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VIVENCIANDO O COTIDIANO E “APRENDENDO COM QUEM FAZ”: ITINERÁRIOS TRANSFORMADORES

o PET-Saúde e as mudanças na práxis

VIVENCIANDO O COTIDIANO E “APRENDENDO COM QUEM FAZ”: ITINERÁRIOS TRANSFORMADORES

O Pro/PET-Saúde foi desenvolvido de 2012 a 2014 em âmbito nacional, como uma estratégia inovadora para unir em um único edital a proposta do Pró-Saúde com a do PET-Saúde. O projeto propunha estimular mudanças no modelo de formação dos graduandos da área de saúde e promover processos de educação permanente dos profissionais de saúde os quais atuam na rede de serviços SUS. A grande novi- dade desse referido edital foi a disponibilidade de recursos para as Instituições de Ensino Superior (IES) e Secretarias de Saúde, com o objetivo de facilitar a organi- zação das ações dos grupos tutoriais e qualificar os serviços da rede SUS.

A experiência do Pro/PET-Saúde no município de Vitória da Conquista possibilitou inovações em relação a sua organização nas IES por incluir os cur- sos de graduação em Psicologia e Ciências Biológicas do IMS/UFBA, os quais não haviam sido contemplados em propostas anteriores. Desse modo, abran- geu os cursos de graduação em Farmácia, Nutrição, Enfermagem, Psicologia e Ciências Biológicas do IMS/UFBA, além do curso de Medicina da UESB.

Em relação aos serviços de saúde da rede SUS, manteve-se a atuação nas Unidades de Saúde da Família (USF), mas ampliou-se os cenários de práticas para além da APS. Incluiu um Centro de Atenção Psicossocial (Caps II); a Fun- dação de Saúde de Vitória da Conquista (Hospital Municipal de referência Ma- terno Infantil); gestão municipal em saúde/vigilância epidemiológica e vigilân- cia sanitária. Assim, essa proposta inovadora buscou ampliar a compreensão do cuidado em rede, estimular a produção de saúde e o cuidado humanizado na formação de profissionais da área da saúde e (re)significar os processos de tra- balho dos profissionais que já atuavam na rede SUS local.

O programa constituiu-se, também, em um instrumento importante para instigar, a partir das experiências bem sucedidas de novas práticas pedagógicas, as mudanças curriculares já iniciadas no IMS/UFBA. A proposta foi estrutura- da em cinco grupos tutoriais com atividades desenvolvidas para a implantação

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da Rede Cegonha: 1) ações direcionadas à Saúde da População Negra com ênfa- se nos adolescentes da zona rural; 2) práticas integrativas em saúde (fitoterapia na APS e no Caps); 3) acolhimento no SUS; 4) acompanhamento e avaliação de doenças crônicas não transmissíveis; 5) prevenção e controle da dengue e ges- tão de indicadores em saúde.

Cada grupo tutorial foi composto por um tutor, quatro preceptores e 14 alu- nos, dos quais 12 eram bolsistas e dois, voluntários. As atividades dos grupos tutoriais foram organizadas em atividades de vivência na rede assistencial e de pesquisa, tendo como foco as demandas da rede. Os discentes tiveram a opor- tunidade de, durante o seu processo de formação, experimentar a realidade dos serviços de saúde e da gestão em saúde, o que tem permitido a formação de ato- res com potencial para atuar como corresponsáveis na consolidação do SUS. Outro aspecto positivo foi o desenvolvimento de pesquisas e produção de novos saberes a partir da APS e nas demais áreas estratégicas, contemplando uma aná- lise prévia das necessidades em saúde regionais.

As atividades de vivência nos cenários de prática foram conduzidas consi- derando a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade, em que o discente era acompanhado por todos os profissionais da equipe de saúde da unidade, inde- pendente do curso de graduação a que estava vinculado. Ao acompanhar o pro- cesso de trabalho e desenvolver atividades com profissionais de áreas distintas da sua área de formação profissional, os discentes puderam vivenciar as ações nos serviços de saúde, através de um “olhar integral”.

As principais atividades de vivência nas USF desenvolvidas pelos grupos tu- toriais, compreenderam atividades educativas em salas de espera, grupos edu- cativos com usuários, atividades intersetoriais em escolas e outras instituições governamentais, campanhas de vacinação, visitas domiciliares, interconsultas com os profissionais das USF e Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), feiras de saúde, elaboração de projetos terapêuticos para os usuários e para a comunidade, avaliação e orientação nutricional, aferição de parâmetros clíni- cos como pressão arterial e laboratoriais (glicemia capilar), organização dos serviços farmacêuticos nas USFs, orientação quanto ao uso correto e racional de medicamentos, confecção de materiais informativos e educação em saúde, participação em reuniões de planejamento mensal das equipes de saúde e dos conselhos locais de saúde.

Essas atividades foram programadas em reuniões mensais de cada grupo tutorial, considerando as demandas e necessidades locais e buscando garantir a

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integração ensino-serviço-comunidade, e a transformação da USF e demais ce- nários de prática, em espaços sociais participativos, e o cuidado em saúde mais efetivo aos usuários do SUS. Esse processo demonstra que a realização do tra- balho em parcerias intrassetoriais e extra-setoriais, subsidiada por estudos, re- flexões e diálogo, tem sido espaços propícios para a aprendizagem coletiva.

As práticas extensionistas são traduzidas pelo enfoque humano que se bus- ca dar à formação do profissional de saúde, visto que seus pressupostos vão além da teorização intelectual e acadêmica. Desse modo, a inserção de alunos (monitores estudantis), preceptores (profissionais de saúde dos serviços com função de supervisão) e tutores (função de supervisão docente assistencial e orientador de referência para os profissionais e estudantes da área da saúde) na Atenção Básica e em outros níveis do sistema tem permitido aos graduandos a compreensão da lógica da universalização, descentralização, hierarquização, integralidade, continuidade dos cuidados e responsabilização. (FREIRE, 2008; BRASIL, 2007)

Além das atividades de extensão desenvolvidas nos cenários de práticas, alguns “encontros teóricos mensais” envolveram todos os grupos tutoriais, a coordenação local do programa Pro/PET-Saúde, a gestão em saúde do muni- cípio, a comunidade local e comunidade acadêmica. Esses encontros tiveram o propósito de discutir a organização do sistema de saúde municipal, os indi- cadores de saúde municipal, os resultados de “salas de situação” (indicadores locais de saúde), dados epidemiológicos, assim como as temáticas e resultados preliminares das pesquisas desenvolvidas pelos grupos tutoriais. Esses momen- tos teóricos visaram fortalecer o conhecimento científico e técnico, facilitan- do o (re)conhecimento de necessidades e determinantes sociais em saúde, e permitindo um reforço a reflexão permanente acerca da indissociabilidade do ensino-pesquisa-extensão.

Orientados pela necessidade de transpor práticas setorializadas e fragmen- tadas e facilitar os processos de sociabilização, comunicação e construção do conhecimento, foram articuladas com outros órgãos institucionais, tais como escolas nos territórios, Caps e Centro de Referência de Assistência Social (Cras), algumas atividades com abordagem lúdica. Essas atividades permitiram a percepção dos discentes, do “prazer pelo aprender”, ao buscar e transformar o “conhecimento” de uma maneira prazerosa, traduzindo-o e concretizando-o em uma ação, possibilitando o processo de ensino-aprendizagem do próprio grupo frente ao percurso e resultados da própria ação educativa.

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PESQUISANDO O COTIDIANO E CONSTRUINDO