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4 DIREITOS DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO ELETRÔNICO

4.4 PROTEÇÃO CONTRA PRÁTICAS ABUSIVAS NO COMÉRCIO

Black Friday gerou R$ 424 milhões no país em um único dia, representando um aumento de 95% em relação a 2012. Já em 2014, o Black Friday gerou R$ 1,16 bilhão, representando um grande impacto nas vendas online no Brasil.

4.4 PROTEÇÃO CONTRA PRÁTICAS ABUSIVAS NO COMÉRCIO

ELETRÔNICO

O enquadramento de uma conduta como prática abusiva, segundo ensina Roberto Pfeiffer, pressupõe que ela ocorra no âmbito de uma relação de consumo, cuja incidência demanda a existência, em um dos polos, de um consumidor e no outro de

224 Artigo 3º - Todo associado e participante deve se conduzir de acordo com os preceitos da moral,

boa conduta e responsabilidade, obedecendo a Constituição Federal do Brasil, a legislação nacional vigente, em especial ao Código de Defesa do Consumidor (CDC), o Estatuto da camara-e.net e o presente Código de Ética, resguardando e defendendo o Black Friday, por meio do conceito de parceria e boa-fé inerentes aos relacionamentos comerciais.

um fornecedor225. Trazemos o conceito de prática abusiva de acordo com Antônio

Herman de Vasconcellos e Benjamin:

São práticas as mais variadas e que, no Direito norte-americano, vêm reputadas como ‘unfair’. [...] Prática abusiva (latu sensu) é a desconformidade com os padrões mercadológicos de boa conduta em relação ao consumidor. São – no dizer irretocável de Gabriel A. Stiglitz – ‘condições irregulares de negociação nas relações de consumo’, condições estas que ferem os alicerces da ordem jurídica, seja pelo prisma da boa-fé, seja pela ótica da ordem pública e dos bons costumes.226

O artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor arrola uma série de práticas comerciais que são abusivas, ou seja, desconformes com a boa-fé, em que o fornecedor busca obter indevida vantagem, abusando da vulnerabilidade do consumidor. A redação do caput do artigo 39 deixa absolutamente claro que o rol de práticas abusivas do Código de Defesa do Consumidor é meramente exemplificativo, admitindo, assim, outras hipóteses além das expressamente arroladas. Por meio da prática abusiva, o fornecedor busca extrair uma vantagem indevida, sendo a sua repressão de grande importância para o bem-estar do consumidor.

Atualmente, existe uma discussão na doutrina e na jurisprudência envolvendo a prática da diferenciação de preço dos produtos ou dos serviços a depender do meio utilizado para pagamento. Este problema é frequentemente enfrentado pelos consumidores do comércio eletrônico, o que também ocorre no comércio físico, no caso de comercialização de produtos com distinção de preço para pagamento com cartão de crédito e demais meios de pagamento.

Há o entendimento de que a cobrança de um adicional no valor do produto para pagamento com cartão de crédito seria uma prática abusiva, nos termos do artigo 39, inciso V, do Código de Defesa do Consumidor, por exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva. Essa corrente entende que pagamento em cartão de crédito equipara-se ao pagamento à vista, razão pela qual não caberia qualquer distinção entre o valor cobrado em dinheiro (boleto, por exemplo) ou em

225 PFEIFFER, Roberto Augusto Castellanos. Proteção do consumidor e defesa da concorrência:

paralelo entre práticas abusivas e infrações contra a ordem econômica. Revista do Consumidor, São Paulo, vol. 76, p. 131 – 142, out. 2010.

226 BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor

Comentado pelos Autores do Anteprojeto. 9. Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária,

cartão de crédito. Assim sendo, a cobrança de valor diferenciado impõe tratamento desigual a consumidores em igual situação, gerando aos que pagam com cartões de créditos o ônus de pagar valores maiores dos que o efetivamente cobrado aos demais consumidores, o que configuraria prática abusiva, implicando exigência de vantagem manifestamente excessiva ao consumidor que efetua pagamento com cartão creditício.

No entanto, a concessão de desconto para pagamentos por meio de boleto, dinheiro ou cheque é uma prática difundida no comércio, com a qual os consumidores já estão familiarizados, motivo pelo qual se defende que não haveria prática abusiva,

ou contrária à ordem pública ou aos bons costumes227. Ademais, não há lei que

obrigue o fornecedor a praticar os mesmos preços em todas as suas negociações228.

227 Neste sentido, o Banco Central e a Secretaria de Acompanhamento Econômico também já se

posicionaram favoráveis à prática de preço menor nos pagamentos feitos pelos consumidores em dinheiro, sendo pagamento à vista, ou com cartões de crédito. Na avaliação da autoridade monetária, não há por que proibir os fornecedores de darem descontos à clientela quando receberem à vista, conforme segue: “A impossibilidade de discriminar preços pode distorcer a natureza da competição entre os diversos instrumentos de pagamento, fazendo com que os consumidores tenham incentivos para utilizar com maior frequência um determinado instrumento que não seja necessariamente o menos custoso para a sociedade. [...] A supressão da regra do não sobrepreço permitiria que os estabelecimentos sinalizassem, através de seus preços, os custos de cada instrumento de pagamento, promovendo maior eficiência econômica. Além disso, aumentaria o consumo de consumidores que não possuem cartão, já que eles pagariam um preço menor, corrigiria a quantidade de transações realizadas com cartões em direção a um nível socialmente ótimo e aumentaria o número de estabelecimentos que aceitam cartões de pagamento. Em termos de política, seria a forma mais simples de evitar distorções no mercado de cartões. (Relatório sobre a Indústria de Cartões de Pagamentos. Disponível em http://www.bcb.gov.br/htms/spb/Relatorio_Cartoes.pdf. Acesso em 28/08/2014).

228 EMENTA: PROCESSUAL CIVIL - MANDADO DE SEGURANÇA - VENDAS COM CARTÃO DE

CRÉDITO – PREÇO DIFERENCIADO DA VENDA À VISTA - PRÁTICA QUE NÃO CONFIGURA ABUSIVIDADE - ORDEM CONCEDIDA. 1 - Não há abusividade na prática adotada pelo comerciante de, nas transações com cartões de crédito, não conceder o desconto oferecido para pagamento à vista, pois não estão os preços sob controle e tampouco há lei que o obrigue a praticar os mesmos preços em todas as suas negociações. 2 - Recurso provido. (Tribunal de Justiça de Minas Gerais - Apelação Cível n° 1.0024.05.857266-0/001 – Relator Desembargados Edgard Penna Amorim, data do julgamento 07/08/2008)

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SUNAB. MULTA. VENDAS COM CARTÃO DE CRÉDITO. 1. Venda à vista é a que é efetuada em moeda corrente, distinta, portanto, da que é feita no cartão de crédito. 2. Não se configura abuso do poder econômico a venda de mercadoria no cartão de crédito, com acréscimo no preço; nas vendas feitas nessas condições, o pagamento somente pode ocorrer após a fluência de um prazo de, no mínimo, trinta dias. 3. Ausência de lei que referende a exigência da SUNAB, de preço idêntico assim nas vendas à vista como nas vendas à prazo. 4. É inadmissível conferir-se competência legislativa à atividade da administração para, a partir daí, criarem-se obrigações e cominarem-se penas pela eventual desobediência: "Só por lei, alguém poderá ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. 5. Procedência dos embargos. Apelação improvida.” (Tribunal Regional Federal da 5ª Região - Apelação Cível – 73785 – Processo 9505016808 SE – Relator Desembargador Federal Geraldo Apoliano – data do julgamento: 18/05/1998)

Vale esclarecer que, no pagamento por meio de boleto bancário ou dinheiro, o consumidor realiza o pagamento antes do recebimento da mercadoria e, consequentemente, o fornecedor recebe o valor correspondente efetivamente no ato da compra e antes mesmo de despachar a mercadoria. Já o consumidor que paga com cartão de crédito desembolsa o valor correspondente da compra apenas na data do pagamento da fatura do cartão de crédito e, nesse caso, o fornecedor somente recebe o preço em média 30 dias após entregar a mercadoria ao consumidor. Portanto, quando o consumidor utiliza o cartão de crédito para pagamento de suas compras, o valor só será efetivamente recebido pelo fornecedor no prazo médio de 30 dias, o que, de fato, não configura venda à vista.

Não obstante, para que a prática de cobrança diferenciada de preço possa ser considerada regular e não configure vantagem manifestamente excessiva, é necessário que o consumidor seja informado de forma clara e transparente sobre a existência das diferentes opções para pagamento e os eventuais descontos aplicados para cada modalidade. Somente assim o consumidor poderá escolher pela que lhe for mais conveniente, exercendo seu livre direito de escolha. Dessa forma, a concessão de desconto para pagamento com um determinado não ofende qualquer princípio fundamental ou direitos fundamentais, mas, ao contrário, respeita o princípio da isonomia.

4.5 DIREITO DE ARREPENDIMENTO NAS COMPRAS REALIZADAS