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CAPÍTULO 4: DESCORTESIA VERBAL

4.2. Funções da descortesia

As funções comunicativas de um evento interacional configuram-se como um elemento de suma importância na interpretação dos fatos da língua. Culpeper (1996; 2011) assinala a existência das seguintes funções da descortesia verbal: coesiva, argumentativa, social e modal.

A função coesiva, utilizada em casos em que se busca terminar uma conversação, rompendo a relação social com o outro; a função argumentativa, por meio da qual se busca alcançar determinados fins; a função social da descortesia, a partir da qual o falante apresenta uma imagem agressiva de si mesmo, e, por fim, a função modal, decorrente de situações ou eventos comunicativos que provocam, no interlocutor, enfado e tensão. Trata-se de um tipo de explosão emotiva.110

Em relação às funções argumentativa e social da descortesia, cumpre fazer algumas observações. Ao tratar dessas funções, arroladas por Culpeper (1996; 2011), Brenes Peña e Fuentes Rodríguez (2013) asseveram que, no caso da finalidade argumentativa da descortesia, observa-se que a projeção da imagem ocorre, no evento discursivo, de modo a apoiar ou oferecer respaldo à argumentação, em situações marcadamente conflituosas, nas quais o nível de enfrentamento é, deveras, intenso, tais como o debate político ou outros tipos de interações polêmicas.

No caso da descortesia cujo propósito é social, por meio da qual se projeta uma imagem agressiva, há que se acrescentar que, nesses casos, conforme as autoras, a construção de uma imagem forte pode servir para suscitar temor ou mesmo, em discursos políticos, para conduzir o outro a estabelecer relações de identificação ou relacionar-se a algum tipo de ideologia política. (Brenes Peña e Fuentes Rodríguez, 2013). Neste estudo, considerar-se-ão, sobretudo, as funções argumentativa e social da descortesia e seus desdobramentos no âmbito do discurso político.

b) Argumentativo: busca atingir certos fins. Por exemplo, enfurecer o outro, projetar uma certa imagem que apóie nossa argumentação. Obviamente, isso ocorre em situações de grande confrontação: disputas em conversas, textos políticos, etc., até na publicidade por meio do efeito rebote (atrai o que seria inaceitável)

c) Social: projeta uma imagem agressiva do falante. Assim, consegue-se que o temam ou o considerem uma pessoa forte. No texto político, pode ser usado para se identificar com a imagem da força, do poder, ou, pelo contrário, da oposição, ou mesmo pode associar-se a uma determinada ideologia política (BRENES PEÑA e FUENTES RODRÍGUEZ, 2013, p. 10).111

110 Cumpre observar que, segundo Culpeper (1996), há tipos de descortesia, dentre os quais estão: a descortesia de

entretenimento, a descortesia afetiva e a descortesia institucional.

111 Tradução nossa da versão original em espanhol: b) Argumentativo: busca conseguir ciertos fines. Por ejemplo,

Importa acrescentar que, segundo Culpeper (1996; 2011), a descortesia pode atuar, também, de modo a obter a audiência do telespectador por meio da ameaça à face dos participantes da interação – em casos de programas de humor – configurando-se em um tipo de descortesia denominada como descortesia de entretenimento112. Ademais, Culpeper (1996; 2011) elenca as funções institucionais da descortesia – apresentando, como exemplo, interações entre militares e seus subordinados – bem como sua função afetiva.

É sabido que, em determinados contextos interacionais, a descortesia afigura-se como um ato não marcado, isto é, ritualizado, na medida em que, nesses casos, apresenta-se como a regra, naturalizando-se. Trata-se do discurso político, por meio do qual se busca rechaçar a imagem do oponente, deslegitimando-a, com vistas a persuadir o eleitorado. No caso da descortesia de entretenimento, há que se ressaltar que a neutralização dos atos de descortesia não se concretiza de maneira efetiva (Brenes Peña, 2011).

O fato é que, nos últimos anos, a descortesia tem se configurado em um recurso deveras eficaz em se tratando de atrair a atenção do auditório mediante o uso da exposição ou ameaça da face dos participantes da interação. Trata-se, pois, de um mecanismo que visa a assegurar a atenção do auditório, haja vista o fato de que, mediante a ameaça – refutando-se a imagem alheia – busca-se a adesão do público-alvo. Observem-se, a esse respeito, as considerações de Blas Arroyo (2010):

Um dos aspectos mais relevantes no estudo desse extremo menos harmonioso das relações interpessoais e, possivelmente, chamativo, é a constatação de que tanto o caráter quanto o grau que os comportamentos descorteses alcançam estão intimamente relacionados aos contextos em que se desenrolam, sejam eles individuais, culturais ou institucionais. Em relação a este último, por exemplo, chama- se a atenção para a existência de vários tipos de discurso nos quais o comportamento interacional esperado por parte dos participantes é precisamente o de agressividade verbal e da descortesia, como é o caso dos debates políticos na sede parlamentar (Martín Rojo, 2000; Harris, 2001) e eleitoral (Fernández, 2000; Blas Arroyo, 2001, 2003), programas de treinamento militar (Culpeper, 1996; Bousfield, 2008) ou discursos em contextos da mídia (Culpeper, 2005), como abordaremos neste artigo. E é, especialmente nos últimos tempos, que os comportamentos ofensivos, a busca de conflitos interpessoais, as interrupções abusivas e agressivas voltadas para os outros participantes e outros comportamentos provocativos, tornaram-se uma prática comum

situaciones de gran enfrentamiento: disputas en la conversación, texto político, etc., incluso en publicidad por el efecto rebote (atrae lo no aceptado).

c) Social: proyeta una imagen agressiva del hablante. Así este consegue que lo teman, o lo consideren una persona fuerte. En el texto político puede servir para identificarse con la imagen de fortaleza del poder, o por el contrario, de la oposición, o puede associar-se a una ideologia política (BRENES PEÑA e FUENTES RODRÍGUEZ, 2013, p. 10).

112 Tradução nossa da versão original em espanhol: A esse respeito, Fuentes e Alcaide fazem as seguintes

considerações: “Actualmente, la descortesía y agresividad verbal se están imponiendo en el discurso televisivo como un medio de persuasión y, sobre todo, como medio altamente eficaz de captación de la atención de la audiencia[...]” (FUENTES RODRIGUEZ e ALCAIDE LARA, 2008, p.22).

em vários meios de comunicação, em particular, na televisão (BLAS ARROYO, 2010, p. 184).113

Desse modo, o estudo da descortesia, em suas mais distintas funções, mostra-se, atualmente, imprescindível para um melhor entendimento acerca de seu uso como meio de persuasão na obtenção de audiência no discurso televisivo (Fuentes Rodriguez e Alcaide Lara, 2008).

4.3 Comportamento verbal agressivo e persuasão: funções estratégicas da descortesia em

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