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A legislação civil secular

No documento Download/Open (páginas 77-81)

A ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis) vem trazendo aos tribunais ações contra discriminação de LGBTs desde 1936, como diz seu site:

A ACLU tem uma longa história de defesa da comunidade LGBT. Nós trouxemos o primeiro caso [aos tribunais] de direitos LGBT em 1936 e fundamos o projeto LLGBT em 1986. Hoje a ACLU patrocina mais casos LGBT e iniciativas de advocacia [à causa] que qualquer outra organização nacional faz. Com nosso alcance nos tribunais e poderes legislativos, de todos os estados, não há outra organização que possa se igualar ao nosso histórico de fazer progresso [à causa LGBT] tanto em tribunais de leis, como em “tribunais” da opinião pública (ACLU1, 2018, on-line)73.

Como a ACLU, que não patrocina somente causas ligadas à sexualidade, mas defende radicalmente as liberdades civis nos Estados Unidos, existem outros grupos formadores de

72The American Medical Association has urged doctors to seek a greater understanding of their homosexual and

bisexual patients, saying that health care is enhanced by "the physician's nonjudgmental recognition of sexual orientation and behavior." In a report adopted this month, the medical association also dropped a 13-year-old policy of encouraging programs to acquaint gay patients with "the possibility of sex preference reversal in selected cases". The new policy was called an "admirable" and "significant" change by Benjamin Schatz, executive director of the 1,600-member Gay and Lesbian Medical Association. But it was criticized as a "political maneuver" by Dr. Joseph Nicolosi, secretary-treasurer of the National Association for the Research and Therapy of Homosexuality, whose 380 members treat those who seek to change their sexual behavior. Dr. M. Roy Schwarz, group vice president of the medical association and chairman of its task force on AIDS, said the intent of the report was not to comment on sexual orientation but to raise doctors' awareness.

73 The ACLU has a long history of defending the LGBT community. We brought our first LGBT rights case in

1936 and founded the LGBT Project in 1986. Today, the ACLU brings more LGBT cases and advocacy initiatives than any other national organization does. With our reach into the courts and legislatures of every state, there is no other organization that can match our record of making progress both in the courts of law and in the court of public opinion.

opinião que atuam somente na questão de gênero e sexualidade, como é o caso da Human Rights Campaign. De modo geral, o modus operandi dos chamados “grupos de interesse” atuam como formadores de opinião, junto às Supremas Cortes nacional e estaduais, nos poderes legislativos, também nacionais e estaduais. São também conhecidos como grupos de lobby (junto a representantes eleitos).

A ação destes grupos contribuiu imensamente para formar o consciente coletivo americano, a sociedade americana, no sentido de aceitação das sexualidades não heterossexuais, como uma simples questão de diversidade humana, colocou o debate no mesmo patamar de gênero e raça. A ação desses grupos possibilitou mudanças de várias leis, que criminalizavam o exercício das sexualidades não heterossexuais e mesmo alguns atos sexuais alternativos, “cometidos” por casais heterossexuais.

Hoje, quando se fala de lei de sodomia ou contra a sodomia, pode-se imaginar que estamos falando de leis contra o comportamento público homossexual, mas não é exatamente isso.

Apesar de se associar sodomia com relação sexual anal (pelo menos nos Estados Unidos), estas leis regulavam ou proibiam qualquer ato sexual, ou de caráter sexual não “convencional”. Tudo que não seja sexo convencional entre um homem e uma mulher entrava eventualmente na proibição, como sexo oral, sexo anal, sexo grupal, sexo entre pessoas do mesmo sexo, etc., como explica a página74 da ACLU, que atualmente traz o status dessas legislações. O assunto deveria ter sido votado no congresso americano, mas o problema ainda está em aberto e vivo, embora tenha começado a ser debatido há décadas, segundo a ACLU:

Como essas leis eram usadas tradicionalmente:

A decisão em Lawrence v. Texas é um dos poucos casos desde a revolução americana que envolviam dois adultos – hétero ou gay – que os processava por suas relações íntimas em sua privacidade. Na maior parte dos séculos 19 e 20, as leis contra sodomia foram usadas como acusações secundárias em casos de agressão sexual, sexo com crianças, sexo em público e sexo com animais. A maioria dos casos envolviam sexo heterossexual.

Originalmente, leis contra sodomia, eram parte de um grupo maior de leis – derivadas das leis das Igrejas – destinadas a evitar a sexualidade não- procriadora em qualquer lugar, e qualquer sexualidade fora do casamento.

Leis contra sodomia começam a se concentrar em gays nos anos 1970.

As leis de sodomia começaram a ser usadas de uma nova maneira, distintamente contra as pessoas gays, no final dos anos 1960. Como o jovem movimento de direitos dos gays começou a progredir, e a condenação social de ser gay começou a enfraquecer, os socialmente conservadores começaram a invocar leis contra sodomia [que estavam nos livros] como justificativa para a discriminação. Em nove estados, [estas] leis contra sodomia foram explicitamente reescritas de modo que estas fossem aplicadas somente contra gays. Kansas foi o primeiro estado a fazer isso em 1969. Kansas foi seguido em 1970 pelos estados do Arkansas, Kentucky, Missouri, Montana, Nevada, Tennessee, e o Texas. Em dois estados, Maryland e Oklahoma tribunais decidiram que leis contra sodomia não podiam ser utilizadas contra conduta sexual heterossexual, tornando-as, efetivamente, em leis a serem aplicadas exclusivamente sobre sexo homossexual. Em muitos outros estados, incluindo Alabama, Florida, Georgia, Mississipi, Carolina do Norte, Dakota do Norte, Pensilvânia, Dakota do Sul, Utah, Virgínia, e Washington, agências governamentais e suas cortes, tratavam estas leis, apesar de como elas de fato foram escritas para serem aplicadas a todos os casais, hétero ou gay, como se as mesmas tivessem sido destinadas inicialmente a pessoas gay.

Como as leis foram usadas contra pessoas gay

Estas leis são usadas contra as pessoas gay de três maneiras diferentes. As primeiras foram usadas para limitar a habilidade de pessoas gays de criar filhos. Elas foram usadas para negar aos pais gays, a custodia de seus próprios filhos. [...] Foram também utilizadas para recusar autorização para que pessoas gays pudessem adotar, bem como para recusar pessoas gays de terem custodia temporária (foster parent) de crianças. Em segundo lugar, as leis foram usadas para justificar a demissão de pessoas gay, ou negar-lhes um emprego. [...] uma vez que esta pessoa tinha conduta que poderia ser considerada um crime. Em terceiro lugar, as leis têm sido utilizadas em debates públicos, para justificar tratamento igualitário, e desacreditar vozes LGBTs75 (ACLU2, 2018, on-line).

75 “How the Laws Were Used Traditionally

The decision in Lawrence v. Texas is one of a mere handful of cases since the American revolution involving two adults - straight or gay - actually prosecuted for being intimate in private. For most of the 19th and

20thcenturies, sodomy laws were used as secondary charges in cases of sexual assault, sex with children,

public sex and sex with animals. Most of those cases involved heterosexual sex. Originally, sodomy laws were part of a larger body of law - derived from church law - designed to prevent nonprocreative sexuality anywhere, and any sexuality outside of marriage.

Sodomy Laws Are Aimed at Gay People in the 70's

Sodomy laws began to be used in a new way, distinctly against gay people, in the late 1960's. As the young gay rights movement began to make headway, and the social condemnation of being gay began to weaken, social conservatives began to invoke sodomy laws as a justification for discrimination. In nine states, sodomy laws were explicitly rewritten so that they only applied to gay people. Kansas was the first state to do that in 1969. Kansas was followed in the 1970's by Arkansas, Kentucky, Missouri, Montana, Nevada, Tennessee, and Texas. In two states, Maryland and Oklahoma, courts decided that sodomy laws could not be applied to private heterosexual conduct, leaving what amounted to same-sex only laws in effect. In many other states, including Alabama, Florida, Georgia, Mississippi, North Carolina, North Dakota, Pennsylvania, South Dakota, Utah, Virginia and Washington, government agencies and courts treated sodomy laws that, as written, applied to all couples, straight and gay, as if they were aimed at gay people.

Como visto, na arena civil jurídica federal, o assunto demorou muito a ser consolidado, mas após a fundação da PC (USA), em 1983, o tema estava vivo, mesmo na esfera secular civil americana. Não era uma discussão teológica, eclesiástica ou de costumes de religiosos, exclusivamente, mas pública e corrente na sociedade americana.

Após a decisão relativa à sexualidade de LGBTQs, o debate se desenvolveu na sociedade americana na forma de lidar com o matrimônio de pessoas gays e lésbicas. Foge do escopo desta pesquisa escrutinar todas as leis civis que regulam a matéria, mas basta dizer que hoje, em termos de lei federal, é proibida a discriminação de LGBTs em esferas como emprego, crédito, emprego público, acesso a comércio, etc.

Continua havendo tentativas de retroagir as liberdades conquistadas pelos LGBTs nos Estados Unidos. A maioria da população e eleitores em estados conservadores não aceita que estas liberdades e direitos existam e procuram falhas na legislação federal, com o intuito de reverter as conquistas, conforme indicam as fontes sugeridas a seguir. Mas o objeto da presente pesquisa é a PC (USA) com foco nos casos que tem relação com questões religiosas apenas, ou seja, casamento e ordenação de LGBTQs na PC (USA).76

These laws were used against gay people in three ways. First, they were used to limit the ability of gay people to raise children. They were used to justify denying gay parents custody of their own children […] They've also been used to justify refusing to let gay people adopt … and refusing to let gay people become foster parents […]. Second, the laws have been used to justify firing gay people, or denying gay people jobs. […] that it couldn't be illegal to discriminate against gay people because gay people are a class "defined" by conduct which could be made a crime. After the U.S. Supreme Court said in 1996 (in Romer v. Evans, which struck down a Colorado constitutional amendment that forbade gay rights laws) that states could not discriminate against gay people on the basis of "disapproval," the argument was harder to make. But that didn't stop Georgia's Attorney General from (successfully) using the state's sodomy law as a justification for refusing to hire a lesbian, or the Bowers decision from being offered as a justification for firing a lesbian x-ray technician in a Washington state case last year. Third, the laws have been used in public debate, to justify denying gay people equal treatment and to discredit LGBT voices.

76 Para mais informação, vide as seguintes páginas (links) a respeito do que tem sido feito em outras esferas (não

eclesiásticas):

 Para a discussão da exceção de princípio religioso alegado para discriminar LGBTs, vide: https://www.hrw.org/news/2018/02/19/united-states-state-laws-threaten-lgbt-equality.

 Para a discussão do decreto presidencial do presidente Donald Trump, para “promover livre direito a discurso (assegurado pela primeira emenda à constituição daquele país)” e “liberdade de religião (que permitiria a discriminação com base em princípios religiosos, inclusive em instituições públicas)”, vide: https://www.hrw.org/news/2017/05/05/us-religious-freedom-order-opens-way-bias

 Para um mapa sobre legislação estadual nos 50 estados, sobre proibição de discriminação de LGBTs, em termos de 1- Emprego, 2- Habitação, 3-Acomodações Públicas, 4- Acesso ao crédito, e 5-Empregos Públicos, leia em: http://www.lgbtmap.org/equality-maps/non_discrimination_laws.

 Para um mapa da situação legal sobre discriminação dos indivíduos LGBTs, vide mapa abaixo: Figura 3: Mapa situação legal LGBT.

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