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CAPÍTULO 4 – O PROGRAMA CAPES-COFECUB: DO ESTABELECIMENTO AOS

4.1 A criação do Capes-Cofecub

4.1.2 O estabelecimento do acordo

Em 5 de outubro de 1978, o programa Capes-Cofecub foi firmado por meio da assinatura do Acordo Básico de Cooperação Interuniversitária entre o governo da República Federativa do Brasil e o governo da República Francesa, visando a fomentar o intercâmbio entre IES dos dois países. Sua assinatura teve como respaldo o Acordo Cultural entre Brasil e França, assinado em 6 de dezembro de 1948, e o Acordo de Cooperação Técnica e Científica, assinado em 16 de janeiro de 1967. As negociações para sua implementação remontam, porém, ao início dos anos 70.

Inicialmente, o acordo visava ao fortalecimento das universidades do Nordeste, recém- estabelecidas e que precisavam se fortalecer e qualificar seus docentes em nível doutoral. Na década de 1930, principalmente entre os anos de 1934 e 1937, já havia sido observada a influência francesa no desenvolvimento da USP, da Universidade do Distrito Federal e da Universidade de Porto Alegre. Portanto, a tônica inicial do programa era a capacitação e o desenvolvimento das universidades distantes das grandes metrópoles do sudeste-sul do país.

As negociações entre os governos brasileiro e francês no sentido de estabelecer essa cooperação começaram a avançar a partir de janeiro de 1976, quando da visita do diretor geral da Capes – Dr. Darcy Closs – a organismos governamentais, centros universitários e órgãos de pesquisa franceses. Vale ressaltar, contudo, que em 1973 a França já havia demonstrado interesse em intensificar a colaboração com o Nordeste a partir de visitas de reitores de universidades francesas a essa região (CAPES, 1980 1982).

A partir do final da década de 60, emergiu na França uma nova prioridade em termos de política internacional: a valorização da cooperação técnica. Nesse sentido, como já mencionado, foi assinado, em 1967, o Acordo de Cooperação Técnica e Científica com o Brasil. Segundo Martinière, essa nova vertente buscava mudar a influência de uma cultura francesa bastante alicerçada nas humanidades e ciências sociais para uma pauta voltada às áreas técnicas e científicas, com foco na formação profissionalizante e baseada em objetivos de realizações industriais (MARTINIÈRE, 1999).

Nesse sentido, a grande exposição francesa realizada no Parque do Anhembi em São Paulo em 1971 deixava claros os novos interesses franceses nas trocas econômicas e comerciais com o país. Em 1973, além da missão francesa de reitores ao Nordeste, dois

acordos complementares marcaram a intensificação das relações: o acordo entre o Centro Nacional de Estudos Espaciais da França (Cnes) e a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (Cobae) na área das atividades espaciais, e o Acordo de Cooperação Franco- Brasileira no campo da informática. Passados dois anos, foi assinado o Acordo de Cooperação entre o Cnet e a Telebrás para a área de telecomunicações, e foi criada, no mesmo ano, a Comissão Econômica Franco-Brasileira para a Indústria e o Comércio. No âmbito da cooperação científica, ainda em 1975, foi assinado o acordo CNRS-CNPq para a pesquisa básica6 (MARTINIÈRE, 1999).

Martinière afirma ainda que foi “através da tecnicidade que as cooperações científica e universitária foram reintroduzidas no Brasil”. A visita do presidente Giscard d’Estaing ao Brasil em 1978 tinha claros objetivos econômicos, financeiros e de técnica industrial. Muito embora temas como infraestrutura relativa a portos, transporte urbano e ferroviário, siderurgia, energia solar, indústria química e petroquímica, agronegócios e alimentícios tenham sido o carro chefe da visita, foi dada também grande relevância à temática da cooperação interuniversitária, cujo acordo, como já mencionado, vinha sendo negociado de forma efetiva desde 1976. Tanto o acordo assinado pela Capes quanto o acordo assinado entre o CNPq e o CNRS demonstravam a importância dessa cooperação em ciência e pesquisa. O Capes-Cofecub viria, então, para definir o formato institucional do intercâmbio interuniversitário entre os dois países (CAPES, 1980, 1982, 1984; MARTINIÈRE, 1999).

Os anos de 1977 e 1978 foram marcados por uma série de missões dos dois lados para a negociação dos aspectos básicos do acordo. Dando seguimento à missão do então diretor da Capes, ocorrida em 1976, o diretor adjunto à época, Hélio Barros, realizou nova missão à França em janeiro do ano seguinte para novas visitas e contatos. Em novembro de 1977, realizou-se uma missão francesa, chefiada pelo então reitor da Université Paris 12 (Val de Marne), Michel Guillou, e composta pelos reitores André Martel, da Université de Montpellier, e Max Marty, do Institute National Polytechnique de Toulouse, pela Comissão de Relações Exteriores e pelo Conselho de Presidentes das universidades francesas, a fim de estabelecerem-se contatos com a Capes, a USP, a Unicamp e universidades da região Nordeste. Em dezembro do mesmo ano foi realizada em Paris uma reunião conjunta da Comissão Mista Franco-Brasileira, que traçou os objetivos e as diretrizes do programa (CAPES, 1980, 1982).

Inicialmente, seis universidades da região nordeste do país – UFPB, UFPE, UFC, UFAL, UFRN e UFBA – seriam beneficiárias do programa em articulação com polos universitários regionais na França. Para Martinière, essa cooperação universitária fora relançada em 1978 com uma motivação geopolítica: “todos os projetos foram concebidos a partir de uma ajuda à formação pela pesquisa, destinada às universidades federais brasileiras da região mais subdesenvolvida do Brasil, o Nordeste.” (MARTINIÈRE, 1999, p. 13). Já para o lado brasileiro, Nicolato defende que:

um dos fatores que motivaram a criação desse programa de cooperação com a França foi o reconhecimento pela CAPES das limitações de seu programa tradicional de bolsas de formação no exterior – baseado no atendimento de solicitações individuais e espontâneas dos interessados em realizar cursos no exterior, programa identificado normalmente como ‘balcão de bolsas no exterior’ – para fazer frente ao desafio de expansão da pós-graduação em uma região que não conseguia atrair para seus quadros docentes os egressos de programas de capacitação no País ou no exterior. Tinha-se então consciência, conforme o sumário de uma reunião entre o presidente da CAPES e reitores franceses, realizada em 1976, de que a cooperação internacional, alicerçada em um esquema de forte engajamento dos dirigentes e das equipes docentes das universidades brasileiras, poderia dar uma contribuição mais significativa para a formação e fortalecimento de núcleos de pesquisa e pós-graduação nas regiões academicamente menos desenvolvidas do país. (NICOLATO, 1999, p. 13).

De janeiro a julho de 1978, foram desempenhadas as atividades voltadas ao conhecimento mútuo dos programas de pós-graduação, à missão dos futuros coordenadores de projeto para a França, à preparação linguística de prováveis bolsistas, ao planejamento das ações a serem desenvolvidas no ano subsequente e à negociação e redação dos termos do acordo básico. Em outubro, quando da visita ao Brasil do então presidente francês, Válery Giscard D’Estaing, o documento foi assinado pelos Ministérios das Relações Exteriores dos respectivos países.

Conforme disposto no artigo primeiro do acordo, o programa tinha como objetivo:  enviar professores visitantes franceses a universidades brasileiras para participação

em programas de ensino e pesquisa;

 enviar docentes brasileiros a universidades francesas para missões de curta duração, visando ao aperfeiçoamento de sua formação em pesquisa, para apoiar o desenvolvimento do ensino brasileiro de pós-graduação;

 promover o intercâmbio de missões de identificação e de avaliação, bem como a execução de programas conjuntos de pesquisa;

 promover o intercâmbio de documentação especializada, publicações e informações científicas.

Inicialmente, a cooperação tinha natureza vertical, sendo o Brasil favorecido pelo aporte científico francês. Para o lado brasileiro, o objetivo era enviar docentes a universidades francesas, para criar um sistema de tutela pedagógica dos docentes-pesquisadores, a fim de que retornassem ao país com elevada capacitação científica. Ademais, buscava-se também a capacitação de setores específicos das instituições brasileiras, por meio de intercâmbio de informações científicas e publicações, programas comuns de pesquisa e missões de professores. O recebimento de docentes franceses em IES brasileiras também foi uma atividade desenvolvida com resultados bastante positivos. Já para a França, era a maneira de institucionalizar uma cooperação que existia informalmente, principalmente entre ex-alunos brasileiros e orientadores franceses. O Capes-Cofecub veio justamente para reconhecer essa parceria, estabelecida formalmente, em caráter amplo, pelo Acordo de 1967 (CAPES, 1982, 1984; QUEIROZ, 1989; KLINGEBIEL, 1989; NAVAUX, 1989; MARTINIÈRE, 1999).

Considerando o estágio de desenvolvimento científico brasileiro na década de 70, era imprescindível o incentivo à formação de grupos de pesquisa; diversos setores da pós- graduação precisavam ser fortalecidos, outros, ainda, necessitavam ser criados. Esse modelo de cooperação favorecia também a integração dos estudantes nos laboratórios e programas de pós-graduação franceses, haja vista o estabelecimento dos contatos entre os grupos de pesquisa dos dois lados do Atlântico. Indubitavelmente, como resultado, houve a valorização da cultura francesa no Brasil, a incorporação de práticas do modelo universitário em nosso sistema e o estabelecimento de uma tradição de cooperação com aquele país.

A partilha dos custos do programa foi estabelecida nos artigos quinto, sétimo, oitavo e nono do acordo. O lado brasileiro ficaria responsável pelo custeio das bolsas e despesas de viagem dos docentes brasileiros para a realização do doutorado na França, comprometendo-se também com a manutenção dos salários pelas universidades de origem; eventuais custos adicionais com as despesas de pesquisa também seriam financiados pelo Brasil. O financiamento referente ao custo adicional para o acompanhamento acadêmico específico dos bolsistas brasileiros seria de responsabilidade da França, além da oferta de estágio linguístico in loco. Para as missões de curta duração de docentes brasileiros na França, de até seis meses, as despesas referentes a viagens e bolsas seriam compartilhadas pelos dois países. As missões de identificação, avaliação, ensino e pesquisa por professores franceses também seriam cofinanciadas. É importante também ressaltar que, como característica da parceria, era encorajada a assinatura de um acordo interuniversitário para o estabelecimento da cooperação entre as IES participantes do projeto.

Pelo lado brasileiro, a execução do acordo foi confiada à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Já pelo lado francês, a responsabilidade foi dada ao Comité Français d’Evaluation de la Coopération Scientifique et Universitaire avec le Brésil (Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil – Cofecub), órgão criado especificamente para gerir essa cooperação e vinculado à Conferência dos Presidentes das Universidades Francesas.

4.2 O Comité Français d’Evaluation de la Coopération Universitaire avec le Brésil