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A identidade da IPIB e os fatores que podem ter colaborado com o rompimento

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Há vários fatores que influenciam na posição de uma denominação com respeito a temas polêmicos. As decisões não se baseiam somente em padrões teológicos, bíblicos, sociais, éticos, mas também em consequências que estas posições podem ocasionar na Igreja, em seus adeptos e o contorno social em que os mesmos vivem. Se assim fosse, não se nega que a escravidão é sancionada na Bíblia, a não ordenação de mulheres também, entre outras atitudes que hoje, apesar da legitimidade bíblica, como a poligamia do Antigo Testamento, seriam vistas como erradas e abomináveis. Entre muitos exemplos desta problemática, salientamos os que seguem.

3.9.1 A influência de outras denominações

É muito difícil para uma denominação protestante no Brasil discutir o assunto da homossexualidade. Mesmo para as denominações que podem ser consideradas mais “liberais”, em termos de costumes, a saber, normalmente Igrejas protestantes históricas, onde temas como aceitação do consumo de bebidas alcoólicas, aceitação de membros fumantes, a não regulamentação do vestuário de seus membros e membras, etc., o mero discutir ou falar em sexo já é problemático, o que diria discutir homossexualidade e homoafetividade. Para a

maioria dos protestantes não há nem o que discutir: é errado, é pecado e não se admite, a não ser para condená-lo taxativamente.

A mera associação com Igrejas com outras posições a respeito da homoafetividade, ainda que só por nomenclatura similar, é motivo para intensos desmentidos e reparações, no sentido de negar a política de inclusão de LGBTs nas suas coirmãs ou homônimas em outros países.

Por exemplo, a página oficial da IPB na internet, escrita por Nicodemus:

AGORA GAYS PODEM CASAR NA IGREJA PRESBITERIANADOS ESTADOS UNIDOS (PCUSA)

No dia 19 deste mês (Junho de 2014) a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA) aprovou com maioria folgada uma alteração na sua Constituição. Em vez de dizer ‘o casamento é entre um homem e uma mulher’, a Constituição da PCUSA agora diz ‘o casamento é entre duas pessoas”. Obviamente, a alteração foi feita para poder acomodar dentro da PCUSA os gays que querem casar na Igreja e ter cerimônia religiosa realizada por pastores/pastoras presbiterianos. Esse é mais um passo na direção da apostasia, desde que a PCUSA entrou pelo caminho do liberalismo teológico. Antes de mais nada, preciso esclarecer que essa denominação norte-americana nada tem a ver com a Igreja Presbiteriana do Brasil. Na verdade, a IPB tem consistentemente rechaçado nas últimas décadas todas as tentativas oficiais de aproximação com PCUSA, feitas tanto das bandas de lá como das bandas de cá. É injusto colocar todos os presbiterianos no mesmo saco em que esta denominação apóstata se meteu. Ela traiu sua herança presbiteriana e o que é mais importante, traiu o Cristianismo bíblico (NICODEMUS, 2015, on-line, grifos nosso).

Este é só um exemplo. O fato é que muitas das Igrejas que deram origem ou participaram da implantação de nossas Igrejas históricas no Brasil122 aceitaram incorporar LGBTs de maneira

integral na vida da Igreja, ou seja, celebrando uniões homoafetivas, ordenando e consagrando oficiais e ministros com orientação não heterossexual, etc23.

Um fator que deve ser levado em conta por uma denominação, ao aceitar incorporar membros, ordenar oficiais e celebrar casamentos de homossexuais abertamente praticantes, é como será considerado por outros membros e instituições da família de Igrejas protestantes no país em questão. Não basta simplesmente silenciar-se com a posição da denominação irmã no estrangeiro. Manter um acordo de missão conjunta com a PC (USA), ainda que este trabalho

122 Vide anexo 1

não tivesse nada a ver com a questão homoafetiva, simplesmente é um fardo muito pesado para a IPIB ou qualquer Igreja Evangélica no Brasil.

3.9.2 A guinada conservadora na sociedade brasileira

Não bastasse o aspecto da reação de outras Igrejas, a sociedade brasileira está se tornando cada vez mais conservadora e conquistas obtidas por legislação e ações do Supremo Tribunal Federal, no sentido de liberalizar a sociedade, vêm sendo atacadas por representantes eleitos, que tentam reverter as decisões quer em nosso legislativo, quer no executivo. Como exemplo, pode ser citada a tentativa de reverter a legislação vigente referente às exceções que possibilitam o aborto legal em nosso país, como diz o texto:

Deputados aprovam proibição do aborto até em casos de estupro

A comissão especial da Câmara que analisa a ampliação da licença maternidade em caso de bebê prematuro aprovou nesta tarde, por 19 votos a 1, o texto principal de proposta que, além de aumentar o período de afastamento da mãe de 120 dias para até 240 dias, insere na Constituição a proibição de todas as formas de aborto no País (AGÊNCIA CÂMARA, 2017, on-line).

As eleições em outubro de 2018 elegeram um número inédito de representantes às casas legislativas, de candidatos com uma agenda de costumes conservadora, e existe um ativismo que emperra aprovação de legislação ligada a questões de gênero e sexualidade.

Não se trata tão somente de uma posição religiosa, mas a sociedade em si tem se mostrado extremamente conservadora nesta área de “costumes”, estando cada vez mais explícito o apoio a posições mais conservadoras, tentando recuar nas parcas conquistas que liberalizaram a sociedade. Isso se reflete claramente na vida da Igreja. Existe um outro fator a ser considerado, que é o baixo nível cultural e educacional dos influenciadores de opinião e políticos em nosso país, bem como a de nosso povo, que vê o respeito aos direitos humanos de minorias como uma “agenda de/da Esquerda” e não como uma medida de civilidade de nossa sociedade.

A religião, assim como a própria Igreja, é um sistema social. Pode não ser secular, mas está inserida na sociedade e interage de forma política, econômica e social. A Igreja dita valores à sociedade e, como visto, a sociedade dita valores à Igreja. Por mais que a Igreja em questão seja hermética, seus membros têm que morar, comprar, viver, ir ao médico, ir às escolas e faculdades, frequentar o comércio, os serviços, empregar-se ou trabalhar de forma autônoma, na cidade, no estado, no país, ou seja, mesmo sendo membro de uma comunidade de fé, as pessoas vivem na sociedade civil (e secular).

Não ser influenciado pelo ambiente é impossível. Se a sociedade é conservadora, se é inclusiva ou exclusiva, se é homofóbica ou racista, é natural que se reflita na vida das pessoas, e portanto, em suas comunidades de fé. Trazer estes valores para dentro da Igreja, ou seja, ser influenciado por estes é muito mais esperado do que influenciar a sociedade com os valores religiosos de cada um, até por causa da diversidade de tradições e modos de exercer a fé individual, sem uma religião oficial imposta pelo estado, como nas teocracias islâmicas.123

Por que espera-se que se dê nas igrejas brasileiras a inclusão de LGBTs de maneira integral, ampla e respeitosa, se na sociedade brasileira existe LGBTfobia?

Por que esperar que a inclusão se dê da mesma maneira no Brasil, comparada aos países com um nível de escolaridade mais alto? O resultado da pesquisa de Cieglinski (2011) diz:

Brasília – A escolaridade é um dos fatores que mais influenciam o nível de preconceito da população em relação a homossexuais: quanto mais anos de estudo, maior é a aceitação do indivíduo em relação à diversidade sexual. É o que aponta pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo e coordenada pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Gustavo Venturi. O estudo, com 2 mil entrevistados em 150 municípios, foi feito em 2009 e transformado em um livro que será lançado em junho (CIEGLINSKI, 2011, on-line).

Por isso, seria de se esperar que a aceitação de LGBTs nas Igrejas brasileiras fosse sensivelmente menor que em suas coirmãs em países mais desenvolvidos, cultural, econômica e socialmente, onde o respeito aos direitos humanos, de uma maneira geral, é melhor assegurado. Outros poderiam alegar que é uma questão de fé, mas contra fatos não há argumentos. É um fato (vide o Anexo 1) que anglicanos/episcopais americanos e canadenses, luteranos dinamarqueses e alemães, presbiterianos americanos e reformados holandeses e

123 Irã e Arábia Saudita, por exemplo.

alemães, etc., ao contrário de seus irmãos em denominações com as mesmas tradições na América Latina ou África já incorporaram de maneira plena os LGBTs na vida da Igreja.

3.10 Quais os posicionamentos oficiais ou não sobre a questão da homoafetividade hoje na

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