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A pessoa não a instituição a Igreja como objetivo central

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2.2 O caminho da teologia na Igreja: como se apresenta hoje

2.2.3 A pessoa não a instituição a Igreja como objetivo central

Tendo foco na pessoa, ou encontro pessoal entre Cristo e a pessoa, seguindo uma posição mais existencialista, a Igreja começou a olhar com mais atenção às formas de opressão aos diferentes indivíduos. No Sul dos Estados Unidos, na década de 1950, ainda imperava uma forte política segregacionista: segregar negros ainda era legal e ainda era praticado, algo que só veio a mudar no final dos anos 1960, após os movimentos pelos direitos civis, com Martin Luther King Jr.

Por deslocar seu foco, de uma religião que promovia a aderência restrita às confissões de fé, para uma fé centrada na obra redentora [e inclusiva] de Cristo, muitas posições da sociedade começaram a ser revistas na Igreja.

No que diz respeito à segregação racial, após a decisão da Suprema Corte “Brown vs. Board of Education”, em 17 de maio de 1954, ordenando a ‘des-segregação’ das escolas no Sul dos Estados Unidos, a Assembleia Geral da PCUS no mesmo ano, declarou:

O princípio da decisão da Suprema Corte, e instou todos os membros a apoiarem os responsáveis pela implementação da mesma. A assembleia adotou ainda a recomendação do seu Conselho de Relações Cristãs, de que “a Assembleia Geral afirma que segregação das raças é uma discriminação que está fora de harmonia da teologia cristã e da ética.” A assembleia exortou a Igreja em todos os seus níveis de governo, desde a sessão local até a Assembleia Geral, a estar aberto a pessoas de todas as raças56 (ROGERS, 2009, p. 40).

Tal posição acabou refletindo em outras áreas de opressão a membros da sociedade, como é o caso das mulheres. Mas, sob a influência da neo-ortodoxia, e não de versos isolados (fora do contexto), a supremacia seria o contexto bíblico como um todo.

Quanto ao direito à ordenação de mulheres ao ministério na Igreja do Sul (PCUS), que já vinha a décadas sendo praticada pela Igreja do Norte (PCUSA), Rogers descreve:

Uma das melhores ilustrações da aplicação dos novos princípios de interpretação bíblica e confessional é encontrada no relatório da situação das mulheres da PCUS de 1956. As mulheres foram ordenadas como presbíteras desde o ano de 1930 na Igreja Presbiteriana do Norte, e como ministras (pastoras) desde 1956. Naquele ano, seus primos do sul ainda estavam lutando com ordenação de mulheres para o cargo na Igreja. Um comitê que lidava com o status das mulheres desenvolveu uma abordagem baseada na postura confessional da denominação. Eles acreditavam que uma solução poderia ser encontrada de acordo com o princípio da Confissão de Fé de Westminster de que ‘a regra infalível de interpretação das Escrituras, é a própria Escritura.’ Portanto, quando há uma pergunta sobre o verdadeiro e pleno sentido da escritura (que não é múltipla, mas uma), o sentido pode ser pesquisado e conhecido por outros lugares que falam mais claramente. O comitê aplicou este Princípio declarando que ‘Nós achamos que esta claramente e inequivocamente declarado nas Escrituras que Deus dotou pelo menos algumas mulheres para liderança entre os seus [sic] filhos nos tempos da Bíblia. Assim sendo, concluímos que o que Deus fez e prometeu fazer (Atos 2:17) deve ser feito em nossos próprios dias. Assim, presbiterianos na década de 1950 apelaram aos anos 1640 e tirou da Confissão de Westminster um princípio que lhes permitiu suprir o evangelho a uma nova situação. Empoderados por essa compreensão mais expansiva da vontade de Deus, presbiterianos do Sul fizeram a ordenação a todos os cargos de oficiais da Igreja à disposição das mulheres e em 1965 acabou por ordenar sua primeira mulher ministra da Palavra e Sacramento [pastora]57 (ROGERS, 2009, p. 41).

56 “The General Assembly affirmed the principle of the Supreme Court’s decision and urged all members to support

those charged with implementing it. The assembly further adopted the recommendation of its Council of Christian Relations “that the General Assembly affirm that enforced segregation of the races is discrimination which is out of harmony with Christian theology and ethics.” The assembly urged the church at all governing body levels, from the local session to the General Assembly, to be open to people of all races”.

57 “One of the best illustrations of the application of the new principles or biblical and confessional interpretation

is found in the 1956 PCUS report on the status of women. Women had been ordained as elders since 1930 in the northern Presbyterian Church, and as ministers since1956. In that year, their southern cousins were still struggling with ordination of women to office in the church. A committee dealing with the status of women developed an

Baseando-se neste princípio hermenêutico, várias situações sociais foram revistas, como a questão do divórcio e recasamento na(s) Igreja(s) presbiterianas do Norte (1953) e do Sul (1959), considerando que o casamento não visava somente o bem da sociedade, mas também das pessoas nele envolvidas (ROGERS, 2009, p. 44).

Os presbiterianos dos Estados Unidos tomaram o rumo de abandonar enfoques legalísticos e focaram no bem das pessoas. Mudanças foram feitas na confissão de fé, mas não era a primeira vez que isso acontecia.58 Fato é que a postura de Cristo, que via exceções às regras para o bem das pessoas, começou a ser adotada como parâmetro e não a letra da lei.

Se tomada ao pé da letra, a posição de Cristo quanto ao divórcio, por exemplo, ainda estaria proibida, mas o bem das pessoas envolvidas trazida pela hermenêutica da neo-ortodoxia toma precedência sobre as leis e o legalismo. Esta era a nova postura da Igreja ou das Igrejas presbiterianas nos Estados Unidos na segunda metade do século XX.

Este princípio será bastante relevante quando começarmos a abordar a questão da homoafetividade, a homossexualidade e a reação da Igreja.

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