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Evolução do emprego de Tecnologia da Informação na Administração Pública

2. Revisão de Literatura

2.2 A Tecnologia da Informação na Administração Pública

2.2.1. Evolução do emprego de Tecnologia da Informação na Administração Pública

“Apesar da importância da informação para as organizações de hoje, e excetuando as situações em que a informação é um produto da organização, a informação apenas serve para suportar a atividade de gestão, constituindo assim um veículo para o sucesso da organização e não uma finalidade em si. Não se deve esquecer nem subverter esta realidade”. (Amaral 1994: 71)

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O autor admite a importância da informação para as organizações trazendo o alerta de que ela não é um fim em si mesma, muito provavelmente objetivando esclarecer o papel da informação como um instrumento de gestão da organização que precisa ser convenientemente administrado a fim de possibilitar o alcance do sucesso.

Merece destaque a presença constante que o computador atingiu na vida cotidiana não somente nas organizações, mas nos lares também, cuja aplicação envolvida no ato de informar ou na coleta, organização, armazenamento, processamento e transmissão da informação proporcionou o atendimento a inúmeras necessidades. A presença no cotidiano é tamanha que existem aqueles que comparam a “Revolução da Informação” com a Revolução Industrial, ao passo que a segunda modificou o modo de produção, distribuição e consumo de bens, a primeira tem transformado a forma como a informação é produzida, distribuída e consumida (Varian 2000; Menezes e Moura 2004).

Gartner et. al. (2009: 394) apresentam a aceleração no desenvolvimento da TI como uma resposta ao esgotamento do modelo de produção que vigorou até o final da Segunda Guerra Mundial.

“Os vários sinais de exaustão identificados na época, como desaceleração do crescimento da produtividade, rejeição dos trabalhadores ao autoritarismo patronal, rigidez das linhas de produção, incapacidade de reduzir os custos de produção, encarecimento das matérias-primas e das fontes energéticas, foram agravados quando o mercado passou a ser

regido pela demanda e não mais pela oferta”.(Gartner et. al. 2009: 394)

De fato, à cavaleira da corrida tecnológica encabeçada pelas organizações privadas, constata-se que algumas das primeiras aplicações de TI foram desenvolvidas especialmente para o uso de governos. Desde a década de 1950, a implementação de ferramentas de TI na AP é vista como uma oportunidade à promoção de melhorias na gestão. Durante as décadas seguintes, os governos passaram a acrescentar sistemas de informações a suas operações até o ponto de se tornarem fundamentais para execução de suas funções. A despeito disto, nos anos 1980 ainda se discutia se a TI no setor público deveria ser considerada como um campo legítimo de pesquisa (Laudon & Laudon 1974; Danziger et al. 1982).

Segundo Dias (2008), apesar da grande influência da TI, as organizações públicas demoraram mais que as privadas para a terem incorporado às suas estruturas e operações diárias. Pesquisas realizadas na década de 1970 descrevem o processo de inovação tecnológica como um processo político, com sua adoção dependendo de forças políticas e burocráticas. O controle sobre a tecnologia dentro dos governos era descrito como sendo fragmentado, sem que os interesses de um único grupo prevalecessem sobre os outros. A previsão de quais seriam os resultados finais do uso de tecnologias se demonstrava complicada já que era altamente maleável e com potencial para servir a interesses diversos.

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No início dos anos 1990, a difusão da internet teve um impacto significativo no uso de TI por organizações públicas. Surgido na década de 60 nos Estados Unidos da América (EUA), Laurindo (2008) explica que sua motivação era militar, contextualizado pela Guerra Fria. O conceito da internet tinha como ideia base construir uma rede que continuasse a funcionar mesmo que tivesse uma parte destruída por um ataque inimigo. Comercialmente, a internet passou a ser utilizada em 1993.

A internet funciona sob o princípio de quebra da informação em pacotes que podem seguir destino por diferentes caminhos e que serão remontados no destino. Laurindo (2008) complementa que a internet representou em evento marcante do final do século XX ao proporcionar uma brutal aceleração do acesso às informações, uma grande melhoria da comunicação e das possibilidades de colaboração, um significativo aumento do ritmo de divulgação de novos conhecimentos e das descobertas científicas. Com o surgimento da internet, as organizações públicas estavam começando a entender como utilizá-la e muitas vezes não usavam todo o potencial da tecnologia, ficando sem alavancar o potencial estratégico dos sistemas de informação. Desta feita, no final dos anos 1990, a pesquisa sobre o uso de TI no setor público estava em queda, apesar do fato do uso de computadores no governo estar aumentando rapidamente. O campo ainda era descrito como imaturo por ser tão recente, o que levaria a definições pouco claras quanto ao escopo e à essência, e devido à falta de desenvolvimento de uma abordagem multidisciplinar (Kraemer e Dedrick 1997; Grönlund e Horan 2005; Fountain 2001).

Pesquisadores na área de reforma do setor público frequentemente ignoram a influência da TI nos governos. Hood (1991) menciona a TI como uma das tendências que teria levado ao NPM, mas não descreve de que maneira os governos teriam incluído a TI em suas reformas. Pollitt e Bouckaert (2004) sequer incluem a TI como parte de seu modelo de reforma do setor público, apesar de terem escrito em uma época em que muitos países desenvolvidos tinham em seus programas de melhoria de governo investimentos em infraestruturas e serviços de TI.

A despeito destas considerações, o fato é que a Administração Pública continuou a avançar na utilização da TI com enfoque voltado para administrar a si mesma, nomeadamente aprimorando SI voltados para a gestão da AP, nos quais as fontes de informação constituem-se de documentos e subprodutos de atos administrativos.

Depois do longo período em que a TI esteve restrita à função de apoio à burocracia interna, sua utilização começou a se mover para o exterior, para a interação com cidadãos e empresas. A utilização da tecnologia para divulgar informações de interesse público e proporcionar a interação dos cidadãos com a AP por intermédio da interface eletrônica trouxe à tona, por volta do ano 2000, o que se tem chamado de Governo Eletrônico (e-Gov). Atualmente, aplicações de TI permeiam a AP na relação com

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cidadãos por intermédio de serviços eletrônicos, com setor privado com o exemplo de leilões eletrônicos e, até mesmo, entre instâncias de governo pelo uso de bancos de dados integrados.

Entretanto, mais recentemente, Heeks e Bailur (2007) indicaram que pesquisas sobre o agora denominado e-Gov foram criticadas por apresentarem um fraco positivismo, por serem dominadas por um trabalho excessivamente otimista e ateórico, e por não terem clareza e rigor quanto a métodos de pesquisa. O estudo do e-Gov deixa de ser aprofundado por se encontrar fora do cabedal de conhecimentos necessários ao transcurso do presente trabalho de investigação.

Diante do apresentado, foi possível acompanhar a evolução do emprego das TI na AP explicando de que forma a mesma foi ocupando o espaço nas organizações ao ponto de se tornar essencial. Dando continuidade ao estudo do impacto da TI na AP, faz-se necessário distinguir alguns termos que serão empregados frequentemente no decorrer da pesquisa, além de considerar os riscos mais frequentes às organizações trazidos com a implementação da TI.