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Os recursos de uso comuns são definidos como aqueles recursos onde pode existir a possibilidade de subtração do bem comum por parte de um usuário e/ou grupo, onde pode ocorrer uma redução de disponibilidade desses recursos para outros usuários do sistema e a possibilidade de exclusão de usuários do acesso ao recurso (como por exemplo, água, ar, sistema de pesca, recursos madeireiros etc) (BROMLEY 1991; OSTROM, 1990). Segundo Ostrom, Gardner, Walker (1994), o recurso comum pode ser um recurso natural ou um bem produzido pelo ser humano, cujas unidades podem sofrer subtração e, por isso, essas unidades subtraídas não estarão mais disponíveis para potenciais usuários ou beneficiários. Além disso, a exclusão de potencial usuários ou beneficiários é difícil e de alto custo (p.ex., custo social, econômico, político, entre outros).

O manejo dos recursos naturais comuns tem como pano de fundo as situações de dilema social indo, portanto, além das questões econômicas. No cotidiano das ações de tomada de decisão, cada indivíduo tende a esperar pelos benefícios que poderá obter com as contribuições dos outros, o que, grosso modo, foi considerado por Olson (1965) como sendo “oportunismo”. Para este autor, o resultado que socialmente poderia ser construído como melhor alternativa se daria, na melhor das hipóteses, a partir dos esforços individuais combinados numa situação onde todos cooperassem. Sobre isso, em sua análise, evidencia-se que ninguém foi motivado a cooperar de modo independente com os demais, ou ainda, houve a total ausência de cooperação por parte dos usuários.

De fato, os dilemas sociais envolvem a questão de que os resultados coletivos podem gerar lucros para todos os participantes, entretanto, nada garante que os participantes vão atingir uma solução comum. Portanto, os dilemas sociais envolvem o constante conflito entre a racionalidade individual e os melhores resultados para um grupo (VATN, 2005).

Neste sentido, com estudos iniciados na década de 1980, houve novos esforços por meio das contribuições da cientista política Elinor Ostrom (1990) e os trabalhos de MacCay e Acheson (1987); Oakerson (1986); Ostrom, Gardner e Walker (1994), Berkes (1985), Davis (1984) e outros acadêmicos, que obtiveram um envolvimento maior com pesquisas de campo e com evidências empíricas das diversas situações envolvendo os dilemas dos comuns e a abordagem voltada ao campo da Economia Institucional.

A análise institucional pode complementar o quadro teórico com foco na questão das escolhas. O economista Douglas North (1990) sugere a inclusão da análise do comportamento humano e dos custos de transação. A partir desta abordagem, Ostrom (1990) complementou

em seus estudos a abordagem voltada à cooperação13, em que couberam às instituições as respostas sobre as formas de cooperação relacionada à utilização dos recursos de uso comum. Diversos estudos de caso foram realizados por Ostrom e seus colaboradores e os resultados foram analisados por grupos de pesquisa que se utilizaram de multimétodos direcionados às análises institucionais. Tudo isso incluiu variáveis sobre o comportamento humano para compreender o manejo coletivo de recursos naturais e constatou-se que havia casos onde os usuários dos common-pool resources ou commons (CPRs) se auto organizaram e conseguiram conter a superexploração dos recursos importantes ao seu próprio desenvolvimento local (OSTROM, 1990).

Por conseguinte, a presente pesquisa traz a perspectiva mais recente sobre os novos estudos dos comuns (New Commons), na qual a literatura relata compreensões sobre os comuns como, por exemplo, um sistema de irrigação, a internet e o turismo. Este último, por exemplo, é categorizado como sendo um cultural commons, principalmente por estar relacionado ao uso do espaço público e do acesso ao patrimônio comum da humanidade (OSTROM., et al 1999; HESS, 2008).

Consequentemente, o turismo experimenta os mesmos problemas característicos dos CPRs, visto que o uso em excesso dos atrativos naturais e culturais pode fazer com que os membros da comunidade queiram melhorar essa gestão, ao mesmo tempo, uma vez que superexplorados tais recursos podem ser devastados pelo turismo e causar danos à própria comunidade e ao desenvolvimento sustentável do turismo (HEALY, 1994).

De acordo com Briassoulis (2002), há uma lacuna nos estudos sobre a questão dos comuns em áreas turísticas e, também, na literatura dos CPRs (HEALY, 1994; OSTROM et al., 1999). Sobre o Tourism Commons é importante salientar a complexidade da própria atividade turística, principalmente no que se refere a consumir atrações culturais e naturais e, ainda, demandar infraestrutura básica (tratamento de esgoto, abastecimento de água e coleta de lixo, transporte e sistemas de comunicação) e a infraestrutura turística como alojamentos, locais para alimentação e atividades recreacionais (PEARCE, 1989; JAFARI, 1982). Estas instalações não são elementos isolados, mas são adaptadas à realidade local, onde visitantes e moradores locais se misturam com a visita aos espaços de venda de produtos, ruas e espaços abertos.

13 Para North (1990), cooperar significa agir conforme as regras, mas é uma tarefa difícil de ser mantida quando as situações (que são chamadas de jogos) não são repetidas ou chegam a um dilema como, por exemplo, a falta de informações sobre os outros indivíduos (jogadores) ou, ainda, quando há um número maior de indivíduos no grupo. Ou seja, quando há repetições, grande quantidade de informação e se o grupo for pequeno a probabilidade de ocorrer cooperação é ampliada (OSTROM, 1990).

Desse modo, ao mesmo tempo em que são consumidos os bens tangíveis, os visitantes também são usuários da cultura local – bens intangíveis (normas, hábitos e comportamentos)-, sendo que esta movimentação dá sentido à experiência dos turistas, que estão vivenciando algo diferenciado (BRIASSOULIS, 2012).

Fica evidente que os bens tangíveis utilizados para a composição do turismo possuem os dois principais atributos de um CPRs: exclusão e subtração. O Tourism Commons compreende a totalidade dos bens tangíveis e intangíveis que as áreas comunitárias e regiões vizinhas possuem, ou seja, nesse sentido, os patrimônios naturais e culturais coincidem com o produto turístico. Conforme Andereck (1997), a noção de bens comuns aplicada ao turismo pode ser definida justamente pela atividade acontecer em espaços públicos. Ainda, dependendo do contexto geográfico, histórico e sociocultural, a atividade passa a ocorrer em multidimensões difusas na composição da própria atividade turística.

Nos estudos de casos apresentados por Healy (1994; 2006), como resultados, no que se refere aos atributos dos commons ocorreu por meio do turismo o uso excessivo dos locais de visitação e, ainda, careceu de novos investimentos na gestão dos patrimônios naturais e culturais. O autor concluiu que o turismo foi pouco sustentável em sua concepção e execução. Para Yabuta (2011), o tourism commons experimentou os problemas característicos dos CPRs no que tange ao uso excessivo dos recursos turísticos, a falta de apoio para as pessoas investirem na gestão dos recursos e almejar a melhoria dos serviços oferecidos pela atividade turística, quando se estabelecem essas dificuldades, a sustentabilidade neste setor torna-se ameaçada. Neste caso, o foco na ação coletiva pelo turismo questionará se, de fato, esta atividade é sustentável (a médio e em longo prazo), já que requer a auto-organização interna dos atores sociais, principalmente dos jovens e como estes estão cooperando e participando, fortalecendo ou não o seu próprio capital social e capital humano.

Além disso, o turismo sustentável tem como objetivo promover o bem-estar econômico e a preservação do habitat natural e cultural, buscando a equidade intra e intergeracional na distribuição dos custos e benefícios, garantindo além de uma autossuficiência, também, a satisfação dos visitantes (BRIASSOULIS, 2002).

Para entender o turismo na comunidade Quilombola do Vale do Ribeira (SP) e o papel do jovem na prática dessa atividade, será utilizado como arcabouço teórico-metodológico a Análise Institucional e Desenvolvimento (IAD Framework), conforme proposto por Ostrom, Gardner e Walker (1994) e Ostrom (2011) e que foi adaptado para esse estudo de caso. O IAD, resumidamente, é uma abordagem de análise da ação coletiva, que considera os indivíduos e os grupos que interagem com os componentes biofísicos, político, cultural e

econômico e conforme o arranjo de regras e acordos. Os detalhamentos sobre arcabouço e a forma de análise será apresentando no Capítulo 3, que tratará das componente sobre a Área de Estudo, Metodologia do Trabalho e Forma de Análise dos Dados, especialmente, no item 3.3.2 (sobre o modelo IAD Framework). No próximo tópico, na sequência, a discussão será pautada sobre a questão da participação dos jovens, entendidos como fundamentais para o desenvolvimento sustentável por meio do TBC.