque o comércio virtual apresenta problemas que não são comuns no mundo real.

serviço da Internet. Não vamos adentar nesse assunto, pois nosso foco de concentração é o ordenamento jurídico brasileiro, considerando as relações jurídicas firmadas entre fornecedores e consumidores sediados em território nacional.