• Nenhum resultado encontrado

A centralidade de Jesus Cristo

1 Coríntios 1:10-17 2 Partidos em Corinto

2. A centralidade de Jesus Cristo

Todos os argumentos de Paulo contra a desunião estão centralizados em Jesus Cristo, e é preciso dizer sem concessões que, de um modo geral, as divisões e desuniões surgem, tanto em Corinto como hoje, porque os olhos dos cristãos estão fixados em algum outro ponto que não Jesus Cristo. Esses argumentos giram em tomo da integridade, da cruz e do Senhorio de Cristo.

a) A integridade de Cristo

Acaso Cristo está dividido? ou, literalmente, "Cristo foi repartido?" (v.

13). Paulo está perguntando aos coríntios, com todas as suas divisões: "Vocês acham que existem pedaços de Cristo e que eles podem ser

distribuídos entre os grupos? Se vocês têm Cristo, vocês o têm por inteiro. Jesus não pode ser dividido." Não podemos ter a metade de uma pessoa, como se disséssemos: "Por favor, entre, mas deixe suas pemas lá fora". A propósito, o conceito da integridade de Cristo lança luz sobre frases comuns do tipo: "Quero mais de Cristo". Isso não pode acontecer; pelo contrário, precisamos permitir que Cristo tenha mais de nós. Nós é que somos desintegrados, e Cristo está nos refazendo gradualmente, para que nos tornemos mais semelhantes a ele - integrados e inteiros. O mesmo argumento aplica-se quando alguém deseja ter mais do Espírito Santo. Se o Espírito é pessoal, uma Pessoa, há duas opções: ou ele vive dentro de nós ou simplesmente não vive; neste caso, também, o nosso desejo e a nossa oração devem ser no sentido de que o Espírito Santo tenha mais de nós.

b) A cruz de Cristo

O seg u n d o argum ento d e Paulo contra a desunião é ainda mais

vívido: Foi Paulo crucificado em favor de vós? (v. 13). Ele está desafiando os coríntios a abandonarem os cultos às personalidades, e a fixarem a atenção deles novamente em "Jesus Cristo crucificado". Esse tinha sido o ponto central da mensagem de Paulo, quando ele pregou em Corinto pela primeira vez (2:2). Era essa a mensagem que os havia atraído desde o começo. Eles deviam a sua nova vida a Jesus Cristo. Quem havia morrido pelos pecados deles, proporcionando-lhes perdão e purificação, era Jesus - e não Apoio, nem Pedro, nem Paulo. Eles conheciam, portanto, a realidade da redenção e da regeneração; portanto, tinham uma dívida para com Jesus Cristo, quaíquer que fosse o grupo que tivessem adotado.

Sempre que os cristãos prestam fidelidade a uma personalidade humana, como um pregador ou um pastor talentoso, desviam os seus olhos de Jesus Cristo e, inevitavelmente, ocorre a desunião. Jesus é o único que pode unir as pessoas, e ele o faz por meio de sua cruz, porque só podemos nos achegar a Deus através da cruz de Cristo, cujo terreno ao redor é nivelado: todos são iguais perante a cruz. Jamais podemos nos afastar da cruz. Quando o fazemos, afastamo-nos do lugar da reconciliação — com Deus e com os outros.15

Isso explica a importância da Ceia do Senhor como um marco dessa reconciliação. Ser continuamente lembrado da cruz é um dos resultados sadios da participação regular na Santa Comunhão. Quando enfrentam o fato da desunião na igreja cristã da atualidade,

parece estranho a muitos cristãos que esta celebração seja considerada por alguns como o último passo para a união, e não o primeiro. Alguns cristãos afirmam que não poder participar da Mesa do Senhor é o castigo que sofremos pela nossa desunião, e que só o podemos fazer quando estamos mais unidos. Argumentaríamos fortemente que a reconciliação e a união entre os cristãos é o fruto do sacrifício expiador de Cristo no Calvário, e que a celebração da Santa Comunhão é, portanto, onde começamos a demonstrar essa unidade que é um dom de Deus para nós, através da obra de reconciliação do seu Filho. Sugerir que temos de nos esforçar para que haja uma união visível

antes que venhamos a participar juntos da Ceia do Senhor parece ser

perigoso; seria como acrescentar nossas boas obras à graça de Deus demonstrada no Calvário. Todos nós nos aproximamos da Mesa do Senhor como pecadores remidos pelo seu sangue; reconhecemos ali a desunião causada por nosso pecado e nossa culpa; então, cheios de gratidão e de alegria, celebramos a nossa união no perdão e na purificação. Não há nenhuma outra verdade que seja mais eloqüente ou que produza uma união mais sólida entre os cristãos do que a cruz de Cristo.

c) O Senhorio de Cristo

Este argumento contra a desunião está incluído na terceira pergunta retórica do versículo 13: Fostes porventura, batizados em nome de Paulo? Ser batizado em (eis, literalmente: "para dentro do") nome de alguém significa conceder-lhe a posse sobre a própria vida, sujeitar-se à sua autoridade e estar à sua disposição. Paulo destaca este ponto, por si mesmo evidente: no batismo, os coríntios tinham se tornado propriedade de Jesus Cristo - e de ninguém mais. Ele sabia muito bem que alguém poderia considerar-se seu discípulo. É o que havia acontecido com as pessoas batizadas por João Batista. Paulo decidiu (como João)16 que ele deveria diminuir, e Jesus deveria crescer no afeto e na lealdade dos fiéis.

Tudo indica que, na verdade, Paulo estava tratando de uma situação em Corinto, onde estava se atribuindo ao batismo per si uma importância exagerada. Certamente ele fazia questão de diminuir a importância daquele que realiza a cerimônia: Dou .graças (a Deus)

porque a nenhum de vós batizei, exceto Crispo e Gaio (v, 14). A última coisa

que desejava era que alguém dissesse que foi batizado em nome de Paulo (v. 15). Desde o início do seu ministério, portanto, Paulo parece

ter deixado aos outros a tarefa de batizar. Ele estava muito consciente dos cultos às personalidades que crescem facilmente em tomo do batismo. Ainda hoje há cristãos desinformados que falam como se a identidade da pessoa que batiza fosse importante.

Se Paulo tivesse batizado todos os que se converteram através do seu ministério, poderia haver espaço para um mal-entendido muito grande. Parece que ele se esqueceu, mesmo, das pessoas que havia batizado em Corinto; ele precisou vasculhar a memória para se lembrar da casa de Estéfanas}7

Contudo, embora possamos dizer que Paulo desprezava o batismo em termos de seu próprio ministério (versículo 17: Porque não me

enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho), é importante

observar o significado do batismo como o terceiro ponto por ele salientado, ao rogar pela união entre os cristãos de Corinto. Ele reconhece o significado fundamental do batismo para cada crente. O apóstolo conduz cada cristão de volta a esse sacramento e destaca que a cerimônia não foi vazia, mas que indicava a d ed icação total a o Senhorio de Jesus Cristo. Agora, todos pertencem a ele, não a Apoio nem a Pedro ou a Paulo. Para Paulo, o que conta é o significado profundo do batismo, não a maneira como o sacramento é ministrado ou a pessoa que o realiza. Ele salienta a natureza especial da vida do batizado, e, pastoralmente, esta ênfase parece ser necessária nas discussões atuais acerca do batismo hoje.

Com base nestes três pontos - a integridade, a cruz e o Senhorio de Cristo - Paulo roga que os cristãos de Corinto expressem a unidade em Jesus Cristo, que foi outorgada por Deus. Tal como Paulo, nós também recebemos ordens de pregar o evangelho (v. 17), e devemos fazê-lo de maneira a não diminuir a cruz de Cristo. E muito fácil diminuí-la sobretudo quando somos enredados pela sabedoria do mundo. Isto nos remete ao primeiro tema principal de Paulo: a verdadeira sabedoria e a falsa.

Notas:

1. C. K. B arrett escreve seguindo essas linhas em sua introdução a 2 Coríntios (veja especialm ente págs. 41-42) e em seu com entário sobre 2 C oríntios 5:16 e 11:23.

2. N .B.: a palavra usada para "divisões" contém uma referência a conflito de personalidades.

3. Francis Sch aeffer escreve de m aneira acertada a respeito da questão da verdad e cristã e da necessidade de um contexto adequado de am or cristão, em O Sinal do C ristão (A B U B /A P L IC , 1970).

4. A declaração Cospel and Spirit, publicada em 1977, foi o fruto de quatro encontros de um dia, ao longo de dezoito meses. A declaração começa assim: "Estam os satisfeitos em fazê-lo (isto é, reunirm o-nos desta m aneira), e em reconhecer que o nosso fracasso em fazê-lo antes pode ter prolongado desentendim entos e polarizações desnecessárias." (Veja acima, pág. 22, n° 1). 5. A t 18:26.

6. A t 18:27.

7. A lexand ria era o centro de exegese e exposição do A ntigo Testam ento, e foi testem unha do surgim ento da Septuaginta, a versão grega do A ntigo Testam ento.

8. Cf. 2 Co 10:10 e l Co 2:3-4.

9. O prim eiro cristianismo de Alexandria do qual temos notícia caracterizava­ se pelas tendências gnósticas. How ard M arshall escreveu: "Não seria surpreendente se A poio tivesse recebido um conceito defeituoso da fé (em Alexandria)... Podemos supor que ele foi instruído (por Áqüila e Priscila) nas doutrinas distintivam ente paulinas" (Aios, Série Cultura Bíblica, M undo C ristão, V ida Nova, 1982, pág. 286).

10. Barrett, pág. 44. 11. G 12:7.

12. Por exem plo, o reavivam ento no leste africano (cham ado de m ovim ento "Balokole") tem agora um m ovim ento dentro do m ovim ento para os "re- reavivados", mas suas diferenças se encontram num comportamento especial. 13. Tem -se sugerido que a frase: "Eu pertenço a Cristo", teria sido a resposta

exasperada de Paulo às outras três posições.

14. A m bas as palavras indicam uma luta (para chegar à verdade e não um a unidade sem conteúdo). A palavra em pregada aqui no final do versículo 10

(unidos) é usada para se referir ao ato de recolocar um osso deslocado ou

rem endar redes (cf. Mc 1:19), isto é, trazer de volta à condição anterior. A m esm a palavra foi usada por Paulo em Ef 4:12 em relação ao im pacto do m inistério quádruplo/quíntuplo (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e m estres) sobre a igreja com o um todo, "equipando-a" para "o trabalho do m inistério". Isso poderia sugerir duas coisas: prim eira, que a unidade de mente e de opinião faz parte da unidade em Cristo que nos foi dada e que nós devem os manter (cf. E f 4:3); segunda, que precisam os do m inistério m encionado em Ef 4:11 para voltarmos a essa unidade. Esta última dedução confirma a verdade do comentário de Barrett: "Paulo não sugere neste ponto, nem m ais tarde, que a igreja possa ser rem endada pela política eclesiástica" (pág. 42).

15. Cf. Cl 1:19-22. 16. Cf. Jo 3:30.

17. Outros exemplos de tais batismos, incluindo toda uma casa, encontram-se em A t 16:15,32-33.