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Posições da sociedade civil sobre a homossexualidade

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Se a sociedade civil, incluindo seus magistrados e suas leis, não só descriminalizaram, mas ainda sancionaram como legítimo a homoafetividade e a homossexualidade e, como vimos acima, as leis civis importam para o presbiteriano, como foi que a mudança no mundo secular aconteceu? Como foi sancionada e legitimada a mudança de entendimento na sociedade, quanto à homossexualidade? Ela aconteceu de duas maneiras, pelas entidades “médicas” e correlatas e pelas entidades civis de defesa dos direitos humanos, como veremos a seguir.

Reproduzido de um folheto para orientação de psicólogos quanto à condição LGBTQs, do ano de 1975, que “normaliza” estas sexualidades, temos a posição da APA:

Desde 1975, a Associação Americana de Psicologia convocou os psicólogos a tomar a liderança em remover o estigma de doença mental, que há muito vinha sendo associada a pessoas com orientação sexual lésbica, gay e bissexual. A psicologia como disciplina se preocupa com o bem estar das pessoas e grupos, e portanto, com ameaças a este bem estar. O preconceito e a discriminação que pessoas lésbicas, gays ou bissexuais vivenciam regularmente, tem mostrado ter efeitos psicológicos negativos [nestas pessoas]69 (APA, 2008, on-line).

A pressão vinda da APA, para considerar-se a homossexualidade e a bissexualidade como uma condição normal ao ser humano e considerá-las somente como diferença ou diversidade, natural portanto, aumentou sobre as Igrejas. Essa decisão dos psicólogos americanos não foi nem pioneira, nem única.

Dois anos antes, em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria emitia também uma declaração sobre as sexualidades de caráter não exclusivamente heterossexuais, normalizando estas relações e sexualidades, como diz a notícia abaixo:

No final de semana passado, o Conselho de Administração da Associação Americana de Psiquiatria aprovou uma mudança no Manual Oficial de Desordens Psiquiátricas70 A ‘homossexualidade, per si só’, votou o Conselho, ‘não deve mais ser considerada uma ‘desordem psiquiátrica’; ela deve ser

69 Since 1975, the American Psychological Association has called on psychologists to take the lead in removing

the stigma of mental illness that has long been associated with lesbian, gay, and bisexual orientations. The discipline of psychology is concerned with the well-being of people and groups and therefore with threats to that well-being. The prejudice and discrimination that people who identify as lesbian, gay, or bisexual regularly experience have been shown to have negative psychological effects.

definida sim como um distúrbio da orientação sexual. [...] Homossexualidade, por definição, se refere ao interesse em relações sexuais ou contato com membros do mesmo sexo. Agora, quando nos perguntamos se a homossexualidade é ou não uma doença psiquiátrica, nos temos que ter algum critério do que uma doença ou desordem psiquiátrica é. O critério que eu proponho se aplica para quase todas as condições que geralmente são consideradas desordens psiquiátricas: A condição [em questão] precisa estar causando, regularmente, um stress subjetivo, ou estar regularmente associada a com alguma deficiência [ou incapacidade] no trato, ou sua função, social [da pessoa]. Claramente a homossexualidade por si não se classifica nestes critérios: Muitos homossexuais estão satisfeitos com sua orientação sexual e não demonstram quaisquer [destes] sintomas.71 (NEW YORK TIMES, 1973, on-line).

Portanto, os psiquiatras americanos, antes dos psicólogos, também retiraram a homossexualidade (já em 1973) da lista de doenças psíquicas e a rotularam como uma condição de normalidade psiquiátrica humana.

Embora os médicos psiquiatras americanos tenham tocado no assunto da orientação sexual em 1973, pelo menos de uma maneira oficial, a Associação Médica Americana, como um todo, instruiu seus associados, em 1994, a respeitar a orientação sexual dos pacientes não heterossexuais e não tentar mudá-la, como havia sugerido 13 anos antes, segundo notícia também veiculada no jornal New York Times, em dezembro daquele ano:

A Associação Médica Americana aconselhou os médicos a procurar uma compreensão maior de seus pacientes homossexuais e bissexuais, dizendo que os cuidados da saúde são expandidos se ‘o médico reconhecer, sem prejulgamento, a orientação e o comportamento sexual [de seus pacientes]’. Num relatório aprovado este mês, a associação médica abandonou uma política de 13 anos que encorajava programas para comunicar aos pais de filhos gays com ‘a possibilidade de reversão da preferência sexual em casos especiais’. Esta nova política foi chamada de uma mudança ‘admirável’ e

‘significante’ por Benjamin Schatz, diretor executivo da Associação Médica

Gay e Lésbica, com 1600 membros. No entanto, esta política foi criticada pelo Dr. Joseph Nicolosi, secretario-tesoureiro da Associação Nacional de Pesquisa e Terapia da Homossexualidade, cujos 380 membros tratam de pacientes que os procuram para mudar seu comportamento sexual. O Dr. Roy

71 Last weekend, the Board of Trustees of the American Psychiatric Association approved a change in its official

manual of psychiatric disorders. “Homosexuality per se,” the trustees voted, should no longer be considered a “psychiatric disorder”; it should be defined instead as a “sexual orientation disturbance. […] Homosexuality, by definition, refers to an interest in sexual relations or contact with members of the same sex. Now, when we come to the question of whether or not homosexuality is a psychiatric illness, we have to have some criteria for what a psychiatric illness or disorder is. The criteria I propose applies to almost all of the conditions that are generally considered psychiatric disorders: The condition must either regularly cause subjective distress or regularly be associated with some generalized impairment in social effectiveness or functioning. Clearly homosexuality per se does not meet these requirements: Many homosexuals are satisfied with their sexual orientation and demonstrate no generalized impairment.

Schwartz, vice-presidente de grupos da associação médica, e presidente da força de trabalho sobre AIDS, disse que a intenção do relatório não era comentar sobre orientação sexual, mas de chamar atenção dos médicos [à questão].72 (NEW YORK TIMES, 1994, on-line).

Apesar de a maioria estar de acordo com o reconhecimento de que a orientação sexual não heterossexual é vista como normal ao ser humano, continuavam as posições contrárias na sociedade civil americana. Mas, ao mesmo tempo, a posição de reconhecimento da normalidade da orientação sexual, tanto homossexual quanto bissexual, fazia progressos também na área legal.

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