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A necessidade de disciplina (5:2b-13)

1 Coríntios 5:1-13; 6:9-20 5 Fugi da Fornicação

2. A necessidade de disciplina (5:2b-13)

A disciplina pode ser resumida em uma simples sentença: Para que

fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou (v. 2b). E digno

de nota que Paulo nada tem a dizer acerca da mulher envolvida na questão, provavelmente porque não era cristã, estando, portanto, fora do alcance da disciplina cristã, ou porque, em tal situação, Paulo considera o homem mais culpado. Precisamos esclarecer aqui a natureza radical desta disciplina: o homem deve ser retirado ek mesou, isto é, do meio da comunidade de fé e adoração. Isso é excomunhão, proibição de participar da Ceia do Senhor e, portanto, exclusão completa da comunhão. Por que era necessária uma disciplina tão absoluta? Para o bem, tanto do indivíduo, quanto da comunidade cristã.

a) A disciplina é necessária para o bem do indivíduo (3-5)

Eu, na verdade, ainda que, ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja, 4em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor, sentregue a Satanás para a destruição da carne, afim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor (Jesus).

A necessidade da disciplina individual resume-se melhor na frase: a

fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus (v. 5). Esta é a

perspectiva correta em relação à nossa atitude para com todos os homens em qualquer lugar - a sua salvação. Se, aos olhos de Deus, está certo e é bom que uma determinada pessoa sofra nesta vida para que possa ser finalmente salva, assim seja.

A linguagem usada para descrever os detalhes do castigo para o ofensor é extremamente poderosa. Supõe-se que a finalidade e a autoridade absoluta da sentença pronunciada se devem ao grande

peso da autoridade apostólica, exercida mesmo à distância. Paulo já havia julgado, em nome do Senhor Jesus, o autor de tal infâmia (vs. 3-4). Por menos inclinados que estivessem a aceitar a autoridade de Paulo como apóstolo, os coríntios devem ter sentido a força dessa afirmação.

Sem mencionar todas as possíveis traduções do original, parece mais provável que Paulo esteja colocando todo o procedimento disciplinar em três contextos: a autoridade total de Jesus Cristo como Senhor (em nome do Senhor Jesus), a presença corporativa de toda a comunidade cristã em Corinto (apoiada pela sua própria presença em

espírito, v. 3) e o controle soberano do Senhor sobre tudo o que Satanás

tem permissão para fazer, mesmo a um cristão rebelde. Em outras palavras, aqui não se fala de disciplina eclesiástica arbitrária, exercida por alguns líderes, ou de uma decisão unilateral, tomada sem o conhecimento de Paulo (isto é, na qualidade de apóstolo autorizado pelo Senhor). Muito menos se trata do problema de o cristão, mesmo quando culpado do tipo de pecado grosseiro aqui descrito, perder a esperança na salvação eterna e distanciar-se do estado da graça. Pelo contrário, o pior dano que Satanás pode causar (a destruição da carne, v. 5) está totalmente sob a autoridade de Jesus Cristo. Realmente, a comunidade eclesiástica não tem o direito de entregar ninguém aos tentáculos de Satanás, exceto com o poder de Jesus, nosso Senhor (v. 4).

O fracasso da igreja atual ao exercer a disciplina correta na igreja geralmente brota de uma convicção distorcida, e talvez covarde, de que tais assuntos são atribuições da liderança, e não da congregação como um todo. Paulo dirige aqui suas palavras de repreensão severa

(não chegastes a lamentar) a toda a igreja, não à sua liderança.

Novamente, percebemos a ilusão dos coríntios quanto ao devido lugar da liderança na igreja (cf. capítulos 1—4). Hodge comenta: "É um direito inerente a toda sociedade, e necessário para a sua existência, julgar a qualidade de seus próprios membros. Aqui se reconhece claramente que esse direito pertence à igreja ... O poder foi outorgado à igreja em Corinto, não a alguma autoridade que presidia a igreja. O bispo ou pastor não foi reprovado pela negligência ou falta de disciplina, mas sim a igreja propriamente dita, em seu aspecto organizado."8 Então, onde o comportamento de um cristão individual afetar a vida corporativa de uma igreja local (quer pela proeminência desse indivíduo, quer pelo conhecimento geral de seu mau comportamento na congregação como um todo), ali a disciplina precisará ser exercida e explicada quando toda a igreja se reunir. Haverá, naturalmente, muito mais ocasiões em que esse procedimento público é desnecessário e impróprio, e alguma disciplina adequada

pode ser aplicada particularmente.

Diversos motivos impedem uma congregação de assumir a devida responsabilidade nesse setor. A absoluta falta de comunhão genuína entre os irmãos é o fator mais comum e mais destrutivo. Quando os cristãos não costumam partilhar de suas vidas de maneira real, parece incoerente (se não presunçoso) falar em termos de guardar um padrão adequado de conduta cristã. Outra barreira é o tamanho exagerado de muitas congregações e a falta de "integração" dentro delas: quando são poucas as pessoas que realmente se conhecem, não pode haver nenhum sentimento legítimo de responsabilidade mútua.

Um terceiro problema comum é a distância entre os líderes e os liderados. Como resultado, os primeiros são colocados sobre um pedestal e os últimos preferem que isso aconteça. Assim, quando um cristão, líder ou liderado, transgride a lei de Deus, cria-se um sentimento de surpresa quase hipócrita.

Entre outros cristãos há um obstáculo diferente: eles pensam que em vez de demonstrar qualquer atitude de condenação e julgamento diante do comportamento imoral, a igreja deve expressar compreensão das pressões inerentes à vida no mundo atual, não se apegando a quaisquer absolutos morais como os apresentados no Novo Testamento. Em certa igreja local, um homem casado (mais tarde divorciado) estava vivendo com uma mulher por mais de quatro anos, servindo, ao mesmo tempo, na liderança da igreja local de maneira muito pública e com plena aceitação do seu pastor. Tendo decidido se casar, ambos pediram permissão para que a união fosse abençoada no culto semanal de Santa Ceia, convidando amigos e familiares para participarem da celebração do casamento. O que uma tal atitude diz à comunidade incrédula sobre o significado de ser cristão?

As implicações desta passagem são muito encorajadoras, bem como admoestadoras. O pior que Satanás, o "adversário" de Deus e do homem, pode fazer está totalmente sob controle, sob a autoridade de Cristo através de sua igreja. Jesus disse explicitamente aos discípulos que "tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu".9 Se é drasticamente necessário que os cristãos - como este coríntio ou, presumivelmente, Ananias e Safira,10 ou Himeneu e Alexandre11 - sejam entregues a Satanás para algum tipo de castigo físico, final ou temporário, então o pior que venha a acontecer não coloca a pessoa fora do controle de Deus.

a seqüência do ministério do próprio Jesus. Os propósitos soberanos de Deus incluem o poder destrutivo de Satanás. A forma precisa de como Satanás efetua a destruição da carne (v. 5) não é explicada. No caso de Jó,12 ele foi entregue a Satanás para ser afligido "nos ossos e na carne". Paulo também fala de seu "espinho na came" como sendo "um mensageiro de Satanás".13 Mas nem Jó nem Paulo foram punidos por algum pecado conhecido. Eles estavam sendo purificados para que fossem muito mais úteis como servos de Deus.14

E difícil compreender a extrema vulnerabilidade espiritual que recai sobre uma pessoa, até então protegida e privilegiada dentro da comunidade do povo de Deus, quando ela é excluída de tal segurança. E o mesmo que ser largado, indefeso e desamparado, no território ocupado pelo inimigo. O choque profundo de tal experiência pode produzir algo semelhante a um ataque cardíaco, de modo que uma severa disciplina eclesiástica bem poderia ter essas conseqüências. Afinal, algo desse tipo parece ter sido operante no caso de Ananias e Safira.15

Convém destacar que esse membro excluído perderia toda a utilidade potencial de sua vida nesta terra e, portanto, toda a esperança de ser recompensado por sua mordomia fiel dos dons de Deus, quando chegasse à plenitude da vida eterna.16 Ele seria salvo, mas por um triz, pior que um cristão que desperdiçou todas as oportunidades concedidas por Deus.

Por outro lado, a não ser que ele seja excluído e entregue a Satanás para a destruição de seu corpo terreno, ficará sujeito a degenerar-se em um apóstata completo, que acabará esmagando o Filho de Deus, crucificando-o de novo e tornando-se um ser totalm ente irrestaurável.17 Com referência a isso, lembro-me de um pastor muitíssimo experiente (com mais de trinta anos de ministério), que dizia conhecer apenas duas pessoas às quais aplicaria o termo "apóstata"; e uma delas, ao que parece, retomou a Cristo depois da recente morte desse ministro. Em outras palavras, definitivamente, era para o seu próprio bem que precisava ser disciplinado de modo tão radical. Ele preferiu anular sua consciência, como Himeneu e Alexandre,18 e precisava ser conscientizado das conseqüências eternas de tal "infâmia".

b) A disciplina é necessária para o bem da comunidade dos cristãos (6-8) Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a

massa toda? 7Lançaifora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois de fato sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. gPor isso celebramos a festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia; e, sim, com os asmos da sinceridade e da verdade.

Paulo retoma à arrogância dos coríntios. Não é boa a vossa jactância (v. 6) é uma declaração atenuada, magistral. Ele, que estivera preocupado com a salvação e com a integridade do cristão, como indivídio em Corinto, preocupa-se agora com a integridade, a salvação da igreja. Parece muito provável que Paulo estivesse escrevendo estas palavras na época dos preparativos para a celebração anual da festa da Páscoa, pois os detalhes desta estão vivos em sua mente, à medida que vai apresentando a importância crucial de uma disciplina adequada na comunidade cristã.

Todos os anos, por ocasião da Páscoa, os judeus recordavam a maneira como Deus os havia libertado da escravidão do Egito.19 "Um dos aspectos da guarda da Páscoa era a solene busca e destruição de todo o fermento,20 antes de a festa começar (durante sete dias só se podia comer pão sem fermento). Fazia-se a remoção de todo o fermento antes que a vítima da Páscoa fosse oferecida no templo."21 A celebração da Páscoa era, por excelência, a celebração da comunidade de fiéis; de modo que Paulo está chamando a atenção para a devastadora contradição evidenciada pela tolerância dos coríntios em relação ao fermento na massa: o Cordeiro pascal (isto é, Jesus) já fora sacrificado; as celebrações da festa (que normalmente duravam uma semana para os judeus) já haviam começado e deveriam ser a característica permanente da comunidade remida. Mas ainda havia fermento na comunidade, e em grandes proporções. A própria natureza da comunidade cristã se baseava no sacrifício do novo Cordeiro pascal e por isso exigia pureza absoluta.22

Um pecador persistente, pego em flagrante, que continua sendo aceito sem disciplina dentro da comunidade cristã, mancha todo o corpo. Tal como os judeus celebravam a libertação da escravidão rejeitando o fermento, os cristãos devem celebrar continuamente a libertação do pecado sem nenhum compromisso com as mesmas coisas das quais foram libertados. Caso contrário, todo o culto e toda a vida da comunidade cristã se transformam em uma farsa, cheia de insinceridade e hipocrisia.23 Notemos que Paulo se refere a práticas pecaminosas deliberadamente repetidas dentro da comunidade.

Godet denomina tal atitude de "conivência ativa"24 e Hodge a descreve como fazer o mal "com deleite e persistência".25 Todos nós cometemos pecados, todos nós precisamos de purificação; mas todos nós temos a obrigaçãode ser implacáveis com qualquer coisa que traia a nossa vocação e contamine a nossa comunhão em Cristo. Paulo não está esperando santidade perfeita ou pureza absoluta; ele apela para que haja sinceridade e verdade (v. 8).

A primeira dessas duas palavras significa permitir que a luz do sol brilhe sobre nós, a fim de pôr à prova as nossas motivações, bem como o nosso comportamento. Isso implica em acabar com tudo o que é furtivo, falso ou fingido. Significa não nos fecharmos aos outros como pessoas. Significa liberdade. A ênfase desse termo, eilikrineia, não está na perfeição e na ausência de pecado, mas na franqueza e na honestidade, que nos levem a andar na luz da presença divina e a desejar que Deus, através de sua luz, ilumine as áreas em trevas,26 para que possamos nos aproximar mais uns dos outros como também dele.27

É nesta atmosfera de franqueza, sinceridade, veracidade e integridade que nossos pecados e falhas podem ser devidamente tratados no corpo de Cristo; não em um espírito de crítica, mas de maneira franca, corajosa e coerente. É essa transparência que distingue a comunidade cristã. Paulo é realista demais para pensar que alguma congregação local seja moralmente pura de ponta a ponta. Mas ele

procura esse tipo de integridade e sinceridade.

Um incentivo poderoso para que vivessem este tipo de vida corporativa é encontrado na frase sois de fato sem fermento (v. 7). Que Paulo qualificasse qualquer congregação por ele conhecida como sem

fermento constitui um fato notável; e que ele assim considerasse a igreja

de Corinto é espantoso; todavia o fato de ele se dirigir àquela igreja, em meio àquela obscenidade específica, dizendo que ela era de fato sem

fermento é tão impressionante que exige uma investigação mais

detalhada. Através de tal declaração o apóstolo resume claramente a sua convicção essencial sobre todos os cristãos: "Vocês são sem fermento, purificados do mal que lhes pertence por natureza; portanto

tornem-se o que são." Este, de fato, é o ponto central da teologia de

Paulo e a essência do seu incentivo para uma vida santa: "Vejam o que Deus em Cristo fez por vocês... Agora continuem se tomando aquilo que ele fez possível."

Eis a razão para a sua insistência na celebração: Por isso celebremos

a festa (v. 8). É possível que Paulo esteja pensando explicitamente na

por ocasião da Páscoa, estava muito preocupado com que a igreja em Corinto não ficasse privada da alegria total da sua celebração. Esta seria, então, a referência mais antiga da comemoração da Páscoa como um dia especial da igreja cristã. Provavelmente, Paulo está lembrando aos coríntios o seguinte, conforme vi num poster recentemente: "Somos o povo da Páscoa, e 'Aleluia!' é o nosso hino"; isto é, vivemos no outro lado da cruz e da ressurreição e, portanto, certos hábitos estão simplesmente fora de questão; se nos apegamos a eles, não podemos celebrar verdadeiramente, nem no culto público, nem no decorrer de nossa vida diária.

A celebração é um sinal característico da comunidade cristã; daí a tradução de Lightfoot: "Vamos celebrar perpetuamente".28 Uma das maneiras mais simples de celebrar a Páscoa com maior regularidade é usar os conhecidos hinos pascais durante o ano inteiro, participar explicitamente da Ceia do Senhor como uma reafirmação das promessas feitas por ocasião do batismo (morte e ressurreição com Cristo); e enfatizar constantemente o padrão de comportamento completamente novo que se espera e está à disposição daqueles que foram levantados para partilhar do poder da ressurreição de Jesus. Dessa forma estaremos fazendo jus à declaração de Godet: "A festa pascal do cristão não dura uma semana, mas toda a vida."29 Crisóstomo o expôs da seguinte maneira: "Para o verdadeiro cristão, é sempre Páscoa, sempre Pentecoste, sempre Natal."

O mundo anseia por ver uma igreja assim, uma igreja que leva o pecado a sério, que desfruta plenamente o perdão, e que, em seus momentos de reunião, mistura uma celebração cheia de alegria com um respeitoso senso da presença e da autoridade de Deus. "Quando vivemos em vitória sobre as forças que destroem os outros, então as pessoas começam a ver que há significado e propósito e motivação na salvação que professamos ter" (Stedman). Mas isso jamais acontecerá, se nos recusarmos a manter um contato dispendioso e compassivo com os homens e as mulheres do mundo. Daí a importante advertência de Paulo nos versículos 9-13, onde ele esclarece algumas das falsas deduções dos coríntios, em resposta a uma carta anterior escrita por ele mesmo (v. 9).

c) Algumas palavras de advertência (9-13)

Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; 10refiro-me com isto não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso teríeis de sair do mundo. nMas agora

vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, fo r

impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem ainda comais. nPois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? 13Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.

A facilidade com que os cristãos podiam optar pela falta de contato com os incrédulos fica sintetizada na correção contida nos versículos 9-11. Em uma carta anterior, Paulo advertira os coríntios de que não se misturassem com os homens imorais. A confusão provavelmente surgiu devido ao duplo sentido que a palavra synanamignysthai tem no grego. O significado principal seria proibir toda intimidade social, ou poderia significar todo contato social. Talvez com certa medida de deturpação deliberada, os coríntios consideravam apenas o segundo significado e o aplicavam em seus relacionamentos com todas as pessoas. Paulo tivera a intenção de condenar a manutenção deliberada de uma amizade íntima com os cristãos professos que persistiam em pecados escandalosos.

Certamente é possível que os membros mais legalistas da igreja de Corinto tenham decidido interpretar as instruções do apóstolo como carta branca para se isolarem do mundo. Afinal, Corinto era um cenário assustador para os cristãos, sobretudo para aqueles que haviam sido salvos recentemente de seus piores vícios. Em muitos cristãos é quase como se existisse um mecanismo subconsciente que os desliga quando se defrontam com um verdadeiro envolvimento com o mundo secular, que parece perigoso e atraente demais. Paulo na verdade alude a esta tendência no versículo 10: Refiro-me com isto

não propriamente (em grego, ou pantos) aos impuros deste mundo.

Através dos séculos, muitas vezes, os cristãos têm preferido rejeitar o chamado de Deus para se moldarem totalmente ao padrão de sua própria encarnação. O primeiro caminho é o disfarce pietista, de quem não pode enfrentar o mundo e se retira para dentro do seu próprio relacionamento pessoal com Deus, vendo as pessoas simplesmente como almas a serem salvas. Há a opção monástica que, desde o terceiro ou quarto século d.C., sempre se coloca a serviço dos outros, particularmente dos pobres e dos necessitados. Talvez a tendência mais sutil e comum seja a psicológica: os cristãos não podem enfrentar os problemas do mundo, por serem demasiadamente grandes e graves; portanto, é mais seguro não se preocupar com eles. A demonstração mais explícita desta atitude é a maneira como

preenchemos nossas agendas com reuniões de igreja, em vez de estarmos mais disponíveis para encontros genuínos com incrédulos, numa amizade franca.

Os cristãos coríntios não eram, portanto, pessoas fora do comum. O princípio de Paulo é claro e em nada ambíguo: "disciplina severa dentro; liberdade completa de associação lá fora".30 É importante observar que, apesar do desafio específico da porneia (fornicação) mencionado neste capítulo, Paulo recusa-se a permitir qualquer "classificação" de pecados na mente dos coríntios. Nos versículos 10 e 11 ele cataloga diversos pecados que insultam igualmente os padrões divinos, dentro e fora da igreja. Cada um deles deve ser encarado com a mesma seriedade quando ocorre persistentemente dentro da comunidade cristã. Deve-se notar cada um cuidadosamente, por causa de sua relevância em todo o tempo e porque é fácil tratar determinados pecados com menos escrúpulos do que outros.

Paulo fala sobre cinco áreas de comportamento — sexo, dinheiro, bens, bebida e língua - nas quais a transgressão constante dos padrões cristãos exige disciplina. É óbvio que a igreja cristã de hoje carrega