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O respeito a todos

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Em 13/6/2013, a Assembleia Geral da IPIB votou uma Afirmação de Fé, que representa uma espécie de credo, a ser divulgado e promovido nas Igrejas. Este texto tem um caráter inclusivo, mas muito genérico, com relação aos temas polêmicos, como a homossexualidade. Ele deixa, no entanto, enquanto posição oficial da IPIB, a porta aberta para uma eventual inclusão de todos na Igreja. O texto diz:

117 Segundo a “Cartilha” editada e divulgada pelo Ministério Público Federal em 2017, os direitos legais dados à

população LGBT, enquanto detentores destas orientações sexuais, são:  Casamento e União Estável

 Adoção

 Reprodução assistida  Direitos sucessórios

 Pensão por morte e auxílio reclusão

 Proteção contra quaisquer formas de violência  Refúgio e direitos migratórios

 Direito ao nome e à identidade de gênero

 Direito à educação e à igualdade de condições de acesso e permanência na escola  Direito à saúde e à previdência social

 Direito ao trabalho.

Fonte: www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/pfdc/midiateca/nossas-publicacoes/o-ministerio-publico-e-a-igualdade- de-direitos-para-lgbti-2017

Cremos na Santa Trindade, que é modelo de comunhão, unidade e amor. Cremos no Deus Pai, criador dos céus e da terra e de todos os seres humanos, Cremos em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor e Salvador, que traz boas notícias aos pobres, liberdade aos cativos, vista aos cegos, libertação aos oprimidos e perdão para os nossos pecados. Cremos no Espírito Santo derramado sobre filhos e filhas, moços e velhos, servos e servas. Cremos na Igreja, família da fé, que abriga, acolhe e promove uma espiritualidade fundamentada na graça de Deus, que traz vida em plenitude, segundo as Escrituras Sagradas. Cremos como nossa missão, a proclamação do Evangelho do Reino de Deus, para paz, justiça, liberdade e solidariedade entre todos. Amém’ (IPIB2, s/d, on-line, grifos nosso).

O fato é que, embora seja uma mera afirmação de fé, é um documento oficial da IPIB e, se não tem um status de confissão de fé (como a de 1967, na UPCUSA), tem status de credo, também aprovada numa Assembleia Geral, devendo ser usada até liturgicamente em toda a Igreja. A Confissão de 1967 e seguintes adotadas pela PC (USA) também foram escritas por uma Igreja com hermenêutica fortemente barthiana, como a IPIB e também foram sancionadas por uma AG naquela Igreja (UPCUSA).

A retórica de inclusão de todos é bem transparente e abre espaço para uma futura inclusão plena de todos, de fato, mas isso é para o futuro. A história da inclusão e a comparação com a PC (USA), como visto na Tabela 1 acima, leva a crer que a inclusão de todos, inclusive LGBTs na vida da Igreja, é uma questão de tempo, que aparentemente a IPIB continua a percorrer e, mesmo que não de maneira inteiramente análoga à PC (USA), ainda que não percorra o mesmo caminho, um caminho similar de inclusão poderá se dar de maneira parcial, mas acredita-se que se dará um dia, dependendo de uma maior ou menor mudança da mentalidade e aceitação dos indivíduos LGBTs na sociedade brasileira como um todo.

Como se deu a aproximação da IPIB com a PC (USA)?

Ao lembrar da história já exposta anteriormente, um dos motivos da criação da IPIB foi o desejo de independência em relação às Igrejas mães (predecessoras e antepassadas da PC (USA), no final do século XIX.

Uma brevíssima linha do tempo dos acontecimentos referentes aos primeiros passos dessa aproximação, relata-nos o seguinte:

1978- São recebidos os primeiros missionários americanos pela IPI desde 1903- Revs. Richard Irwin, Gordon Trew e Albert Reasoner. […]

1983- A IPI e as Igrejas Presbiterianas do Norte e do Sul dos Estados Unidos celebram acordo de cooperação [...].

1987-A Reva. Sherron Kay George, missionária da Igreja Presbiteriana (USA), é a primeira pastora a trabalhar oficialmente com a IPI [...].

1989- A IPI participa da instalação da Missão Presbiteriana do Brasil, juntamente com a IPU e a PC (USA) [...] (IPIB, s/d, on-line).

É intrigante como entidades que não podiam imaginar-se juntas ou, pelo menos, trabalhando juntas a ponto de causar um cisma (1903) numa Igreja que estava apenas começando, exatamente para evitar esse trabalho conjunto, tornam-se parceiras num ministério comum, aproximadamente um século depois? A diferenciação de rumos tomados tanto pela PC (USA) (e suas predecessoras) e a IPB, como parceiras naturais, levaram à PC (USA) a procurar uma nova parceira em nosso país. E como se deu este distanciamento entre essas duas grandes denominações118?

À época, que teve início imediatamente antes da implantação do regime militar no Brasil (1964), apresentou suas mudanças significativas no seio da IPB, como relata-nos Matos:

Dois eventos de grande impacto marcaram o início deste período [1964 a 2000]: (a) O Concílio Vaticano II (1962-65), que assinalou a abertura da Igreja Católica para os protestantes (‘irmãos separados’) e revelou novas concepções sobre o culto, a missão da Igreja e a relação com a sociedade. O ecumenismo tornou-se alvo de muitas controvérsias. (b) O movimento de 1964 e o regime militar. Na realidade, esse período foi marcado pelo surgimento de ditaduras militares e movimentos de esquerda em toda a América Latina. Na área religiosa, um dos resultados foi o surgimento da Teologia da Libertação. Vejamos alguns eventos desse período conturbado:

Igreja Presbiteriana [do Brasil]

Em 1962, a Missão Brasil Central (UPCUSA) propôs-se a entregar à Igreja toda a sua obra evangelística, médica e educacional. Em 1972, a IPB rompeu com a Missão Brasil Central, sendo uma das possíveis causas a adoção da Confissão de 1967 pela Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos. Em 1973, a IPB rompeu suas relações com essa denominação (criada em 1958) e firmou novo convênio com a missão da Igreja Presbiteriana do Sul (PCUS).119 O Supremo Concílio de Fortaleza (1966) marcou o início da administração do Rev. Boanerges Ribeiro, que foi reeleito presidente em 1970 e 1974. Nesse período, a maioria conservadora empreendeu forte luta contra o liberalismo teológico, o ecumenismo e a renovação carismática. Foi uma época de forte confrontação, com muitos processos contra pastores, concílios e Igrejas locais. No entanto, o período também testemunhou crescimento na área de missões. A IPB expandiu o seu trabalho na Amazônia e em alguns países vizinhos, como o Paraguai e a Bolívia. Com o passar dos anos, surgiram alguns grupos dissidentes, como o Presbitério de São Paulo e a Aliança de Igrejas

118 A PC (USA), naquela época a PCUSA e depois a UPCUSA, bem como a IPB, eram (e ainda são) as maiores

denominações presbiterianas nos Estados Unidos e no Brasil, respectivamente.

Reformadas (1974), e a Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP), organizada em Atibaia, em setembro de 1978. Esta federação eventualmente constituiu-se em uma nova denominação, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, que possuindo uma orientação teológica fortemente progressista (MATOS, s/d, on-line).

Outro aspecto não mencionado por Matos tem relação com o Rev. Richard Shaull, professor (e pastor presbiteriano) americano, no Seminário de Campinas (IPB). Huff (2009) nos relata o seguinte:

No final dos anos 1950, Shaull encontrava grave resistência a suas práticas e teologia, tanto no Seminário de Campinas, quanto em meio à liderança da Igreja Presbiteriana do Brasil. Em 1960 veio a grande crise: no Seminário de Campinas, professores e alunos foram expulsos; os presbitérios passaram a ser controlados e os pastores que representavam a nova geração foram afastados das Igrejas. Ainda em 1959, todavia, Shaull desligara-se do Seminário de Campinas para tomar parte em uma nova experiência de educação teológica [...] Em 1962, convidado a lecionar no Seminário de Princeton [PC(USA)], retornou, então, aos Estados Unidos como professor de ecumenismo. Manteve, todavia, ligações com o Brasil, onde continuou desenvolvendo pesquisas sobre a situação religiosa nacional durante um semestre a cada ano, até 1965 (HUFF, 2009, on-line).

Shaul foi formador daqueles que protagonizaram os fatos descritos na citação anterior, que acabaram por originar a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, com a qual a PC (USA) mantém trabalho conjunto até hoje.

Com a ausência de uma Igreja parceira no Brasil, e com as mudanças que vinham acontecendo na IPI, a parceria com essa Igreja tornou-se a consequência natural para os americanos.

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