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A reação conservadora dentro da Igreja

No documento Download/Open (páginas 95-98)

A reação dos conservadores ou daqueles que estavam e estão contra a incorporação integral (casamento e ordenação) dos indivíduos LGBTs na vida da Igreja existiu de maneira pronunciada na PC (USA). A própria reação e o rompimento do acordo da PC (USA) com a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil faz parte das consequências de cunho internacional referente a esta tomada de atitude, na questão da aceitação dos homossexuais de maneira integral na vida da Igreja. Existiam fatores com componentes relacionados ao tamanho das congregações, fatores demográficos e aguda perda de membros (por vários fatores), além de outros rompimentos de acordos interdenominacionais dentro e fora dos Estados Unidos, junto com a reação vista no caso da IPI.

O tipo de reação que ocorreu na ocasião da aprovação da emenda ao Livro de Ordem que veio a determinar que o casamento seria definido entre duas pessoas, ao invés de entre um homem e uma mulher, pode ser observado e seguido como típico na página do site oficial da PC (USA).95

Um outro aspecto foi o êxodo de membros da denominação, que já vinha acontecendo há algum tempo, como indica o site da Pew Research, uma das maiores e mais importantes organizações de levantamento e pesquisa de opinião pública daquele país, quando diz que “o debate dentro da Igreja Presbiteriana já levou algumas congregações a romper e abandonar

[com a denominação] e juntar-se a outras denominações presbiterianas mais conservadoras”96. (MASCI, 2015, on-line).

Para se ter uma ideia do alcance deste êxodo, nota-se as estatísticas do declínio de membros na PC (USA) no período de discussão e alteração das “leis da Igreja” com relação à aceitação da homoafetividade na Igreja, êxodo este que teve início, devemos reconhecer, antes mesmo da discussão da questão LGBT, mas que sem dúvida nenhuma intensificou-se devido a esta razão97. A PC (USA), somente no ano de 2017, segundo o artigo do link acima, diminuiu

de 1.482.767 membros para 1.415.053 membros. Nas últimas duas décadas, diz o artigo, a PC (USA) perdeu 43% de seus membros. Se, por um lado, não se pode estipular que este declínio deu-se tão somente por conta da aceitação de LGBTs na vida da Igreja (como o artigo de fato indica), seria ingenuidade negar a “colaboração” de tal fato no declínio do número de membros daquela denominação.

Outro aspecto que será melhor observado mais à frente, o caso da relação da PC (USA) com a IPI, é o rompimento de acordos ecumênicos que a PC (USA) mantinha com denominações irmãs fora dos Estados Unidos.

2.15 Considerações preliminares

O objetivo deste capítulo foi mostrar como a PC(USA) chegou à posição que tem hoje com relação à participação na vida integral da Igreja, de LGBTQ (lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e pessoas queers), ou seja, pessoas que não se consideram heterossexuais.

A questão não é simplesmente uma ação que repentinamente foi decidida, mas existem décadas de discussões, com idas e vindas, de progressos e retrocessos, dores, curas, tristezas e alegrias, mas um caminho que não poderia ter outro resultado. No entanto, não significa que não existiu e não existe oposição quanto às decisões tomadas, e esta oposição ao que foi decidido gerou reações (entre elas o rompimento do acordo de missão conjunta com a IPI), que

96 And the debate within the Presbyterian Church has already led some congregations to break away and join other,

more conservative Presbyterian denominations.

97 Dados mais completos podem ser encontrados em: https://pres-outlook.org/2018/06/2017-pcusa-membership-

resultaram em consequências traumáticas a todos os envolvidos, como será apresentado no capítulo seguinte, especialmente o caso da IPI.

Outras das chamadas Main Line Churches, ou seja, das Igrejas protestantes históricas nos Estados Unidos da América, tiveram a mesma discussão, com algumas chegando a resultados similares, outras a resultados opostos. Fato é que a discussão da inclusão de todos, de fato, na vida da Igreja, de maneira inclusiva, afirmativa e integral, não foi privilégio dos presbiterianos naquele país, nem mesmo das Igrejas, mas seguiu um desenvolvimento que levou essa mudança à sociedade daquele país como um todo, e a Igreja como sistema social simplesmente refletiu as mudanças que aconteciam e acontecem naquela sociedade.

Ao rever o curso dos acontecimentos que levaram à mudança das políticas adotadas na PC (USA), iremos observar no capítulo 3, e comparar, se o mesmo caminho foi ou não trilhado pela IPIB, como estes caminhos se diferiram e as razões dessa marcha de acontecimentos diversos (dos acontecidos na denominação estadunidense), buscando compreender se houve influência no rompimento do acordo entre as duas denominações.

CAPÍTULO 3

O SÉCULO XX E A NOVA IGREJA PRESBITERIANA NO BRASIL

Um dos fatos que mais nos intrigou ao iniciar a pesquisa diz respeito às duas Igrejas, com origens semelhantes, com documentos confessionais idênticos e com teologias semelhantes, chegarem a conclusões radicalmente diferentes, nas reações e atitudes tomadas com relação a assuntos ligados à homossexualidade.

Não faz sentido negar que a questão foi a força motriz deste trabalho e, como veremos neste capítulo, estas similaridades de fato ocorrem na caminhada destas duas denominações. Por outro lado, há um fator crucial que fez com que as atitudes com relação ao tema em questão resultassem em atitudes tão diferentes.

Após a separação da IPB (Igreja Presbiteriana Independente do Brasil), a partir de 1903, ano de sua fundação, a IPIB tomou um caminho diferente da sua mãe, rompendo os laços missionários com a obra missionária americana, daí o termo “Independente” no nome da denominação. A proposta era a de “tocar” a Igreja sem influência e orientação dos americanos (IPIB, s/d, on-line), o que também representaria sustentar a Igreja por si mesma, sem o aporte de capital estadunidense.

Mas é a distinção teológica que surgiria entre as duas denominações, além dos fatores já conhecidos, a saber, a questão maçônica e a influência dos missionários estrangeiros que, na verdade, explicam a separação ocorrida.

O objetivo deste capítulo é constatar os motivos por trás do caminho tomado pela Igreja Presbiteriana Independente do Brasil na questão, ou questões, ligadas à homoafetividade, e verificar como estes se distinguiram do caminho tomado pela PC (USA), o que as levaram à separação com o rompimento do acordo conjunto entre essas.

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