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3 NORMAS DE PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO

3.1 REGULAMENTAÇÃO INTERNACIONAL DO COMÉRCIO

3.1.2 Diretiva Europeia 2000/31/CE, de 8 de junho de 2000

Existem várias diretivas adotadas na União Europeia sobre as atividades desenvolvidas no âmbito eletrônico e a proteção do consumidor no mercado de consumo. A União Europeia tem uma constante preocupação em manter a segurança e a adequação do mercado de consumo, assim, utiliza de políticas de proteção que visam atender o consumidor de forma adequada e satisfatória.

No entanto, foi a Diretiva Europeia 2000/31/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, datada de 08 de junho de 2000, que cuidou especificamente dos aspectos legais referentes aos serviços da informação, em especial do comércio eletrônico, no âmbito da União Europeia, cujos destinatários são seus Estados-membros. Esta Diretiva tem como premissa a unificação da legislação sobre comércio eletrônico no âmbito da União Europeia e seus Estados-membros, com a finalidade de estabelecer um real espaço sem fronteiras internas para os serviços da sociedade da informação, fato essencial para eliminar as barreiras que dividem os povos

europeus e viabilizar um bom funcionamento do mercado interno.122

Deste modo, prevê o artigo 1º da referida Diretiva 2000/31/CE que seu objetivo é contribuir para o correto funcionamento do mercado interno, garantindo a livre

circulação dos serviços da sociedade da informação entre Estados-Membros123.

122 Considerandos da Directiva 2000/31/CE: “(5) o desenvolvimento dos serviços da sociedade da

informação na Comunidade é entravado por um certo número de obstáculos legais ao bom funcionamento do mercado interno, os quais, pela sua natureza, podem tornar menos atraente o exercício da liberdade de estabelecimento e a livre prestação de serviços. Esses obstáculos advêm da divergência das legislações, bem como da insegurança jurídica dos regimes nacionais aplicáveis a esses serviços. Na falta de coordenação e de ajustamento das várias legislações nos domínios em causa, há obstáculos que podem ser justificados à luz da jurisprudência do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Existe insegurança jurídica quanto à extensão do controlo que cada Estado- Membro pode exercer sobre serviços provenientes de outro Estado-Membro; (6) À luz dos objectivos comunitários, dos artigos 43.o e 49.o do Tratado e do direito comunitário derivado, estes obstáculos devem ser abolidos, através da coordenação de determinadas legislações nacionais e da clarificação, a nível comunitário, de certos conceitos legais, na medida do necessário ao bom funcionamento do mercado interno. A presente directiva, ao tratar apenas de certas questões específicas que levantam problemas ao mercado interno, é plenamente coerente com a necessidade de respeitar o princípio da subsidiariedade, tal como enunciado no artigo 5.o do Tratado.”

123 Artigo 1º da Diretiva 2000/31/CE “A presente directiva tem por objectivo contribuir para o correcto

funcionamento do mercado interno, garantindo a livre circulação dos serviços da sociedade da informação entre Estados-Membros.”

Essa Diretiva 2000/31/CE estabelece regras claras a serem seguidas pelos Estados- membros, que buscam garantir a segurança jurídica e a confiança do consumidor no comércio eletrônico. Inicialmente, em seu Capítulo I, aponta o seu âmbito de aplicação, passando a dispor, em seguida, as definições dos termos, como prestador de serviços e consumidor, para efeitos da diretiva, e, ainda, expõe as medidas a serem tomadas no mercado interno.

No Capítulo II, Seção I, estão inseridos os princípios referentes ao regime de estabelecimento e de informação. O artigo 4º menciona o princípio da não- autorização prévia, em que os Estados-membros garantem que o exercício da atividade de prestador de serviços na Internet não pode estar sujeito à autorização prévia ou a qualquer outro requisito de efeito permanente.

Merece destaque o artigo 5º, na medida em que estabelece as informações que deverão ser fornecidas pelos prestadores de serviços atuantes no comércio eletrônico, ou seja, o fornecedor virtual: nome do prestador; endereço físico em que o prestador se encontra estabelecido; endereço eletrônico do prestador para contato imediato; identificação, caso haja, do registro comercial ou público do prestador; informações relativas à autoridade de controle de atividade registrada e informações em casos específicos de atividades regulamentadas. Além dos dados associados aos prestadores de serviços, deverão constar, nos sítios eletrônicos, informações relacionadas aos preços dos produtos e serviços, indicando, de forma clara e inequívoca, que inclui as despesas físicas e de entrega.

A Seção II refere-se às comunicações comerciais. O artigo 6º elenca as informações que devem ser prestadas, o artigo 7º abrange o universo da comunicação comercial não solicitada e o artigo 8º refere-se às profissões regulamentadas.

A Seção III, por sua vez, trata dos contratos celebrados por meios eletrônicos, o tipo de regime, as informações a serem prestadas e a ordem de encomenda. Deste modo, o artigo 10º ressalta as informações a prestar no tocante ao contrato eletrônico. Assim, os operadores do comércio eletrônico devem prestar informações exatas e compreensivas sobre as diferentes etapas da celebração do contrato; se o

contrato celebrado será ou não arquivado e se será acessível ao consumidor; os meios técnicos que permitem identificar e corrigir os erros relacionados à compra efetuada pela Internet e as línguas em que o contrato pode ser celebrado.

A última parte do Capítulo II, a Seção IV, prevê a responsabilidade dos prestadores intermediários de serviços nos casos de simples transporte, armazenagem temporária, armazenagem em servidor e os casos de ausência de obrigação geral de vigilância.

Por fim, o Capítulo III refere-se à aplicação da Diretiva. Ressalta a necessidade de se adotar um código de conduta, menciona a importância de formas de resolução extrajudiciais de litígios e o uso de ações judiciais em que haja uma célere resolução da lide, evitando prejuízo das partes interessadas.

Analisando o conjunto de regras elencadas na Diretiva 2000/31/CE, resta evidente que o legislador europeu se preocupou em assegurar a disponibilidade de diversas informações ao consumidor inserido no ambiente virtual, com o objetivo de viabilizar uma relação de confiança entre fornecedor e consumidor do comércio eletrônico, à

medida que a informação é o “espelho da confiança”124.

Apenas a título de informação, além da Diretiva 2000/31/CE, existem outras importantes Diretivas para a regulação das atividades no ambiente virtual, dentre as quais destacamos: a Diretiva 95/46/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 24 de Outubro de 1995, a qual prevê a proteção dos indivíduos no que se refere ao tratamento dos dados pessoais e à livre circulação desses dados; a Diretiva 97/66/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de Dezembro de 1997, relativa ao tratamento de dados pessoais e à proteção da privacidade no setor das telecomunicações; e a Diretiva 2011/83/UE do Parlamento Europeu e do

Conselho125, de 25 de Outubro de 2011, relativa aos direitos dos consumidores,

124 VIAL, Sophia Martini. A sociedade da (des)informação e os contrato de comércio eletrônico: do

Código Civil às atualizações do Código de Defesa do Consumidor, um necessário diálogo das fontes.

Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 22, n. 88, p. 229, jul./ago. 2013, p. 243.

125 A Diretiva 2011/83/EU alterou a Diretiva 93/12/CEE do Conselho e a Diretiva 1999/44/CE do

Parlamento Europeu e do Parlamento e, ainda, revogou a Diretiva 85/577/CEE do Conselho, relativa à proteção dos consumidores no caso de contratos negociados fora dos estabelecimentos

incluindo a proteção dos consumidores no caso de contratos negociados fora dos estabelecimentos comerciais, bem como a proteção dos consumidores em matéria de contratos à distância. Tendo em vista a alteração dos modelos de aquisição de bens e serviços, a desmaterialização das relações de compra e venda e, ainda, a reconfiguração do espaço e do tempo nas transações comerciais, vislumbrou-se a necessidade de modernização do quadro normativo europeu. Foi nesse contexto que surgiu a Diretiva 2011/83/EU.

A aprovação da Diretiva 2011/83/UE, relativa aos direitos dos consumidores para as contratações a distância, foi mais um avanço na consolidação de uma nova abordagem à proteção dos direitos e interesses dos consumidores europeus, mediante a aplicação do princípio da harmonização máxima. Em um contexto de clara expansão e afirmação do Direito do Consumidor, face ao incremento de complexas evoluções tecnológicas desencadeadas numa sociedade dominada por arraigados e intensos hábitos de consumo, urge a necessidade de aumentar o âmbito de proteção dos consumidores, sobretudo quando estes transacionam cada

vez mais à distância ou fora do estabelecimento comercial.126

3.2 PANORAMA LEGISLATIVO DA PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR

NO COMÉRCIO ELETRÔNICO BRASILEIRO

Não obstante o rápido crescimento do comércio eletrônico no Brasil, sua regulação ainda é um desafio para o Direito Brasileiro. Entendemos, no entanto, que o consumidor inserido no ambiente virtual está também amparado pela legislação existente no ordenamento jurídico pátrio, embora ainda careça de uma proteção mais ampla para determinados casos típicos do comércio virtual.

comerciais, e a Diretiva 97/7/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa à proteção dos consumidores em matéria de contratos à distância relativa aos direitos dos consumidores.

126 FRADE, Catarina; ALMEIDA, Mariana Pinheiro de. Análise crítica da directiva dos direitos dos

consumidores e da sua transposição. Revista Debater a Europa, n. 11, jul./dez. 2014. Disponível em: <http://europe-direct-aveiro.aeva.eu/debatereuropa/images/n11/cfrade.pdf>. Acesso em: 04 fev. 2015.

Passaremos, então, a analisar as principais legislações federais que são aplicadas para regular a relação de consumo no comércio eletrônico brasileiro e os conflitos existentes entre os fornecedores virtuais e os consumidores inseridos no meio digital. Esse trabalho não tem a intenção de estudar todas as normas aplicáveis para as relações ocorridas na Internet, mas somente aquelas que julgamos de maior impacto para a relação de consumo.

Atualmente, aplica-se a principiologia da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e as disposições do Código de Defesa do Consumidor em conjunto com o recente Decreto n. 7.962/2013 para regular as relações de consumo na Internet e, ainda, a Lei n. 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, dentre outras normas, conforme veremos a seguir.