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Reis e mendigos (4:8-13)

1 Coríntios 3:1 4:

6. Reis e mendigos (4:8-13)

Já estaisfartos, já estais ricos: chegastes a reinar sem nós; sim, oxalá reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco.9Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tomamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. wNós somos loucos por causa de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós nobres, e nós desprezíveis.11 Até à presente hora sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, ne nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos;13quando caluniados, procuramos conciliação: até agora temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.

No centro da presunção dos coríntios reinava a convicção de que eles realmente constituíam uma igreja de muito sucesso, muito viva, madura e eficiente. Os cristãos estavam satisfeitos com a sua espiritualidade, com a liderança e com a qualidade geral de vida comunitária. Estavam acomodados na ilusão de que haviam alcançado o máximo que podiam. Pensavam que nada mais havia para ser alcançado. Por isso, a ironia de Paulo no duplo já do versículo

8: "já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar" — já! Com tais palavras Paulo indica sua convicção de que esta é uma parte válida da mensagem cristã, mas não é para ser plenamente experimentada nesta vida na terra; fomos enchidos, enriquecidos, elevados para reinar com Cristo (cf. 1:4-9); mas não gozaremos essa herança, plenamente, aqui e agora. Essa é uma teologia da glória, mas ela deve ser colocada no contexto da teologia da cruz, o que Paulo passa a fazer nos versículos 9 a 13.

Ele reconhece prontamente que gostaria de receber a total liberdade em Cristo, juntamente com os coríntios: Oxalá remásseis para que

também nós viéssemos a reinar convosco! (v. 8). Ele gostaria de se

encontrar longe de toda perseguição dos espancamentos, da depressão e da dura tarefa de ser reputado como louco por causa de

Cristo (v. 10). Talvez eles já tivessem chegado lá, mas Paulo não. Eles

se achavam fortes, mas Paulo estava por demais consciente de sua fraqueza. Eles se gloriavam da sua reputação e respeitabilidade dentro de uma sociedade mundana, mas Paulo era escarnecido e zombado pelo mundo. Num trecho de 2 Coríntios, onde recorda suas poderosas declarações sobre a sua fraqueza e vulnerabilidade,15 Paulo pinta as marcas autênticas do ministério do próprio Cristo. "O servo não é maior do que seu senhor"16 e, por amor a Cristo, ele se tomou a escória do mundo (v. 13). Paulo vê os apóstolos como pessoas que receberam um chamado especial para passar por esse sofrimento. Ele imagina o desfile triunfal de um general romano em seu retorno a Roma. Os prisioneiros e os despojos são exibidos como um espetáculo para o deleite do público, culminando com a exibição do general ou rei capturado, e já condenado à morte. Os apóstolos encontram-se em tal posição.

Para as pessoas que, como os coríntios, estão preocupadas com o seu próprio status, reputação e popularidade, é imensamente difícil aceitar o ministério cristão autêntico — quanto mais abraçá-lo! O fato de a força de Deus se aperfeiçoar em nossa fraqueza é uma lição muito difícil de assimilar. Ser um espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a

homens (v. 9) vai contra a natureza porque significa ser constrangido

a viver sob a avaliação minuciosa, crítica e, muitas vezes desdenhosa, de todo o mundo. Nossa inclinação natural é levantar uma cortina ao redor da nossa vida particular e da nossa personalidade real, e só permitir que os escolhidos entrem e nos vejam como somos de fato.

Não constitui um fenômeno sociológico ou circunstancial o fato de a igreja cristã estar crescendo de modo mais notável entre os pobres nos países do Terceiro Mundo: esse crescimento reflete exatamente a

maneira como esses cristãos estão muito mais próximos do padrão de vida e do ministério descritos no Novo Testamento. "Deus escolheu as

coisas loucas ... fracas ... humildes ... desprezadas" (1:27-28). É esta

sabedoria divina que tanto intriga não somente os homens, mas também os anjos (quando têm a oportunidade de vê-la em ação). Os anjos sempre ficaram fascinados com a mensagem do evangelho,17 e a igreja foi comissionada a tornar "os principados e as potestades" conscientes da sabedoria de Deus na cruz de Cristo.18

Três princípios sobre o ministério cristão devem ser destacados nesta metáfora de reis e mendigos. Primeiro, se estamos entre aqueles que são abençoados na vida e 110 trabalho cristãos, é axiomático que outros estejam sendo esbofeteados. Segundo, se estam os experimentando as bofetadas e pagando o autêntico preço do ministério cristão, então podemos ter certeza de que isso abre a porta para que haja bênçãos nas vidas daqueles a quem tocamos (consciente ou inconscientemente, direta ou indiretamente).ll) Terceiro, todos os cristãos são, ao mesmo tempo, tanto reis corno mendigos. Em outras palavras, a autêntica experiência cristã é ser rico em Cristo e, também, desprezado pelo mundo. Jamais alcançaremos a perfeita bem- aventurança aqui: não teremos saúde perfeita, não teremos uma orientação instantânea, não estaremos em contato constante e maravilhoso com o Senhor. Ainda somos humanos; ainda estamos no mundo; ainda somos mortais; ainda estamos expostos ao pecado, ao mundo, à carne e ao diabo; ainda temos de lutar, vigiar e orar; ainda vamos cair e falhar. Existe vitória; existe poder; existe cura; existe orientação; existe salvação — mas ainda não alcançamos a perfeição. Vivemos em dois mundos e, portanto, deve haver uma tensão. Paulo descreve a verdadeira condição humana nestes termos: "Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele."20