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2. Revisão de Literatura

2.6. Pagamento de Pessoal no Exército Brasileiro

2.6.3. Sistema de Pagamento de Pessoal (SIPPES)

2.6.3.1. A manutenção do SIPPES

A atenção à manutenção do sistema se reveste de importância. Pressman (1995) chama a atenção para um mito técnico quanto ao software que têm causado problemas de gerenciamento, o de que o trabalho se encerra “assim que escrevemos o programa e o colocamos em funcionamento”. A manutenção e operação são processos fundamentais do ciclo de vida do software e iniciam paralelamente após a conclusão do projeto de desenvolvimento do sistema com o propósito de manter funcional o produto no seu ambiente e prover suporte aos usuários, aspeto que deixou de receber a atenção devida relativamente ao SIAPPES.

A manutenção é ativada sempre que o software for submetido a modificações motivadas por um problema (manutenção corretiva), pela necessidade de melhoria (manutenção perfectiva) ou pela necessidade de adaptação (manutenção adaptativa), realizando-se todas as transferências de dados que se fizerem necessárias. O objetivo é modificar o software preservando a sua integridade, abrangendo as necessidades de correção que ocorram, considerando-se a incapacidade de teste de todas as possibilidades de execução de um sistema. Também são imprevisíveis as evoluções e adaptações que serão necessárias em decorrência das mudanças tecnológicas ou legais. Pretende-se com a contratação do serviço de manutenção de software que o SIPPES opere sem interrupções, mediante correção de erros no sistema, realização de adaptações, implementação de evoluções, atualização do repositório (armazenamento) de programas e documentação do sistema.

Pigosky (1996) defende que as melhorias ou aperfeiçoamentos apresentam o maior volume de trabalho e são decorrentes da evolução das necessidades do usuário. As manutenções de adaptação ocorrem para ajustar o sistema às mudanças softwares e equipamentos que acontecem no transcorrer do tempo. O Gráfico 1 apresenta os percentuais típicos de esforços em manutenção: 55% para manutenção perfectiva, 25% para adaptativa e 20% para corretiva.

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Gráfico 1: Esforços por tipo de manutenção de software

Fonte: Pigoski (1996)

Os estudos do referido autor concluem que os três primeiros anos de operação de um sistema apresentam um número maior de demandas de manutenção, conforme pode ser observado no Gráfico 2. Consta-se pelo gráfico que os sistemas já iniciam com considerável volume de solicitações de manutenção, que são as originadas por necessidades de mudança identificadas no desenvolvimento e represadas para serem atendidas depois da entrada em produção, o que já ocorre com o SIPPES.

Gráfico 2: Quantidades típicas de solicitações de manutenção em um sistema Fonte: Pigoski (1996)

Por intermédio da ferramenta de análise de código estático denominada Fortify, foram identificados no SIPPES cerca de 1000 itens sensíveis que demandam aperfeiçoamento na manutenção. Com sua entrada em produção no ano de 2015, fez-se imperiosa a contratação de mão de obra altamente especializada para atender os requisitos de manutenção exigidos aos sistemas deste porte. Por ter sido desenvolvido sobre plataforma de tecnologias atuais,29 comumente empregadas no mercado,

há certa facilidade em encontrar empresas e profissionais habilitados à sua operação e manutenção. A entrada em produção evidenciou a necessidade de melhoraria em alguns itens de segurança. Existe o risco de alterações no projeto haja vista o histórico de alterações negociais que o pagamento de

29 Dentre os requisitos técnicos destacam-se o uso das tecnologias Java e Oracle, dentre outras. O sistema foi construído sobre a seguinte

plataforma tecnológica: Struts na camada de apresentação, Spring Transaction Management na camada de aplicação, hibernate na camada de persistência, Banco de Dados Oracle 9i, Oracle 11g e arquivos XML. É composto por 3004 classes e mais de 605.506 linhas de código só em Java, tendo sido empregadas, também, linguagens como PL/SQL, Javascript, Ajax entre outras, o que atesta o seu tamanho, complexidade e elevado nível de parametrização.

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pessoal é submetido, como mudanças na legislação de pagamento de pessoal e, em casos mais extremos, até mesmo a mudança de moeda.

Para efeito de dimensionamento da equipe necessária para os serviços de manutenção, Pigoski (1996) sugere que se preveja um mantenedor para cada sete pessoas na equipe de desenvolvimento. No caso do SIPPES, chegou-se a 42 desenvolvedores na fase de construção, podendo-se deduzir que uma equipe mínima de seis mantenedores pode ser suficiente para executar os serviços de manutenção. A equipe será alocada por todo o tempo de vida do sistema – previsto inicialmente para vinte anos – assim, caso não se optasse pela contratação, seriam recursos humanos desviados de uma função institucional de defesa para a execução de tarefas de manutenção de software.

A AP brasileira possui documento legal que orienta o decisor nesses casos, como pode ser constatado no parágrafo 7º, Artigo 10 do Decreto-lei 200, de 25 de fevereiro de 1967:

“Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação, supervisão e controle, e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina administrativa, a administração procurará desobrigar-se da realização material de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução indireta, mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos de execução.”

Corroborando, a Instrução Normativa 02, de 30 de abril de 2008, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão também recomenda a terceirização no seu Artigo 7º nos seguintes termos:

“As atividades de conservação, limpeza, segurança, vigilância, transportes, informática, copeiragem, recepção, reprografia, telecomunicações e manutenção de prédios, equipamentos e instalações serão, de preferência, objeto de execução indireta.”

A fim de se evitar o crescimento da máquina administrativa, não constituiu interesse do EB desviar pessoal da sua atividade fim para exercer a referida manutenção, assim, concluiu-se pela contratação do serviço.

A métrica empregada para estimar o custo deste tipo de sistema é a conhecida como pontos por função. Uma contagem estimativa de pontos por função no SIPPES foi realizada pela Senhora Cláudia Hazan – especialista na métrica empregada e servidora do Serviço de Processamento de Dados do Governo Federal (SERPRO) – e resultou em 6.372 (seis mil trezentos e setenta e dois) pontos por função. Tomando-se por base o valor médio de R$ 802,33 (oitocentos e dois reias e trinta e três centavos) do ponto por função30 (PF) em tecnologia Java, chega-se a um valor de R$ 5.112.446,76 (cinco milhões

30Valor de referência obtido por intermédio de consulta às contratações anteriores celebradas no âmbito da Administração Pública Federal

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cento e doze mil quatrocentos e quarenta e seis reais e setenta e seis centavos), concluindo-se que seja este o custo inicial do sistema de pagamento.

Lichtenstein (2004) explica que o valor anual de um contrato de manutenção varia entre 5% e 20% do custo inicial do produto. Considerando-se a demanda inicialmente maior, seria possível estimar em cerca de 20% do custo do SIPPES para cada um dos anos, ou seja, cerca de R$ 1.022.489,35 (um milhão vinte e dois mil quatrocentos e oitenta e nove reias e trinta e cinco centavos). Porém, em se tratando de estimativa, torna-se mais prudente prever a pior hipótese para que seja possível suplantar quaisquer dificuldades que surjam ao longo da manutenção do sistema.

Devido à dificuldade em prever as demandas de manutenção, existe a necessidade de se majorar o referido valor, uma vez que, sendo os recursos insuficientes, poderá ser colocado em risco o funcionamento do sistema. O risco será menor se houver mais recursos para o projeto e, no caso do recurso não ser efetivamente empregado, deverá ser restituído aos cofres públicos.

Há que se considerar, ainda, a curva de aprendizado de uma empresa que venha a assumir a manutenção do SIPPES. Devido à sua complexidade, será necessário um determinado período – ainda inestimado – para que uma nova empresa assuma a manutenção e atenda aos requisitos exigidos, o que ressalta a importância de uma contratação o mais salutar entre as partes e o mais perene possível, assim, o risco de ser necessário lançar mão de nova contratação por escassez de recursos deve ser mitigado. Desta feita, a equipe que coordena a implantação do SIPPES estimou que R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reias) suplementares anuais sejam suficientes para as demandas eventuais de manutenção.

Diante do apresentado, o valor estimado para a contratação da referida manutenção foi de R$ 3.522.489,35 (três milhões quinhentos e vinte e dois mil e quatrocentos e oitenta e nove reais e trinta e cinco centavos) anuais, distribuídos conforme o Quadro 14 a seguir:

Quadro 14: Valores estimados para a contratação da manutenção do SIPPES

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Cabe alertar que o valor considerado para a contratação da referida manutenção tende a cair passados os três primeiros anos de implantação – lembrando as expectativas apresentadas por Lichtenstein (2004) representam entre 5% a 20% ao ano – o que pode variar desde R$ 255.622,34 (duzentos e cinquenta e cinco mil seiscentos e vinte e dois reais e trinta e quatro centavos) até R$ 1.022.489,35 (um milhão vinte e dois mil quatrocentos e oitenta e nove reias e trinta e cinco centavos), notadamente valores menores em relação ao previsto para os anos iniciais de funcionamento. Trata-se, portanto, de um custo não previsto em relação à operação do SIAPPES, o que justifica a colocação inicial deste fator desequilibrar a equação relativa à comparação entre os sistemas.