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3.3 METODOLOGIA DE TRABALHO

3.3.3 A unidade de análise: O turismo como bem comum na perspectiva dos jovens rurais

A unidade de análise desta pesquisa foi o turismo como bem comum e a sua inter- relação com os jovens rurais moradores do quilombo de Ivaporunduva a partir da incorporação das variáveis de análise contidas no modelo de análise do IAD Framework, como citado na seção anterior e na representação da Figura 4.

Os jovens selecionados para a composição da amostra dessa pesquisa foram apontados primeiro pelos informantes-chaves (lideranças mais velhas) e, depois, a partir da indicação de

um próximo entrevistado pelos próprios jovens, sendo assim uma amostra probabilística não- intencional.

Deste modo, seguindo também critérios éticos30 para a seleção e recrutamento dos indivíduos jovens que fariam parte desta pesquisa, adotou-se para esta pesquisa a idade inicial dos jovens a partir da idade de 18 anos. Já como idade limitante para a composição desta amostra destinada ao estudo voltado à juventude rural, adotou-se para a composição da delimitação por idade, incluir jovens até o limite de 35 anos.

Portanto, há uma problemática exposta ao se situar a categoria juventude por meio do critério de idade31, já que não existe um critério único, mas em diferentes países e em documentos oficiais são inseridos diferentes intervalos de idade, a depender de critérios biológicos e psicossociais. Em 2013, no Brasil entrou em vigor o Estatuto da Juventude (Lei 12.852/13), que apontou como jovens o critério de idade, ou seja, como aqueles indivíduos entre 15 a 29 anos de idade, representando um quarto da população brasileira, que em termos absolutos representam 51 milhões de jovens nesta faixa etária (BRASIL, 2013).

De acordo com Freitas (2005), a delimitação do período juvenil é relativa já que pode ser ampliada para mais ou menos idade, dependo das condições sociais, psicológicas e comportamentais em cada circunstância. Por isso, é importante analisar a juventude para além do critério de idade, visto que este período é composto por uma transição entre a infância e a vida adulta e que envolve constantes interferências do local onde estes indivíduos estão vivenciando mudanças físicas, comportamentais, histórico-sociais e psicológicas (HODKINSON, 2007).

Em síntese, entende-se que em vários destes critérios adotados acima, há a sobreposição com a conceituação de adolescência (12 aos 18 anos), deste modo, como este grupo não será analisado, adotou-se o direcionamento para a juventude entre 18 a 35 anos. A

30 Assim, reitera-se a adequação de seleção da amostra, conforme o marco jurídico da maioridade no Brasil, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), regulamentado pela Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990 (BRASIL, 1990). Isso vai ao encontro as boas práticas de pesquisa com respeito à Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente vinculada a Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU).

31 Por exemplo, na esfera internacional, a ONU considera como sendo jovens, os indivíduos compreendidos entre 15 e 24 anos. Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Iberoamericana da Juventude (OIJ) referem-se aos jovens como sendo aqueles indivíduos compreendidos na faixa etária de 10 a 29 anos. Para fins de análise com dados populacionais e estatísticos, a faixa referente aos jovens pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) refere-se aos jovens como sendo os indivíduos entre 15 a 24 anos, sendo que algumas análises se acrescentam dados agregados até os 29 anos de idade (WEISHEIMER, 2004; MARTINS, 2013). A ampliação de idade até 29 anos começou a ser regulamentada no Brasil com a criação de políticas públicas com enfoque na população jovem. Desta forma, em 2005, pela Lei nº 11.129 foi criada a Política Nacional de Juventude, que instituiu a Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), o Conselho Nacional de Juventude (CNJ) e a criação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens, conhecido pela sigla PROJOVEM (BRASIL, 2006).

ampliação voltada até 35 anos justifica-se pelas rápidas mudanças contemporâneas que os jovens, em geral, têm sofrido como dificuldades de acesso a emprego, educação, política e outros aspectos, que consequentemente atrasam a independência plena com relação às unidades familiares de origem (NASCIMENTO et al., 2004).

No entanto, ressalta-se que apesar do critério etário (biológico) ser importante, não é o único elemento a ser considerado na interpretação dos dados da pesquisa. Diversos autores, principalmente mais voltados aos estudos socioculturais, reforçam que é importante discutir os critérios de idade como fenômeno social e não apenas biológico. Os jovens vivem diferentes processos de sociabilização e sociabilidade, conforme as instituições que vivenciam, portanto, seus erros e acertos estão condicionados aos reflexos de aprendizagem advindos do mundo formado pelos adultos (SCHMIDT, 2001; GROPPO, 2000; SENNETT, 2001).

Dito isso, concorda-se com o argumento exposto por Sennett (2001), de que o processo de formação dos mais jovens está ligado à capacidade das instituições e dos adultos em exercerem a sua habilidade de orientação sobre os mais jovens. Entretanto, a autoridade com relação aos mais jovens é constantemente questionada, justamente, por discutir a consistência da suposta responsabilidade exercida por aquele que é visto como responsável sobre ele.

No caso dos jovens rurais, estes tendem a sair em direção aos grandes centros urbanos para obterem melhores oportunidades de renda, trabalho e de qualificação profissional. Deste modo, a questão da permanência da população jovem em áreas rurais, especialmente em quilombos, é uma problemática simbólica nos estudos contemporâneos de desenvolvimento rural. Além disso, podem interferir nestas escolhas dos jovens as questões vinculadas aos processos de sucessão hereditária, problemas relacionados à posse da terra e de continuidade do desenvolvimento das práticas agrícolas e não agrícolas. (SPANEVELLO, 2003; BRUMER, 2007).

Desta maneira, é importante ponderar que mesmo tendo sido delimitada uma faixa etária para a análise direcionada aos jovens quilombolas de Ivaporunduva entre 18 a 35 anos, ressalta-se que mesmo que o critério de idade seja uma variável importante, este não pode ser o único fator a determinar a caracterização do perfil da juventude, principalmente, neste caso, a dos quilombolas. Foi considerado, portanto, o destaque para os jovens rurais como protagonistas essenciais à continuidade da auto-organização do turismo, onde seus sistemas de uso e atribuições estão condicionados à forma como estes jovens cooperam nas ações

vinculadas ao TBC de Ivaporunduva, a partir de estratégias locais de gestão e de proteção do patrimônio cultural e natural.