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CAPÍTULO 1 – OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA: A UTILIZAÇÃO DE

1.4 Procedimentos metodológicos

1.4.1 Universo e etapas da pesquisa

1.4.1.4 As entrevistas

A última etapa da coleta de dados foi a realização de entrevistas para análise qualitativa. Foram entrevistados coordenadores de projetos brasileiros e franceses, além de dirigentes e colaboradores envolvidos na formulação, gestão e execução da cooperação.

Nessa fase, buscou-se apreender das pessoas que estão ou estiveram envolvidas de alguma forma com a implementação do programa ou que recebem ou receberam financiamento para pesquisa suas percepções acerca do Capes-Cofecub, bem como as dificuldades enfrentadas para implementação da cooperação, os desdobramentos, os resultados da colaboração e as perspectivas de novas parcerias. No caso dos coordenadores, interessava saber um pouco mais sobre como eles enxergavam a cooperação e as suas motivações para a postulação do financiamento. Já para os executores, o enfoque maior seria na forma como eles enxergavam o programa, seus êxitos, aspectos negativos, influências e até futuros aprimoramentos. A interação propiciada pela entrevista possibilitou depoimentos espontâneos e valorosos (KVALE, 1996). Segundo Kahn e Cannell,

o pesquisador entrevistador vem equipado com uma lista substancial de objetivos que a entrevista deve estar em conformidade; o médico é guiado por seu conhecimento especializado de sintomas e doenças e assim por diante. Por meio de uma formulação cuidadosa de questões importantes e o uso de perguntas complementares, o entrevistador garante que o fluxo de comunicação por ele motivado é direcionado para objetivos específicos. É a capacidade do entrevistador para assim direcionar a comunicação que produz uma entrevista válida – isto é, uma entrevista que mede o que se propõe a medir. (KAHN; CANNELL, 1957, p. 63, tradução nossa).

24 Segundo Carnevalli et al. (2004 apud MATTAR, 1996), o índice significativo de devolução pelos

respondentes pode variar de 3% a 50%.

25 Se considerarmos ainda que os pesquisadores que não tiveram seus projetos renovados após a avaliação

parcial (cerca de 20%) têm baixa propensão a prestar informações acerca de sua experiência no âmbito do programa, esse percentual acaba sendo potencialmente maior, o que nos leva a concluir que o quantitativo de respostas foi bastante positivo.

Nesse sentido, adotou-se, para a condução dos depoimentos coletados, a entrevista semiestruturada, uma vez que, nesse modelo, o entrevistado tem maior propensão a apresentar seu ponto de vista mais abertamente do que em uma entrevista estruturada ou em um questionário. Foi elaborada uma lista de questões que norteou a interação, sem, contudo, a obrigatoriedade de segui-la, tornando a entrevista mais aberta e com possibilidade de adaptações de acordo com seu desenvolvimento. A flexibilidade desse tipo de entrevista possibilita a condução do depoimento para a informação desejada. A intenção foi buscar no respondente informações além dos dados oficiais, por isso a relevância desse instrumento. Essa ferramenta mostrou-se bastante pertinente, na medida em que dados primários acerca dos resultados da cooperação também eram escassos (FLICK, 2014; KVALE, 1996; SEIDMAN, 1991).

Foram elaborados dois tipos de questionários, um para os coordenadores de projeto e outro para os colaboradores que atuam ou atuaram no programa. Coincidentemente, ambos os questionários contaram com 19 perguntas e um espaço para observações finais caso o entrevistado considerasse que alguma questão pertinente não havia sido abordada. O conteúdo de cada documento era, todavia, distinto, tendo como foco a relação do entrevistado com o programa. Ademais, a condução da entrevista foi adaptada de acordo com a maior ou menor familiaridade do pesquisado acerca das peculiaridades do programa. Para os quadros que atuam ou atuaram no programa, em alguns casos foi dada maior ênfase na condução das políticas norteadoras; em outros, na operacionalização e nas dificuldades de implementação. Quando se entrevistaram pessoas que não atuam mais no programa, enfatizou-se o respectivo período de atuação.

No que se refere ao conteúdo das perguntas, buscou-se sempre ter em foco os objetivos da pesquisa e a possibilidade de respostas precisas por parte do entrevistado, poupando o interlocutor de situações em que ele não tivesse as informações necessárias para a resposta, o que reduziria sua disposição em responder. Tomou-se o cuidado de evitar perguntas supérfluas, mantendo sempre a objetividade. Além do questionário, foi preparada uma ficha de informações dos coordenadores de projetos Capes-Cofecub para melhor aproveitamento e encaminhamento da entrevista.26

Para a estruturação e organização do questionário, partiu-se das perguntas mais gerais para as mais específicas, iniciando-se com questionamentos mais impessoais e deixando as perguntas mais subjetivas para um momento em que a relação de confiança já estivesse

estabelecida. Observou-se, ademais, a lógica no encadeamento das temáticas, agrupando perguntas correlatas e decorrentes de resposta anterior.

Ao início de cada encontro, e após breve apresentação da pesquisadora, dos objetivos da tese e de novo agradecimento pela participação, foi solicitada autorização para gravação das respostas, sempre informando ao entrevistado acerca da confidencialidade dos depoimentos.27 Ambos os questionários foram redigidos em duas versões – português e francês –, de igual teor e forma,28 em cujas questões buscamos atender à norma culta, conferindo a elas o máximo de clareza, precisão e brevidade.29

Nessa etapa da coleta de dados, diferentes formas de atuação foram utilizadas para que um maior número de respondentes pudesse ser ouvido: presencialmente, em local sugerido pela autora; presencialmente, em estabelecimento apontado pelo entrevistado; e virtualmente, utilizando os recursos disponíveis na internet.

Os contatos com os entrevistados foram realizados por e-mail. Após a concordância expressa do participante, foram propostos data e horário convenientes para a coleta dos depoimentos. As entrevistas tiveram duração em torno de cinquenta minutos, sendo que, em alguns casos, elas se prolongaram devido ao interesse do depoente em apresentar maiores considerações acerca da iniciativa.

A maioria dos depoimentos dos coordenadores e quadros brasileiros envolvidos com o programa foi colhida presencialmente. A celebração dos 35 anos do Programa, realizada na semana entre 08 e 12 de dezembro de 2014, em Brasília, possibilitou o encontro com muitos dos coordenadores e quadros brasileiros. Na oportunidade, responsáveis por projetos de diferentes regiões, que obtiveram financiamento em diversos momentos e com perfis distintos, puderem aportar suas percepções.

Entre os quadros que têm ou tiveram algum envolvimento com o programa e com a cooperação com a França, no caso brasileiro, 11 pessoas foram entrevistadas.30 Em sua

27 Nas entrevistas, a questão da confidencialidade é muito mais sensível do que no caso dos questionários, que

normalmente apresentam perguntas objetivas e diretas. Em depoimentos, buscam-se, muitas vezes, opiniões pessoais e juízo de valor do respondente. Nesse caso, é fundamental que o entrevistado se sinta confortável e seguro para responder. Acerca do consentimento, Seidman afirma que o “participante tem o direito de saber de que formas o material de sua entrevista será publicamente apresentado. [ ...] O uso extensivo das palavras do participante leva a uma das questões centrais no consentimento informado, que é a do anonimato. A suposição comum é que os participantes de estudos entrevista em profundidade permanecerão anônimos.” (SEIDMAN, 1991, p. 49-50).

28 O guia das entrevistas semiestruturadas encontra-se disponível nos Anexos G e H desta tese. 29 Todas as entrevistas realizadas foram integralmente transcritas para serem cotejadas.

30 Embora não tenha sido intencional e não seja algo prioritário para esse grupo de entrevistados, a

representatividade entre homens e mulheres respondentes foi relativamente equânime do lado brasileiro. No lado francês há uma predominância de respondentes do sexo masculino.

maioria, encontravam-se em Brasília ou estiveram na capital para participação na comemoração do aniversário do Capes-Cofecub, o que possibilitou a coleta de seu depoimento também nessa ocasião. Na escolha dos respondentes, buscou-se a diversificação dos atores, considerando o grau de envolvimento com o programa, as funções desempenhadas em sua condução e o momento de atuação nessa cooperação.31

Não foi possível, todavia, a realização de todas as entrevistas do lado brasileiro nessa oportunidade, haja vista que nem todos os coordenadores participaram do evento. Assim, utilizou-se para as demais entrevistas, quando necessário, o modelo virtual. Por limitações de tempo e recursos financeiros para os deslocamentos no Brasil, utilizou-se como ferramenta de apoio para essa modalidade o Skype e o Call graphs. Um software que possibilita a comunicação pela internet, o Skype, além de ter ótimo desempenho na conexão de voz, possibilitando uma excelente qualidade da chamada, ainda dispõe de recurso visual, que torna o diálogo bastante interativo. A escolha se deu por sua ampla difusão e pela qualidade do áudio. Esses atributos facilitaram a comunicação, fazendo com que se obtivesse um ambiente próximo ao presencial, com uma interação bastante positiva. Em combinação com o Skype, foi utilizado o Call graphs, que permitiu a gravação 4das entrevistas realizadas.

Todas as entrevistas com o lado brasileiro – presenciais e excepcionalmente virtuais – foram realizadas no mês de dezembro de 2014, totalizando 38 depoimentos:32 11 de quadros e 27 de coordenadores.33 Além disso, nesse período foram realizadas quatro entrevistas com o lado francês – colaboradores que estavam no Brasil para o evento de celebração dos 35 anos do Capes-Cofecub e também quadros da Embaixada da França naquele país.

Além da coleta de depoimentos presenciais em Brasília e das coletas virtuais, foram também realizadas entrevistas34 na França com os responsáveis por projetos e com pessoas envolvidas na implementação do programa. As primeiras entrevistas na França foram realizadas também em dezembro de 2014. Já os contatos iniciais com pesquisadores e colaboradores para as demais entrevistas foram realizados no dia 21 de abril de 2015. Foram realizados 67 contatos e houve a conclusão de 39 entrevistas. No lado francês, diferentemente do lado brasileiro, houve bastante dificuldade no acesso aos pesquisadores. Além disso, era

31 Nesse aspecto, houve uma tentativa de inquirir interlocutores que tiveram atuação em diferentes momentos da

cooperação, considerando seus mais de 35 anos de existência, para que se pudesse compreender melhor a evolução dessa cooperação.

32 Apenas duas entrevistas foram realizadas virtualmente.

33 Dentre os coordenadores entrevistados, alguns participaram dos anos iniciais do programa, inclusive tendo sua

própria formação na França. Um dos entrevistados foi coordenador do primeiro projeto Capes-Cofecub; outro foi bolsista do programa e hoje é coordenador de projeto.

34 As entrevistas realizadas com os franceses foram conduzidas no idioma local, sendo traduzidas para o

necessário o deslocamento para diferentes regiões na França, o que também levou ao aumento do tempo dispendido nessa atividade, haja vista a impossibilidade de realização de várias entrevistas em um período condensado.35

Primeiramente, tivemos de buscar todos os contatos na internet, o que demandou prazo maior do que o esperado. Além disso, em cerca de 1% dos casos, os contatos estavam desatualizados ou não foi possível o acesso aos e-mails. Após o primeiro contato, aproximadamente 30% dos pesquisadores se dispuseram a conceder a entrevista. Em alguns casos, foram enviados quatro e-mails para que fosse possível o agendamento. Houve situações em que, embora tenha sido estabelecido o contato, o pesquisador/colaborador não se dispôs a conceder a entrevista ou pediu que ela fosse realizada posteriormente.

As entrevistas foram iniciadas em abril e finalizadas apenas em 15 de julho de 2015.36 Alguns contatos que seriam de interesse para entrevista não foram localizados. Houve, inclusive, um caso em que o entrevistado não compareceu à entrevista no local e horário por ele agendado. Como o retorno aos pedidos foi bastante difícil e o processo, bastante longo, foram necessárias várias tentativas e, ao final, acabou-se realizando uma entrevista a mais com um responsável por projeto se comparado ao lado brasileiro. Do lado francês, buscou-se, também, contrabalancear as áreas, o sexo e o período do financiamento, dentro das limitações de acessibilidade aos possíveis entrevistados.37

A seleção dos entrevistados levou em consideração vários fatores distintos, tais como acesso ao interlocutor, interesse em contribuir com o estudo, disponibilidade de agenda e custos envolvidos para eventuais encontros pessoais (NEDDERMEYER, 2002). Ademais, devido à longa existência do programa, alguns possíveis entrevistados, bastante ativos ou de grande relevo para a pesquisa qualitativa, já haviam falecido.

No que diz respeito aos coordenadores, a população de entrevistados era mais ampla. Além dos aspectos listados anteriormente, outros fatores foram considerados. Nesse caso, atentou-se para a necessidade de representatividade temporal, institucional, regional (no caso do Brasil) e de gênero e para a sinalização de que tivesse havido algum resultado na

35 Embora a autora estivesse fisicamente na França na ocasião, foram realizadas três entrevistas por Skype, por

solicitação dos participantes.

36 Vale mencionar que quatro entrevistas já haviam sido realizadas em dezembro de 2014.

37 Do lado francês, quatro entrevistados, além de terem sido coordenadores de projetos, também tiveram

posterior participação no programa como membros do Conselho Científico, ou até mesmo na presidência do Cofecub. Um dos entrevistados foi inicialmente bolsista do programa, o que é um caso bastante raro, haja vista a dificuldade de realização de missões de estudo para franceses. Muitos coordenadores e colaboradores já haviam realizado algum trabalho conjunto com o Brasil e continuam tendo ligações profissionais ou até mesmo pessoais com o país; além disso, têm um vasto conhecimento da cultura e ciência local, alguns, inclusive, com domínio do idioma.

cooperação. Outro aspecto que impactou a escolha dos respondentes, principalmente para as entrevistas presenciais dos brasileiros, foi a participação no evento de celebração dos 35 anos do programa, uma vez que, nessa etapa da pesquisa, a autora estava em período de cotutela na França. Ao todo, foram realizadas 77 entrevistas com responsáveis por projetos e com quadros técnicos e científicos, entre brasileiros e franceses. Todas as entrevistas foram gravadas, listadas e compiladas.38