• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 – O PROGRAMA CAPES-COFECUB: DO ESTABELECIMENTO AOS

4.5 A fase atual

4.5.1 A operacionalização da seleção dos projetos pela Capes

Como já mencionado, a partir dos anos 2000, o programa entra em um período de bastante previsibilidade e estabilidade. A informatização dos sistemas e maior autonomia concedida aos coordenadores são marcas dessa fase em que o programa, após mais de 20 anos, encontra-se bastante consolidado. As melhorias são também resultado da evolução da própria pós-graduação brasileira e das parcerias com os grupos franceses. As chamadas do programa tendem a manter os mesmos requisitos para candidatura e prazos similares.

4.5.1.1 Disposições gerais do edital brasileiro

Uma característica presente nos últimos editais é a indicação do número de projetos a serem aprovados. Esse número apresenta variações, principalmente em função da disponibilidade orçamentária das duas agências, todavia, gira em torno de 30 projetos anuais.

A formação de recursos humanos, presente desde o estabelecimento da parceria, permanece inalterada, constando do certame do processo que os projetos submetidos devem conter previsão de formação de recursos humanos nas modalidades: doutorado sanduíche e estágio pós-doutoral. Ademais, é necessária também a previsão de missões de trabalho tanto no sentido Brasil-França quanto no sentido França-Brasil (CAPES, 2006, 2007, 2008, 2014).

Para candidatar-se ao financiamento, o pesquisador deve ter vínculo com uma Instituição de Ensino Superior, tendo obtido o título de doutor há pelo menos cinco anos. É preciso ainda o apoio institucional para a submissão e confirmação de vínculo com programa de pós-graduação. Além do coordenador, a equipe deve ser composta por no mínimo mais três doutores. Coordenadores com projetos em andamento são impedidos de pleitear um novo financiamento. Pesquisadores aposentados ou com vínculo temporário com a instituição também não podem figurar como coordenadores.

4.5.1.2 O processo seletivo

Anualmente,32 são lançados editais do programa tanto pela CAPES quanto pelo Cofecub. O lançamento ocorre simultaneamente33 no Brasil e na França, no site dos parceiros,

tendo ampla divulgação nacional. No caso brasileiro, é necessária também a publicização do edital por meio do Diário Oficial da União. As assessorias internacionais das universidades e demais instituições ligadas ao ensino e pesquisa também atuam no processo de dar publicidade ao certame.

4.5.1.2.1 Etapas na Capes

Dos dois lados, os candidatos devem realizar a inscrição no programa. No caso brasileiro, as propostas devem ser encaminhadas em português à Capes. Já no lado francês, as submissões são recebidas pelo Egide. No momento da inscrição, além do projeto detalhado34 e da carta de apresentação da pró-reitoria apontando o interesse institucional no projeto, deve ser também anexada a justificativa da pertinência da pesquisa em colaboração com a equipe francesa.

Após o encerramento do período de inscrições, as propostas submetidas à Capes participam do processo seletivo em quatro etapas, a saber: análise técnica ou documental, análise de mérito, priorização das candidaturas e decisão conjunta. Finalizado o período de submissão das propostas, inicia-se, na Diretoria de Relações Internacionais da agência, a análise técnica. A primeira fase do processo de julgamento das propostas consiste na verificação do cumprimento dos requisitos dispostos no certame. A equipe de apoio da instituição examina os dossiês apresentados para sua validação. Submissões que não preencham as exigências do edital, estejam incompletas, sejam recebidas apenas na Capes ou fora do prazo são desconsideradas. As propostas aptas seguem para análise de mérito.

Na segunda etapa do certame é verificado o mérito dos projetos. Essa análise é realizada por consultores ad hoc,35 que levam em consideração a capacidade das equipes proponentes para execução da pesquisa, a experiência dos proponentes, a relevância da

33 Em situações atípicas, os editais podem ser lançados em momentos distintos pelos parceiros. Essa

excepcionalidade, contudo, acaba prejudicando a postulação para determinado edital, haja vista que o projeto é redigido conjuntamente e a avaliação final é conjunta.

34 Podendo apresentar algumas variações, os projetos devem, em regra, conter: objetivos, fundamentação teórica;

metodologia; atividades propostas e cronograma das missões, metas para formação de recursos humanos, infraestrutura disponível por ambas as equipes; currículo resumido da equipe; comprometimento das equipes proponentes para desenvolver a cooperação proposta; e possíveis desdobramentos da pesquisa após o encerramento do projeto (CAPES 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011).

35 A avaliação de mérito das candidaturas é realizada por consultores ad hoc. A Capes dispõe de um banco de

pesquisadores que emitem pareceres on-line em formulário padrão. O envio das propostas para os consultores é realizado pela equipe técnica da agência, considerando as especificidades da candidatura e a área de atuação do parecerista. São necessário, ao menos três pareceres para cada submissão. Não há qualquer tipo de remuneração para a emissão de pareceres on-line.

investigação proposta, não somente para o grupo e as IES, mas também em âmbito regional e nacional, os resultados esperados e a possiblidade de continuidade da parceria. Dentro de cada área específica, as análises são comparativas.

Após a análise pelos pareceristas, passa-se à etapa de priorização das propostas pelo Grupo Assessor Especial (GAE)36 da Diretoria de Relações Internacionais da Capes. As priorizações são realizadas levando em consideração as recomendações dos consultores ad hoc. Ademais, projetos em rede principalmente aqueles que apresentem diversidade regional e potencial para o estabelecimento de grupos de excelência recebem maior priorização.

A quarta etapa constitui-se na decisão conjunta acerca dos projetos a serem financiados. Em reunião binacional, os parceiros realizam a seleção final dos projetos com base nos pareceres e priorizações apresentados separadamente nas análises de cada país. Além do mérito dos projetos e do interesse das agências financiadoras, a aprovação final leva em conta as disponibilidades orçamentárias dos parceiros.37

Essas etapas são cumpridas ao longo do ano, conforme o fluxograma a seguir:

36 O Grupo Assessor Especial da Diretoria de Relações Internacionais da Capes foi estabelecido pela Portaria nº

66, de 3 de agosto de 2004, para apoiar a agência no desenvolvimento e aprimoramento de programas internacionais e na análise do mérito científico dos projetos apresentados nos programas de cooperação internacional por meio da priorização das candidaturas. Os membros designados pelo presidente têm mandato de dois anos, prorrogável de acordo com as necessidades do órgão.

Figura 1: Fluxograma de seleção

Fonte: AVEIRO et al., 2015c, p. 8.243

O resultado final é publicado no site da Capes, no Diário Oficial da União e o coordenador do projeto é comunicado por meio de correspondência física. Também é publicado no DOU o extrato do Termo de Concessão de Auxílio Financeiro com o período de vigência do apoio.

4.5.1.3 Calendário

O calendário do programa, embora também sofra ajustes anuais, mantém como baliza o início das atividades em janeiro do ano seguinte ao da seleção. Nesse sentido, os prazos de lançamento do edital, encerramento de inscrições e análise não apresentam grandes diferenças de um ano para o outro, o que gera certa previsibilidade para os candidatos, possibilidade de melhor planejamento e preparo das propostas e motivação para submissão.

As inscrições são, normalmente, abertas no primeiro semestre de cada ano, encerrando-se ainda nesse semestre, sendo mantidas abertas pelo período mínimo de quarenta e cinco dias, observando-se as disposições contidas na Lei 8.666/93. As análises técnicas e de mérito são iniciadas quando do encerramento do período de inscrição, sendo a priorização das propostas e a reunião conjunta realizadas até dezembro do ano de lançamento do edital38 para início das atividades a partir de janeiro do ano seguinte.

4.5.1.4 Financiamento

Pelo lado brasileiro há o financiamento de missões de trabalho, missões de estudo e material de consumo. Missão de trabalho é a realização de um intercâmbio científico de um pesquisador. Essas missões são destinadas aos membros da equipe, com duração de 10 a 21 dias. Anualmente, podem ser realizadas até duas missões de trabalho. Nessas missões, a agência concede auxílios para deslocamento e seguro-saúde aos brasileiros e diárias para os franceses (CAPES, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014).

São financiadas também missões de estudos. Essas missões consistem no intercâmbio de estudantes para realização de parte de sua pesquisa no exterior. Atualmente, somente são oferecidos intercâmbios para realização de doutorado sanduíche ou pós-doutorado39 na França, sendo possível o envio de até duas missões de estudo por ano, por projeto. Os itens financiáveis para essas missões são: bolsa de estudo, auxílio deslocamento, auxílio para aquisição de seguro saúde, auxílio instalação para as despesas inicias e eventual auxílio localidade para cidades de alto custo. As missões de estudo na modalidade doutorado sanduíche terão duração entre 4 e 12 meses,40 já as missões de pós-doutorado têm previsão de duração de 2 a 12 meses. Para a concessão do benefício, faz-se necessária a inclusão no processo do termo de compromisso do estudante, bem como da carta de aceite do orientador francês.41 (CAPES, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014).

38 Os resultad os dos editais são passíveis de recurso, como nas modalidades de licitação.

39 É vedado a coordenadores de projetos realizarem missões de estudo na modalidade pós-doutoral durante a

vigência do projeto.

40 Caso seja realizada cotutela pelo estudante, há previsão de prorrogação da bolsa por até seis meses.

41 O último edital do programa já veio acompanhado do termo de compromisso para os candidatos a missões de

estudos. Essa iniciativa facilita a indicação de possíveis bolsistas, que, antes de serem incluídos no projeto, têm acesso às obrigações a serem cumpridas. Entre as obrigações dos bolsistas, vale ressaltar o compromisso de dedicação exclusiva ao plano de estudos estabelecido; o retorno ao Brasil após o encerramento das atividades e a permanência no país por, pelo menos, o período equivalente ao do financiamento (CAPES, 2014).

Dentre os itens financiáveis, há a previsão de concessão de recursos de custeio para aquisição de material de consumo de até 10 mil reais anualmente para o desenvolvimento da pesquisa. Essa verba visa a apoiar o projeto, possibilitando a compra de materiais essenciais para a realização de atividades da pesquisa desenvolvida no Brasil. Esses recursos são geridos pelo coordenador do projeto por meio do AUXPE (Auxílio financeiro a Projetos Educacionais)42 (CAPES, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014).

4.5.1.5 Prazos, acompanhamento, renovação dos projetos e prestação de contas

O início do projeto deve-se dar em até três meses após o recebimento da Carta de Concessão pelo coordenador com as informações para dar prosseguimento com a pesquisa conjunta. Anualmente, devem ser encaminhados à Capes um relatório parcial com as atividades realizadas e a prestação de contas parciais. A liberação de recursos é condicionada ao recebimento desses documentos. Assim como a liberação do recurso financeiro para o custeio do projeto é feito anualmente, a prestação de contas também segue a mesma lógica. A prestação de contas parcial deve ser realizada em até trinta dias após o primeiro ano de vigência do auxílio. Antes feita manualmente, a prestação de contas é, atualmente, realizada no Sistema de Prestação de Contas (Siprec) da Capes.

O projeto poderá ter duração máxima de quatro anos. Inicialmente, ele é aprovado por um período de dois anos, e é renovável por igual período. Após os dois primeiros anos de financiamento, os coordenadores devem encaminhar às agências pedido de renovação dos projetos com planejamento das atividades para o novo período e carta da instituição apoiando sua continuação. A decisão acerca da renovação é feita conjuntamente pelas agências na reunião binacional anual, considerando a evolução da pesquisa, a formação de recursos humanos, o interesse dos órgãos financiadores e a disponibilidade orçamentária. Após o encerramento dos projetos, é demandada aos coordenadores de ambos os países a redação de um relatório final das atividades desenvolvidas e dos resultados alcançados.