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2. Revisão de Literatura

2.5. O processo de transformação do Exército Brasileiro

“A pior situação que pode ser vivida por uma organização é a de entropia, gastando suas precárias energias apenas para sobreviver, sem produzir os resultados para os quais foi destinada”. (Exército Brasileiro 2010: 20)

O objetivo desta secção é apresentar o processo de transformação a que o Exército Brasileiro (EB) está sendo submetido. Para tal, faz-se necessário realizar uma breve ambientação elencando as peculiaridades julgadas importantes para sua caracterização. Serão apresentadas, também, as suas principais atribuições impostas pela Constituição brasileira – entre outros diplomas legais – que enumera uma série de responsabilidades e objetivos a serem alcançados.

O Exército Brasileiro (EB) caracteriza-se por ser uma instituição nacional, permanente e regular, organizada com base na hierarquia e disciplina, dispondo de leis e regulamentos próprios e submetida à autoridade suprema do Presidente da República. O EB conta com mais de 220 mil homens e mulheres em atividade para desempenhar as suas funções por todo o território nacional. Integrando a Administração Pública Federal Direta e vinculado ao Poder Executivo, está subordinado ao Ministério da Defesa (MD). Juntamente com a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira, constituem o instrumento militar responsável pela manutenção da soberania nacional, as Força Armadas Brasileiras (FFAA).

Sobre as suas atribuições, a Constituição da República Federativa do Brasil (1988, art. 142), prevê que as FFAA “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Defesa da Pátria é definida pela Estratégia Nacional de Defesa (Decreto n. 6.703, 2008) como o conjunto de ações e medidas com ênfase no campo militar,

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com o objetivo de proteger o território, garantir a soberania e os interesses nacionais, principalmente de ameaças externas, sendo elas tácitas ou explícitas.

Por sua vez, a expressão “garantia da lei e da ordem” (GLO) é definida pelo Glossário das Forças Armadas (Ministério da Defesa 2007) como o conjunto de ações e medidas levadas a efeito, de forma coordenada pelas Forças Armadas e órgãos de segurança pública, com o intuito de superar antagonismos e pressões que se manifestem ou produzam efeitos internos, atuando sobre seus agentes e seus efeitos. Tem por objetivo manter a lei e a ordem e garantir os poderes constitucionais, sendo este último objetivo caracterizado pela atuação das Forças Armadas em ações de natureza não guerra com o intuito de assegurar o funcionamento independente e harmônico dos Poderes da União.

Para cumprir os objetivos em causa, manter os elevados níveis de confiança que a população brasileira expressa em relação às suas FFAA e, primordialmente, projetar força compatível com as de Nações da envergadura que o Brasil almeja alcançar no cenário mundial, o governo brasileiro instituiu a Estratégia Nacional de Defesa (END 2008). Um marcante traço encontrado na END repousa na determinação de que as FFAA realizassem estudos internos e apresentassem propostas de reestruturação. O EB, por sua vez, materializou essa determinação na Estratégia Braço Forte (EBF).

Como apresentado na contextualização, durante os planejamentos da EBF identificou-se que o mais adequado à Força Terrestre seria submeter-se a um processo de transformação, uma vez que apenas a reestruturação dificilmente atenderia aos desafios que se interporão a um exército da envergadura que o Brasil precisa para consolidar seus objetivos estratégicos. Desta feita, faz-se necessário apresentar alguns aspectos relativos à EBF.

“A Estratégia Braço Forte, embora represente uma ferramenta com potencial de trazer enormes benefícios para o Exército, provocará efeitos restritos apenas às estruturas físicas da Força. Para provocar a transformação de que o Exército necessita, a implementação deverá ser acompanhada de alterações nas concepções política, estratégica, doutrinária, administrativa e tecnológica, hoje vigentes” (Exército Brasileiro 2010: 25). Seguindo esta linha de raciocínio, o planejamento inicial materializado na EBF evoluiu para o denominado Projeto de Força (PROFORÇA).

“As novas capacidades a serem adquiridas e as estratégias a serem adotadas proporcionarão o salto estratégico necessário e devem ser consolidadas em um Projeto de Força que estabeleça requisitos militares (capacidades) e proponha arranjos de Força (estrutura organizacional, articulação, equipamento, logística e preparo), considerando as limitações orçamentárias” (Exército Brasileiro n.d.: 25).

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O PROFORÇA se valerá dos vetores da transformação (VT). “Suas concepções compreenderão os estudos, os diagnósticos, as concepções, os planejamentos, os processos, as ferramentas, os recursos humanos, as capacitações e os meios necessários, levando-se em conta a estrutura e a cultura institucionais” (Exército Brasileiro n.d.: 30) para atender ao fim a que se destinam. Espera-se que por intermédio dos VT seja possibilitada a transposição das barreiras que se colocam à transformação em causa.

Desta feita, é possível verificar que os nove VT concebidos reúnem os estudos e os meios necessários à transformação e estão se apresentam da seguinte maneira: 1) Ciência & Tecnologia, 2) Doutrina, 3) Educação e Cultura, 4) Engenharia, 5) Gestão, 6) Recursos Humanos, 7) Logística, 8)Preparo e Emprego e 9) Orçamento e Finanças. Retomando-se a ideia de que por intermédio dos referidos VT seja possível superar os fatores críticos de sucesso ao processo de transformação, reitera- se que a presente pesquisa tem como objetivo colaborar com a consecução dos objetivos constantes do Vetor de N° 5 – Gestão.

A administração militar está sujeita aos preceitos e às leis que regem a administração pública brasileira, o que exige dos gestores militares profundo conhecimento nessa área a fim de que possam conduzir o andamento das atividades administrativas dentro da legalidade. Percebe-se, assim, o elevado nível de exigência que recai sobre tais gestores, uma vez que precisam conciliar as atividades tipicamente militares com as administrativas.

O desafio que se apresenta reside em possibilitar que a cobrança seja ajustada de maneira que haja o maior número possível de profissionais envolvidas em atividades tipicamente militares, desonerados de atividades burocráticas. O aperfeiçoamento dos métodos de gestão constitui importante ferramenta na consecução deste objetivo além de viabilizar a consolidação de todo o processo de transformação pretendido.

A racionalização administrativa figura com maior dentre os objetivos perseguidos por esse vetor. Tem por principais objetivos a diminuição das despesas de custeio7 – com vistas à obtenção de maior

capacidade de investimento – aliada à redução do número de militares empregados em atividades administrativas. Nesse sentido, o emprego de ferramentas de tecnologia da informação dotadas maior automação e segurança – nomeadamente o SIPPES – poderão favorecer a consecução destes objetivos. Desta feita, faz-se necessária a apresentação de como se processa o pagamento de pessoal do EB.

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