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Servos e mordomos (4:1-7)

1 Coríntios 3:1 4:

5. Servos e mordomos (4:1-7)

e despenseiros dos mistérios de Deus. 2Ora, além disso o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel. 3Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por tribunal humano; nem eu tão pouco julgo a mim mesmo. 4Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor. 5Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus.

Se os coríntios tinham uma opinião completamente distorcida sobre Paulo, Apoio e Pedro, qual seria a opinião correta? Assim, pois, importa

que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus (v. 1). Centrando-se em homens, os coríntios estavam

prestando fidelidade a homens, homens de Deus, é verdade, mas apenas homens. Essa era a maneira como o mundo se comportava e ensinava - e ainda é assim, sobretudo por causa do poderoso impacto da televisão. Sempre que a igreja segue os grandes nomes e gira em tomo de homens, está imitando o mundo. Não, diz Paulo, não se gloriem nos homens; vocês não são servos deles; eles é que são seus servos. A palavra grega usada no texto original para servos não é comum e designa literalmente um remador subordinado, alguém que simplesmente obedece às ordens de uma autoridade superior e assim executa o seu trabalho. Essa autoridade é a de Jesus Cristo.

A segunda palavra, despenseiros, é muito comum no Novo Testamento. O vocábulo grego oikonomos designa um mordomo ou superintendente (geralmente um escravo), encarregado de providenciar o alimento e todas as coisas necessárias a uma grande propriedade. Ele prestava contas, não aos seus colegas, mas ao seu senhor. Não tinha de tomar suas próprias iniciativas, e muito menos exercer sua própria autoridade pessoal. Simplesmente tinha de cumprir as ordens do seu senhor e cuidar do serviço. Da mesma forma, Paulo se considera responsável, não perante os coríntios ou qualquer tribunal humano (v. 3), mas somente perante o Senhor (v. 4). Vemos em Paulo uma consciência tenaz de que deve prestar contas de sua mordomia, e essa sensibilidade o toma ainda mais alerta para as necessidades dos irmãos coríntios. Ele não vai dominá-los, nem bajulá-los. Ele não vai agir de modo irresponsável com eles, nem privá-los do que Deus providenciou para eles. Como um bom mordomo, ele vai garantir que o alimento certo chegue na hora certa. O apóstolo nada tem a lhes oferecer exceto o que ele mesmo recebeu

do seu Senhor. A motivação suprema de Paulo como ministro de Deus entre os coríntios consistia nisto: "Um dia terei de prestar contas a Deus".8

Por considerar a si mesmo e aos outros como mordomos, Paulo exorta os coríntios a que não se desviem para algum tipo de julgamento: não nos condenem, e também não nos louvem. Deixem isso com o Senhor: ele fará o julgamento. Se o homem merece ser elogiado por seu bom trabalho, então o Senhor realmente há de elogiá- lo (v. 5). Nada julgueis antes do tempo; em outras palavras, antes que todas as evidências sejam descobertas, e isso vai acontecer apenas quando vier o Senhor, o qual não somente trará à piem luz as coisas ocultas

das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações (v. 5). Eis uma

revelação que o bom despenseiro ou mordomo não teme. Paulo está livre de qualquer sentimento de culpa acerca de como se desincumbiu de sua mordomia (v. 4), mas uma consciência limpa não é por si mesma uma quitação completa: apenas Deus, o justo juiz, pode dar tal pronunciamento. Assim, Paulo fica mais do que satisfeito em deixar o seu caso nas mãos de Deus.

O versículo 4 é especialmente interessante. A primeira parte pode ser interpretada da seguinte maneira: "Minha consciência não me acusa, mas não sou justificado nessa base." Vemos em Romanos 2:14­ 16 como Paulo entende o papel da consciência: "Quando, pois, os gentios que não têm lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando- se ou defendendo-se; no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho." O próprio Paulo disse a Félix, governador romano da Judéia: "Por isso também me esforço por ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens."9 Mesmo que essa consciência o acusasse, havia dois segredos para a purificação e o fortalecimento, resumidos nestas duas passagens: "Muito mais o sangue de Cristo... purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo!" e "Deus é maior do que o nosso coração, e conhece todas as coisas".10

Os filósofos gregos e romanos (Platão e Sêneca, por exemplo) consideravam a consciência como o juiz máximo do homem. Para Paulo, apenas Deus pode sê-lo. O fundamento essencial da consciência limpa de Paulo repousa no fato de que Deus "justifica ao ímpio"11 pela virtude da cruz de Cristo. Assim, quando Paulo diz no

versículo 4 que, mesmo não havendo nada em sua consciência, ele não é justificado por ela, está na verdade apontando para o único fundamento da justificação e para a única fonte de uma consciência limpa: Jesus Cristo crucificado. Não admira que ele tenha feito disso o cerne de sua pregação.

A última frase do versículo 5 é interessante, porque, no original, a ênfase recai sobre as primeiras e as últimas palavras: e então... da parte

de Deus, ou seja, nessa hora, e não antes, certamente não agora, quando

todo julgamento não passar de "pré-conceito", os elogios virão da parte

de Deus, e de ninguém mais, em Corinto ou em qualquer outro lugar.

Neste parágrafo encontramos uma porta aberta para a verdadeira liberdade dos obreiros cristãos. Paulo tinha um passado negro como um oponente ferrenho de Jesus Cristo, como ele mesmo admite mais tarde (15:8-9); mas tal é a sua experiência da graça de Deus em perdoá- lo, que pode dizer com toda a ousadia: Porque de nada me argúi a

consciência (v. 4). O restante de sua vida (depois da experiência na

estrada de Damasco) foi consagrado à tarefa de ser um servo de Cristo e um despenseiro dos mistérios12 de Deus. Ele sabe que o critério do Senhor, que finalmente esquadrinhará o seu ministério, não é o sucesso ou a popularidade, mas a fidelidade: O que se requer dos

despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel (v. 2).13

"Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apoio por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: Não idtrapasseis o que está escrito; afim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro. 7Pois quem é que te faz sobressair? e que tens tu que não tenhas recebido? e, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?

O pequeno parágrafo de 4:6-7 é um resumo dos ensinamentos, não apenas desta seção (4:1-5), mas dos capítulos 3 e 4. Estas coisas (v. 6) provavelmente se refere ao material contido nos dois capítulos até aqui. Paulo está afirmando que, apesar de sua análise da natureza da liderança cristã ser válida para qualquer ocasião, ali ela está sendo aplicada a ele mesmo e a Apoio para o benefício dos coríntios. Esses cristãos viam até os dons de Deus como objetos de vanglória. Mas, diz Paulo, eles não são diferentes de qualquer outra igreja. Que tens tu que

não tenhas recebido? e, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? (v. 7) Todo o verdadeiro ministério na igreja, qualquer

que alguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro (v. 6). O hiato na vida da igreja coríntia fôra causado pela ausência de amor: "O amor não se ensoberbece" (13:4). Pelo contrário, "o amor edifica" (8:1), enquanto "o 'saber' ensoberbece". Estava claro que esse "saber", essa falsa sabedoria dos coríntios levava-os a ultrapassar o que

está escrito (v. 6). Esta é uma frase difícil, que Barret interpreta como

um imperativo para que a "vida seja de acordo com os preceitos e exemplos bíblicos".14 Considera-se que a frase "não ultrapasseis o que está escrito" tenha sido a principal característica e a palavra de ordem do partido de Cristo, no sentido de que eles viam as Escrituras do Antigo Testamento como coisa do passado, que os cristãos "amadurecidos" deviam deixar para trás. Também poderia ser, alternativamente, uma fórmula judaica que o partido de Pedro trouxera a Corinto. Jamais saberemos todo o significado dessa expressão que é, evidentemente, uma alusão a um tópico de alguma importância naquela época. O ponto principal destes dois versículos

é a loucura da vanglória entre pessoas que devem tudo à graça de

Deus.