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CAPÍTULO 3. A CORTESIA VERBAL

3.3. A Pragmática Sociocultural

3.3.1. A perspectiva da variação: o papel do contrato interacional

Conforme ressalta Brenes Peña (2011), faz-se necessário analisar um elemento linguístico à luz de aspectos históricos e sociais. Em outras palavras, a análise dos fatos

71 Tradução nossa do original em inglês: Minha própria posição é dupla no sentido de que eu vejo a (im) polidez

semântica e a (im) polidez pragmática como opostos interdependentes em uma escala. A (im) polidez pode ser mais inerente a uma expressão lingüística ou pode ser mais determinada pelo contexto, mas nem a expressão nem o contexto garantem uma interpretação da (im) polidez (CULPEPER, 2011, p.153).

71Tradução nossa da versão original em inglês: My own position is dual in the sense that I see semantic

(im)politeness and pragmatic (im)politeness as inter-dependent opposites on a scale. (Im)politeness can be more inherent in a linguistic expression or can be more determined by context, but neither the expression nor the context guarantee an interpretation of (im)politeness (CULPEPER, 2011, p.153).

linguísticos, em consonância com os preceitos sociais que, segundo a autora, regem os eventos comunicativos, deve ater-se à relevância, sobretudo, dos seguintes fatores: a adequação do elemento verbal ao que se propõe na interação e à avaliação, positiva ou negativa, de um ato de fala (Brenes Peña, 2011, p.42).

Em relação à adequação de um elemento verbal, Brenes Peña (2011) assevera que o que torna ou não um ato apropriado ao evento comunicativo está relacionado ao fato de que, em determinadas trocas verbais, alguns atos assumem uma configuração ritualizada, sendo, pois, não marcados, em virtude de serem esperados pelos participantes da interação:

“atitude comunicativa apropriada ou esperada”, em uma determinada situação de interação, a qual, por sua vez, poderá desencadear efeitos sociais de neutralidade, sendo, pois, um ato não marcado (BRENES PEÑA, 2011, p. 42).

Ao investigar o papel da situação interacional e de seus desdobramentos no processo interpretativo dos elementos linguísticos, Brenes Peña (2011) ressalta o fato de a descortesia “naturalizar-se” em determinados tipos de situações comunicativas, sinalizando que, devido a contingências sociais e culturais, alguns atos de fala são ritualizados, isto é, passam a constituir a regra.

Nesse sentido, pode-se afirmar que um ato de cortesia ou de descortesia é apropriado em função de fatores linguísticos, pragmáticos e argumentativos e, sobretudo, em função da finalidade ou dos propósitos comunicativos pelo qual é empregado.

É pertinente ressaltar que o discurso político é entendido aqui no sentido proposto por Blas Arroyo (2001), como um tipo de discurso em que há um confronto cujas regras diferem daquelas comumente usadas e, no entanto, embora não exista código acerca do formato debate político, concordamos com esse autor que ele deve ser estudado dentro de uma retórica interpessoal, como proposto por Leech (1997), uma vez que se analisam de que modo se utilizam as estratégias que os palestrantes empregam em sua interação comunicativa. Concordamos com Blas Arroyo (2001: 11) que, nesse tipo de discurso, “comportamento descortês - e não cortesia – representa, justamente, a norma” (FLORES, M.E. e INFANTE, J, 2014, p.56).72

Assim como Brown e Levinson (1987[1978]), Brenes Peña (2011) reconhece o fato de que a (des) cortesia consiste em um fenômeno que permeia todas as culturas. No entanto, ao proceder à abordagem dos atos de fala, sob o enfoque da Pragmática Sociocultural, numa visão

72Tradução nossa da versão original em español: Es pertinente precisar que, discurso político se entiende aquí en

el sentido propuesto por Blas Arroyo (2001), como un tipo de discurso en donde hay una confrontación cuyas reglas difieren de las empleadas habitualmente y, sin embargo, aunque no existe un código sobre la forma del debate, concordamos con este autor, en que deberá estudiarse dentro del seno de la retórica interpersonal, tal como fue propuesta por Leech (1997), ya que se analizan las estrategias que los locutores emplean en su interacción comunicativa. Estamos de acuerdo con Blas Arroyo (2001:11) en que en esta clase de discurso “el comportamiento descortés –y no la cortesía– representa justamente la norma” (FLORES, M.E. e INFANTE, J, 2014, p.56).72

modular acerca da (des) cortesia, Brenes Peña (2011) enfatiza que esse fenômeno deve ser analisado à luz de uma metodologia calcada na variabilidade, segundo a qual há que se ter em conta diversos fatores, sobretudo, o reconhecimento de que os valores positivos, que se atribuem à (des) cortesia, são resultantes do uso, isto é, de sua regularização em dados eventos comunicativos73.

Assim, Brenes Peña (2011) assinala a importância de se considerarem três fatores a partir dos quais se procede à análise da (des) cortesia: a variação sociocultural, a variação relativa ao gênero comunicativo e a variação relacionada à situação interativa (Brenes Peña, 2011, p.60).

Acerca da variação sociocultural, a autora faz algumas considerações:

Uma vez que a (des)cortesia não se concebe nem se manifesta linguisticamente igual em todas as culturas, o primeiro constrangimento ao qual se submetem nossas criações verbais em relação com a (des)cortesia verbal é, logicamente, o sociocultural (BRENES PEÑA, 2011, p. 60).74

A autora assinala, ainda, que a influência do tipo de gênero comunicativo que veicula a interação, assim como as implicações ocasionadas pelos tipos específicos de situações interativas, colaboram para a validação dos atos como corteses ou não, a depender de sua adequação aos propósitos comunicativos pelos quais são empreendidos.

O papel da situação interativa na interpretação dos atos de (des) cortesia, configurando- os como atos marcados e não marcados, no sentido de se apresentarem como apropriados ou não a uma dada situação interacional, é também abordada por Hilgert (2001), segundo o qual há atos esperados, e, portanto, não marcados, e atos não esperados, nesse caso, atos marcados, devido às características da situação interativa.

Posto isso, tomando-se como exemplo o emprego de elogios, em demasia, em situações interacionais regidas pelo conflito, pode-se afirmar que, nesses casos específicos, atos de cortesia apresentam-se como a exceção, ao passo que os atos não marcados, ou seja, os atos, de fato, esperados, são aqueles que promovem o desacordo.

73 A esse respeito, Kerbrat-Orecchioni (2006) faz as seguintes considerações: [...] Os falantes de uma dada cultura,

uma vez que interiorizaram algumas normas comunicativas, evidentemente, consideradas por eles como boas, julgam ridículo ou chocante qualquer desvio em relação a essas normas: tanto a falta quanto o excesso nos comportamentos rituais são estigmatizados [...] (KEBRART-ORECCHIONI, 2006, p. 138).

74 Dado que la (des) cortesía no se concibe ni se manifiesta linguisticamente igual en todas las culturas, el primer

constreñimiento al que se someten nuestras creaciones verbales en relación con la (des) cortesía verbal es, logicamente, el sociocultural (BRENES PEÑA, 2011, p. 60).

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