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nília maria de brito lima prado , poliana cardoso martins

o PET-Saúde e as mudanças na práxis

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formam-se profissionais de Saúde passivos, com uma atuação predominante- mente centrada nas práticas hospitalares, individualistas e com enfoque na es- pecialização e subespecialização, e com atitudes que favorecem a “mercantiliza- ção da saúde” e incentiva a medicalização excessiva. (LAMPERT, 2002)

Tendo em vista os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), faz-se necessário estabelecer uma nova lógica. Nesse sentido, a integralidade deve ser um dos pilares que alicerça a formação em saúde, oportunizando a vi- vência da prática acadêmica e favorecendo a reflexão sobre a realidade, ou seja, instigando mudanças no cotidiano das práticas de saúde.

O atual processo de reorganização do sistema de serviços de saúde no Brasil favorece a discussão e implementação de estratégias com o objetivo de preparar os futuros profissionais de saúde para atender a uma nova práxis sanitária. Pro- picia, portanto, uma formação de sujeitos capazes de ver e entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de relações e em sua complexidade. Uma formação em saúde que perceba o valor da interdisciplinaridade e a necessida- de de situar a importância da educação nos desafios, dúvidas e interrogações da atualidade. (ALMEIDA FILHO, 2011)

A partir de 1988, com a intensificação do movimento de Reforma Sanitária e a implantação do SUS, a discussão sobre direcionamento da prática dos pro- fissionais de saúde para a atuação no SUS evidenciou a necessidade de inclusão de estratégias pedagógicas que valorizassem o vínculo entre a universidade e o serviço de saúde.

A busca pela formação de um profissional com perfil generalista, crítico e reflexivo, capacitado para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, incenti- vou o Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), a perceber a relevância de um novo olhar para a formação em saúde. Nesse sen- tido, no ano de 2000, foram publicadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), como uma proposição a ruptura com o modelo tradicional e garantia de recursos humanos qualificados para o trabalho em saúde (BRASIL, 2001), fazendo com que, tanto as instituições formadoras, quanto os órgãos governa- mentais, assumissem o desafio de implementar diretrizes as quais orientem a formação profissional para atenção às necessidades sociais da população brasi- leira, com ênfase no SUS.

Nessa perspectiva, o espaço de formação profissional, deveria se transfor- mar em um locus privilegiado para a reflexão sobre as práticas de saúde. Uma das principais iniciativas governamentais para a qualificação de recursos humanos

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para a Saúde na Atenção Primária à Saúde (APS) e outros níveis de atenção, foi o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), regulamen- tado pela Portaria Interministerial nº 421, de 3 de março de 2010. Essa propos- ta foi estabelecida por meio da parceria do Ministério da Saúde, por intermédio das Secretarias de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), da Secretaria de Atenção à Saúde e do Ministério da Educação, por meio da Secre- taria de Educação Superior (SESu), e propõe a efetivação do eixo “cenários de prática”, no sentido de tornar o SUS um importante componente de uma rede de ensino aprendizagem na prática do trabalho em saúde. (BRASIL, 2010)

A partir de 2012, o programa foi estendido a outros níveis de atenção à saú- de, segundo proposto à organização de ações em redes de atenção, reforçando uma abordagem integral e ampliada do conceito de saúde. O PET-Saúde apre- sentou como pressupostos a consolidação da integração ensino-serviço-comu- nidade e a educação pelo trabalho, a qualificação em serviço dos profissionais da saúde e a inserção precoce dos estudantes de graduação ao trabalho e vivência no sistema de saúde, tendo em perspectiva a qualificação da atenção e a inserção das necessidades dos serviços como fonte de produção de conhecimento.

Os atores sociais incluídos no programa eram organizados em grupos de aprendizagem tutorial, formado por tutores (docentes), preceptores (profissio- nais de saúde dos serviços) e estudantes, tendo as práticas permeadas pela inter- disciplinaridade e a integração ensino/serviço, incluindo o desenvolvimento de pesquisas conformadas pela necessidade loco regional.

No Brasil, um processo ainda lento vem ocorrendo no que diz respeito aos aspectos culturais, sociais, econômicos e políticos que exigem do profissional de saúde uma nova postura crítica: sujeitos com potencial para transformar o processo de cuidado em saúde. Nesse novo contexto, as matrizes curriculares tradicionais precisam ser redesenhadas, possibilitando que os cenários e as es- tratégias de ensino-aprendizagem possam ser repensados e reestruturados, e o processo de aprendizagem consiga alcançar uma total ressignificação. (FEU- ERWERKWER, 2002)

Contudo, muitas instituições de ensino superior em Saúde ainda persistem com a estrutura rígida de formatos curriculares tradicionais. Esse modelo de formação é incapaz de atender as demandas atuais como ampliação do acesso com qualidade à atenção à saúde e do grau de satisfação dos usuários do SUS. Para que seja possível uma transformação, é imprescindível a qualificação dos profissionais e trabalhadores da saúde.

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Este capítulo relata a experiência institucional do programa Pro/PET-Saúde no município de Vitória da Conquista, desenvolvido em parceria entre o Insti- tuto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS/UFBA) Campus Anísio Teixeira, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e a Secretaria Municipal de Saúde de Vitória da Conquista (PMVC).

VIVENCIANDO O COTIDIANO E “APRENDENDO COM QUEM FAZ”: