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O surgimento da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

No documento Download/Open (páginas 36-39)

Para Matos, a motivação pela qual a Igreja Presbiteriana Independente se separou em 1903 tem relação com a questão da Maçonaria:

16 Não foi possível localizar a fonte do apud em questão.

17 Por exemplo Thornwell (p. 22), Dabney (p. 23) e Charles Hodge (p. 27).

O historiador Rev. Vicente Temudo Lessa, em sua obra Anais da 1ª Igreja

Presbiteriana de São Paulo (1938), informa que a chamada “questão

maçônica” começou a agitar o presbiterianismo brasileiro em 1898, através do periódico O Estandarte, fundado cinco anos antes pelo Rev. Eduardo Carlos Pereira. Até então esse jornal nunca demonstrara qualquer aversão contra a maçonaria. De fato, nos seus primeiros anos chegara a publicar artigos de crentes maçons e matérias simpáticas a essa instituição. Nessa época havia grande entusiasmo pela causa maçônica em vários meios evangélicos. Em muitas cidades foram criadas lojas que tinham evangélicos entre os seus participantes. A alegação da inconveniência de os crentes pertencerem à ordem maçônica foi levantada pela primeira vez pelo Dr. Nicolau Soares do Couto Esher (1867-1943), um jovem médico de São Paulo, membro da 1ª Igreja, que agora residia no Rio de Janeiro. De 10 de dezembro de 1898 até fins de abril de 1899, o Dr. Nicolau enviou doze artigos a O Estandarte, sob o pseudônimo Lauresto, procurando mostrar as inconveniências da maçonaria para o crente. Os artigos do Dr. Nicolau, sob o título “A maçonaria e o crente”, suscitaram fortes reações desde o início. O jornal manteve imparcialidade, aceitando artigos dos dois lados e mostrando neutralidade. O periódico metodista Expositor Cristão também publicou artigos pró e contra. Em seu número de 27 de abril O Estandarte deu a questão por encerrada. Dias antes, havia surgido um Manifesto assinado por 18 crentes maçons ‘protestando solene, enérgica, mas pacificamente” contra a campanha levantada’ (MATOS, 2014b, on-line).

Quase todos os documentos históricos a respeito da cisão dão como motivo a questão maçônica, ou seja, que o crente como um membro da Igreja, e muito mais ainda como um oficial da Igreja, não deveria ser maçom e/ou frequentar lojas maçônicas. O motivo seria que, ao contrário da Igreja, a maçonaria não tem Cristo como Deus encarnado, colocando-o no mesmo pé de igualdade com deuses de outras religiões (SILVA, 2014), ao considerar e se referir a Deus simplesmente como o Supremo Arquiteto. Eduardo Carlos Pereira, talvez o mais proeminente líder presbiteriano naquela época, considerado por muitos como o protagonista na criação da IPI, deu os seguintes pontos como motivos para esta aversão aos maçons, segundo Matos:

Eduardo alegou a incompatibilidade nos seguintes tópicos: (a) os fins da maçonaria; (b) a maçonaria e o 3º mandamento – os juramentos maçônicos; (c) o Supremo Arquiteto; (d) a religião maçônica. Seguiram-se outros artigos, que depois foram enfeixados em um folheto intitulado A Maçonaria e a Igreja Cristã, sendo distribuídos amplamente (MATOS, 2014b, on-line).

A ironia no que tange à questão maçônica é que hoje uma significativa parcela da IPB concorda com Eduardo Carlos Pereira e vem pressionando os concílios da IPB a reconhecer que a maçonaria é incompatível com a fé cristã, chegando a votar matérias no Supremo Concílio daquela denominação (IPB). Nesse sentido que, depois, por conta de pressões, foram alteradas,

culminando com a seguinte resolução final abaixo (que embora aparentemente consensual, acabará sendo provisória) com que o Matos conclui seu artigo, nos seguintes termos: “Em 21 de julho de 2006, o Supremo Concílio reunido em Aracruz (ES) aprovou uma resolução declarando a incompatibilidade entre alguns ensinos maçônicos e a fé cristã” (MATOS, 2014b, on-line).

Para Léonard, o principal motivo da cisão não foi de fato a questão maçônica, pois pelo menos boa parte dos membros da IPB de hoje ainda concordam com a incompatibilidade da situação da simultaneidade de se ser maçom e presbiteriano. Há quem discorde de que a principal e real causa da cisão tenha sido a maçonaria, mas a influência e ingerência dos missionários estrangeiros, seja da Igreja do Norte (PCUSA), seja do Sul (PCUS), na Igreja nacional. Citando Léonard, Ferreira (1960) acrescenta:

O professor Émile G. Léonard, da Escola de Altos Estudos, da Sorbonne, em Paris, teve ocasião de estudar o que chamou ‘as experiências eclesiásticas’ da Igreja Presbiteriana do Brasil. Sobre o problema da formação da Igreja Independente emitiu juízos que julgamos o leitor gostará de conhecer. Questões pessoais e as reações humanas ofuscavam, cada vez mais os problemas reais que estavam em jogo, eles mesmos duma gravidade excepcional, e que justificavam perfeitamente (contanto fossem vistos e definidos com nitidez), as lutas eclesiásticas e a separação, pois tratava-se da independência da Igreja Brasileira em relação, às Igrejas mães, estrangeiras, cujo papel poderia ser considerado como terminado e de modalidades de evangelização por meios unicamente eclesiásticos e religiosos, mais diretos e mais francos do que a tática muito hábil da educação nos grandes colégios ‘mistos’. Ora, às questões e atitudes pessoais veio juntar-se, para acabar de complicar, um problema falso, através do qual as questões fundamentais que referimos vieram a exprimir-se, mas num conjunto de circunstâncias as mais embaraçosas possíveis. Tal foi a ‘questão maçônica’, por cuja causa a divisão, sem dúvida inevitável e legítima, da Igreja Presbiteriana, se fez em condições mais infelizes e por motivos também infelizes (FERREIRA, 1960, p. 15, grifo nosso).

A cisão iniciou-se com a adesão de Igrejas locais ao novo Presbitério Independente, conforme Ferreira:

O Rev. Otoniel foi nomeado tesoureiro do presbitério. Receberam-se comunicados da adesão de duas Igrejas ao movimento – A de Itatiba e a 1ª Igreja Presbiteriana. A de Itatiba fora a primeira. Não deixa de ser interessante que estas duas primeiras adesões eram Igrejas que representavam os dois grupos missionários – a de Itatiba organizada pelos missionários do Sul, a de S. Paulo pelos missionários do norte. A reunião do Presbitério Independente encerrou-se à 5 de agosto (FERREIRA, 1960, p. 9).

A posição defendida por Léonard parece refletir, como tendência ou ideologia, na decisão do rompimento da IPI com a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América PC (USA) em 2014, que veremos no capítulo 3.

A seguir, serão abordadas as questões de fundo teológico que moldaram as diferentes identidades das Igrejas Presbiterianas no Brasil, em relação às suas Igrejas mães americanas.

No documento Download/Open (páginas 36-39)